A blindagem do plantio

Irrigadas pela evolução dos filmes, as estufas podem avançar bem mais no Brasil

“Excluído o período 2014-2016, o crescimento médio do consumo de plástico para cultivo protegido supera a média de 3-4% do PIB entre 2005 e 2013”, constata Paolo Prada, secretário executivo do Comitê Brasileiro de Desenvolvimento e Aplicação de Plásticos na Agricultura (Cobapla). “Desde então, investiu-se na capacidade produtiva de agrofilmes, em especial para estufas e silos bolsas, embora ainda assim nosso consumo de plástico no campo, da ordem de 5%, continue abaixo de referências como Europa e Japão, evidenciando o potencial para essa solução avançar por aqui”.

Prada ressalta, a propósito, a penúria de estatísticas confiáveis sobre a plasticultura nacional. “Muitos dados baseiam-se em extrapolações de conhecimentos parciais”. Escorado nesta ressalva, o dirigente arrisca uma projeção da quantidade de filmes empregados no cultivo protegido. “Assumindo uma repartição de 50% da área coberta com filmes de 150 micra 9140 g/m²) e a outra metade com filmes de 100 micra (92 g/m²), calculo em cerca de 25.000 toneladas o volume utilizado em 2015-2016”. Projeção do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) situa em 502.406,63 hectares a área de hortifrútis plantados em 2016.Eles configuram um dos tradicionais redutos para o cultivo protegido, pois tratam-se de culturas de alto valor agregado e vulneráveis aos revezes climáticos. No Brasil, a proteção desses alimentos efetuada com túneis e estufas remonta aos anos 1980. Em 2014, a área de cultivo protegido de hortifrútis era estimada em 22.000 hectares e eles permanecem sob o signo da demanda insuficiente. Para 2016, Prado crê em manutenção ou leve aumento da área. Ele fundamenta sua crença com pesos contra e a favor. “Do lado negativo, influem a alta de juros e o acesso mais restrito ao crédito para uma atividade dependente de altos investimentos por m² de cultivo, em particular em estufas”, ele assinala. Em contraponto, coloca, segue no campo a obsessão com a produtividade e a busca por cultivos protegidos que tornem o sucesso do agricultor menos dependente dos humores atmosféricos.

O Estado de São Paulo lidera com folga a prática do cultivo protegido no país. Além de centro consumidor nº1, Prada justifica a pole position com o valor da terra, a especialização do setor paulista de hortaliças, frutas e flores, a infra-estrutura viária e a mão de obra relativamente qualificada. “Numa divisão aproximada, atribuo a São Paulo 50% da área nacional de cultivo protegido, enquanto a região sul mobiliza 20%; Minas Gerais, 15% e o restante está pulverizado.” Quanto à segmentação da área nacional por tipo de cultivos, o porta voz do Cobapla contempla hortaliças (tomates à frente) com parcela de 60%. “Essa fração do cultivo protegido corresponde a 2-3% do plantio total de hortaliças no país”, ele situa. A sequência é completada por Prada com flores e frutas/fumo, com respectivas participações de 20%.

As melhores perspectivas para estufas e túneis, deixa claro o porta-voz do Cobapla, continuam nas mãos das hortaliças. “O potencial decorre de fatores como o tamanho da área cultivada, o percentual de cultivo protegido, a tendência favorável ao produto nos hábitos alimentares, o custo alto da terra e a menor disponibilidade de superfície nos cinturões verdes das metrópoles”.

Apesar de a plasticultura acumular mais de 30 anos de semeadura no Brasil, latejam indícios de desinformação a respeito no meio rural sobre a eficiência do cultivo protegido, lacuna piorada pela carência de técnicos e engenheiros agrônomos qualificados para assessorar o agricultor na lida dessa tecnologia. Entre as reações do setor aos conhecimentos insuficientes, conta Prada, o Cobapla promove um encontro anual no qual produtores rurais interagem com os fornecedores de materiais e soluções para o cultivo protegido.

Em contraste com a capacitação a desejar de quem presta assistência no campo, Prada distingue a evolução dos agrofilmes nos últimos 10 anos, “em particular quanto às características de modificação da qualidade da radiação dentro das estufas. “É o caso do plástico frio, ou seja, filmes que gerenciam a radiação infravermelha no interior da estufa e contribuem para baixar a temperatura nos períodos mais quentes do dia”, ele ilustra, percebendo também pista livre para filmes mais resistentes ao acúmulo de poeira e de efeito antigotejo duradouro. Na esteira, o especialista distingue a contribuição dada pelo surgimento de aditivos de resistência ímpar a defensivos ácidos.

