“A Cirklo atingirá 9.000 t/mês de capacidade de reciclagem BTB em 2025”, atesta o dirigente Renan Henrique

Parceria de fintechs constitui a maior recicladora de PET grau alimentício do Brasil
A Cirklo atingirá 9.000 t/mês de capacidade de reciclagem BTB em 2025

A economia circular estende tapete vermelho para PET reciclado bottle to bottle (BTB), pois o único polímero recuperado autorizado no Brasil para uso em contato direto com alimentos, embalagens aliás atendidas pelo material com capacidades crescentes. Com todo esse estrelato de alcance global, a rentabilidade da reciclagem BTB encara pedreiras no Brasil como a precificação lastreada no muito mais disponível PET virgem, a preços com viés de baixa devido à superoferta (local e mundial), e um abastecimento tão inconstante que, em 10/10 último, a unidade recicladora da petroquímica de PET Indorama, em Juiz de Fora (MG), não tinha sucata para trabalhar. Essas rachaduras na operação, no entanto, não ofuscam o encanto com a tecnologia BTB mundo afora manifestado por fundos privados de cabeça feita pela sustentabilidade. O fascínio do mercado de capitais aflorou por aqui quando a fintech eB Capital comprou duas das seis maiores recicladoras BTB do país: a Green PCR, em 2022, e a Global PET, em 2023. O impacto das aquisições foi grifado ainda mais este ano pelo anúncio, no início de outubro, do investimento da gestora de Singapura Circulate Capital no negócio BTB controlado pela eB, levando à incorporação da Green e Global na Cirklo, maior indústria de PET reciclado grau alimentício do país. Renan Pereira Henrique, sócio da eB Capital expõe nesta entrevista a relevância dessa transação sem similar no reduto do poliéster restaurado.

Renan Pereira Henrique: oportunidades em outros segmentos de reciclagem de plásticos estão em avaliação.
Renan Pereira Henrique: oportunidades em outros segmentos de reciclagem de plásticos estão em avaliação.

Qual o montante aplicado pelo Circulate Capital na parceria com eB para constituir a Cirklo e expandir a operação de PET BTB no Brasil?
Não podemos divulgar o valor do aporte por razões de confidencialidade negociado entre eB e Circulate Capital. Entretanto, podemos compartilhar que o investimento faz parte da iniciativa de US$ 70 milhões lançada em 2023 pela Circulate Capital para a América Latina e Caribe. Aliás, a injeção de recursos na Cirklo é das maiores já feitas pela Circulate Capital. Quanto às expectativas, a missão da Circulate Capital é promover investimentos que ajudem a resolver a poluição marinha e urbana de resíduos plásticos. Além de um retorno financeiro adequado ao risco de investir em empresas de médio porte, a principal expectativa da Circulate Capital é de que seu investimento viabilize aumento na capacidade produtiva da Cirklo de forma a reduzir ainda mais a destinação imprópria dos resíduos plásticos.

Como ficam as participações societárias na Cirklo dos sócios minoritários fundadores da Global Pet e Green PCR?
Não podemos divulgar isso devido ao sigilo imposto em nossos contratos, mas podemos afirmar que o controle da Cirklo continua com o eB Capital.

Qual das fintechs propôs a parceria e qual a possibilidade de a eB investir em recicladoras na Ásia controladas pela Circulate?
A parceria entre as companhias foi desenvolvida de forma colaborativa, com ambas as partes reconhecendo as sinergias em suas expertises. A Circulate Capital viu na aliança oportunidade estratégica para expandir as operações na América Latina, aproveitando o profundo conhecimento da eB sobre o mercado brasileiro. Por sua vez, a eB entendeu que a Circulate traria à sociedade uma visão global sobre reciclagem e um network com os clientes brand owners em nível também mundial.
Quanto à possibilidade de a eB investir em recicladoras no sul e sudeste da Ásia, onde a Circulate possui investimentos, não está nos planos no momento. A atenção da eB concentra-se no mercado brasileiro.

Com a injeção de recursos da Circulate, quais as etapas iniciais da estratégia de ampliar o negócio de PET BTB no Brasil? E qual a possibilidade de a Cirklo ingressar na reciclagem de flexíveis, comprando uma empresa daqui, como fez a Circulate na Colômbia?
A parceria contribuirá para a Cirklo expandir sua capacidade produtiva, em especial no Sudeste e Nordeste, regiões onde já opera plantas em São Paulo e Paraíba. O aporte ajudará na aquisição de equipamentos e otimização dos processos para aumentar o volume produzido e a qualidade da resina. Além disso, parte dos recursos será usada para criação de hubs de consolidação de matéria-prima, dando mais capilaridade à coleta de resíduos para Cirklo.
Quanto à reciclagem de plásticos flexíveis, o foco imediato da Cirklo permanece em PET BTB, onde já tem uma capacidade expressiva e posição competitiva interessante. A diversificação para plásticos flexíveis dependerá da viabilidade econômica das soluções existentes e da disponibilidade de parceiros ou empresas estabelecidas nesse setor, o que é constantemente avaliado.

