Deu curto circuito

Falta de energia na demanda baixa voltagem do consumo de resinas em lavadoras e geladeiras

Ao pé da letra, 2016 tirou os eletrodomésticos da tomada. “Se computados todos os produtos, esse setor operou no ano passado na faixa entre 60% e 70% da sua capacidade instalada”, dimensionou em entrevista exclusiva Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). “No mercado de eletroeletrônicos, os aparelhos de ar condicionado, TVs, DVDs, home theaters, câmeras fotográficas foram os produtos mais afetados pela recessão”, distingue o dirigente. Checagem da empresa de pesquisas Euromonitor atesta que, em 2016, sem uma necessidade real de trocar produtos antigos, os brasileiros hibernaram suas intenções de compras de grandes eletrodomésticos, em especial geladeiras e fogões.

Para este ano, iniciado sob as escoriações do PIB de -3,6% no período anterior, Kiçula condiciona sua fé numa recuperação das vendas aos planos da política econômica continuarem a seguir seu curso. “Esperamos que 2017 termine positivo em todos os setores e que 2018 seja melhor”, assinala. “No entanto, uma retomada nos níveis de 2012 e 2013 depende do aumento da oferta de crédito a juros baixos e estabilidade nos custos e no câmbio”.

Cadeira cativa de dois termoplásticos commodities nacionais, polipropileno (PP) e poliestireno (PS), a linha branca também viu a situação ficar preta no ano passado. “A Eletros calcula que as encomendas de refrigeradores, lavadoras automáticas e fogões recuaram 10,5% na passagem entre 2015 e 2016”, projeta Kiçula. “As vendas somaram 12,9 milhões de unidades no último período, o menor nível desde 2010”.
No plano macro, as peças injetadas para eletroeletrônicos não chegam a mobilizar 3% do consumo brasileiro de termoplásticos em geral, calcula a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Essa discrição esclarece o baixo impacto do vermelho nas vendas de lavadoras sobre o balanço total de PP, pois a poliolefina se caracteriza por uma diversidade de mercados e aplicações difícil de ser igualada. Ainda assim, pelos sensores da Braskem, único produtor nacional de PP, o déficit no consumo de PP em componentes das lavadoras foi de arquear as sobrancelhas. “O movimento caiu cerca de 8% perante o volume aferido em 2015 e foi o menor constatado desde 2014”, estimam Marcelo Carbonaro e Tassiana Custódio, respectivamente líder comercial e engenheira de aplicação do segmento de eletrodomésticos da empresa. “Até 2015, a produção de lavadoras aumentava ano a ano”, eles lembram. Em contraponto à produção de lavadoras automáticas em baixa em 2016, Carbonaro encaixa que a manufatura de tanquinhos, a alternativa de lavagem mais limitada e barata, cresceu em relação a 2015, compensando assim em parte a diminuição da quantidade de PP utilizada nessa vertente da linha branca.

A Braskem sempre primou por caçar mais espaço para PP nas lavadoras. Falam por si investidas a exemplo da tentativa de substituir aço em gabinetes de lavadoras brasileiras da Whirlpool em 2008, quando o consumo do polímero na linha branca era projetado em 60.000 t/a. De acordo com as planilhas da Eletros, o comércio nacional de lavadoras desce a ladeira há quatro anos. Mas Carbonaro nota que, apesar desse arrefecimento, o volume total de sucedâneos demandado pelo setor é bastante relevante, em torno de 30%. “A desvalorização cambial ao longo dos últimos anos potencializa a conversão para PP desses materiais, estimulando-nos a desenvolver mais aplicações em lavadoras. A conjuntura favorece a substituição e a proposta continua no nosso radar”.

Em paralelo, a Braskem burila as propriedades de seus grades para itens injetados de alta performance em lavadoras e tanquinhos. Tassiana exemplifica com os predicados do tipo CP202XP. “Seu elevado módulo de flexão o assemelha a um típico homopolímero de PP,  mas de resistência ao impacto muito superior”, ela diferencia. “Além de garantir produtividade, o alto índice de fluidez aproxima esse grade da injeção de peças grandes e complexas, típicas de lavanderia”. No embalo, Tassiana enaltece a alta rigidez, acabamento e resistência ao risco do homopolímero H202HC. “Possibilita maior brilho e uma processabilidade que converge para a redução de injeção”, ela arremata.

PPA Master Chef
Eletrodomésticos nacionais como fogões, na linha branca, estão na alça da mira de Radilon Aestus T, novo grade de poliftalamida (PPA) que a italiana Radici começa a trazer para o Brasil. “Compete com resinas de alta performance, todas importadas, como poliamida (PA) 4.6, polissulfeto de fenileno (PPS) e outros tipos de PPA”, nota Luis Carlos Haddad Baruque, gerente comercial da subsidiária brasileira da empresa, componedora top de especialidades plásticas em Araçariguama,interior paulista.

Radilon Aestus T, ele percebe, tem cadeira cativa em peças técnicas dependentes de resistência mecânica e a altas temperaturas. “Esse lançamento sobressai pela excelência na fluidez, elevadas temperaturas de fusão e de distorção térmica, formulações classe V-0 para injeção de parede fina e isenção de halogênios e fósforo vermelho em sua composição”, delimita o executivo.

