Até o final do ano, a Unigel espera tirar da hibernação a sua capacidade instalada de 190.000 t/a de poliestireno (PS) em São José dos Campos (SP), anuncia Wendel de Souza, diretor de negócios para estirênicos do grupo nacional. A parada resultou de decisão estratégica e não causou fissuras no desempenho de sua área. “Continuamos produzindo o volume de fornecimento habitual com redução de 80% dos custos fixos”, comemora o executivo. O grupo nacional tem rodado com força total sua operação de 130.000 t/a de PS no Guarujá (SP). “Fizemos o mesmo no excelente exercício de 2013”, encaixa Souza. Em São José dos Campos, assinala, a Unigel conta com um trem de 60.000 t/a e outro, mais recente, de 130.000 t/a. Como manda a lógica, Souza condiciona a volta à ativa desse complexo, cuja hibernação é fator-chave para atenuar o desbalanço entre oferta e consumo domésticos do polímero, ao grau de reação da demanda de PS, a ponto de cobrir os custos fixos adicionais envolvidos. Nesta entrevista, o diretor da Unigel abre a janela para o mercado interno de PS, entrevê indícios de melhora nesta metade final do ano e pincela as variáveis capazes de asfaltar um crescimento sem voos de galinha.
PR – Como avalia o impacto da crise sobre a produção e consumo brasileiro no primeiro semestre?
Souza – O mercado de PS é maduro e, em regra, evolui em linha com o PIB. Ponto comum com todos os termoplásticos, o primeiro semestre é sempre mais fraco para PS que o último. No plano geral, o movimento é projetado em 380.000 t/a e repartido entre descartáveis (30%); linha branca (22%); espumados (10%); embalagens de laticínios (10%) e usos diversos, como UDs ou itens de calçados, com o percentual restante. Retomando o fio, a linha branca, geladeiras à frente, acusou retração além do habitual nos primeiros seis meses, inclusive devido ao fator Copa incentivar a compra da linha marrom, a cargo de TVs, levando o consumidor a postergar a substituição do referigerador. Outro ponto a destacar: na contramão do que se pensava, a Copa, apesar de evento de congraçamento e socialização, causou queda no consumo de descartáveis, artigos de festas como copos. Pesaram contra os dias em que o país literalmente parou; tal como um período de Carnaval ampliado. Empresas pararam por causa dos jogos, inclusive as destinadas ao suprimento e entrega dos copos e itens como bandejas. Feitas as contas, o consumo desses descartáveis durante o evento não contrabalançou esses dias parados. Além do mais, quando a renda cai, leva junto o consumo de itens considerados supérfluos como descartáveis. Por isso, costumo dizer que PS se assenta sobre dois pilares: o PIB per capita, ao qual descartáveis e embalagens de alimentos se atrelam, e a confiança do consumidor na economia, o motivador da compra de produtos da linha branca. Com base nisso e na esperada reação na metade final do ano, o consumo nacional de PS deve manter a praxe de evoluir em linha com o PIB, se bem que o consenso das previsões indique um crescimento muito baixo, da ordem de 1%.
PR – Ao longo dos últimos quatro anos, o setor de linha branca teve seguidos benefícios fiscais. Sem esse alívio tributário e num quadro de oferta mais seletiva de crédito e alta inadimplência, quais as chances para esse campo de PS voltar a crescer com intensidade?
Souza – Veja quem dá o tom na linha branca- Whirlpool, Electrolux, Panasonic e mesmo a subsidiária da mexicana Mabe, hoje em recuperação judicial no Brasil. Todos esses participantes são múltis, apoiadas em planejamentos de longo prazo. Ou seja, temos um parque industrial consistente para linha branca. O problema de fundo é o sistema fiscal brasileiro, que tributa a venda em demasia, bem acima do padrão internacional, inclusos países como EUA e Argentina. Com o benefício fiscal, a carga tributária baixa e alarga o acesso do consumidor à linha branca, cujas vendas aliás têm crescido acima do PIB. O segmento veio de uma fase de crescimento expressivo, puxado pela melhora do poder aquisitivo de baixa renda. Hoje em dia, esse campo está satisfatoriamente preenchido – basta ver qualquer comparativo da penetração de geladeiras nos lares brasileiros entre os dias de hoje e cinco anos atrás. Mas outras frentes estão em evidência para a linha branca, a exemplo do mercado single, do consumidor que mora sozinho, ou da ascensão de famílias com menos integrantes. São boas oportunidades para a expansão da linha branca prosseguir, mas em pique mais moderado que o aferido nos últimos anos.
PR – Na foto atual, vale mais a pena produzir estireno ou PS no Brasil?
Souza – Depende. O mercado brasileiro de estireno movimenta cerca de 650.000 t/a, das quais 350.000 seguem para o polímero. Sob a premissa de se dispor de fábricas já construídas, soa mais atraente vender PS, por agregar mais valor que o monômero. Esse é o ponto de vista da Unigel. Temos hoje capacidade de 280.000 t/a do monômero e, no plano de PS, utilizamos 130.000 das 320.000 t/a que possuímos; resultando disso um excedente de estireno que comercializamos. Mas se o ponto de partida dessa ponderação ter base no investimento em novas fábricas, seria melhor vender estireno. •