A falência da saúde pública brasileira mantém o setor médico-hospitalar na lanterna dos mercados da transformação de resinas. Apesar das verbas a zero e tendo a compaixão como possível motivação, fervilham nesse campo inventos plásticos para minorar o sofrimento do próximo, todos eles contrários à máxima do escritor José Saramago de que a humanidade não merece ser salva. É a bordo desse espírito solidário que Confort Banho ganha a rua no ano que vem, nas vestes de projeto apoiado pelo programa Braskem Labs, destinado a aprumar startups de impacto social. “As vendas comissionadas e on line começarão em abril, mas faremos antes uma campanha de financiamento coletivo (crownfunding), para viabilizar o produto”, antecipa Arthur Pugliese, sócio na empreitada junto com Diogo Hoppen e o pai da ideia, o enfermeiro Daniel Lima.
Foi no convívio com pacientes acamados, trabalho que lhe rendeu lesão de esforço repetitivo (LER), que Lima se inspirou para conceber Confort Banho: uma banheira inflável para ficar no leito, evitando a locomoção de pacientes sem condições de deslocamento. “O objetivo é poder banhar o doente com conforto em água corrente, por meio de chuveiros móveis disponíveis em hospitais e serviços de homecare”, esclarece Pugliese. “A água escorre por um dreno integrante da banheira”. Indicadores setoriais atestam que, no Brasil, 28% dos afastamentos de enfermeiros do batente têm como justificativa as cargas de esforços na coluna. Além desse alívio para as costas dos cuidadores, emenda Pugliese, Confort Banho livra os acamados do habitual e insatisfatório banho com pano úmido.
Pugliese justifica PVC como matéria-prima por ser reciclável, leve e funcional. Como deixa claro, o vinil foi sugerido à trinca de empreendedores por mentorias técnicas do Braskem Labs. A ideia começou a se galvanizar na etapa da seleção, entre três empresas, de uma transformadora de artefatos infláveis mantida em sigilo por Pugliese. “Ela adquire o laminado de PVC e o solda no formato da banheira”, informa sucinto. Para a entrada em produção comercial, ele explica, foi constituída uma sociedade na qual a transformadora detém 50% do controle e a metade restante cabe aos empreendedores, fora o pagamento de royalties para Lima. Pugliese desconhece similares do Confort Banho aqui ou no exterior e assinala já ter sido feito o depósito do pedido de patente.
À margem da saúde pública na UTI, Pugliese, Hoppen e Lima enxergam futuro para Confort Banho em varreduras do mercado nacional da terceira idade. Por exemplo, o fato de 33% dos idosos penarem com dificuldades de locomoção ou a previsão de que um contingente estimado em um milhão de pessoas será acrescido à população acima de 60 anos. De olho nessa perspectiva, os parceiros se animam para a estreia na praça. “Pretendemos comercializar cerca de 5.000 unidades em 2017, ao preço individual sugerido de R$ 200,00”, especifica Pugliese.
Diferenciação da marca é um dos mandamentos do marketing e, nesse quesito, o invento amparado pelo Braskem Labs periga escorregar na banheira de uma confusão. Afinal, uma expressão Confort (ou Comfort) Banho aparece a três por dois nos pontos de venda, nomeando desde domissanitários, como duchas, a cadeiras higiênicas para o mesmo mercado médico-hospitalar cortejado por Lima, Hoppen e Pugliese. “Nossso produto é específico para acamados”, sublinha Pugliese. “A ducha é para banho convencional e a cadeira higiênica serve para levar o doente ao chuveiro”. •
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