Estufa requer capital intensivo e a vida útil do filme de polietileno utilizado é projetada em três anos, prazo considerado uma fragilidade econômica da solução do cultivo protegido. “É uma questão delicada!”, digere Prada. “Seria interessante ter filmes com duração acima de três anos, mas seu custo subiria e a perda de transmissão luminosa, em virtude da poeira e diversas solicitações mecânicas,põe em risco a produtividade da estufa, limitando ou anulando as vantagens econômicas do aumento da vida útil da película”.
A área de estufas não cresce a cada ano apenas em extensão, mas em solidez, percebe Andrés da Silva, presidente da Eacea- Soluções em Cultivo Produtivo/Estufas Agrícolas Comércio e Assessoria. “Muitas instalações de baixa tecnologia, com estruturas de madeira, têm sido convertidas em estufas metálicas fechadas”, ele nota, situando acima de 1.000 hectares anuais o pique de construção desses abrigos menos toscos. O potencial para o cultivo protegido no país é de encher os olhos, atesta Silva, justificando com o batimento do pulso da demanda por produtos de maior qualidade, rastreabilidade e pegada sustentável.

Prevista superoferta de hortifrútis

tomate estufa
Tomates de mesa: área cultivada diminuiu em 2016.

Os dois últimos anos de recessão a pino pegaram de raspão, mas não quebraram as pernas do cultivo de hortifrútis, menina dos olhos do cultivo protegido. O segmento sentiu enfraquecimento moderado da demanda, pois o clima adverso reduziu a produtividade, baixando a oferta e aumentando os preços desses alimentos, segundo diagnóstico da equipe Hortifrúti (hfbrasil.org.br), integrante do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). Segundo a mesma fonte, a queda na produção e aumento de determinados insumos, por conta do dólar, elevaramo custo médio dos hortifrútis. Pelas estimativas divulgadas, o custo médio por hectare subiu perto de 30% em 2016 versus 2015. Para este ano, os técnicos do Cepea antevêem a possibilidade de um clima mais favorável e o cenário pode convergir para superoferta, de modo que a rentabilidade dos hortifrútis pode ser abalada se o aumento da produtividade não reduzir o custo por unidade colhida e se o consumo nacional discreto não reagir. Nesse sentido, boa parte das expectativas recaem sobre o plano lançado em abril pelo Ministério da Saúde para combater a obesidade mediante ações como elevar em 30% o consumo de hortifrútis em dois anos. Segundo os analistas do Cepea, a área total de hortifrútis em 2015 totalizou 496.066 hectares e aumentou de leve (1,28%) para 502.406,63 hectares no ano passado. Tomate de mesa, um dos principais mercados para estufas, teve sua área de plantio da ordem de 19.237 hectares em 2015 diminuída para 18.674 hectares em 2016 ou – 2,93%. Os especialistas atribuem o declínio à rentabilidade do cultivo avariada pelo inverno do ano passado.

“Veja o caso do tomate de mesa”, expõe. “Hoje em dia, o Brasil planta em média anual 40.000 hectares de tomate em campo aberto com produtividade média de 60 toneladas no mesmo período. Se substituirmos 30% desse volume por tomates de melhor qualidade e valor (o tipo de mesa) gerados em estufas com produtividade de 300 toneladas por hectare, isso significa uma demanda não atendida da ordem de 2.400 hectares de estufas”. Nº1 em tomates de mesa no país, a mineira Trebeschi negou entrevista.
Silva também ilustra sua convicção de que o cultivo protegido tem tudo para deslanchar no Brasil não apenas pelo país ser um agrocolosso, mas por ter tudo para reprisar a experiência de países como o México. “Em menos de 20 anos, o agronegócio mexicano construiu mais de 15.000 hectares de estufas de média e alta tecnologia motivado por dois fatores: a economia aberta à importação de tecnologia a baixo custo e a demanda norte-americana por alimentos de qualidade”, ele explica. “Em decorrência, hoje existem excelentes profissionais e empresas mexicanas vendendo insumos equipamentos, estrutura e treinamento em plasticultura”. No Brasil de hoje, ele transpõe, apesar da robustez da demanda e das cobranças por qualidade, a curva de crescimento do cultivo protegido é mais lenta devido à sua tradicional disputa com o plantio em campo aberto. “Os problemas daqui são o alto custo da tecnologia importada, as dificuldades de financiamento e a carência de investimentos, da parte dos agricultores, na formação e treino de mão de obra”. Silva também comenta que a cadeia nacional de hortifrútis marca pela pulverização e representatividade a desejar. “Por exemplo, não há uma associação dos produtores de tomate de mesa, uma das principais hortaliças aqui e no mundo”.

