Embora polipropileno (PP) também bata o ponto no segmento, o mercado associa torneiras de plástico àquelas produzidas com copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS). Apesar do preço em linha com um comércio decidido pelo consumo de baixa renda, e da sua oferta há mais de uma década na praça, a concorrência movida por essas torneiras injetadas nunca tirou o sono das metálicas deitadas no berço esplêndido da preferência nacional. Essa posição coadjuvante é um intrigante ponto fora da curva na penetração do plástico, em regra bem sucedida, nos materiais de construção.
Com cerca de 30 anos de experiência e mais de mil projetos assinados, entre comerciais e residenciais e no Brasil e no exterior, Denise Barretto comanda um dos mais assoberbados escritórios de arquitetura do país. Participante assídua de mostras anuais como a Casa Cor e Artefacto, ela assina ambientes em São Paulo como os dos hotéis Meliá, Renaissance e Blue Tree, de shoppings como o Iguatemi e Cal Center e a arquitetura de interiores de uma batelada de residências de alto padrão. Por trás de sua identificação com o mercado de luxo, paira o conhecimento de Denise para especificar itens de qualidade à toda prova nos projetos, a exemplo dos componentes de instalações hidráulicas. Dão que pensar suas justificativas para o fosso profundo entre as torneiras de plástico (ABS) e as determinações dos arquitetos para suas obras. “A
divulgação do produto é insuficiente e, por desinformação ou pela existência de poucas opções no mostruário, o público em geral não acredita que uma torneira de ABS dure de 15 a 20 anos como a de metal”, ela assevera em entrevista exclusiva a Plásticos em Revista. “No passado, quem se arriscou a requisitar a torneira de plástico teve graves problemas com a qualidade, sem falar no design a desejar. A pedido de um cliente, eu mesma especifiquei o produto e, após um ano, o resultado foi desastroso a ponto de me fazer esquecer dessa torneira daí por diante. Portanto, é confortável para o arquiteto permanecer com a torneira de metal, de qualidade assegurada e enorme diversidade de acabamentos e design”.
Para Denise Barretto, as informações sobre torneiras de ABS em falta para os arquitetos contemplam sua durabilidade, o uso com água quente e a qualidade do funcionamento e do acabamento. “Não tenho o hábito de pesquisar sobre torneiras de plástico e não me chegam muitas informações sobre elas”, comenta. “O padrão de qualidade e o eventual bom design seriam focos muito importantes para ações de comunicação a cargo dos fabricantes dessas torneiras, aliados a um comparativo de custos e vida útil entre elas e as torneiras de metal. Munido desses dados, o arquiteto poderia focar a especificação da torneira de plástico no empreendimento adequado a ela e decerto existe grande número de projetos vocacionados para o produto”.
Bússola brasileira do plástico em materiais de construção, a Tigre pegou o mercado na curva ao anunciar, em novembro passado, a compra da fabricante de metais sanitários Fabrimar. “É um mercado bastante promissor”, reitera Rene Kuhnen, gerente de marketing de produtos do grupo catarinense. “Já o lideramos no Rio de Janeiro e temos boa participação na região sudeste e a compra da Fabrimar nos defronta com uma imensa oportunidade de crescer em todo o país”. O executivo refuta a interpretação da transação como uma alternativa da Tigre para entrar em torneiras de metal. “A Fabrimar complementa várias linhas nossas: estávamos do lado de dentro da parede e agora aparecermos do lado de fora”, ele explica. “Além do mais, a linha de aspersores da Fabrimar complementa os produtos da Tigre para o segmento de irrigação”.
54 anos de estrada contemplaram a gaúcha Herc com a liderança nacional em torneiras de polipropileno (PP) e troféus na parede como o prêmio de melhor marca de torneira plástica concedido em 2016 pela Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). “Não concorremos com a torneira de metal, cujo mercado tem outras características e é disputado por torneiras plásticas mais sofisticadas e caras, como as de ABS”, estabelecem os diretores Roni Braun e Rubimar Gehlen da Silva. “A Herc produz torneiras com uma resina de preço inferior ao de ABS, mas de alta resistência e possuidora de um segmento cativo”.
Braun e Gehlen ponderam que suas torneiras de PP têm apelo econômico e popular, um chamariz que na conjuntura atual de crise torna mais relevante a migração de consumidores para o segmento da Herc, inclusive uma parcela dos compradores de torneiras de metal. “Como a torneira de PP tem baixo valor agregado, operamos a produção e venda a partir dos conceitos de economia de escala e com foco nos volumes físicos de cada item”.
Proliferam nas mídias sociais declarações de arquitetos e marqueteiros taxando a torneira plástica de, embora mais barata, menos resistente que a de metal. Para Braun e Gehlen, tratam-se de conceitos errados de avaliação. “A torneira plástica tem vida útil muito longa, em especial se compararmos seu custo/benefício”, eles asseveram. “Mas é preciso obervar algumas regras na fabricação, principalmente o emprego de matéria-prima virgem, a condição para o diferencial de qualidade, eficiência e durabilidade da torneira”. A penetração nacional e a confiança angariada pela marca brindaram a Herc a receptividade maciça a diversos produtos seus. “Uma prova é a aceitação da Pretinha, a nossa torneira top e presente em todas as camadas sociais devido ao conceito multiuso”.
