À beira do coma induzido

A indústria nacional de máquinas para plástico respira pelos aparelhos
Fernando Moraes
Fernando Moraes

Estou no setor de máquinas para plásticos desde 1969 e nunca presenciei crise pior do que esta. Diversos fabricantes baixaram as portas e os remanescentes fizeram a lição de casa da redução de custos em cima de ajustes de pessoal. Ou seja, puseram na rua gente treinada e sem perspectivas de recolocação a curto prazo. Do lado da demanda, convenhamos ser muito difícil alguém pensar em investir em bens de capital com quedas sucessivas do PIB acima dos 3% anuais. Assim, a conjuntura mostra-se muito crítica para a indústria nacional de máquinas, inclusive por já sofrer há três anos com queda de vendas e aumento de custos. Ela não tem o menor fôlego financeiro e corre sério risco de extinção nos próximos dois anos.

A desvalorização do real, escassez de crédito, produção ociosa e a recessão sem fim à vista também levam os fabricantes internacionais de máquinas a repensarem suas bases de vendas no Brasil. Não é uma boa notícia para os transformadores. A tendência é de as marcas do exterior continuem presentes aqui apenas através de representantes, sem qualquer investimento adicional. Em momentos como os de hoje em dia, os grandes grupos apertam os cintos e tomam mais precauções para atender os poucos pedidos locais que, por força da crise econômica e política, perigam se transformar em contas a receber em futuro incerto.

Olhemos o segmento de sopradoras, meu campo de atuação. Sua demanda mundial é restrita e o Brasil, mesmo do jeito que está, ainda seduz marcas importadas. Nesse cenário, o câmbio é uma faca de dois gumes, pois a moeda forte encarece não só esses equipamentos, mas o produto nacional, pois a maioria de seus componentes, embora adquiridos aqui, têm a referência de preço em dólar ou euro. Na ponta do argumento, temos nossos transformadores encostados contra a parede pelo declínio de seu grau de capitalização, muitos deles aliás empobrecidos a ponto de estarem operando apenas por não ter como bancar as despesas necessárias para fechar formalmente o negócio.

Segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), a idade média do parque fabril do setor varia de 10 a 14 anos e sua renovação é prioridade, pois não é o Brasil quem vai afrontar uma lei da vida do mercado mundial: só sobrevive quem tiver tecnologia em dia, cujo custo final de produção é diminuído pela automação do processo e economia de energia. Exemplo: a palavra de ordem em sopro na América Latina é a compra da máquina elétrica. Pode-se contar numa única mão quem investe nela por aqui.

O discurso geral recomenda as exportações como válvula de escape da tragédia interna. Na esfera das sopradoras, como as linhas nacionais operam nos padrões tecnológicos do Primeiro Mundo, a questão é financeira. Primeiro, porque as sopradoras brasileiras sofrem como ônus dos componentes precificados em dólar. Além disso, o governo nos manteve anos a fio fora do exterior com uma cotação irreal do dólar, situação reparada pela virada cambial no ano passado. Com dólar na casa dos R$ 4,00, uma sopradora brasileira chega na América Latina a preço em torno de 10% inferior ao da concorrente italiana. É muito pouca essa diferença para as exportações deslancharem, como pressupõe o otimismo do governo. Como tudo no Brasil, o buraco é mais embaixo. •

Fernando Moraes é diretor comercial da indústria de sopradoras Multipack Plas.

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