Só faltam falar

As embalagens inteligentes reformularão desde a produção e a exposição até o consumo de alimentos, prevê o vice-presidente da Sealed Air

No bojo da economia circular, as embalagens inteligentes têm cadeira cativa como solução de sustentabilidade. Afinal, ela acena com predicados como a economia de matéria-prima e a diminuição de descarte de sobras de alimentos e sucata plástica no meio ambiente. Mas sua importância vai muito além da auréola verde, pois, como indicam seus desenvolvimentos iniciais no I Mundo, as embalagens inteligentes serão catalisadores de uma revolução em todas as facetas do negócio de alimentos, da sua industrialização, ao marketing, logística, estocagem no ponto de venda e até nos hábitos de compra, descortina nesta entrevista Ulisses Cason, vice presidente de Marketing Food Care da Sealed Air, ponta de lança dos EUA em flexíveis de vanguarda.

Cason: menos fissuras na cadeia produtiva.

PR – Como as embalagens inteligentes podem contribuir para a redução do desperdício de alimentos, causa de um dos principais índices de descarte de produtos no meio ambiente global?
Cason – O conceito de embalagem inteligente é muito amplo, assim como sua capacidade de contribuir para a redução do desperdício dos alimentos. Essas embalagens podem ter características mais sofisticadas, como o identificador de variações indesejadas de temperatura ou mostrar, de forma didática, a mudança de cor e o nível de deterioração dos alimentos. Também podem se apresentar com características mais frequentemente usadas, como as embalagens a vácuo ou de atmosfera modificada que aumentam a vida útil dos alimentos e aquelas que proporcionam maior resistência mecânica. Todos esses exemplos ajudam a reduzir as “quebras” da cadeia produtiva; auxiliam o consumidor, tornando-o mais seletivo; alertam o produtor para melhorar seus processos e levam o supermercadista a ter mais cuidado com a exposição e venda.

PR – Quais as mais recentes ações e desenvolvimentos de embalagens da Selaed Air no exterior para combater esse problema das sobras de alimentos despejadas no meio ambiente?
Cason – A Sealed Air já tem no portfólio embalagens inteligentes comercializadas no exterior, como Darfresh On Tray. Trata-se de uma evolução do conceito “skin”. Alguns dos principais ganhos são: a redução em até 40% da quantidade de material usada no processo de embalagem, o prolongamento da vida útil em até 28 dias para carnes frescas, sem uso de conservantes e congelamento; redução de espaço de armazenamento e, consequentemente, queda nos gastos com a cadeia logística. Logo teremos mais produtos disponíveis para comercialização.

PR – Até hoje, Tecnologia da Informação (TI) e internet das coisas (IoT) não constam entre os core values de fabricantes de embalagens. Na sua opinião, as exigências ascendentes da sustentabilidade & economia circular forçarão as empresas de embalagens a investir na formação de conhecimento interno de TI e iot ou a praxe será recorrer a parcerias com outras empresas especializadas nessas áreas?
Cason – TI e IoT são dois conceitos bastante presentes nos desenvolvimentos da Sealed Air, assim como o foco nas questões relacionadas à sustentabilidade, fortalecendo assim a economia circular. Ignorar estas duas variáveis (TI e IoT) não permitirá a qualquer indústria, inclusive a de embalagens, sobreviver no mercado no longo prazo. Para se manter como uma empresa competitiva, é preciso desenvolver parte da tecnologia internamente, por conta do conhecimento das necessidades específicas do setor, mas, talvez a maior contribuição venha de aquisições ou de alianças estratégicas com empresas especializadas.

PR – A solução Cryovac Darfresh Skin, da Sealed Air, substituiu recentemente, em supermercados australianos, as embalagens de atmosfera modificada devido ao aumento proporcionado na vida de prateleira de cárneos processados. Como e por que Darfresh Skin proporciona essa vantagem?
Cason – Pelos benefícios já mencionados e muito mais. Há ganhos praticamente em toda a cadeia: para o processador, nossa tecnologia exclusiva promove o aumento da produtividade em até 40%. Portanto, reduz o custo operacional e o consumo de energia. Não tem “scrap”, ou seja, zero desperdício de material de embalagem, o que significa até 40% de redução de filme. Como a embalagem é mais compacta, necessita de menos espaço para armazenagem e transporte, economizando combustível e diminuindo os custos logísticos. Para o supermercado, o aumento da vida útil garante menos perda por vencimento de produtos, permitindo mais tempo de exposição. A embalagem mais robusta apresenta menores taxas de danos, o display vertical reduz os custos de reposição e aumenta as vendas por diminuir a possibilidade de falta de produtos. Para o consumidor, a embalagem permite melhor visualização do produto e de sua qualidade na hora da compra. A característica abre-fácil aumenta a segurança de manipulação em casa e o aumento da vida útil na geladeira sem conservantes reduz o desperdício e ao mesmo tempo ajuda com a praticidade do preparo.

Compra da Deltaplam impulsiona Sealed Air

Lucimar Molina: aquisição da Deltaplan afia competitividade da Sealed Air no país.

Por cifra não revelada, a Sealed Air Corporation formalizou em agosto a compra da convertedora paranaense Deltaplam Embalagens. Há 23 anos na ativa,com sede em Londrina e escritório comercial em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a Deltaplam tem pontos altos em seu portfólio como filmes metalizados, pouches, stand pouches com e sem zíper e sacos termoencolhíveis de alta barreira.

