Pivô de boicotes e protestos ecoxiitas desde o século passado no ramo de fast-food, poliestireno expandido (EPS) entrou em contagem regressiva e sem lanche feliz no epicentro desse setor. A pretexto de embarcar na corrente da proteção ambiental pelo repúdio a embalagens descartáveis, a rede norte-americana McDonald’s anunciou em janeiro o banimento do material de todas as suas lojas no planeta até dezembro próximo. “Os clientes disseram que o refugo de embalagens é a principal questão ambiental que gostariam de nos encaminhar”, declarou em comunicado Francesca DeBaise, responsável por suprimentos e sustentabilidade da empresa. “Nossa ambição é efetuar mudanças desejadas pelo público e usar menos embalagens, com preferência pelas de fontes selecionadas de forma responsável e desenhadas para aproveitamento pós-consumo“. No afã de vestir a farda verde da economia circular, o McDonald’s tampou os ouvidos a todos os atributos sustentáveis de EPS que lhe são martelados há décadas pela cadeia do estirênico, a exemplo da reciclabilidade e ciclo de vida nos conformes, como assinala nesta entrevista Debora Rizzo Cervenka, gerente de marketing da subsidiária local da Styropek, produtora de EPS no Brasil e controlada pelo mexicano Grupo Alfa.
PR – A decisão do McDonald’s pode ser mundialmente seguida por outras redes de fast-food e até inspirar mais projetos de lei regulamentando a proibição de EPS em copos e embalagens de alimentos?
Débora Cervenka – A probabilidade de outras redes, indústrias ou até mesmo setores da indústria de copos, alimentos e varejo irem por este caminho acaba minimizada, devido à falta de alternativas realmente sustentáveis existentes para este mercado. EPS é material não tóxico, composto em 98% de ar, não contém CFC ou HCFC nem contribui para a formação do gás metano. E é 100% reciclável. Quase 54.000 toneladas foram recuperadas nos EUA em 2016 e no último estudo da Plastivida a respeito, foram recicladas em 2012 perto de 14.000 toneladas de EPS no país, quantidade equivalente a 34% do material pós-consumo, mesmo num cenário onde existia uma abrangência máxima de 20% de municípios com sistema de coleta seletiva. Considerando todo o ciclo de vida de um copo de EPS comparado ao de um similar de papel, o impacto ambiental deste último é muito maior. Por isso, EPS permanecerá a solução mais econômica e sustentável para a aplicação de embalagens de bebidas quentes.
PR – Qual é, em média, a participação das embalagens de alimentos (copos inclusos) no consumo mundial de EPS? Na hipótese de que o veto do McDonald’s se propague mundo afora, quais as alternativas para EPS compensar esta perda?
Débora Cervenka – Desconheço dados oficiais sobre a participação das embalagens de alimentos no consumo global de EPS. Estimo que o segmento de embalagens represente menos de 8% do consumo global do material expandido. Quanto às embalagens de bebidas quentes produzidas com poliestireno para o McDonald’s, foram substituídas há tempos por papel em países como Brasil, Argentina e Chile. Ou seja: a decisão da empresa de anunciar a migração de EPS para um novo tipo de embalagem é algo que está alinhado com sua estratégia global.
Dunkin’ Donuts tira EPS de copos de bebidas quentes
O McDonald’s botou fogo num rastilho de pólvora. Mal passou de um mês do anúncio do banimento de poliestireno expandido (EPS) de suas lojas, outra rede premium de fast food norte-americana, Dunkin’ Donuts, lascou a mesma proibição para seus copos de bebidas quentes. Com o propósito de aliar eficiência energética e apoio à sustentabilidade, a meta trombeteada na mídia em 15 de fevereiro último é destituir EPS em prol da dupla camada de papel em processo gradual, extensivo do semestre atual a 2020 em toda a operação da Dunkin’ Donuts, na qual constam 9.000 restaurantes apenas nos EUA.
PR – O McDonald’s justifica sua decisão com a proteção ambiental como prioridade 1 do seu negócio. No mundo inteiro, o setor de EPS se esforça há bom tempo para provar que a reciclagem do material não é complexa e é economicamente viável. Por que esse argumento da indústria encontra dificuldade para sensibilizar legisladores e formadores de opinião como o McDonald’s?
Débora Cervenka – Devido à falta de informação. Infelizmente, uma parcela da sociedade não enxerga EPS como um produto sustentável. Por conta deste cenário, noções básicas como o fato de ser reciclável, inerte e atóxico, não alcançam esta parte da população. O papel dos influenciadores da indústria está cada vez mais forte em fomentar informações reais sobre EPS. Muitas dessas informações podem sensibilizar diversas áreas de contato do universo do expandido, desde fabricantes a usuários finais e o Poder Legislativo.
Proibir materiais como EPS não é a solução mais adequada para a busca por um mundo ambientalmente equilibrado. Todos os produtos, quando não destinados corretamente, contribuem durante seu ciclo de vida para o desequilíbrio ambiental. Na verdade, a solução está, desde a gestão de resíduos, na responsabilidade compartilhada entre indústria, população e governo e na atuação desses elementos como multiplicadores na difusão de informações factíveis e capazes de promover uma educação ambiental generalizada e eficiente.
Reitero que, por intermédio da coleta seletiva e reciclagem, os resíduos pós-consumo de EPS podem voltar à condição de matéria-prima para segundo uso. Algumas indústrias substituem EPS por produtos de forte apelo de sustentabilidade, mas, na realidade, o impacto ambiental e a toxicidade resultantes são maiores que os indicadores relativos ao polímero expandido. Por sinal, a Plastivida e a comissão de EPS da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) têm feito um grande trabalho na orientação e fomento de dados fidedignos sobre o setor, contestando projetos de leis que impeçam o desenvolvimento da indústria do produto. •