Posto sob a lupa do consumo, o edifício dos compostos de poliamida (PA) de maior giro, os tipos 6 e 6.6, ocupa dois pavimentos. O piso é território do comércio de material reciclado, movido a preço e sem diferenciais técnicos, e o topo é um clube de componedores múltis, focados no atendimento de grandes tiragens de formulações mais nobres. “A nossa vocação é trafegar no miolo, topando desenvolvimentos complexos em quantidades desprezadas pelos grandes do ramo, caso de pedidos a partir de 50 quilos, um segmento volta e meia abandonado por concorrentes descapitalizados ou menos especializados”, assinalam Aurélio Giovanni Mosca e Alexandre Pastro Alves, dois dos cinco sócios da componedora e distribuidora Krisoll. 15 anos de estrada demonstram que ela acertou na mosca. No ano passado, sua receita rondou R$ 23 milhões e os dois dirigentes sentem em plena recessão vento a favor para o faturamento pular para R$ 30 milhões até dezembro.
Nenhum acionista da Krisoll caiu de paraquedas em plásticos de engenharia. Alves, por exemplo, militou na área de PA da Basf, e Mosca, entre outras passagens, era uma cabeça pensante da planta de polimerização de PA 6 e compostos da Mazzaferro, comprada pela Basf e fechada após incêndio em 2015. Foi assim que virou cinzas – literalmente – o plano do grupo alemão de beneficiar no Brasil o polímero de PA 6 importado de outras unidades suas. Aliás, a Krisoll comprou máquinas da antiga fábrica desativada em São Bernardo do Campo, ABC paulista, e desenhadas para formular os compostos de PA da marca Ultramid da Basf, complementa Alves, à frente das atividades de desenvolvimento de mercado da Krisoll.
No plano geral, a componedora roda na sede em Mauá, Grande São Paulo, seis extrusoras dupla rosca totalizando capacidade nominal de beneficiamento na casa das 9.600 t/a, projeta Mosca, englobando complementarmente no mix a prestação de serviços para terceiros (tolling) e as linhas de compostos de policarbonato, poliacetal e de copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS).
Ao longo desses 15 anos, evidenciam os dois sócios, a Krisoll pode creditar seu crescimento à luta para derrubar um preconceito. “Há possíveis clientes que discriminam de cara, pois duvidam da capacidade de uma indústria menor e nacional desenvolver um material do mesmo padrão de qualidade da múlti dona da receita original do composto em questão e que, em regra, dá as costas ao recebimento de pedidos pequenos”, constata Mosca. Alves encaixa como outro exemplo o desenvolvimento de PA 6 modificado com elastômero da DuPont e anidrido maleico. “Trata-se de um composto de alta resistência ao impacto e capaz de suportar temperaturas de até -30ºC e, embora o Brasil seja um país tropical, as montadoras daqui especificam esse parâmetro térmico para determinados componentes injetados dos carros”, ele explica.
Como referência do grau de confiança atingido pela Krisoll, Mosca aponta para as constantes remessas para a cliente Bosch de 50 kg de PA aditivada com bissulfeto de molibdênio, composto desenhado em Mauá para buchas de baixo coeficiente de atrito. Edson Tomaz dos Santos, comprador da Eldorado Indústrias Plásticas, força paulista em injetados, informa constar desde agosto de 2012 da carteira de clientes da Krisoll. “Ela sempre nos respondeu com rapidez quanto a desenvolvimentos, assistência técnica e logística”, atesta o executivo. “Por tratar-se de uma empresa de pequeno porte, ela consegue atender com mais eficiência e agilidade do que componedores maiores, pois nos fazem muitas exigências em relação a quesitos como lotes mínimos e previsão de entregas”.
Mosca sublinha que a Krisoll não suspira por um lugar ao sol das peças maiores de PA, nicho em geral mundialmente servido com exclusividade por gigantes na polimerização e beneficiamento de PA como Rhodia e Basf. “Nós entramos com compostos para um punhado de componentes automotivos menores, tal como o fazemos em itens para o setor elétrico e de agroveículos como colheitadeiras”, ele ilustra.
No ano passado, o balanço da Krisoll passou a sustentar-se em dois pilares. Além da vocação para compostos, o azul foi avivado pela estreia da empresa como agente exclusivo da Basf no Brasil para vender PA 6 ao setor de extrusão. “Esse universo mobiliza hoje 60% da nossa receita e compreende de filmes com barreira e masterbatches a tarugos, lonas, chapas, recobrimento de cabos, fitas de reforço de correias de máquinas e monofilamentos industriais e de pesca”, abrange Mosca. Desde os idos de 2002, ele rememora, a Krisoll ciscava nesse terreiro de PA 6 como revendedora autônoma, mas sua atuação destacou-se a ponto de arquear as sobrancelhas da Basf. “Foi conosco que ela firmou em 2016 seu primeiro contrato de distribuição oficial no gênero no Brasil”, insere Alves. “A Basf projetava em 220 toneladas essas vendas pela Krisoll e fechamos o último período com saldo de 600 e planejamos chegar a 2.000 toneladas este ano”. Entre os impulsos para a elasticidade desse salto, Mosca distingue a autonomia de voo da Krisoll. “Respondemos pela venda e assistência técnica, uma tranquilidade para a Basf a ponto de ela hoje limitar sua presença em PA 6 para extrusão a seis clientes que importam diretamente o material”. •
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