Antenada na capacitação de pessoal para o cultivo protegido, a Eacea tem mergulhado num trabalho de formiga, define Silva. “Já levamos mais de 100 produtores e técnicos para conhecer o ramo na América do Norte e Europa e preparamos mais de 300 pessoas em cursos”. Há dois anos, a Eacea, conta seu presidente, opera em Cunha, no leste paulista, o Centro de Formação e Treinamento em Cultivo Protegido, empreendimento conhecido como Projeto Horticunha. “ Ali são produzidos hortifrútis em sistemas e solos e hidroponiaem mais de 8.000 m² de vitrine tecnológica aberta a agricultores e técnicos”. No embalo, Silva conclama a cadeia a trabalhar em conjunto. “É primordial nivelar com urgência a tecnologia: as estruturas metálicas, automação, irrigação, mecanização e manejo devem melhorar para o produtor desfrutar a contento o avanços bem mais intensos dos plásticos nas estufas”.

Silva grifa essa necessidade com o problema da umidade no interior das estufas. “Precisamos de estruturas maiores em tamanho e na taxa de ventilação”, salienta. “As estufas nacionais apresentam taxas inferiores a 20% e no Horticunha montamos uma instalação inglesa, munida de aberturas ao longo de toda a capela, com taxa de ventilação acima de 40%. Os resultados surpreenderam nos ganhos de produtividade e redução da incidência de doenças no cultivo”.

O dirigente da Eacea enaltece o progresso dos filmes em tópicos como a transmissão de luz na estufa e enxerga a influência dos avanços em aditivos na vida útil da película sujeita à ação de defensivos. “Mesmo em cultivos orgânicos, a lavagem do filme e o uso de produtos para a desinfecção da estufa, como cobre e enxofre, são um problema para a durabilidade do plástico”. Silva, aliás, encara a duração do filme da estufa pelo prisma do custo/benefício. “A cada ano de uso, a transmissão de luz pelo filme cai 10% em média, perda de rendimento suficiente para o produtor preferir trocar a película”, argumenta. “Além do mais, quanto mais velho o plástico, maior o risco de ruptura na sua lavagem ou durante uma ventania. Recomendo aos clientes manter com regularidade o filme limpo e substituí-lo a cada biênio ou triênio”.

A sujeira acumulada no filme periga afetar o processo de fotossíntese, vital para o desenvolvimento das culturas. Por trás desse risco, palpita um impasse. “O produtor rural está sempre em dúvida quanto a duas alternativas: se é melhor ter um filme de vida útil menor e mais barato, de modo que possa dispor de cobertura mais limpa e com as condições iniciais de transmissividade mantidas até o fim do prazo de duração da película, ou então, se ele prefere um filme mais durável que lhe permita economizar na mão de obra necessária para trocá-lo ou lavá-lo”, coloca Alberto Joanes Wagemaker, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Estufas Agrícolas (Abeagri) e sócio gerente da Florida Estufas Agrícolas.Ainda no plano da tecnologia, o dirigente sublinha o empurrão dado aos filmes pela sofisticação dos agentes auxiliares, ilustrada pela miríade de bloqueadores e protetores para diversos fins. “Hoje em dia, uma indústria transformadora chega a ofertar mais de 15 tipos de filmes de uso específico para o cultivo protegido, enquanto 10 anos atrás o mostruário restringia-se aos tipos cristal, difusor de luz e leitoso”.
Wagemaker salta fora do consenso no ramo ao refutar os diagnósticos de desinformação e despreparo de pessoal para assessorar o agricultor às voltas com o cultivo protegido. “Temos polos de altíssima tecnologia, como o de Holambra, no interior paulista, com técnicos que dão consultoria em todo o país”. Além de xodó nacional no plantio de flores, Holambra sedia a principal mostra de cultivo protegido no país, a Hortitec, cuja edição 2017 acontece de 21 a23 de junho próximo.

O vento anda a favor das estufas, pressente Wagemaker, por obra de um consumidor de alimentos mais exigente a redes varejistas empenhadas em resguardar suas compras do risco de ocorrência de resíduos de pesticidas. “Esses dois fatores levam o produtor rural a querer abrigar seu cultivo. Sejam folhosas, frutíferas ou básicas, as hortaliças tendem para o cultivo protegido”, ele sustenta. “Tome-se o caso das hortaliças frutíferas em regiões cujo risco de granizo favorece sua proteção com telados, pois nem o varejista nem o consumidor sinal são indenizados por seguro agrícola contra intempéries desse tipo”.

PROJETO HORTICUNHA
Projeto Horticunha: vitrine tecnológica para qualificar agricultores e técnicos.

