Entre charretes e carros

Uma transição inédita cobra do setor plástico a visão aberta do empreendedor de startup

Entre outros motivos, Geraldo Alckmin tomou uma coça na eleição para presidente por não entender o mundo em que vive. Vendeu a alma ao diabo para conseguir mais tempo de TV crente que, como sempre foi, a comunicação por este canal decidiria o jogo nas urnas.

Quebrou a cara diante da penetração tsunâmica das redes sociais, ferramenta de mídia de baixo custo e, aliás, também não levada em conta pelos criadores dos fundos partidários para cacifar campanhas. Mais uma prova do alheamento da realidade que viceja em Brasília.

O mundo de hoje, setor plástico incluso, evoca aquela fase do século passado em que era ultra perigoso cruzar a rua, devido ao risco de os recém introduzidos automóveis trombarem com os cavalos. Anda difícil escolher entre transição e estupefação para traduzir o momento atual. Um exemplo recente, de três anos atrás, foi a surpresa do corpo diplomático francês ao comunicar um afrouxamento das barreiras à imigração ao abrir exceção para deficientes físicos. Em pouquíssimo tempo, pela disseminação entre os refugiados da nova regra pelas redes sociais, barcos chegavam do Mediterrâneo repletos de africanos em cadeiras de rodas.

Com o coração na boca, o plástico trata de escapar das charretes e carros no asfalto. Perdeu para a avalanche digital a conotação de suprema vanguarda que desfrutou no século XX. Desse modo, passou de software, na acepção de um poder de inspiração e influência, para o de hardware, no sentido de solução coadjuvante, destinada a dar uma forma concreta à transmissão virtual de informações. Já se disse que, na Antiguidade, preferia-se erguer cidades ou fábricas perto de grandes rios, pois eles viabilizavam o acesso ao poder, mobilidade, alimento e aos mercados e culturas das populações próximas. Pois bem, o Tâmisa, Reno, Danúbio e Mississipi de hoje chamam-se Amazon Web Services ou a ferramenta Azure, da Microsoft. São os rios dos fluxos digitais que dão sequência a conquistas do plástico, como a democratização do consumo global de bens duráveis e produtos primários, conectando países e negócios às tecnologias móveis e bombeando neles o oxigênio computacional de que hoje dependem para viver.

Com tanta diversidade e profundidade de uso alcançadas pelas conexões, os fluxos digitais empurram a sociedade para uma transfiguração do modo como se vive, trabalha, aprende, desloca e se comercializa. Enfim, um mundo bem mais interdependente e no qual, atestam infinitas pesquisas, a população mais conectada já conhecida é a que reúne o maior número de pessoas que se sentem isoladas. Isso evidencia a carência de uma conexão: a humana. Fala por si a apreensão, hoje latente em qualquer ambiente de trabalho, que um robô ou equipamento venha decepar o emprego de alguém.

Com tanta informação disponível, instrumental barato e conexões de longo alcance para viabilizar esta revolução tecnológica em andamento, manda a lógica que também se chegue a soluções para tornar a vida mais próspera, produtiva, segura e saudável com apoio da inteligência artificial. Nesse contexto, o plástico começa a tomar pé das coisas ao estilo das lutas marciais, tratando de tirar proveito dos golpes recebidos, e olhando ao redor com o deslumbre e arrojo de um empreendedor de startup. No setor automotivo, por exemplo, a contagem regressiva para o motor a gasolina já desencadeia um mergulho nas profundezas dos plásticos de engenharia, em busca de formulações adequadas às exigências recrudescidas de propriedades mecânicas, químicas e térmicas para aplicações relacionadas a carros elétricos e novos componentes inspirados pelos veículos autodirigidos, desprovidos de painel e volante, por exemplo. E justo neste instante, cientistas devem estar imersos, com a criatividade vitaminada pela assistência virtual, no rastro de soluções plásticas que venham tirar embalagens como as multimaterial ou de poliestireno da linha de tiro do discurso da economia circular, devido a questionamentos sobre sua reciclabilidade.

Para a transição tomar seu curso, é preciso aprender a navegar entre as pedras e correntes do rio. •

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