No seu planejamento estratégico, qual o indicador numérico da expansão do negócio de PET BTB em três anos? Está em cogitação Cirklo crescer na reciclagem de poliolefinas e de PET não BTB e outros negócios tocados pela Circulate na Ásia?
Com os investimentos em curso, a Cirklo objetiva alcançar capacidade de 9.000 t/mês (nota: 3.000 na planta da Green e 6.000 nas duas da Global PET) em 2025. Por enquanto, o foco está em PET BTB. No entanto, seguimos avaliando oportunidades em outros segmentos de reciclagem de plásticos. Com a Circulate Capital como investidora, a Cirklo terá acesso às operações dos investimentos na Ásia – mais de 17 empresas em 10 países -, facilitando a troca de boas práticas operacionais e comerciais.

Notória dificuldade para a reciclagem de plásticos no Brasil é o suprimento irregular de sucata de padrão melhor. Como a Cirklo planeja incrementar este abastecimento para suas plantas?
A Cirklo está ciente dos desafios relacionados ao suprimento de resíduos plásticos de qualidade no Brasil e, para garantir um abastecimento de excelente padrão, deverá adotar estratégias prioritárias como parcerias com cooperativas de resíduos, fortalecer relacionamento com fornecedores de qualidade e investir em centros de coleta de maior capilaridade na ponta.

Como a diretoria da Cirklo avalia a viabilidade comercial do PET BTB na conjuntura atual de crescente super oferta mundial possibilitando à resina virgem praticar preços competitivos diante da resina reciclada, produzida em escalas bem menores?
A super oferta da resina virgem é um ponto de grande preocupação para a Cirklo e o mercado de reciclado sofrendo com isso. Algumas recicladoras estão tendo de lidar com as reações de clientes ao informa-los sobre eventuais adiamentos de planos originais de recuperação de resíduos. Contudo, o plástico pós-consumo reciclado (PCR) possui importantes atributos socioambientais e vários brand owners atendidos pela Cirklo têm sérios compromissos de uso do reciclado em produtos transformados. Esses atributos contemplarão a resina reciclada com participação significativa no mercado de embalagens. Dito isso, entendemos que o mercado do material está cada vez competitivo e, para se manterem viáveis nesta competição, os players precisarão de alta qualidade e, com respaldo da escala, baixo custo operacional. Daí nossos investimentos nessas duas frentes.

Por que foi decidido unificar as operações da Green PCR e Global PET na razão social Cirklo em lugar de, por exemplo, constituir a holding Cirklo e deixar embaixo dela as duas recicladoras operando independentes como na gestão anterior da Eb Capital?
A decisão de unificar as duas operações foi um caminho natural, construído a partir da aproximação de ambas as empresas por terem um controlador em comum. Todos os sócios entenderam que a união faria sentido, pois nos posicionaria como marca e empresa únicas e mais fortes, melhorando a comunicação com clientes e parceiros, aumentando a escala e tornando o custo operacional mais competitivo.

 

Circulate Capital

No lugar certo, na hora certa

Nataly Acosta: reciclagem BTB no Brasil atraiu fundo de US$70 milhões para aplicações na América Latina.
Nataly Acosta: reciclagem BTB no Brasil atraiu fundo de US$70 milhões para aplicações na América Latina.

“A decisão de investir em PET BTB no Brasil reflete nossa confiança no potencial do país para impulsionar a economia circular na América Latina”, interpreta Nataly Acosta, gerente de relações com investidores na região da fintech de Singapura Circulate Capital, parceira no negócio de reciclagem do fundo brasileiro eB Capital. “Embora o Brasil enfrente desafios econômicos e políticos, também oferece oportunidades únicas para fortalecer a cadeia de reciclagem, em especial de PET de grau alimentício, cuja demanda continuará aumentando exponencialmente”.

A parceria estabelecida, considera a executiva, reflete uma convergência de objetivos e timing. A Circulate Capital buscava empresas robustas para apoiar e escalar no primeiro ano de operação do seu fundo na América Latina, lançado em 2023 com lastro de US$ 70 milhões e apoiado por  corporações como Cp Chem, Dow Chemical, Danone, Mondelez e Unilever. “Esse movimento alinhou-se com o momento da eB Capital, que também procurava aliados para expandir sua plataforma de PET BTB”.

Em outra aposta na América Latina, a Circulate Capital comprou, em julho último, a recicladora colombiana de flexíveis Polyrec. “A aquisição foi motivada pelo nosso comprometimento em  abordar a questão dos resíduos plásticos de forma abrangente e estratégica”, explica Nataly. “Embora o material flexível possa ser menos valorizado atualmente, acreditamos em seu enorme potencial. considerando em particular as crescentes demandas regulatórias e o interesse de grandes empresas, usuárias dessas embalagens, em adotar soluções sustentáveis. Estamos contribuindo, portanto, para diversificar e fortalecer a cadeia de reciclagem, proporcionando uma solução completa a diferentes tipos de resíduos plásticos”. A gerente situa a capacidade de reciclagem da Polyrec em torno de 17.000 t/a, volume tido por ela como suficiente para cobrir a a demanda local e regional. Em paralelo, Nataly acentua a disposição de sua fintech em fincar estacas no México. “É o segundo mercado da América Latina”, ela justifica. “Nossa abordagem é baseada em auditorias visando sólidas parcerias locais e apoio a empresas resilientes e engajadas em práticas sustentáveis”.

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