O histórico recente exibe diversas transformadoras de flexíveis de médio porte adquiridas por rolos compressores internacionais. Além de a musculatura da demanda no Brasil eclipsar o stress político e econômico, eles têm sido seduzidos pelos ativos domésticos baratos em dólar e pela chance de entrar de imediato em cena a bordo de plantas em funcionamento e com participações de mercado já asseguradas.

“A motivação para comprar a Deltaplam foi a oportunidade de crescimento estratégico no Brasil. Além do potencial de expansão baseado em tecnologia e aumento do mostruário de embalagens mediante o desenvolvimento de inovações locais”, argumenta Lucimar Molina, diretora de vendas para o Brasil da norte-americana Sealed Air. A propósito, ela descarta a possibilidade de desativar qualquer equipamento da fábrica em Londrina. Lucimar reitera que as sinergias de sua empresa com a Deltaplam circunscrevem-se à capacidade produtiva na região. “Na parte comercial, não há sobreposição de clientes”, assinala a executiva. Na esteira desse entrosamento, Lucimar distingue as oportunidades para a Sealed Air diversificar seus campos de atuação e de “implementar tecnologia e inovações para a produção no país de embalagens hoje importadas”.

Como uma infinidade de indústrias de filmes, a Deltaplam foi constituída por duas crias da extinta transformadora Itap, afirma Jacques Siekierski, presidente da holding Brampac, fundador da Itap e lenda viva da história das embalagens plásticas no Brasil. Conforme esclarece, Roberto João Baltuile, com faro para vendas, e Laércio Arantes de Araujo, ás na área industrial, integraram a leva de valiosa mão de obra, formada na Itap, que a americana Bemis dispensou ao comprar o controle da Dixie Toga. Esta, por sua vez, incorporara antes a Itap. “A Bemis tinha interesse numa joint venture com a Itap, mas preferi juntar a empresa com a Dixie Toga animado pela visão de uma múlti brasileira de embalagens”, explica Siekierski.

Seja como for, Baltuile e Araujo, que não concederam entrevista, juntaram as forças e foram à luta no mercado que tão bem conheciam, narra Siekierski. Nasceu assim a Deltaplam e o empresário ressalta o arrojo dos dois fundadores ao formarem entre os primeiros transformadores do mundo a comprar uma extrusora double bubble, trazida da Alemanha. “A Itap nunca conseguiu chegar perto, em qualidade, dos filmes Cryovac, marca da Sealed Air”, reconhece Siekierski. “Mas a Deltaplam atingiu esse padrão e, por isso, fez todo sentido a Sealed Air comprar esta concorrente no país”.

PR – A crescente inclinação da população mundial por moradias menores decerto altera hábitos de consumo de alimentos. Pela experiência da Sealed Air, quais as principais mudanças notadas nesses hábitos no Primeiro Mundo e como eles já se refletem no desenvolvimento internacional de embalagens inteligentes?
Cason – Temos acompanhado diversas mudanças nos hábitos mundiais de consumo de alimentos. Entre elas constam a urbanização, megacidades, novas configurações de famílias cada vez menores, casal trabalhando fora, filhos mais independentes e mais sozinhos em casa; jovens mais conectados e, por fim, o envelhecimento da população. Há uma busca por maior praticidade e segurança, além da maior consciência ambiental. Tudo isso impacta de forma importante no desenvolvimento de nossos produtos. A tendência é que as embalagens sejam menores, mais personalizadas, com apelo de praticidade e segurança no manuseio. Os consumidores buscam por soluções mais resistentes e de menor impacto no ambiente, principalmente no que diz respeito à redução do desperdício de alimentos. Tudo isso deve ser levado em consideração, no entanto, sem prejudicar a qualidade, integridade e constituição do conteúdo envasado. A busca por alimentos mais saudáveis é outra tendência a ser cada vez mais explorada.

PR – O Brasil atravessa o terceiro ano seguido de recessão combinada com empobrecimento da população, quadro que, obviamente, hoje distancia do nosso mercado as embalagens inteligentes de alimentos. Mas não há crise capaz de frear a massificação de qualquer tecnologia. Diante disso, na sua opinião, quais deverão ser os focos das primeiras embalagens inteligentes de alimentos que, mais dia menos dia, chegarão aqui?
Cason – A complexa situação política e econômica que vive o Brasil será superada. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 2030 seremos a sexta economia do mundo com PIB de aproximadamente US$ 4 trilhões. Portanto, continuar a apostar no Brasil parece ser a melhor decisão e é isso que está fazendo a Sealed Air, inclusive com uma aquisição recentemente feita no Brasil neste segundo semestre (ver box). O conceito de embalagens inteligentes não está na contramão da economia. Ao contrário, elas ajudam a economizar. Isso precisa ser melhor esclarecido ao consumidor. Por exemplo, a energia gasta para produzir a embalagem que aumenta a vida útil de um quilo de carne é 370 vezes menor que a energia usada para produzir esta carne. Uma embalagem mais resistente é capaz de reduzir em até 73% as perdas no supermercado. A Sealed Air já tem embalagens classificáveis como inteligentes no mercado nacional, com conceitos que incluem atmosfera modificada, embalagens skin, versões de alta resistência.

A cor do frescor
Embalagem inteligente europeia: ativado no embalamento, rótulo com indicador cronometrado de temperatura garante a segurança do pescado trazido da loja ao lar. Fresh Meter é marca da tecnologia OnVu da alemã Bizerba e utiliza tinta “inteligente” termossensível para gravar a mudança de cores no indicador.

Embalagens Inteligentes em foco no Seminário Competitividade
Uma oportunidade única para você mergulhar na simbiose da Internet das Coisas e TI com o maior mercado dos plásticos.
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