Tempo de repensar

O mercado é para quem tem cabeça nas nuvens e pés no chão
Terra: mais joint ventures entre transformadores  em 2017.
Terra: mais joint ventures entre transformadores
em 2017.

Vice-presidente da unidade de negócios de poliolefinas, renováveis e Europa da Braskem, Edison Terra usufrui um mirante privilegiado sobre a cadeia do plástico. Nesta entrevista, ele sopesa a intensidade dos estragos da recessão em bens duráveis e primários e sublinha a necessidade, amplificada pela crise renitente, de o transformador realizar uma autocrítica tão óbvia na teoria quanto rara de ser posta em prática: um pente-fino para valer no caixa e modelo de gestão e a reinvenção do seu negócio mediante seu redirecionamento para outros mercados e aplicações alcançáveis, sem maiores custos e ajustes, pelo tipo de máquina disponível nas fábricas hoje com ociosidade preocupante.

PR – O Brasil entra no terceiro ano seguido de recessão e a transformação de plástico amarga queda acumulada da ordem de 15% na produção e 25% na receita desde 2015. Por quais motivos ainda assim continuam tímidos, numa conjuntura propícia a rearranjos setoriais, os movimentos de joint ventures entre transformadores nacionais, em prol da redução de custos e ganhos de escala e de market share?
Terra – 2016 não foi nada fácil no mercado brasileiro de resinas. Foi o segundo ano consecutivo de retração doméstica. A queda está muito mais relacionada ao encolhimento de setores econômicos ligados a crédito e investimentos, como o automotivo, construção e infraestrutura, do que à diminuição da compra de bens de consumo imediato. É difícil ter uma resposta única para esse processo de consolidação da cadeia do plástico. Em um segmento dominado por empresas de origem familiar, movimentos e combinações de ativos não são tão naturais. Mas, ao longo de 2016, começamos a identificar uma tendência por esse tipo de negócio, com crescimento já representativo. Com a retomada da economia, ainda modesta em 2017 e mais acentuada em 2018, haverá mais apetite de fundos de investimento para catalisar esses movimentos.

PR – A quebra das finanças públicas põe em risco transformadoras dedicadas ao campo de infraestrutura ou a outros mercados dependentes de verbas e créditos do governo. Quais as alternativas para essas indústrias, além de tentar alongar o perfil de sua dívida, amortecerem ao máximo em 2017 o tombo causado por 3 anos seguidos no vermelho e sem retomada visível no horizonte?
Terra – Para o transformador conseguir atravessar esse período de recessão, o primeiro passo é olhar para dentro de sua empresa e se organizar. É imprescindível que sejam identificados os pontos passíveis de melhorias, onde se pode cortar custos e buscar formas de aumentar a eficiência operacional. Em paralelo, ele deve aprimorar a gestão de capital de giro, avaliando o caixa, os prazos de faturamento e seus estoques. Além disso, deve buscar oportunidades de negócio, desde o acesso ao mercado externo até a entrada em outros setores. Por exemplo, quem produz geomembranas pode fortalecer suas exportações. Além disso, há diversas soluções de infraestrutura que podem ser adaptadas para a iniciativa privada. É o caso dos modelos de flutuadores para placas fotovoltaicas, utilizado em hidrelétricas do governo, pois também podem ser oferecidos para gerar energia em propriedades rurais.

PR – Quais os exemplos marcantes de mercados para polietileno (PE), polipropileno (PP) ou PVC que poderiam ser bem maiores do que são no Brasil caso houvesse uma regulamentação oficial em prol do uso desses materiais?
Terra – De forma geral, o cumprimento de normas e especificações ajudariam a promover os produtos plásticos, mantendo sua qualidade e, em decorrência, aumentando o consumo. Entre os muitos exemplos de mercados que poderiam se beneficiar, constam os descartáveis e móveis de PP. A agricultura é outra referência. A adoção de soluções plásticas colabora com a produtividade, seja por redução de perdas ou incremento de produção, como pode ser visto em Israel. A Braskem tem investido em pesquisa para adaptar soluções comprovadas no exterior para a realidade do campo por aqui, caso do emprego de mulching no cultivo de café, cítricos e abacaxi.•

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