A dura volta do México à América Latina
Donald Trump encostou o México contra a parede ao trombetear a decisão unilateral de rever as condições do bloco comercial Nafta. Os rugidos do presidente norte-americano ainda não explicitam as mexidas especificas que ele tem em mente, mas já eriçam os nervos de meio mundo no universo do plástico mexicano. Se incluídos no cômputo matérias-primas e transformados, o comércio de plásticos EUA-México rondou a cifra de US$ 16 bilhões de janeiro a setembro de 2016, situou em seminário na capital mexicana Eduardo de la Tijera, dirigente da Associación Nacional de la Indústria de Plástico (Anipac).
A balança comercial de 2016 contempla os americanos com superávit, tal como em 2015 (superávit de US$ 11 bilhões) devido às compras de suas resinas, materiais auxiliares e transformados pelo México, onde a Braskem Idesa, nº1 em polietilenos, desponta como a capacidade petroquímica mais competitiva. Estimativas preliminares da Anipac apontam para a produção mexicana de 5,4milhões de toneladas de transformados em 2016, volume 9,3% superior ao do período anterior. As exportações foram projetadas em 2,1 milhões de toneladas, enquanto as importações de artefatos plásticos rondaram a marca de 4,7 milhões.
Na mão oposta do ultra protecionista Brasil, o México é um mercado aberto e signatário de dezenas de acordos comerciais internacionais, condições que levam as lideranças da Anipac a reagir à ira de Trump com planos de exportar para destinos fora do Nafta, como o Oriente Médio. Em declaração liberada em 1 de março último, duas entidades da América do Norte – American American Chemistry Council e Chemical Industry Association of Canada – e a associação da indústria química mexicana defenderam os beneficios econômicos e trabalhistas advindos em mais de duas décadas de livre comércio trilateral.
Do observatório da Anipac, Eduardo Tijera assinala que a transformação mexicana de plásticos mantém em curso investimentos da ordem de US$ 2 bilhões na renovação do parque industrial e tem crescido na faixa média de 7-8% anuais, na garupa do consumo interno e exportações, predominantemente intrazona, de artefatos acabados. Em pronunciamentos oficiais, o dirigente salienta que seu setor não está ameaçado pelas canetadas prometidas por Trump nas cláusulas do acordo de livre comércio regional. É uma atitude tranquilizadora e comedida, de acordo com a liturgia requerida pelo posto de porta-voz de uma indústria.
Mas acontece que o histórico internacional comprova que, no plano geral, exceto China, a vocação da indústria transformadora de resinas é o mercado interno. Faça sol ou chuva no comércio exterior, o setor sempre exportou uma parcela discreta de sua produção. Afinal, como já comparou uma raposa do ramo no Brasil, transformador de plástico é igual pardal e restaurante chinês – tem em todo lugar. O Nafta, nesse sentido, bafejou os transformadores do México com a possibilidade, impensável antes do acordo comercial, de incorporar seu vizinho, os EUA, ao seu mercado doméstico. O que é muitíssimo diferente da pretendida ofensiva da Anipac sobre clientes de regiões como o Oriente Médio, cujo consumo de transformados perde longe para o norte-americano, é atendida por fontes de produtos acabados como a China e, para complicar o enrosco, está a 15.000 km de distância do México. Entre os efeitos colaterais infligidos por Trump, além da revisão unilateral do acordo comercial e o intento de levantar o muro na fronteira com o Texas, está bem claro o retorno forçado do México ao mapa da empobrecida América Latina, após 23 anos no bem bom da suíte presidencial da América do Norte.
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