A incidência de geadas, aliás, ajuda a explicar a migração, notada em regiões como a do Paraná, da plantação em campo aberto para as estufas. Mas as vantagens do cultivo protegido não ficam no paredão contra aprontos de São Pedro e El Niño. Bem na linha de frente delas, figuram o aumento da produtividade em áreas de menor escala, a diminuição do ciclo da planta e seu consumo de água, o cultivo de mini hortifrútis e a produção em diferentes regiões e épocas do ano, possibilitando seu comércio na entressafra.

Essa batelada de chamarizes inspira indústrias de agrofilmes a se descolarem da concorrência pelo investimento em soluções customizadas. Com mais de 25 anos de milhagem no ramo, o Grupo Nortène sobressai entre os devotos dessa corrente. “Nossas linhas oferecem soluções diferenciadas para reduzir as perdas por intemperismo e aumentar a produtividade e o controle da luminosidade e da incidência de pragas e bactérias”, assevera o diretor Ezra Negrin. “Serve de exemplo o filme Termofilm, sem similar local e de apurado controle térmico em ambientes com necessidade de altas taxas de luz total, para o cultivo de hortaliças e flores ornamentais”, ele ilustra. Na mesma toada, ele sublinha o emprego de resinas de ponta e aditivos desenhados para os filmes do seu grupo, caso dos tipos anti UV. “A Nortène não emprega formulações de prateleira, caso de masters e aditivos para uso geral”.

Negrin salienta as virtudes mecânicas e a durabilidade comuns a todos os seus agrofilmes. O mix abre com o carro chefe, os tipos transparentes, de três camadas e com até 98% de transmissão de luz. A seguir, o diretor insere os filmes difusores. “Resolvem o problema de distribuição de luz recebida pelo cultivo, eliminando o efeito sombra ocorrido ao longo das horas, em virtude do movimento do sol, dispondo de excelente percentual de luz e ótimos resultados de quantidade de luz total”. A propósito, insere, seus filmes Maxilux proporcionam estes mesmos efeitos ópticos com vida útil e poder de difusão de luz superiores. Os filmes leitosos da Nortène, ele prossegue, comparecem com a quantidade necessária de luminosidade a cultivos mais sensíveis ou no estágio final, como flores. O portfólio se fortalece com a família de de filmes que, afiança Negrin, resolve o problema dos cultivos mais vulneráveis a variações térmicas. “Baixam em até 5% a temperatura no interior da estufa nos horários de pico, reduzindo a incidência de plantas queimadas”. No arremate, Negrin acena com as séries de filmes antivírus e antifog, estes últimos para diminuir a formação de gotas sobre a cultura.

Para difundir sua tecnologia e contribuir para a capacitação profissional no ramo, Negrin conta que a Nortène promove eventos em várias frentes. Por exemplo, solta, realizou este ano um dia de campo na baiana Irecê e outro na mineira Virgínia. Outras ações dignas de nota, ele alinha, incluem trabalhos recentes de preparo de profissionais estabelecidos e alunos na Cooperativa Coopercitrus, Universidade de Piracicaba, Universidade Federal de São Carlos, Universidade de Cantareira, Universidade Federal de Viçosa e um workshop na Universidade de Ouro Preto.

A questão da duração média de três anos para o filme de estufa também é dissecada com meticulosidade por Negrin. Conforme comenta, a Nortène já oferece filmes com garantia de quatro anos, dotados de estabilização diferenciada a UV e maior resistência a agroquímicos convencionais. “No entanto, a cadeia do cultivo protegido é pressionada a cortar custos, enquanto o mercado também demanda um filme de maior durabilidade e performance óptica e mecânica”, ele contrapõe.

Os próximos movimentos da Nortène pendem para agrofilmes de feições cada vez mais individualizadas. “Cada cultivo se desenvolve de forma singular, dependendo dos espectros de luz, comprimento de ondas e radiações incidentes sobre ele”, reitera Negrin. As oportunidades continuam viçosas na praça. “A demanda por flores é crescente e seu alto valor agregado tem respaldo em fatores como seu desenvolvimento em estufas”, aponta o diretor. “Já no segmento de hortifrútis, constata-se que menos de 5% do mercado utiliza o cultivo protegido”. Não é por falta de filmes de ação.

A alma da estufa

As resinas que adubam o sucesso dos agrofilmes

Cultivo protegido Polietilenos

“No ano passado, o Brasil consumiu por volta de 14.000 toneladas de filmes de polietileno (PE) no cultivo protegido, um aumento de 4% a 5% em relação a 2015 e nossa expectativa para o período atual é de continuidade do crescimento na mesma taxa”, confia Miguel Molano, gerente de marketing para embalagens industriais e de consumo para América Latina da Dow.

