Sob os holofotes da conferência do clima das Nações Unidas, em novembro último no Marrocos, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, jogou confete verde no Brasil ao apresentá-lo como líder mundial no recolhimento de embalagens de agrotóxicos – dianteira explicável pelo constrangedor fato de o consumo do veneno no país ser o maior do agronegócio planetário. Desde 2015, as vendas de defensivos encolhem por aqui, decorrência do crédito rural restrito e dólar alto onerando ingredientes importados das formulações. Mas nem dois anos seguidos de recuo da demanda nem a nitroglicerina política e a recessão sem trégua intimidaram a norte-americana Inhance Technologies de partir em Jundiaí, interior paulista, sua unidade local de fluoretação de recipientes monocamada de agroquímicos. “O clima econômico não anda muito favorável, mas o momento é perfeito para se lançar uma tecnologia capaz de poupar capital”, enxerga Andrew Thompson, CEO da empresa norte-americana. “Não apenas os preços reduzidos para embalagens de alta qualidade, mas as economias em taxas de reciclagem e a redução do impacto ambiental dos resíduos de recipientes de defensivos são bem-vindas neste momento”.
À parte o agronegócio constituir 25% do PIB brasileiro, a terra é fértil para a Inhance florir a partir da complexa reciclagem de um recipiente soprado de polietileno de alta densidade (PEAD) com barreira de poliamida 6 (PA6), o modelo padrão vigente para embalagens coex de defensivos. “A fluoretação permite que um recipiente monocamada e com poder de barreira possa ser reciclado no mesmo fluxo de reaproveitamento de um tipo convencional não tratado”, pondera Wilson Corassin Junior, gerente geral da Inhance Brasil. “Esta é uma vantagem significativa da nossa tecnologia Fluor-Seal Process”.
O sistema da Inhance modifica a superfície da embalagem, proporcionando blindagem e resistência química contra solventes, surfactantes e ingredientes ativos capazes de migrar dos recipientes monocamada.Corassin detalha os trâmites da operação em Jundiaí. “Os recipientes de agroquímicos são alojados em câmara de tratamento onde uma mistura de flúor e outros gases é introduzida”, ele expõe. “Quantidades, tempo e condições de processo são controladas com cuidado, mediante recursos automatizados e monitoramento digital, para lançar as características de desempenho almejadas para os recipientes tratados, depois submetidos a testes de validação da qualidade”. Todas as emissões de gases na câmara de tratamento, ele reitera, são reutilizadas na fabricação de aço e concreto, zerando assim a hipótese de desperdício na operação. As embalagens fluoretadas são enviadas à empresa usuária (no caso indústrias de defensivos) para envase, pintura e demais etapas de acabamento.
Thompson e Corassin afirmam não dispor de números do consumo brasileiro de agrotóxicos nem da parcela cabível aos tambores metálicos e, na seara de PEAD, ignoram as frações detidas pelos recipientes monocamada e coex. “Mas sabemos que cerca de 25% do total de embalagens utilizadas de defensivos devem possuir propriedades de barreira de hidrocarboneto”.
A Inhance Brasil tem pela frente um páreo bem concorrido. Até mesmo uma indústria de sopro de embalagens de agrotóxicos, a Ipackchem, fornece recipientes fluoretados internamente.Thompson demarca os diferenciais da sua filial. Para começar, atesta, “somos parceiros e não competidores de quem produz recipientes para defensivos”. Corassin sublinha que todo o tratamento efetuado em Jundiaí é checado em testes de controle de qualidade. “Nenhuma tecnologia concorrente é capaz de completar essa aferição em cada lote manufaturado”. Por fim, emendam o presidente e o gerente geral, a atividade da Inhance sobressai pela produção cativa de flúor e pela aptidão para operar com lotes sem limitação de tamanho. “Isso possibilita maior flexibilidade econômica para a operação”, completam. •
Crise nos cursos de tecnologia do plástico nos EUA
Imagem negativa do material influi na queda das matrículas