Os fornecedores de máquinas trabalham com uma certeza. Se suas linhas passam pelo crivo da Videplast, este aval é meio caminho andado para as vendas fluírem no setor de embalagens flexíveis. Na ativa desde 1986, esta transformadora catarinense controlada pela família Denardi construiu reputação de hi tech em filmes, não raro figurando até entre os primeiros compradores de equipamentos recém lançados no mercado mundial. Não é para menos. Seja alta ou baixa a maré da economia, a Videplast investe no estado da arte dos processos e no atendimento próximo de gemas do quilate da BRF, JBS, Cargill, Aurora, Frangosul, Pepsi-Cola, Ambev e, em pet food, Premier e Magnus. Entre os indicadores recentes de desembolso em tecnologia, constam a coex blown de 11 camadas da alemã Reifenhäuser, a instalação da também alemã Windmoeller & Hoelscher para colocação automática de válvulas em sacos, linhas para pouches de poliamida e para sacos de fundo quadrado de pet food. No início de 2016, a empresa partiu na surdina sua planta no Paraguai, amalgamando o contingente completado por cinco unidades alojadas em Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro, Paraná e a matriz em Videira, no chamado meio oeste catarinense. Entre os troféus no showroom da empresa, figuram o pioneirismo local na substituição do cartucho de cartão por filme laminado em embalagens primárias de pratos prontos de frigoríficos e exportações – diretas e embalando alimentos – de flexíveis para os EUA e Europa. Um dos principais mentores dessa trajetória é Domenico Macchia, ex-executivo estelar da Dow e Braskem e, desde junho de 2007, diretor de novos negócios e desenvolvimento de novos mercados da Videplast. Nesta entrevista, ele escancara a gestão que imuniza o negócio contra a instabilidade da economia.
PR – Mercados atendidos pela Videplast, entre eles o noticiário aponta pratos prontos, amargam consumo em baixa. Quais os campos de melhor desempenho nas suas vendas em 2017?
Macchia – 2017 foi um ano totalmente atípico para o mercado como um todo, devido à recessão que passamos e começamos a sair do limbo a partir de agosto último. Contrariando a mencionada percepção da mídia, a linha de pratos prontos, principalmente aquela que passou de cartonado para embalagens primárias flexíveis, vem crescendo. Aliás, mais players do setor de alimentos já realizaram esta migração e outros estão em fase avançada dos projetos nessa direção. Retomando o mérito da pergunta, em toda recessão é comum que as pessoas busquem produtos mais acessíveis e com embalagem menos nobre. Portanto, durante a crise ocorreu um deslocamento das embalagens mais nobres para a mais simples e os volumes destas últimas aumentaram. No entanto, devido à sua a estrutura menos complexa e de menor peso, constatamos que o consumo de embalagens flexíveis caiu um pouco. No plano geral dos setores atendidos, a Videplast está bem posicionada no mercado de proteína animal. Participamos de vários dos seus segmentos com embalagens mono extrusadas e de estruturas até 11 camadas e/ou laminadas com e sem solvente, além de flexíveis com zíper, cook in, sacos valvulados, versões natalinas ou linha festa, filmes shrink e stretch etc.
PR – Quando partiu a planta da Videplast no Paraguai e qual o seu mix de flexíveis?
Macchia – A produção começou em janeiro de 2017. Estamos buscando mercados no Brasil e no restante da América do Sul, para shrink, filmes para laminação e para embalagens form/fill/seal (FFS), também conhecias como filmes de empacotamento automático, destinadas ao armazenamento de arroz, açúcar e cereais em geral. Possuímos na unidade uma coextrusora para filmes de até cinco camadas da alemã Reifenhäuser, com capacidade nominal de 1.000 kg /h e controle de espessura, permitindo-nos entregar um filme com variação de 2 sigmas.
PR – Com a produção no Paraguai, qual a atual capacidade instalada total da empresa?
Macchia – Considerando essa planta e, na sede em Videira, a partida de mais uma máquina coex semelhante à do Paraguai e de outra linha de cinco camadas para filmes especiais nossa capacidade instalada se aproxima das 6.000 t/mês. Mas em meados de 2018 pretendemos ampliar esse potencial ativando mais uma coex de cinco camadas com capacidade nominal de 800 kg /h em nossa unidade em Rio Verde,
PR – Videplast tem nome feito em flexíveis de ponta. Por que ainda produz de baixo valor agregado, baixa rentabilidade e alta concorrência, como shrink, stretch e sacolas camiseta?
