Dois novos nomes preenchem a ficha em resinas no país: a brasileira Unipar Carbocloro, em PVC, mediante a aquisição da Solvay Indupa, e a mexicana Alpek em PET, fruto de acordo firmado com a Petrobras sobre a intenção de compra da Petroquímica Suape/Citepe. Ambas as empresas, além das consultorias MaxiQuim e Chemvision e a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), não concederam entrevista.
PVC pode ser a vedete do portfólio da finada Solvay Indupa. Mas a absorção pela Unipar Carbocloro dos complexos dessa empresa no Brasil e Argentina não é condicionada pela resina em si, mas pelas sinergias subjacentes na cadeia dos clorados. Afinal, a aquisição guindou a Unipar Carbocloro ao topo do pódio latino-americano das capacidades de soda cáustica e cloro e à vice liderança em PVC. No primeiro caso, tratam-se de 750.000 t/a de soda e 650.000 t/a de cloro, somados os potenciais dos complexos em Cubatão, São Paulo, e Bahia Blanca, na Argentina. No âmbito do polímero vinílico, a capacidade binacional, agora sob comando da controlada Unipar Indupa, totaliza 510.000 t/a. A Unipar retorna assim aos termoplásticos, setor no qual atuou em poliolefinas de 1992 a 2010, quando vendeu à Braskem suas ações na extinta petroquímica Quattor.
Sete anos depois, nas vestes da Unipar Carbocloro, ela volta às resinas, mas num compartimento, PVC, sem nada a ver com polietileno (PE) e polipropileno (PP). Para começar, PE e PP são resinas multimercado, enquanto PVC serve em essência a um amo, a construção civil, a se esvair em sangue desde 2015 (no Brasil e Argentina) e sempre um dos últimos setores a reagir quando uma retomada econômica tem início. Essa dependência e a onerosa produção eletrointensiva ajudam a explicar a lentidão das mudanças na produção brasileira do vinil. A Unipar Carbocloro embolsou uma capacidade de 290.000 t/a de PVC em atividade desde 1956 em Santo André, ABC paulista. A empresa não escapa de um dilema que levou membros da diretoria da Solvay Indupa a chamarem na informalidade a Braskem de patrão. Afinal, para produzir PVC, a Unipar Indupa conta apenas com uma fonte de eteno no país: a Braskem, sua concorrente na resina. Argumenta-se que, tal como já ocorria antes da privatização do setor petroquímico, quando o polímero ainda estava no bojo do grupo Solvay, tal abastecimento é respaldado por contrato. Mas analista algum diria ser este o melhor dos mundos para quem é suprido e, se vier o dia em que a Unipar Indupa quiser expandir sua sexagenária base de PVC em Santo André, a única via é a capacidade de 140.000 t/a de dicloroetano (intermediário para PVC) comercializado pela Unipar Carbocloro e, de novo, formulado com eteno da sua rival no vinil.
Sem ok dos orgãos antitruste até o fechamento desta edição e até contestada na Justiça por ação popular, a compra da PetroquímicaSuape /Citepe esmerilha o poderio transnacional da Alpek em PET e seu insumo-chave, o ácido tereftálico purificado (PTA). O poliéster grau garrafa arfa sob crônica superoferta mundial e, no Brasil, a soma das capacidades de 450.000 t/a da PetroquícaSuape e de 550.000 t/a da rival M&G traduz um hiato da ordem de 50% até o consumo aparente. Mas esse mico não embaça o investimento, se visto do mirante da Alpek. Na Argentina, ela controla a única planta de PET, de 190.000 t/a. Com essa base e a do Brasil, a corporação mexicana vira líder no polímero na América do Sul. Em Pernambuco, a Alpek se apossa ainda da única fábrica de PTA na região, capaz de gerar 700.000 t/a. Nos EUA, conta com operações de 640.000 t/a de PTA; 135.000 de fibra de poliéster e 1.495 milhão de t/a de PET. No México, são 160.000 t/a de fibra; 1.610 milhão de PTA e 180.000 t/a de PET.
Nos meandros desses caminhos cruzados, o conceito de concorrência cede vez a uma interdependência. Afinal, a M&G roda sua planta brasileira de PET com PTA mexicano da Alpek, importado com benesses fiscais de acordo comercial bilateral. Nos EUA, por sua vez, a Alpek licenciou a tecnologia para gerar 1,3 milhão de t/a de PTA no complexo texano da M&G em Corpus Christi, completado pela capacidade de 1,1 milhão de t/a de PET e com partida agendada para este ano. A Alpek também firmou acordo para comprar 500.000 t/a do poliéster ali produzido. Como se vê, uma mão lava a outra. •
Crise nos cursos de tecnologia do plástico nos EUA
Imagem negativa do material influi na queda das matrículas