Baruque associa o desembarque de Radilon Aestus T no terceiro ano da pior recessão brasileira ao culto à inovação e performance de materiais professado pelo Radici Group. É o mesmo espírito que paira sobre o investimento feito na quinta extrusora na unidade em Araçariguama, agendada para chegar na virada do ano, adianta o gerente. “Além das quatro para trabalhos em escala comercial, temos um modelo Maris dedicado a amostras e, com a futura extrusora, aumentaremos erm 30% a capacidade de beneficiamento de resinas”.

Às portas da crise atual, no início de 2014, refrigeradores compunham o segundo mercado para poliestireno (PS), mobilizando em torno de 48.000 toneladas anuais. Pelos indicadores da Eletros, essa vice-liderança já era e alarma os produtores de PS, pois, na mão oposta de PP, trata-se de uma resina de esquálida variedade de mercados, sem ter como ao menos suavizar o curto circuito no suprimento para peças do interior das geladeiras. Entre os produtores, a Unigel, que atende este segmento com os grades de sua fábrica de mais de 40 anos no Guarujá, no litoral paulista, manteve a praxe de negar entrevista. Nº1 em estireno e PS no Brasil e possuidora, no polo gaúcho, do mais moderno e integrado complexo petroquímico do setor e do único centro de tecnologia em estirênicos do país, a Videolar-Innova aborda com transparência a conjuntura indigesta. “No ano passado, em torno de 40% das vendas internas de PS seguiram para descartáveis e embalagens, enquanto o segmento de refrigeração respondeu por 17% (N.R.- 22% em 2013, cerca de 80.000 toneladas)”, escancara o diretor comercial Ruben Eduardo Madoery. “As vendas de PS para geladeiras caíram perto de 20% em 2016, retornando aos patamares de 2010”.

Poliestireno de alto impacto (HIPS) está consolidado principalmente nos gabinetes e contraportas. Já o tipo cristal (GPPS) integra quase a totalidade dos componentes transparentes internos das geladeiras, tais como bandejas, suportes, caixas e gavetas. HIPS tem elevado sua participação no mix de composição interna e externa das geladeiras, em especial daquelas mais competitivas em custos. Entre os troféus na parede dos desenvolvimentos da Videolar-Innova para a linha branca, reluz o grade de HIPS R 940D, com índice de fluidez de 3,5g/10 min, densidade de 1.04 g/cm3 e entre seus predicados figuram altos níveis de rigidez, tenacidade e resistência química sob tensão (ESCR), o que habilita o material a executar a função estrutural e suportar a agressividade de agentes químicos como os residuais presentes na espuma de poliuretano utilizada como isolante térmico, bem como de produtos de limpeza e de substâncias gordurosas oriundas dos alimentos acondicionados nas geladeiras. Esse conjunto de propriedades favorece a redução de espessuras dos gabinetes e contraportas sem perda de performance.

Após quatro anos seguidos de jejum nas vendas, os fabricantes de geladeiras, no geral, hoje priorizam a oferta de versões mais acessíveis desse eletrodoméstico no qual a presença de PS oscila de oito a 12 quilos per capita. Em 2015, avaliação da Videolar-Innova elegia os modelos contendo 10 quilos de poliestireno como as geladeiras de maior saída no Brasil e a participação das peças do polímero nos custos do aparelho era então arredondada em 30% pela empresa. “Seja qual for o cenário do mercado, é intensa a nossa atuação junto aos parceiros fabricantes de geladeiras”, determina Madoery. “Nosso mantra é estar sensível às tendências e corresponder rápido com inovações”.

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O Oscar da injeção é delas

As melhores injetoras para peças de geladeiras e lavadoras

Devido aos ciclos de injeção relativamente elevados, a alemã Arburg recomenda para peças de lavadoras e geladeiras máquinas de 150 a 320 toneladas munidas de fechamento hidráulico e closed loop em todos os eixos, a exemplo de modelos da sua série Allrounder, todos contemplados com financiamento direto da empresa ou de banco europeu. “O custo/benefício justifica essa indicação”, intercede Leandro Goulart, gerente de vendas do escritório comercial da empresa no Brasil. Além da máquina em si, expõe o executivo, a Arburg se serve do denominado Pacote Produtividade para laçar transformadores atuantes na linha branca. “Trata-se da inclusão na injetora de um inversor de frequência para ajustar a rotação do motor elétrico à energia requerida no processo, baixando em torno de 20% o gasto com eletricidade”, esclarece Goulart. “O pacote também eleva em até 5% a produtividade da máquina devido ao aumento da rotação do motor, neste caso refrigerado à água”.

