A situação chegou a ponto de todo mundo correr feito Usian Bolt da ideia de comprar imóvel na planta. A construtora prevê calote do cliente, por inadimplência e falta de crédito. O comprador evita o risco de a obra contratada não terminar, atrasar ou sequer sair do papel, por inadimplência e falta de crédito da empreiteira. A indústria de máquinas para plástico sabe – e sente na carne – o nome na raiz desse pesadelo no setor imobiliário: falta de confiança. “Esta é a hora de o transformador modernizar as linhas, pois na maioria dos setores não se cogita aumento de produção com vendas em queda ou estagnadas”, comenta Newton Zanetti, diretor da Pavan Zanetti, medalha de ouro do Brasil em sopradoras e atuante na venda de injetoras orientais. “Temos substituído sopradoras obsoletas ou de baixa tiragem, mas muitos empresários temem investir, embora cientes do momento conveniente, travados pela incerta conjuntura política e econômica. O medo faz toda a diferença”.
Crédito em recesso é outro plus na calmaria. “As linhas de financiamento estão lá no BNDES, mas sua procura caiu devido ao medo de investir e à falta de documentos necessários entre tomadores, como a Certidão Negativa de Débito (CND)”, percebe Zanetti. À parte essas barreiras para o financiamento público e privado, é notório que, no plano geral, os transformadores hoje amargam descapitalização e ociosidade elevadas. Na hipótese enevoada de retomada em 2017, deverão primeiro ocupar a capacidade disponível para então pensar em comprar equipamentos. “Por isso, a indústria de bens de capital é a primeira entrar e a última a sair de uma recessão, além de precisar de muito capital de giro para desenvolver produtos”, suspira o dirigente. “Há crédito para isso, mas, sob pressão da crise, receamos pegar recursos. A vida não anda fácil”.
Sopradoras de poliolefinas são a locomotiva das vendas da Pavan Zanetti. No primeiro semestre, distingue o diretor, seu modelo mais vendido foi a máquina automatizada de dupla estação BMT 5.6 D/H, nas versões hidráulica e híbrida com deslocamento de carro elétrico. “Têm a preferência dos setores de cosméticos e limpeza doméstica”, distingue Zanetti. Entre as sopradoras por acumulação, mandaram bem as vendas de janeiro a junho último do modelo HDL 20L para produção de garrafões de 20 litros de água mineral. Entre as sacadas pela frente nessas duas séries de sopradoras, o diretor acena com a chegada em breve do modelo BT 10.0D/H e a incorporação de novo CLP da brasileira Altus. No âmbito das suas sopradoras de PET, área na qual milita há oito anos, a Pavan Zanetti já engatilha o lançamento de um modelo em 2017”. Por ora é segredo industrial”, solta sucinto o diretor. Numa panorâmica do seu negócio de sopradoras, Newton julga, a partir do andar da carruagem nos seis meses iniciais, ainda ser possível aproximar o exercício em curso do 2015 de triste memória. “Tomara que a definição do impeachment impulsione a economia, salvando um pouco nossas vendas no quarto trimestre”.
Também não há refresco para os lados das injetoras asiáticas ofertadas pela Pavan Zanetti. “Retração, crédito restrito e dólar caro baixaram muito nossas vendas dessas linhas em 2015 e este ano a situação é parecida”. Em meio às avarias no balanço, ele pinça como carros chefes na primeira metade do ano as injetoras multiuso HFX na faixa de 160 a 200 toneladas. “Esperamos oferecer em 2017 linhas de grande porte munidas de duas placas, recurso que reduz o espaço ocupado pela injetora”. Tal como previsto para o balanço das sopradoras, Newton crê em demanda em câmara lenta por suas injetoras até dezembro. Já seria uma vitória, considera, empatar com as vendas de 2015. “Há chances de atingir essa meta pouco animadora”.
Apesar dos pesares
As nuvens não pairam tão carregadas assim sobre a conjuntura, percebe William dos Reis, vice-presidente da Romi, grupo senhor dos anéis em injetoras no Brasil e sangue bom em sopradoras por extrusão contínua e de PET. Para expor sua posição, ele põe no mesmo bojo suas atividades de máquinas ferramenta com as de injetoras e sopradoras, inclusas novas e seminovas. No total, informa, a receita operacional líquida foi de R$ 131,8 milhões no primeiro semestre de 2016, recuo de 16,1% frente ao mesmo período um ano antes. “Já o volume de entrada de pedidos aumentou 15% de janeiro a junho último sobre a metade inicial de 2015, somando R$124,4 milhões, mérito das exportações de equipamentos”, atribui o dirigente. Uma boa nova, ele admite, é o terreno abocanhado pela Romi das injetoras importadas. “A variação cambial e a incerteza do cenário diminuíram em 67% o volume de injetoras trazidas de fora no primeiro semestre perante o mesmo período em 2015”.
Equipadas com acionamento stop and go, a cargo de servomotores acoplados a bombas hidráulicas, as injetoras EN roubaram a cena nas vendas desses equipamentos da Romi no primeiro semestre. Reis atribui essa dianteira no balanço a pontos de venda como a economia de energia, precisão, velocidade dos movimentos, diversidade de aplicações e uma gama de forças de fechamento entre 70 e 1.100 toneladas. Na esteira, Reis sublinha a introdução este ano da injetora híbrida ES 300, estribada em ciclos ultra rápidos e máxima economia energética. “Conta com acionamento elétrico na unidade de fechamento, acumuladores de pressão e servoválvula para a produção de peças dependentes de alta razão de injeção”, expõe o vice-presidente, enaltecendo ainda a simultaneidade total de movimentos, o sistema de filtragem off line (aumenta a vida útil e eficiência do sistema hidráulico) e o sistema Power-Bank. “Regenera a eletricidade durante as fases de desaceleração dos movimentos dos servo motores”, explica Reis.