Sobram levantamentos confirmando a pequenez da área agrícola coberta no país. “Uma das causas é o desconhecimento do agricultor sobre o aumento de produtividade da área plantada proporcionado pela estufa”, pondera o executivo. “Dai a necessidade de toda a cadeia difundir junto aos agricultores as informações sobre o cultivo protegido, a exemplo das noções sobre o filme adequado a cada tipo de estufa”. Nesse compartimento, as resinas constituem a eminência parda da performance dos filmes no cultivo protegido. “O principal objetivo da estufa é absorver o calor e mantê-lo à noite, retenção térmica proporcionada pelo tradicional filme de PE acrescido de copolímero de etileno e acetato de vinila (EVA)”, observa Molano. “Através da família de resinas lineares (PEBDL) Elite AT, a Dow viabilizou o uso de filmes monomaterial,100% de PE que, além da reciclagem facilitada, melhoram a resistência à deformação das películas, evitando que cedam, acumulem poeira e prejudiquem a passagem da luz solar”.

A exposição das estufas às intempéries, caso de chuva e ventania, cobra um filme com a necessária resistência ao rasgo, impacto e à tração. Molano encaixa que a Dow preenche este quesito com os grades de PE Dowlex GM. Por sinal, o cerco da Dow às estufas estende-se aos bastidores de sua implantação. “Como as estufas são muito grandes, são inevitáveis as emendas de filmes na sua estruturação”, explica o gerente. No caso, tratam-se de filmes blown e, quanto maior o diâmetro do balão, menos emendas terá a estufa, colaborando por tabela para sua resistência e facilidade de instalação. “A família de resinas de baixa densidade (PEBD) Agility 1200 resolve o problema, pois sua alta resistência do fundido possibilita a produção de balões maiores, além de permitir aumentar o teor de polietileno linear na composição do blend, aprimorando as propriedades mecânicas do filme”.

Caulim melhora barreira térmica
Sem modificação de suas propriedades, polietileno mostra-se impróprio para filmes de estufa por ser quase transparente à radiação infravermelha, pondera Leandro Rocha, diretor de desenvolvimento de negócios da Imerys Filtration South America. “Uma das melhores formas de melhorar a barreira térmica do filme é incluir na composição do material nossa linha PoleStar 200R de caulim calcinado”, ele sustenta. “Desse modo, o espectro infravermelho do filme é modificado, melhorando sua capacidade de absorver a referida radiação, fora conferir um equilíbrio rentável de opacidade, transparência e efeito antiblockibng”.Testes encetados pela Imerys, encaixa o diretor, constaram que filmes carregados com PoleStar 200R absorvem mais radiação infravermelha do que filmes contendo talco, sílica ou carbonato de cálcio. “Portanto, o calor é mantido por mais tempo dentro da estufa, reduzindo o aquecimento necessário e o ciclo entre plantio e cultivo”, ele comenta. Para completar o rolde vantagens, Rocha encaixa que, devido ao tamanho e distribuição de partícula, os caulins calcinados da Imerys proporcionam uma transmissão de luz difusa mais uniforme, gerando filmes de opacidade adequada.

Sem dados na mesa sobre o cenário do Brasil, Guilherme Neves, desenvolvedor de mercado para a América Latina da Exxon Mobil, projeta o segmento de estufas na região na faixa atual de 115.000 t/a de PE, volume que contraposto à estimativa da Dow para esse reduto no Brasil espelha a renitente discrição do cultivo protegido numa agropotência mundial. Retomando o fio, Neves concorda com Miguel Molano quanto à necessidade de virar esse jogo mediante a disseminação maciça, pela cadeia plástica, dos benefícios dos filmes no meio rural. “Temos feito isso em feiras, workshops e seminários, mas ainda há muito trabalho de catequese pela frente”.

O foco da ExxonMobil em agrofilmes é ampliar a duração e resistência em combinação com redução de custos na área de cobertura. “O mercado latino-americano de estufas é rico em PEBD (70%), o que limita a vida útil da instalação ou força o transformador a ampliar a espessura do filme”, descreve o especialista. A ExxonMobil volta-se para quebrar esse paradigma promovendo estruturas baseadas em polietilenos lineares metalocênicos Enable, de sucesso comprovado no agronegócio chinês. “Em testes certificados pela Associação de Agrofilmes da China (Cafa), Enable apresentou retenção de propriedades mecânicas em exposição a UV, enquanto filmes à base do blend de PEBD e PEBDL acusaram perda dessas características ao longo do período dos ensaios”, conta Neves. Ainda no ano passado, a ExxonMobil grifou seu posicionamento introduzindo outra família de PEBDL metalocênico, Exceed XP. “Oferece maior facilidade de processamento e estabilidade do balão, com ampla janela operacional, contemplando as estufas com um filme de extrema resistência, excelentes propriedades ópticas e potencial para estender sua vida útil”.