Macchia – Todo grande convertedor necessita do mais amplo portfólio de embalagens para atender o cliente final. Este leque de alternativas nos proporciona um aumento da capacidade instalada, nos permite boas negociações com os principais fornecedores de resinas e, enfim, isso ajuda a reduzir os custos fixos e a maximizar nosso custo de frete. A rentabilidade dos flexíveis commodities da Videplast é relativa, depende do volume produzido, tecnologia empregada e mercado alvo em vista, De todo modo, tratam-se de embalagens que ajudam a gerar fluxo de caixa.
PR – Por que a empresa prefere a impressão flexo à rotogravura?
Macchia – A Videplast conta com um parque maior de flexografia. Isso decorre de resolução tomada no passado em função das novas tecnologias empregadas nessas impressoras, assim como de novos clichês e tintas disponíveis. Os últimos investimentos nesta área foram em linhas Windmoeller & Hoelscher e Bobst, respectivamente de 10 e 8 cores. Investimos também em um sistema AVT, que proporciona a leitura completa da banda impressa, através da qual poderemos monitorar 100% do processo de gravação, detectando qualquer problema de máquina ou falha de impressão. Isto nos permite analisar tudo o que foi impresso e decidirmos se encaminhamos esses dados à revisora, incumbida de realizar a separação estrita do segmento impresso com defeito, reduzindo assim o desperdício e tornando a operação geral mais sustentável.
PR – Quais os critérios da Videplast para selecionar os mercados que cobre?
Macchia – Como já mencionei acima, a Videplast tem uma participação significativa no mercado de proteína animal e conta com equipamentos de primeira linha e, em alguns casos, do estado da arte. Com base nessas tecnologias disponíveis, buscamos mercados que apresentem alguma sinergia com elas. Por exemplo, embalagens de pet food e bags das fraldas, pois investimos em vários equipamentos Wickter de alta velocidade de corte e solda e com perfeição no acabamento final. Tomemos o caso das sacolas promocionais. Trata-se de linha extremamente complexa e destinada ao setor de proteína animal, direcionadas para promover a venda de itens natalinos e de final de ano. Por sinal, a Videplast foi pioneira na produção e design diferenciados desse tipo de embalagem no país. O mercado de pet food também integra o nosso core business, com sacos valvulados. Investimos na produção automatizada desses sacos, com garantia de qualidade unitária constante. Vale ressaltar que instalaremos ao longo de 2018 uma nova tecnologia em nossos equipamentos para sacos valvulados. Trata-se de um acessório cuja primeira instalação foi feita numa transformadora no Canadá e a Videplast adquiriu o segundo equipamento colocado à venda no mundo e deverá acioná-lo a apenas quatro meses da partida do primeiro. Ele nos permitirá participar de mercados para os quais se requer a eliminação do ar durante o enchimento do saco em alta velocidade.
PR – Qual o tipo de embalagem de 11 camadas já produzida pela coex que partiu em 2016?
Macchia – Tratam-se de filmes e bags de alta e média barreira. A máquina nos permite desenhar embalagens mais complexas e buscar alguns ganhos com espessura e distribuição de várias resinas. Um exemplo de embalagem de 11 camadas da Videplast é o filme para presunto de peru da Sadia. Também possuímos uma linha cast de 7 camadas, recém-saída de um retrofit no qual atualizamos os sistemas de gerenciamento, matriz e feed block com a mais alta tecnologia disponível. Nossas cextrusoras de 9 e 11 camadas se complementam para fortalecer nosso portfólio e a capacidade para desenvolvermos embalagens. Além dessas máquinas coex possuímos linhas de cinco camadas, concebidas para flexíveis de média e alta barreira; produzimos nelas filmes e bags mais commodities.
PR – A Videplast possui 2 plantas relativamente próximas no Centro-Oeste. Por que preferiu operar com duas fábricas em lugar de cobrir mais racionalmente a região concentrada numa única unidade?
Macchia – O Brasil é complexo na área tributária. Além do mais, sempre buscamos estar próximos dos clientes. As duas unidades trabalham em áreas distintas de atuação e operam com logística de entrega em separado. Proporcionamos assim um atendimento mais rápido e adequado.
PR – A empresa é uma referência de transformadora famillar bem sucedida, em crescimento constante, inovadora, atualizada e de gestão profissionalizada. É o protótipo de indústria acalentado pelo mercado financeiro para ele investir numa participação minoritária no negócio ou para vender ou associar a Videplast a um global player. Qual a posição dos controaldores relação a essas possibilidades?
Macchia – No momento, não estamos pensando em alguma associação ou venda do negócio. Nosso planejamento estratégico visa o crescimento em alguns mercados e expandir para outras regiões com aquisições ou plantas erguidas da estaca zero, como fizemos no Paraguai.Também queremos aumentar o nível de exportação para itens em que possuímos tecnologia altíssima e competitiva. •