Do outro lado da fronteira alemã, a austríaca Wittmann Battenfeld, outra formadora de opinião global em injetoras, espreita as chances em geladeiras e lavadoras com máquinas Macropower de 400 a 2.000 toneladas e fechamento de duas placas, especifica Cássio Saltori, diretor da base comercial no Brasil. Os moldes dessas peças são grandes, ele explica, requerem amplo espaço entre colunas e, devido ao acabamento diferenciado, sua extração é incumbência de robôs e sistemas de automação, itens aliás também fabricados pela Wittmann Battenfeld. Retomando o fio, Saltori justifica a indicação expressa das linhas Macropower devido a vantagens como a configuração, que as permite ocupar bem menos espaço que uma injetora convencional de três placas, e os movimentos simultâneos, mérito da bomba dupla para a extração de machos e extrator hidráulico para diminuir o ciclo durante a abertura e retirada da peça. “Os modelos Macropower também admitem ser configurados com servomotor, trunfo para a economia energética, e contam com o comando Unilog B8 e opcionais para integrar robôs e periféricos como dosador e termorregulador. “A supervisão do processo pode ser exercida de uma central ou mesmo por aplicativos da Wittmann Battenfeld para smartphones e tabletes”, acena Saltori. Na atual conjuntura, ele reconhece, as taxas brasileiras de juros são pouco convidativas para investidores, em virtude dos altos valores e dos entraves no caminho dos financiamentos de equipamentos importados cuja tecnologia não tem similares locais. “Para contornar esse problema, oferecemos linhas de crédito a juros inferiores às taxas daqui e diversas condições de pagamento para importações diretas da matriz da companhia”.

A junção de economia de energia e rentabilidade levam Christoph Rieker, diretor da representação local da teuto japonesa Sumitomo Demag a indicar duas frentes do seu portfólio de injetoras para peças da linha branca. As opções são os modelos hidráulicos Systec, acionados por servomotores e com comando de interface simplificada NC5, e as injetoras elétricas IntElect. “Peças de geladeiras e lavadoras são geradas em ciclos de 12 a 20 segundos, um processo para o qual a máquina elétrica convém por poupar perto de 35-40% de energia a mais que um modelo hidráulico, além de seus movimentos paralelos contribuirem para baixar bastante o ciclo total”, argumenta Rieker, colocando na mesa linhas de crédito da Sumitomo Demag.

A injeção elétrica é a razão de ser de outra faixa preta japonesa, a Toshiba Machine. Para componentes da linha branca, a indicação de Hércules Piazzo, diretor da representante Hercx (nada a ver com Eike Batista), é a linha de máquinas EC SX, com modelos de 350 a 1.800 toneladas. Além da economia energética inerente ao processo de injeção elétrica, a série EC SX, distingue o agente, se impõe pela alta velocidade e precisão aproximada de 0,1mm em todos os movimentos. “Entre os diferenciais dessas injetoras, figuram um sistema que evita danos no molde, por verificar o torque do servomotor e a extração executada com controle de torque, outra solução para afastar o risco de avarias na ferramenta ao impedir o avanço do extrator da injetora”, assinala Piazzo. Ele também enaltece melhorias como a placa móvel sem buchas, resultando em menos atrito para movimentá-la e redução do ciclo a seco. “O alinhamento da placa móvel é efetuado por guias lineares apoiadas na base do equipamento”, completa o representante. O sistema denominado “DST Clamp” possibilita o auto ajuste da força de fechamento na série EC SX e, fecha Piazzo, o recurso “DST Fill” provê a regulação automática da carga a ser injetada para assegurar sua moldagem com o peso ideal.
Na trincheira das marcas chinesas de injetoras, a Haitian dá as cartas na linha branca com duas de suas séries, ambas com os timbres da precisão e economia energética, expõe Roberto Melo, gerente de manutenção da base de vendas da empresa no Brasil. As recomendações são as máquinas das séries Marte e Júpiter. A primeira marca pelo fechamento de cinco pontos e um mostruário que vai de 60 a 3.300 toneladas de forças de fechamento. Já a série Júpiter, com injetoras de 450 a 6.600 toneladas, opera pelo sistema de duas placas. “Podemos fornecer o equipamento integrado com robôs e periféricos”, insere o executivo.
Devido à sua maior envergadura, baixo peso e dependência de moldes grandes, tal como o vão entre colunas, peças para geladeiras são reduto de injetoras de alta força de fechamento, deduz Antonio de Pádua Dottori, consultor ativo fixo da Pavan Zanetti, agente das injetoras hidráulicas chinesas HXF. “Nossos modelos mais utilizados neste segmento da linha branca são os de 380, 470, 570, 650, 800 e 1.000 toneladas”, alinha o especialista.

A injetora de peças para geladeiras e lavadoras, prossegue Dottori, deve prover excelência no acabamento, precisão, plastificação, no controle estreito das tolerâncias dimensionais e, claro, na poupança energética. “O portfólio da HXF preenche esses requisitos com linhas equipadas com servomotores ou motores com inversor de frequência”, oferece Dottori. “Ambas as alternativas possibilitam menor trabalho hidráulico nos tempos como o da dosagem, em que a máquina não é muito exigida. Concluídas essas etapas, conclui Dottori, as duas opções de motor permitem uma alta velocidade de resposta, dando andamento ao ciclo sem alterá-lo. •

 

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