Em toda empresa familiar, a hora da verdade soa quando o fundador deixa a cabine de comando. Para a Electro Plastic, um capítulo da saga dos flexíveis no país, esse momento chegou em circunstâncias singularmente complicadas. Aos 83 anos, Israel Sverner decidiu aposentar-se em meio à pior recessão da história do Brasil, com queda abrupta na receita da sua transformadora de médio porte, um monte de concorrentes na praça e sem ter um sucessor a quem passar o bastão. Para preencher a lacuna, a família Sverner optou por terceirizar a gestão do negócio contratando para o cargo de CEO Wilbert Sanchez , integrante da consultoria TCP Latam. É o seu primeiro banho de imersão no universo do plástico. Ele assumiu o leme da empresa em abril último e a vigência do seu mandato está em aberto, sem duração determinada.
Sanchez pega a Electro Plastic na curva dos 61 anos de mercado e num rabo de foguete, uma fase de arquear as sobrancelhas. Com capacidade nominal estimada em 5.000 t/mês, ela tem produzido este ano na faixa de 2.200 toneladas no mesmo período, volume correspondente a um faturamento mensal gravitando na órbita de R$ 25 milhões. “Em 2016, as vendas caíram 30% em relação a 2015”, situa o novo CEO. A expectativa para 2017 é de retornar aos patamares de dois anos atrás e, entre os meios apalpados para tanto, Sanchez e sua equipe debruçam-se sobre possibilidades tais como sublocar máquinas ociosas em outras transformadoras, tendo em vista incrementar os volumes de fornecimento da Electro Plastic ou proporcionar-lhe o desfrute de alguma etapa da manufatura que não realiza. A propósito, o gestor conta que a empresa terceiriza atividades como laminação e metalização e determinadas operações de pós-acabamento.
Sanchez dedica-se em tempo integral à reestruturação da Electro Plastic, sem ter sua venda ou joint venture em mente. “Mas todas as oportunidades surgidas serão estudadas”. Bem em conta em moeda forte, os ativos da transformação brasileira de flexíveis hoje talvez sejam os que mais atraem investidores do exterior, de olho no ingresso num mercado emergente ainda visto como de respetito, apesar dos pesares de uma economia à deriva.
Na ativa por décadas na zona sul paulistana, a planta sede da Electro Plastic foi desapropriada pela prefeitura. Por falta de espaço, sua maior máquina, a coextrusora cast de cinco camadas da e polietileno (PE) da italiana Bandera, operava num galpão próprio na mineira Varginha. Razão suficiente para a Electro Plastic ter mudado para lá a sua fábrica, cuja operação foi reativada em fevereiro passado, e reinstalado a administração em andar num prédio na zona oeste de São Paulo. Na selfie atual, o parque fabril alinha 22 extrusoras de PE, três linhas de filme monocamada de polipropileno (PP) e três flexográficas. Sanchez calcula o quadro de pessoal em 400 funcionários, dos quais 350 na fábrica e está em cogitação eliminar a intervenção manual na alimentação das extrusoras. A automação, ele deixa claro, é pertinente por decepar custos, tal como o investimento já feito em energia solar para poupar gastos com eletricidade em Varginha.
Sanchez calcula na faixa de 650 empresas os clientes ativos na carteira da Electro Plastic. Entre eles, mostra o site da transformadora, figurões de alimentos como Piraquê, Pepsico, Bauducco, Panco e Ajinomoto. Na partilha do faturamento, o CEO atribui respectivas parcelas de 40% a agrofilmes e filmes técnicos e 20% à denominada categoria varejo- sacolas e sacos de lixo. Num rasante, Sanchez percebe os melhores resultados a tiracolo do boom do agronegócio, através da procura de películas para o cultivo protegido e silo bolsa, esta uma alternativa que tem tomado vulto em razão da insuficiência nacional de galpões metálicos para estocagem de grãos colhidos. Na esteira, Sanchez deixa patente o propósito de vitaminar suas vendas para o campo mediante aparições em feiras como a Agrishow e na garupa da sustentabilidade. “Hoje em dia, o agricultor se preocupa com os refugos de filmes não degradáveis deixados em sua lavoura”, ele assinala. “Entre as alternativas em estudo, consta a oferta de nossos produtos acrescidos de masters biodegradáveis importados”.
Na esfera da categoria varejo, Sanchez reconhece que a rentabilidade do segmento é atanazada pelo baixo valor agregado e por um exército de competidores, muitos deles com produção acima da sua ou adeptos do tiroteio de preços em que a primeira vítima é a qualidade. Ele afirma ter se convencido de que, apesar desses complicadores, ainda vale a pena para a Electro Plastic disputar a demanda dessas embalagens aviltadas. “Nossa extrusora do filme de saco de lixo roda 24 horas contínuas, racionalizando custos pela escala, e pesquisas nos dizem haver espaço para sobressair pela qualidade neste mercado movido a preço, a exemplo do oferecimento de sacos acessíveis e mais resistentes ao rasgo que concorrentes produzidos com aparas. É o caminho aberto pelo custo/benefício ao nosso marketing no ponto de venda”, ele interpreta.
A ociosidade nos píncaros da lua e a erosão do caixa provocados por quatro anos de economia à deriva inocularam anemia na transformação nacional de plásticos. Com base em amostragem de 81 empresas, estudo realizado pela Associação Brasileira da Indústria Plástica (Abiplast) com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) constata que os investimentos na transformação caíram 50% e para 2017, está prevista nova diminuição de 14%, percentual correspondente a R$ 148 milhões não desembolsados. O resultado foi delineado principalmente pelo comportamento de empresas de médio porte, como a Electro Plastic, que empregam entre 100 e 499 funcionários, e pretendem reduzir seus investimentos em 29%. Esse astral de crista baixa não passa batido para Sanchez, assim como a instabilidade para planejar qualquer coisa sob a incógnita de quem vencerá as próximas eleições presidenciais, fator visceral num ambiente de altíssima intervenção do governo n macro e micro economia. “Seja como for, estou aqui para gerar valor e ganhar dinheiro e isso passa pelo rearranjo do negócio e prospecção de oportunidades”, rebate o CEO. “Uma delas pode vir do exterior. A Electro Plastic sempre exportou pouco, tal como a regra em transformadoras de plástico, mas agora estamos mais agressivos. A África, por exemplo, não poderia ser um bom mercado para agrofilmes? ” •