Ana Paiva, especialista de desenvolvimento de mercado da Braskem, único produtor no país de PE, declara que sua última referência às dimensões do plantio resguardado por estufas no país remonta a 2014, um território então da ordem de 22.000 hectares. “Não há dados precisos da área ocupada pelas estufas, mas ela tem crescido de forma significativa a cada ano”. Mesmo assim, o Brasil, com toda a sua agroexuberância rural e vastidão continental, ainda é um cisco no atlas do cultivo protegido. “Na região espanhola de Almeria, de apenas 227km², a área coberta por estufas ronda 30.000 hectares; no Japão são cerca de 65.000 hectares e na China estima-se o indicador acima de 3 milhões de hectares”, ela confronta.

A tiracolo de um portfólio completo de PE, planta piloto, Centro de Tecnologia e equipe de engenharia de produto, a Braskem marca de perto a evolução dos filmes para estufas. “São produzidos em coextrusoras de três a cinco camadas e submetidos ao rigor do controle de espessura e da uniformidade na dispersão do masterbatch com os aditivos para corresponder às expectativas na área coberta”. Ana fecha com Miguel Molano e Guilherme Neves quanto ao gap de comunicação entre a cadeia do plástico e o agricultor. “Muitas vezes, ele não usa o filme adequado por ignorar as condições para selecioná-lo”, assinala. “O emprego do filme errado põe em xeque o ganho de produtividade almejado”. Pelos seus cálculos, o filme incide apenas em torno de 5% a 7% do investimento em uma estufa. Mas esse barato sai caro com o filme errado. “Temos que levar esta informação usando uma linguagem mais voltada para o campo”, ela defende.

Os vencedores do Oscar do agrofilme

Os auxiliares que brilham no palco das estufas

Cultivo protegido Masters e Aditivos

Parceira de fé dos polietilenos da Braskem em experimentos com agrofilmes, a subsidiária da norte-americana A.Schulman forma opinião em masterbatches de aditivos para o cultivo protegido. Entre os pontos altos do mostruário, distinguem-se os concentrados modificadores de luz. “O produto Polybatch AC10537, cobrindo faixa de comprimento de onda de 280 a 350nm, e o tipo AC 10564, com absorção até 370 nm, reduzem o risco de queima das plantas por efeito UV, além de prevenir contra o escurecimento de pétalas”, explica Roberto Castilho, gerente comercial da operação brasileira da componedora, sediada em Sumaré, interior paulista. “Os dois masters agem como antivírus barrando a entrada de insetos na estufa e, para completar o cerco, temos o master Polybatch LDC 80, para uso em estufas situadas em regiões de alta radiação solar”, expõe o executivo.

O arsenal de auxiliares Polybatch para o cultivo protegido estende-se por mais três frentes. O concentrado Polybatch IR 15, especifica Castilho, provê alta transparência e baixa difusão ao filme. “Ou seja, mantém a temperatura dentro da estufa, reduzindo sua variação entre o dia e a noite”. Uma novidade nesse reduto, ele encaixa, é o master IR2994 para climas muito frios. “Visa preservar a temperatura interna com a maior diferença possível perante a externa”. Para preservar a temperatura no interior da estufa abaixo da do exterior, ele recomenda ao filme a incorporação do master NIR 4261, desenhado para atuar em climas muito quentes. “Baixa o stress térmico da planta e evita a perda de água dentro da estufa”, ele sintetiza.
Enraizada no agronegócio internacional, a A.Schulman tem no balcão auxiliares de vanguarda que, na percepção de Castilho, têm chances de desembarcar em breve nos filmes nacionais para estufas. “Por exemplo, temos tecnologia para reduzir a aderência de poeira sobre a estufa, facilitando assim sua remoção por jato d’água, sem depender de esfregão”. Outra sacada promissora por aqui é um master antimicrobiano permanente, ele acena.

Nº1 nacional em masters, a Cromex assedia o reduto da plasticultura com soluções para o cultivo protegido, silagem e tubos de irrigação, alinha Juliano Barbosa, coordenador de projetos e produtos. Em relação aos destaques em linha, ele pinça concentrados premium de singular resistência às intempéries. Entre eles, Narbosa sublinha estarem disponíveis os tipos branco, prata e preto Superblack, este formulado com negro de fumo da Aditya Birla (ver box à pag. 33), conforme fontes do ramo. “Também oferecemos aditivos anti UV, antifog, antivírus e agentes para proteger o filme da termoxidação em estufas e silos”.

