“Os canudos plásticos estão sendo massacrados na mídia mundial como inimigos do meio ambiente, culpados pela poluição marinha e urbana. Os críticos têm razão ou, como reza aquele ditado, afobado come cru?
Vejamos: é sabido pela população que o plástico tem um tempo prolongado de decomposição e absorção pelo meio ambiente, na média de 450 anos. Mas há um detalhe que não é divulgado: se o material for descartado corretamente, é possível a sua recuperação e reúso em outras aplicações. Ou seja, os canudos, tal como as embalagens em geral, recebem os efeitos da falta de conscientização da sociedade relativa ao descarte correto. Na verdade, portanto, o grande vilão é o homem que não acondiciona nem descarta lixo de maneira adequada. Até o filtro do cigarro, que tem seu tempo de decomposição estimado de cinco a 10 anos e é jogado com assiduidade nas ruas, torna-se um estorvo em dias de chuva para o ecossistema, ao ajudar a entupir os bueiros e, se levado pela corrente para o mar, pode causar asfixia ou contaminação do animal que o ingerir, devido à presença da nicotina em sua composição. Em suma, dá para elencar, nessa trilha dos canudos, uma infinidade de produtos que, por essa linha radical de raciocínio, constituiriam potenciais pesadelos para a natureza.
Só para exemplificar: a faca foi um dos primeiros utensílios produzidos pelo homem para garantir sua subsistência. Se ele a utiliza para matar alguém, quem é o criminoso: a faca ou quem faz mau uso dela?
Outra pergunta para os universitários: por que o descarte incorreto ultra praticado pela população nunca é mencionado nesses ataques ambientalistas aos canudos plásticos? A meu ver, o que se quer é, como diz a música, jogar pedra numa Geni ambiental. Por ser um produto pequeno e leve, o canudo pode sumir da vista quando jogado fora, mas quando juntam-se vários deles percebe-se então o volume do descarte impróprio. Não digo que a população seja porca ou mal educada; na realidade ela é, no plano geral, mal orientada. Se pequenos pontos de coleta de descarte fossem colocados nas praias, por exemplo, talvez aos poucos essa postura de desleixo seria trocada pela consciência de que a preservação da natureza é uma responsabilidade de todos. E isso pode ser ensinado dentro de casa, a partir da separação do lixo entre orgânico e reciclável e com campanhas educativas nas escolas e locais de trabalho.
Apesar de governos, entidades e grandes empresas procurarem há décadas despertar o povo com campanhas e ações a favor da reciclagem, permanecem altos os volumes de plástico pós-consumo descartado incorretamente. Eu julgo que esse esforço para sensibilizar a sociedade até hoje não deu resultados satisfatórios porque a consciência ecológica é relativamente nova no Brasil, onde faltam campanhas educativas e fiscalização para cumprir a lei, tanto dos órgão públicos como da população. Se todos fizessem sua parte, não haveria uma incidência inadmissível de lixo urbano ao deus dará em qualquer cidade do país. Vale o mesmo para outro hábito vergonhoso nosso: jogar lixo, garrafa, lata, saco e o que fôr pela janela do carro.
Retomando o fio do canudo plástico, eu sinceramente não vejo como substituí-lo, em função dessas críticas apressadas e sem fundamento. Muitas bebidas foram concebidas tendo em vista sua ingestão por canudos e, além do mais, ele tem a vantagem higiênica de inibir o contato bucal direto com o recipiente. Se passarmos para copos, pratos e canudos de papel, vale lembrar que todos eles são impermeabilizados com um material derivado de petróleo, o que impede sua reciclagem. Como este tipo de produto também será descartado de maneira errada pela população desinformada, a lamentável agressão à natureza vai continuar. Olhando de forma fria e consciente, ainda acho que o plástico é a melhor opção; falta apenas uma campanha instrutiva voltada ao público de massa demonstrando as virtudes do descarte correto.
Enquanto nada disso acontece, observo que, em cidades do mundo inteiro, pipocam leis de cunho ambiental proibindo o uso de sacolas plásticas no comércio e daí para vetar ao máximo o uso dos canudos periga ser um desdobramento lógico. Se essa onda pega, infelizmente não só a empresa que represento como muitas outras do segmento fecharão e lá se vão embora mais empregos. Mas o problema do dano ambiental não estará resolvido, pois reitero que, do jeito que está colocado, presenciamos uma luta contra determinado produto, mas que não se manifesta às claras contra o vandalismo praticado pelo ser humano, o principal responsável pela degradação da natureza. Trata-se, enfim, de uma campanha muito bem montada para se achar um culpado pela falta de responsabilidade para com o meio ambiente. Como canudo não fala, ele vira, tal como as sacolas, uma Geni ideal para desviar a atenção do público sobre quem é o verdadeiro poluidor”. •
Valney Aparecido é gerente comercial da indústria Plastifer,
fabricante dos Canudos Bicão.