“Menor oferta x demanda alta x limitação de volumes x forte aumento nos preços das resinas x parada de plantas = QUADRO CAÓTICO”.
Com esta síntese, a Associação Brasileira da Indústrias de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) desenhou a conjuntura do mercado nacional em seu primeiro relatório mensal de 2021. De cara, duas conclusões: a) 2020 pode ter acabado no calendário, mas segue ligado no maçarico no período atual e b) é pouco provável que a fórmula do caos exposta aí em cima saia de cartaz a curto prazo.
Antes da pandemia, a praxe na trajetória de preço e demanda dos termoplásticos era a dos aumentos mais substanciais no segundo semestre, com pico no final de outubro/início de novembro, tendo em vista as encomendas para atender as indústrias de produtos acabados focadas no embalo das vendas de fim do ano. Em janeiro, com o consumo esfriado, os preços das resinas caíam e se estabilizavam até o fim do carnaval, quando o mercado tornava a acordar. Pois o corona jogou essa rotina no lixo. Em dezembro último, por exemplo, as importações brasileiras de polietileno (PE) e polipropileno (PP) estabeleceram recorde entre os meses de 2020, somando cerca de 140.000 toneladas, e nova rodada de reajustes nos preços foi anunciada logo na primeira quinzena de janeiro de 2021.
O xis imediato do problema é uma sequela pontual do corona: a escassa disponibilidade internacional de resinas e frete. No Brasil, esse cenário também é afetado pelo câmbio e, conforme assinala o relatório da Abief, por paradas programadas para o semestre atual de plantas de poliolefinas da Braskem, único produtor local desses polímeros campeões do consumo. Portanto, sem ou com auxílio emergencial em cena, o fato é que a oferta doméstica das resinas commodities (exceto PET) deve continuar aquém da procura, realçando assim a premência das importações.
Em outros tempos, este cenário global animaria a ruminação de investimentos em crackers e expansões a jusante da cadeia petroquímica, em derivados como resinas, para entrada em campo por volta de 2030. No entanto, essa reflexão tromba com os preceitos da legislação ambiental da União Europeia e da agenda verde dos EUA de Joe Biden e da China de Xi Jinping. Afinal, hoje reina o consenso mundial de combate às mudanças climáticas, de modo que não seria fácil justificar saltos na oferta de polímeros diante da imposição de se atacar o problema do lixo plástico. Outro entrave à operação de grandes crackers virá da declinante disponibilidade de nafta e gás natural, devido ao já iniciado fechamento de refinarias de petróleo provocado pela eletrificação do transporte rodoviário.
Na mesma trilha, pesa a perspectiva da substituição gradual de nafta e gás natural pela reciclagem química de refugo plástico para gerar eteno e propeno em escalas inferiores às dos tradicionais crackers. Pelo flanco da logística, citam analistas, a hipótese de nova rodada de investimentos em grandes capacidades na petroquímica esbarra na perda de viabilidade econômica do frete de longa distância de resinas convencionais, em virtude da cogitada cobrança de taxas pela produção de carbono nos países desenvolvidos. Por fim, qualquer plano de investimento em petroquímica hoje não pode ignorar que o desempenho do PIB não serve mais para se calcular o potencial de consumo de resinas. Basta olhar o efeito do crescimento da rejeição a plásticos de uso único mundo afora.
O Novo Normal ceifou postos de trabalho no turismo, varejo e lazer. Em contrapartida, fez deslanchar o e-commerce, home office, reformas residenciais, o hábito de cozinhar em casa; enfim, uma série de mudanças ( muitas delas devem permanecer pós-corona) contendo necessidades que traduzem novas oportunidades para o plástico. Para uma indústria que sempre cresceu na aventura de empurrar o mundo para frente com inovações, não é a primeira nem a última vez que depara com o suspense da pergunta: “o que vai acontecer agora?”•