Brancura que apura a cultura 
Nº1 na produção global de dióxido de titânio, a norte-americana Chemours o coloca ao alcance dos agrofilmes como uma solução que transcende a função convencional de pigmento branco para polietileno. “Para se obter todos os benefícios que o material promete para a plasticultura, é preciso utilizar um grade de tratamento superficial sob medida para ampliar a eficiência no espalhamento da luz, ponto a favor do controle térmico na estufa”, determina Cláudia Antunes, gerente de negócios de dióxido de titânio da operação brasileira da Chemours. Para ilustrar o argumento, ela recorre ao seu produtoTi-Pure R-105. “Além do tratamento superficial indicado, ele atua em sinergia com os demais aditivos do filme, ampliando sua vida útil”, esclarece. Um dióxido de titânio convencional, sem prover esse tipo de tratamento, espalha a luz de forma deficiente e pode acelerar a degradação do polietileno”.
Cláudia fundamenta sua exposição com a influência exercida por Ti-Pure R-105 no controle da radiuação solar de filmes leitosos. “Como uma das principais funções do filme de estufa é espalhar luz, isto faz com que a planta a receba nos sentidos ascendente e descendente, promovendo a uniformidade do crescimento”, assinala. “O espalhamento da luz também pesa, assim, para aumentar o metabolismo das culturas e propicia crescimento maior e mais rápido se comparado ao cultivo em campo aberto ou protegido apenas por lonas pretas”.
No embalo, a executiva salienta que, além de esticar a duração do filme, Ti-Pure R-105 sobressai no processamento perante a concorrência por minimizar interferências no fluxo do material fundido. “Em decorrência, as propriedades mecânicas do filme atingirão um grau de excelência a ponto de evitar seu rompimento durante a fase de estiramento”.

Outro craque nacional em auxiliares, a componedora Termocolor não fica atrás neste assédio ao agronegócio. O gerente comercial Wagner Catrasta iça como pontos altos do mix aditivos UV com prazo de duração de seis anos. “Também temos antioxidantes coloridos que atuam de modo a alterar o comprimento de onda, auxiliando no desenvolvimento do plantio e controle de pragas na estufa”.
Para João Ortiz Guerreiro, diretor da componedora Aditive, agentes UV são seu carro-chefe e, nessas formulações ele tem parceria com os aditivos da Basf. No plano geral, diz, para se indicar aditivos para agrofilmes as informações necessárias incluem tópicos como espessura da película, cor, se estará em contanto com defensivos e região onde fica a estufa. “No caso dos aditivos UV, a depender das condições ditadas pelo agricultor, a Aditive seleciona a opção conveniente do seu mostruário ou desenvolve a formulação para aquela aplicação específica”, esclarece o diretor.

Por intermédio da Nexo International, a coreana Songwon distribui no Brasil os aditivos da italiana Sabo, pêndulo mundial em soluções para estabilização UV e antioxidantes, além de nº 2 global na produção do fotoestabilizante Hals. “Temos soluções completas para filmes de estufas envolvendo longa vida útil, atividade em regiões de alta incidência de radiação solar, ventanias e contato com altas dosagens de pesticidas ou contaminação ambiental em geral”, abrange Leonardo Laverde, gerente da Songwon/Sabo para a América Latina. “Não vendemos pacotes caixas pretas; preferimos auxiliar o cliente a conceber formulações com os componentes adequados ao caso”.

Da teoria à prática, Laverde exemplifica a estratégia com a preocupação de aliar a duração do filme com o gerenciamento da luz no interior da estufa, tópico relacionado com a quantidade de raios UV admissível para se deixar passar. Nessa trilha, ele encaixa a combinação apropriada de absorvedores UV orgânicos, convergindo para a formulação de filmes antivírus e antivetores e livres de opacificação, batendo em cima das expectativas do cultivo protegido de flores. “Para estufas em locais de alta nebulosidade, oferecemos formulações com bloqueio total de UV, mérito de aditivos que não afetam a transmissão de luz”, atribui. “Dessa forma, é mantido o bloqueio de todo o espectro de 280 a 380 nm ao longo da prolongada vida útil do filme”. No embalo, Laverde põe na vitrine quatro auxiliares introduzidos este ano pela Sabo para filmes de estufas. Ele abre a relação com Sabostab UV50 Alkoxy Hals NOR. “ Proporciona alta resistência a dosagens muito altas de pesticidas clorados e enxofre”, atesta. Por seu turno, Laverde traduz Sabostab UV 119 como um tipo de hals metilado de alto peso molecular para filmes dependentes de alta resistência química. As novidades prosseguem com Sabostab UV 216 e UV 316, ambos talhados para uso em filmes de estufa sujeitos a dosagens moderadas ou altas de defensivos. Por fim, Laverde enfatiza a estabilização de alto desempenho a custos inferiores viabilizada pelo hidroxibenzoato impedido Songsorb 2908 em mistura com Hals metilados.

