Apesar do glamour da atividade, os recicladores em geral estão para ações de marketing como uma destilaria para um bafômetro. Uma das pioneiras no Brasil em compostos de madeira e plástico recuperado, a Wisewood reage à crise decidida a quebrar esse paradigma com um punhado de sacadas desenhadas para cavar um fosso entre os resultados de 2015 e os próximos balanços. Uma das vias para virar o jogo passa pela questão do suprimento de matéria-prima com regularidade. “2015 abriu com demanda em alta e muita oferta de sucata, mas fechou com grande escassez e procura intensa para se substituir os chamados materiais prime, caso de chapas de estruturas alveolares de polipropileno (também conhecidas como polionda), dificílimos de encontrar em razão da parada de plantas geradoras desse tipo de refugo”, explica Carlos Dainese Maia, diretor comercial da recicladora na ativa na paulista Itatiba. “O final do ano passado foi tenso, pois a sucata encareceu em torno de 17% em diversos mercados e 2016 começou com preços aquecidos”.
Para dar um fim ao refugo afinado com o desenvolvimento sustentável e assegurar suprimento de matéria-prima nesses tempos bicudos a Wisewood aposta no polimento de sua prestação de serviços, deixa claro Maia. Um sinal das mexidas nessa direção: o programa cognominado Logística Reversa, sistema de retirar sucata de poliolefinas depositada em caçambas deixadas em clientes de peso. “Em nosso segmento, não temos concorrência nessa iniciativa”, sustenta o executivo. “A proposta não se limita a levar o refugo, mas ter uma estrutura de retirada, tratamento e retorno do reciclado granulado, para o cliente poder misturá-lo com o recuperado prime, aumentando assim a abrangência do nosso mercado e de matérias-primas especiais”. Conforme acrescenta, a atual queda no consumo de resina virgem, efeito da ociosidade agravada nos transformadores pela crise, implica disponibilidade de sucata para reciclagem em níveis abaixo de anos passados. “De início, empresas situadas num raio de até 150 km serão beneficiadas pelo programa Logística Reversa”, estabelece o diretor. “O primeiro passo é estruturar bem essa ação no mercado paulista para então estendê-la a outros Estados”.
Na selfie do momento, a Wisewood, presidida por Rogério Igel, roda em três turnos com capacidade nominal de reciclagem projetada por Maia em 36.000 t/a. “Em 2015 rodamos com 50% de ociosidade e a expectativa é continuar assim este ano; se aumentar a ocupação será lucro, mas se o nível ficar estável não haverá perdas”. Ponto a favor dos custos é o grau de automação do processo em Itatiba, a ponto de Maia considerar ínfima a interferência manual, esta restrita a etapas como a triagem de resíduos. O diretor reconhece as virtudes da separação por sensores eletrônicos, tecnologia importada em fase de ingresso em recicladoras brasileiras, mas defende o método tradicional. “A triagem manual nos permite detectar problemas de materiais não captados em nossos testes no trabalho com sensores”, ele assinala sem detalhar os senões flagrados. Maia reitera, aliás, que a concorrência não possui o controle exercido pela Wisewood de cada quilo que entra em produção. “Com base nesse monitoramento, o cliente fica a par do percentual de reciclado para usar em separado ou em mistura com outros materiais”, acentua, estendendo a prestação de serviços a pormenores como a correção de cargas ou cores pelo sistema Pantone.
A metamorfose em curso na Wisewood extrapola o programa Logística Reversa e requintes na industrialização da sucata plástica. Arisco a detalhes, Maia levanta o ingresso da empresa em serviços de micronização de resinas para rotomoldagem e a engatilhada oferta de um cartão de crédito fidelidade, atrelado a programa de pontuação nas compras e bônus de descontos, e o lançamento da campanha “Seja + Wise (sabido em inglês)” com foco em condições especiais para o cliente. É a reciclagem da crise em marketing. •