Em seu quarto ano de joint venture com a norte-americana Viking Plastics, a brasileira Injequaly, centrada em peças técnicas, promove ajustes de rota em razão do declive presenciado desde 2014 nas vendas da indústria automobilística, seu principal mercado. “Com o recuo da produção nacional de carros aos níveis de 2009, saímos em busca de outros campos”, informa o sócio executivo Fernando Esteves. Nesse garimpo, já pintaram pedidos que vão de peças para distribuidoras de gás natural a componentes para equipamentos destinados à fabricação de embutidos, ele solta, arisco a detalhes.
Esses retoques no planejamento não alteram a vocação traçada para a Injequaly desde que a Viking Plastics comprou 50% do seu controle, cabendo a metade restante a Esteves e Marcelo Dias Masseiro. Conforme eles salientam, o perfil da transformadora prossegue o de uma boutique de injeção. “Trata-se de uma empresa de nicho”, define Kelly Goodsel, CEO da Viking Plastics. “Ela atua numa pequena fatia do mercado de injeção como um todo, uma parcela menos sensível ao impacto da crise que a produção maciça de artefatos injetados convencionais e tanto é assim que a Injequaly cresce este ano, como vem fazendo desde 2013”.
Alojada em galpão alugado de condomínio industrial em Itaquaquecetuba, Grande São Paulo, a Injequaly roda seis dias por semana em regime de três turnos e tem 67 clientes ativos em carteira, especifica Esteves. Sua linha de ação é pautada pela mesma estratégia de três pilares em vigor na matriz da Viking Plastics e em sua outra joint venture, na China. “O primeiro ponto é trabalhar por um crescimento de vendas escorado em clientes satisfeitos”, expõe Kelly. “O foco não é o volume de vendas, mas sua rentabilidade”. A segunda perna do tripé é o combate ao refugo gerado em linha. “Em 2016, nosso índice de geração de rejeitos era de 6,7% e fechou julho último na marca de 4,6”, comemora Esteves. Goodsel retoma o fio apontando o terceiro pilar. “Investimos na valorização do efetivo de 36 funcionários, reciclando com constância seus conhecimenrtos e promovendo reuniões periódicas sobre as vendas realizadas, prazos de entrega, problemas de qualidade e redução de aparas na produção”, assinala o dirigente, grifando que 30% do faturamento são aplicados na automação do processo. O parque fabril da Injequaly hoje possui três robôs e 10 injetoras hidráulicas com forças de fechamento entre 250 e 450 toneladas. “Não lidamos com injetoras pesadas porque exigem mais expertise, seu tempo de regulagem de set up é maior e seu desempenho é menos rentável”, argumenta Goodsel.
Nos EUA, a Viking Plastics opera um contingente de 42 injetoras em duas plantas e, na China, toca a joint venture com 11 máquinas. Goodsel reconhece que poderia ter desembarcado por aqui por sua conta e risco, sem parceiros locais. Mas, tal como na China, ele enxerg no modelo de joint ventres, um risco menor para seu investimento. A propósito, ele adianta estudar o ingresso da Viking Plastics no México, mediante a compra de um transformador local. “O país está crescendo e alojando operações de vários clientes globais nossos, como montadoras de carros”. Radares setoriais projetam para o México a produção de 4 milhões de veículos no ano que vem, rumo a 5 milhões em 2020, na garupa de grifes como BMW, Nissan, GM, Ford e VW.
A pior recessão da nossa história não passa em branco aos olhos de Goodsel. Ainda assim, reitera, a Injequaly tem fôlego para tocar o barco em frente em seu nicho de vendas de tiragens comedidas, mas lucrativas. “Trabalhamos com a estimativa de crescer de 25% a 30% na receita deste ano e vamos manter esse pique em 2018, quando deveremos comprar duas injetoras”, sinaliza Esteves, sem abrir o faturamento. Goodsel toma carona neste otimismo. “Empresas norte-americanas estão vindo para o Brasil, o mercado interno é grande e, mais hora menos hora, a retomada vai acontecer”, ele confia. “Não fosse assim, qual o sentido em aplicar tantos recursos na Injequaly?” •