Júlio Franco, assessor de imprensa do grupo, confirma que, no passado, ele participou do mercado de torneiras de ABS, tendo a seguir descontinuado algumas linhas. O portfólio atual da Tigre exibe apenas uma torneira plástica de boia de alta vazão para encher caixas d’água. Segundo Franco, a compra da Fabrimar não contraria a política da Tigre de não descartar qualquer tipo de material. “Há espaço para o plástico e o metal”. Kuhnen martela a mesma tecla. “A Tigre não é uma empresa de tubos e conexões de plástico. Sua missão é ofertar soluções de qualidade para a construção civil, irrigação e infraestrutura, com apoio numa diversidade de materiais adequados, para ser a opção para todos os bolsos”.
Embora a Tigre esteja por ora aboletada na torneira de metal, Kuhne enxerga mercado para os contratipos de ABS. “Essas torneiras adequam-se a regiões como orlas litorâneas e em áreas externas, pois são menos visadas por ladrões, dado seu preço de revenda inferior ao da torneira metálica”, ele argumenta. “Além disso, elas adaptam-se melhor ao orçamento das classes D e E, sem perder a beleza e a eficiência prescrita pelas normas técnicas. A torneira ‘de ABS é, portanto, um produto que entrega o que promete”.
A Japi navega com um pé em cada canoa: produz torneiras de ABS e de metal. “Nossa venda de torneiras divide-se em 2/3 para as metálicas e 1/3 para as plásticas”, estima Gabriel Antonio Correia Bosso, coordenador de desenvolvimento de mercado. “Nos últimos 10 anos, a venda de torneiras cresceu, mas a fatia dos modelos de ABS ficou estável, equivalente a cerca de 1/3 do resultado total e à metade do movimento de torneiras de metal”. No momento, ele detalha, a Japi oferta mais de 20 linhas de metais sanitários e nove de torneiras de plástico. “O consumidor da torneira metálica busca qualidade, preço acessível e preza a tradição do produto, enquanto o comprador da torneira de ABS, embora atento à qualidade, analisa o custo/benefício e opta por pagar um valor menor por um produto do mesmo nível de qualidade e design das opções de metal”.
Mudanças de conceito tomam tempo para aceitação no ponto de venda e talvez a torneira não tenha tanta relevância no custo total da construção. Paulo Motta, diretor geral da Ineos Styrolution Polímeros do Brasil, recorre a essas digressões para justificar a crônica discrição das vendas de torneiras de copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) no país. “Mas percebemos a procura crescente por ABS para peças cromadas de vários itens da construção civil”.
A alemã Ineos é um dos principais exportadores de ABS para o Brasil. Essa posição da empresa deve encorpar no ano que vem, na garupa do desgargalamento em curso da sua unidade da resina no México e, a tiracolo, das isenções tarifárias permitidias pelo acordo bilateral comercial deste país com o Brasil (ver à pág. 06). Retomando o fio da torneira de ABS, Motta está ciente de que, embora produzida aqui há mais de uma década, a imagem dela poderia ser menos vulnerável a contestáveis noções divulgadas como a da durabilidade inferior à da torneira de metal. “Mudanças de conceitos não são assimiladas de imediato pelo público”, ele insiste. “Em termos de propriedades mecânicas, o metal é mais resistente que o plástico, mas este conta com vantagens como a economia de energia para a produção, preço, redução de peso, variação de cores e versatilidade de design. No mais, ABS possui ótima resistência química para contato com a água”. Quanto ao amarelamento do copolímero por incidência de ação solar, Motta recomenda o uso de peças brancas em ambientes protegidos da radiação UV e salienta que o tratamento de cromação amplia a vida útil de ABS quando exposto às intempéries.
A Ineos serve à mesa dois grades para a injeção de torneiras. Um deles, Terluran 22, distingue Motta, prima pelo baixo custo e atende torneiras brancas e cromadas. A dupla se completa com o tipo Novodur P2MC, específico para o mercado de cromação de alta vida útil e qualidade no acabamento.
Entre os componedores nacionais, a Termocolor sobressai pelo leque de masters para ABS branco ou colorido, com e sem aditivação, expõe o gerente comercial Wagner Catrasta, brandindo ainda para torneiras auxiliares como anti UV e bactericida. Nos últimos anos, assinala, tem tomado vulto entre transformadores do copolímero uma migração do master para o tingimento, serviço também prestado pela Termocolor.
A propósito, ele insere, a Japi está lançando torneiras de ABS na categoria alto luxo. “Trata-se de uma aposta da empresa para buscar mais um nicho de consumidores, o mesmo trabalho feito com torneiras de metal: oferece alternativas a todos os perfis de clientes”.
