De janeiro a março último, a China exportou 619.387 toneladas de PP, das quais 55.615 para o Brasil, seu segundo maior destino, aponta rastreio da consultoria Icis. A Ásia em geral, China inclusa, está entre as principais origens de PP internado pelo Brasil, posição justificada também pela insuficiência do material nos EUA, maior exportador para cá de PE, embarques nos quais a participação chinesa é insípida. A situação do Brasil será comentada mais à frente, mas a atenção imediata dessa exposição recai sobre a projeção de a China fechar este ano com exportações totais da ordem de 2.5 milhões de toneladas de PP, reza a mesma fonte.
Petroquímicos e polímeros captam a realidade da macroeconomia, dado seu protagonismo nas cadeias de valor da manufatura e serviços. Nesse contexto, PP impressiona pela versatilidade de usos e mercados, a ponto de, no caso da China flechada pelo endividamento do poder público, sua demanda espelha o baixo poder aquisitivo e enfraquecimento do consumo – em bens duráveis fala por si o colapso imobiliário iniciado em 2021. A demanda mundial de PP também é impactada por uma barafunda na demografia mundial, causada pela baixa nas taxas de natalidade versus a faixa etária de 55 anos em diante respondendo pelo grosso do crescimento da população e afetando questões trabalhistas e da previdência social, como os chineses bem sabem.
A China salta aos olhos por ser o maior exportador de manufaturados, o maior importador de matérias-primas e, no caso de PP, desfruta autossuficiência produtiva após expansões seguidas de sua capacidade. Isso e a economia mais contida explicam porque, de 1992 (início dos super PIBs) a 2023, o país rodou em PP com ocupação média de 87%, índice previsto para cair a 75% em 2024 pela Icis. Segundo a consultoria, de 1992 a 2023 o excedente entre capacidade e demanda chinesa de PP pairou na média de 79%, enquanto para o período de 2024 a 2030 deve atingir 140%. Para completar, o mercado chinês de PP , sob a economia desarranjada, deve evoluir na magra taxa anual entre 1% e 3% ao ano e, de janeiro a abril último, o preço médio do spread de PP CFR da China versus os custos da nafta do Japão CFR foi situado pela Icis em US$ 203/t, o menor aferido pela fonte desde 2003.
O calvário de PP não destoa da conturbação generalizada na petroquímica mundial, a cargo de hiper excedentes de produtos surgidos no entusiasmo com iguarias como os recordes de crescimento da China e o barato gás de xisto nos EUA, pivôs da engorda febril das capacidades de resinas na Ásia e América do Norte, na certeza de que o paraíso seria eterno. Vieram então, efeito também dos estímulos financeiros advindos da pandemia, os estraga-prazeres: as pressões demográficas; alta de juros anti-inflação na garupa do encarecimento do petróleo; piora das guerras na Ucrânia e Oriente Médio etc. E deu no que dizia o escritor Ernest Hemingway: “todo mundo é amigo quando tudo vai bem, mas a ressaca de fim de festa pode ser uma doída experiência.”
A petroquímica brasileira tem sentido muito essa rebordosa, pois, além de não formar preços internacionais, tem sofrido com a abrupta defasagem a que foi atirada pelo surto no exterior de novas plantas integradas upstream e mais competitivas em escala, localização, tecnologia e custos. O jeito então, pelo visto, é calar o discurso de produtividade e ESG e suplicar ao governo para subir as já ultra altas tarifas de importação. Esse expediente tem sido volta e meia adotado desde a implantação dos polos petroquímicos no século XX. No início, a justificativa era que uma indústria nascente precisava de proteção para brotar; hoje é que uma indústria desenhada para o mercado local não pode encarar quem representa a nova ordem mundial.
No Brasil, o passado não passa. •