Agrofilmes são vulneráveis a raios UV na presença de produtos químicos agressivos. “Enxofre e halogênio interferem na eficiência da maioria dos hals, os estabilizantes a luz convencionais”, observa Daniella La Torre, especialista técnica em aditivos para plásticos da Basf. Para fechar essa brecha e contribuir para a durabilidade da película exposta à ação de defensivos, o grupo alemão desenvolveu a tecnologia de estabilizante à luz NOR HALS. Entre seus desdobramentos, Daniella saca do portfólio três aditivos da família Tinuvin talhados para filmes de estufas. “Os tipos mais recentes, NOR 371e XT 200, são indicados para filmes de alta duração, caso de estufas onde ocorra queima de enxofre”, ela explica. “Já o aditivo Tinuvin 494 AR, com mais de 20 anos no mercado, é destinado a filmes de média resistência a agroquímicos e proporciona estabilização de longo prazo em ambientes de alta irradiação solar, inclusive na presença de concentrações elevadas de defensivos ou desinfecção de solo, e sua atuação como estabilizante térmico o recomenda para películas em contato com as armações metálicas ou de madeira das estufas”.

O preto básico pra vestir a estufa
A incorporação de negro de fumo no filme de estufa influi na passagem de luz solar e na radiação UV. “Quanto maior a concentração do pigmento preto, menor a passagem de luz e o filme se aquecerá aumentando a temperatura na estufa e a radiação infravermelha”, sumariza Douglas Silva Araujo, coordenador de vendas latino-americanas de negro de fumo da indiana Birla Carbon. A vida útil do filme também pode ser ampliada pelo pigmento preto. “Para isso é requerido tamanho de partícula abaixo de 30 nm no negro de fumo aplicado por volta de 2% no filme para promover sua maior absorção de UV da luz solar”, estabelece especialista. “Outra condição importante é a baixa estrutura do negro de fumo, com volume de óleo por unidade de massa (OAN) inferior a 90ml, para elevar a flexibilidade e alongar a duração da película”. A Birla Carbon assedia agrofilmes com o pigmento coreano Raven, cuja proteção UV e poder de dispersão são enaltecidas por Araujo, e dois tipos nacionais (282 e 450) da série Copeblack.

Postada em balcão rival, a subsidiária da Solvay importa para o Brasil os aditivos para agrofilmes do legado da norte-americana Cytec, adquirida pelo grupo belga ao final de 2015. “A linha de produtos Cyasorb Cynergy Solutions-Série A acena a agrofilmes com proteção térmica e exposição em regiões de alta irradiação solar”, coloca Roberto Baleki, gerente técnico comercial de aditivos para polímeros da Solvay. “Tratam-se de estabilizadores para proteger os filmes contra a foto e termodegração sem prejuízo das propriedades mecânicas”, define. Além de favorecerem a durabilidade da película, ele nota, combinações adequadas de aditivos absorvedores de UV auxiliam no controle de pragas ao formarem na composição de filmes antivírus e evitam o escurecimento das bordas de pétalas vermelhas. Baleki ilustra esses predicados para agrofilmes com o auxiliar A400, “de excelente resistência química e proteçãotérmica e UV”, e com o aditivo A430, destinado por ele a filmes de longa vida útil para estufas sob severas condições de uso.

Absorvedores de UV, assim como estabilizadores com amina impedida (hals), também são a praia da norte-americana Addivant. “ A proteção UV provém da combinação de um hals com absorvedor de UV e antioxidante “, revelam David de Corte e Paula Pizzonia, respectivamente gerente de desenvolvimento de negócios globais e gerente comercial para a América do Sul da empresa. “O antioxidante evita que o hals seja consumido durante o processo de exposição à luz e, assim, a ação conjunta dos três componentes impede danos no filme”.

Os dois executivos pinçam do mostruário quatro estabilizadores para filmes de estufa. “Lowinox 1790 e três tipos da série Lowilite – 26, 62 e 94 – contribuem para melhorar a estabilidade térmica, transparência e estrutura da película, ensejando uma ótima transmissão de luz”, eles asseveram. A nova molécula no catálogo da Addivant atende por Weston 705. “Constitui a próxima geração de antioxidante fosfito livre de nonilfenol (composto tóxico xenobiótico repudiado por entidades regulatórias, pois considerado não seguro para uso em contato com alimento)”, traduz Paula. Além de manter a estabilidade de cor, este lançamento registra em cotejo com aditivos concorrentes melhora de 10% na produtividade, formação de géis 10 vezes menor, proteção três vezes maior na proteção do fundido, menos gas fading (quando ocorre a alteração de cor do filme deixando-o amarelado ou meio rosado/roxo) e paradas de planta e, por fim, 90% a menos de florescência no filme”, ela conclui.•

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