Bosso enxerga uma resistência cultural manifestada pelo mercado à torneira plástica. “O grande desafio para os fabricantes é quebrar o paradigma em relação ao material e à qualidade de alguns produtos encontrados no varejo”. No âmbito de lojistas, arquitetos e consumidores, Bosso percebe, no geral, algum preconceito a determinados artigos de plástico. “Revendedores e distribuidores nos transmitem a sensação de que muitos itens ofertados da linha de torneiras plásticas são vendidos como produtos descartáveis e não como solução acessível e de alta qualidade”, comenta. “A proposta da Japi é comparecer com torneiras plásticas que configurem uma solução para o consumidor, seja na decoração e acabamento de um ambiente, como na qualidade atrelada ao cumprimento de todas as normas técnicas”.
A paranaense Plastilit injeta torneiras de ABS desde 2010 e, mesmo neste terceiro ano de coma econômico, o negócio não perde o encanto, afiança o diretor comercial Ruy Cesar Feuerschuette Neto. “Produtos de ABS correspondem a cerca de 7% do total injetado pela empresa”, ele situa. “Investimos bastante em moldes, para ampliar o mix de torneiras oferecido ao lojista, e incorporamos padrões operacionais e análises de qualidade durante as fases de produção, montagem e checagem da torneira acabada”. A título de referência, ele cita, a Plastilit melhorou recentemente os mecanismos de fechamento e vedação para manter a segurança e proporcionar ao usuário mais suavidade ao abrir e fechar as torneiras. O esforço compensa. “Temos visualizado uma boa curva de crescimento de vendas, em especial porque a recessão tornou o consumidor mais atento ao preço”.
“A produção de torneira de ABS requer equipamentos de maior tecnologia agrega e, nesse segmento no Brasil, é corriqueiro o uso de linhas defasadas, moldes impróprios e sistemas desatualizados de injetoras e periféricos”, observa Roberto Melo, gerente da base comercial no país da Haitian, rolo compressor chinês em injetoras. Como atalho para a excelência nessa manufatura, o executivo indica as máquinas da série Zeres, dotadas de controle com parâmetros decimais e sistema elétrico de injeção. “Além de sua alta precisão, essas injetoras se destacam pela economia energética, estabilidade dimensional e pelo alto padrão do acabamento”, sintetiza Melo.
A Witmann Battenfeld considera torneiras de ABS um prato feito para sua tecnologia de injeção auxiliada por gás. Marcos Cardenal, ás do departamento comercial do escritório brasileiro dessa grife austríaca, detalha a solução acenada com a oferta da injetora e do equipamento Airmould, também disponível em versão integrada com o novo comando B8. “Com este sistema, o fabricante de torneiras obtém uma gama de design que não se limita a moldes que utilizam machos”, ele esclarece. “Além de proporcionar mais qualidade, o Airmould reduz o ciclo e o consumo de matéria-prima”. O processo abre com a injeção de quantidade de resina situada entre 40% e 90% do volume da cavidade do molde. “A seguir, nitrogênio é introduzido através do canal de injeção ou de agulhas posicionadas no molde, de modo que o gás seja injetado no centro da resina quente, tornando o corpo da torneira oco, melhor acabado e de maior resistência mecânica”, fecha Cardenal.
Cuidados na desumidificação e uma injetora sem desgaste em itens como cilindro e válvula contribuem para evitar pontos mortos na torneira injetada e o tempo maior de residência de ABS no cilindro, comenta Antonio Dottori, consultor da Pavan Zanetti, nº1 nacional em sopradoras e revendedora das injetoras hidráulicas orientais da série HXF. “As torneiras primam pela baixa massa a ser injetada e requerem máquinas de maior fechamento, devido ao tamanho das placase à capacidade de prender o molde de grandes dimensões, em virtude do acionamento de machos”, ele assinala. “Como o tempo de resfriamento é proporcionalmente longo, injetoras com servomotores ou inversores de frequência têm a vantagem da economia energética”. A série HXF, amarra Dottori, bate em cima dessas características com máquinas de 160 a 380 toneladas e, entre outros plus, munidas de rosca universal, recomendadas para o trabalho com estirênicos.
As torneiras de ABS da Plastilit são comercializadas em lojas de materiais de construção, home centers e construtoras, alinha Feuerschuette. “Seu consumidor é tão seletivo quanto quem compra a torneira de metal e busca praticidade, estética, segurança e preços atraentes”, ele sumariza. “A questão do design atrelada à robustez e durabilidade tem ampliado a presença no âmbito das torneiras de ABS, despertando o público mais exigente”, ele assinala. “Em qualquer mudança ou introdução de um novo conceito transcorre o período de análise e maturação, passível de ser abreviado com campanhas de comunicação bem direcionadas”. Com base nessa transição, Feuerschuette repisa acreditar muito no progresso da aceitação da torneira de ABS na praça. “O histórico das vendas maiores da torneira de metal tem sido justificado pela sensação de segurança transmitida ao consumidor pela durabilidade do produto”. Também não deixa de ser um ponto de partida para a imagem da torneira de plástico ganhar o banho de loja que tanto precisa. •