Já refeita do falecido projeto, em joint venture com a Braskem, de produzir copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) na Bahia, a alemã Ineos Styrolution já encaixa o Brasil entre os alvos do desgargalamento de 20.000 toneladas em curso de sua planta da resina no México. “Sua capacidade deve ampliar para a faixa de 160.000 t/a de ABS e copolímero de estireno acrilonitrila (SAN) e este acréscimo entra em produção no ano que vem”, informa Alexander Glück, presidente da Ineos Sturolution America LLC.
Após a parceria com a Braskem ter evoluído a ponto de ter recebido a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) em 2014, a Ineos abriu mão do projeto da capacidade instalada de 100.000 t/a de ABS em Camaçari, escorada pelo benzeno provido pelo sócio e por estireno advindo de expansão da unidade local da Unigel.No ano passado, a Ineos justificou sua debandada do empreendimento com a instabilidade econômica do Brasil e foi justo a estabilidade econômica no México que a animou a verberar para mídia, em dezembro de 2016, a ampliação em curso na sua unidade mexicana, aliás a única fábrica de plásticos de engenharia do país. Glück assinala que o bom momento vivido por indústrias como de eletrodomésticos e a automobilística (cuja produção já supera a do Brasil) injetam sangue bom nas perspectivas para ABS no México e o dirigente não enxerga maiores sobressaltos na economia local em meio às incertezas instauradas pelos rugidos irados de Donald Trump em torno da renegociação do Nafta, o tratado de livre comércio entre EUA, Canadá e México. “No momento”, expõe Glück, “Brasil e México têm, basicamente, o mesmo consumo anual de ABS, na faixa de 60.000 toneladas, e a demanda brasileira caiu em 2016 cerca de 30% perante 2015”. O dirigente acrescenta que a Ineos tem suprido o Brasil com ABS e SAN originários de suas bases na Europa e México. “O Brasil tem mobilizado por volta de 2,5% da produção da planta mexicana”, ele situa.
Na primeira semana de abril, duas delegações reuniram-se em Buenos Aires para minuetos de namoro: as comitivas dos integrantes da Aliança do Pacífico (México, Chile, Peru e Colômbia) e do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela). Para a economista Monica de Bolle, Brasil e Argentina desejam uma proximidade da Aliança do Pacífico e, em especial do México que, do seu lado e calejado por dezenas de acordos comerciais firmados mundo afora, nada tem contra. Brasil e México assinaram acordo bilateral em 2003 e acenaram em 2015 com o aprofundamento da relação, uma possibilidade vista por Monica de Bolle como viável hoje em dia, em especial devido às incógnitas no ar sobre o futuro do Nafta.
Os ventos do comércio intrarregional sopram a favor, portanto, do aumento das exportações mexicanas de ABS e SAN para o Brasil, a tiracolo das benesses tarifárias do acordo bilateral vigente, sem falar na promessa de mais facilidades se o flerte iniciado através da Aliança do Pacífico progredir até o casamento. Numa unidade de 160.000 t/a postada num mercado consumidor de 60.000, evidencia-se a estratégia de a Ineos utilizar, a partir do próximo ano, sua desgargalada capacidade no México também exportar ABS e SAN para fora dos limites do Nafta. Pela vantagem logística, a América do Sul, com Brasil à frente, pinta no atlas como destino prioritário.
Em paralelo ao desgargalamentode 70.000 toneladas em curso na fábrica de ABS em Altamira,no México, a Ineos Styrolution anuncia o plano de montar uma unidade de 100.000 t/a de copolímero de acrilonitrila estireno acrilato (ASA) em Bayport, no Texas, EUA, com partida agendada para o final de 2020.
Após três anos a fio com a economia respirando pelos aparelhos, Glück julga que o mercado brasileiro bateu no fundo do poço e seu consumo de ABS deve recobrar as forças em dois ou três anos. Um dos chamarizes do Brasil, ele assina-la, é a presença de montadoras que são clientes globais da Ineos, como a Peugeot. A propósito, a Ineos torce pela chegada ao Brasil de uma especificação conquistada pelos estirênicos Ineos Styrolution na matriz francesa da Peugeot: a grade frontal do modelo hatch 308, de nacionalização cogitada. O material selecionado para injeção foi ASA Luran 778T, de alta compatibilidade com aplicação de hot stamping. Para o quadro da mesma grade, Peugeot elegeu o grade de ABS Novodur P2MC, devido à sua estabilidade dimensional e resistência ao impacto e ao calor.
Glück reconhece que a Ineos tirou algumas lições da ascensão e queda do finado projeto de produzir ABS na Bahia. “Essa experiência confirmou nossa estratégia de olhar com atenção redobradas condições das oportunidades par aplicar recursos em mercados emergentes”, pondera. “Em relação ao Brasil, comprovamos que suas condições para disputar investimentos derrapam nos custos de energia e na complexidade regulatória e do ambiente para negócios”. •