Na raia das sopradoras, Reis elege para seu carro chefe no primeiro semestre as máquinas por acumulação MX, empoleiradas na procura por galões de água mineral. “Está voltada para recipientes para envase de 10 a 100 litros e dispõem de cabeçotes munidos de sistema FIFO, para a troca mais rápida de cores”, destaca o vice-presidente. A lista de predicados da máquina compreende ainda a vasta área de molde com alta força de fechamento, o motor da extrusora com inversor de frequência e o comando CM10. “Permite 512 pontos de programação de parison com controle por servoválvula, trunfo para a precisão e controle do peso das peças sopradas”, ele completa.
Mesmo diante da volatilidade do mercado, Reis sustenta vir alcançando bom volume de pedidos em todas as unidades de negócios da Romi. A propósito, ele descarta a influência do torniquete no crédito em seu movimento. “Oferecemos diversas opções de financiamento para a venda de máquinas”.
Exportações salvadoras
“As trapalhadas do governo foram tão grandes na economia que será muito difícil igualarmos as vendas de 2015”, constata Paulo Leal, executivo de vendas técnicas da Rulli Standard, fera nacional em extrusoras blown e de chapas para termoformagem. Ambos os segmentos, ele assinala, hoje penam com a falta de crédito e perspectivas positivas para o consumo. Leal engrossa a torcida pela vinda de medidas capazes de ressuscitar a confiança no cenário por parte dos investidores em equipamentos.
Na primeira metade de 2016, ele repassa sem abrir números, preocupou a queda no volume de vendas diante dos indicadores do mesmo período em 2015. “Mas graças à exportação conseguimos nos equilibrar”, coloca. No mercado doméstico, lamenta, as vendas então encaminhadas poderiam ter sido concretizadas, mas foram goradas pela incerteza e a dificuldade de clientes em preencher as condições para fazer jus ao financiamento do BNDES. A gravidade da crise não sustou o fluxo de melhorias nas linhas de chapas e filmes da empresa, aliás a máquina blown EF 2¹/² foi o carro chefe no primeiro semestre. “Procuramos sempre inovar no software, perfil de rosca e dimensionamento interno do cabeçote das extrusoras”, enfatiza Leal.
Célula inteligente para tampas
Por causa do câmbio e capital de giro da mão para a boca, o bicho da conjuntura pega com mais força para os lados das máquinas importadas, uma fila encabeçada aqui pelas injetoras. Mas não tem cabimento medir o choque pela régua do balanço do primeiro semestre, pondera Paulo Carmo, gerente para o negócio no Brasil de sistemas de injeção para embalagens da canadense Husky, pedra de toque global nessa tecnologia. “Nossa operação não pode ser analisada numa janela de tempo de seis meses, sequer em um ano”, argumenta. “Como os projetos primam pela longa maturação, nossos resultados não coincidem, necessariamente, com os ciclos econômicos”. Com base nessa dialética, Carmo adjetiva 2015 e 2016 como muitos positivos para sua atividade, apesar da economia brasileira com zika. “Projetos surgidos no ano passado tiveram sua complementação no período atual, resultando em pequena alteração nos saldos dos dois exercícios”, ele frisa. Por sua vez, as questões do câmbio e liquidez de caixa pesam para esticar mais o prazo de análise dos projetos protelando, em efeito dominó, o fechamento de transações com injetoras da Husky. Carmo insere, a propósito, que o valor da taxa de conversão não é a causa da insegurança emanada pelo câmbio, mas a volatilidade das cotações. “No mais, apesar da restrição local do crédito, as fontes internacionais de financiamento continuam disponíveis e competitivas”.
A tecnologia sempre voa acima das nuvens da economia e quem fica para trás se fossiliza. As novidades no arsenal da Husky espelham essa certeza, a exemplo de um sistema automatizado de limpeza de moldes para embalagens de bebidas. “Visa aumentar a integração das nossas injetoras com todos os componentes da produção e o alinhamento automático dos moldes é uma ação preventiva contra seu desgaste prematuro”, esclarece o gerente. Tacada de impacto exponencial é o lançamento, para a área de tampas de bebida da quarta geração, intitulada HyCAP4, de células constituídas por injetoras, moldes e periféricos. O novo sistema, por sinal já é identificado com o conceito vanguardista da Indústria 4.0. Nesse contexto, a Husky sobressai com um poderio na manufatura que alinha a máquina, matrizes, sistemas de câmara quente, controladores de temperatura, periféricos e softwares de produtividade, Mediante aprimoramentos como a eletrificação do movimento de fechamento, a plataforma HyCAP4 poupa 40% a mais de energia que a célula da geração precedente. Por sua vez, a patenteada tecnologia MOLD ID simplifica o start up da célula e provê informações sobre esta etapa e tópicos como a manutenção do molde.
Os suspeitos de sempre
Leandro Goulart, diretor do escritório comercial no país da alemã Arburg, formador mundial de opinião em injetoras, presenciou descida sem freio na sua carteira durante o primeiro semestre. “As vendas caíram aproximadamente à metade do movimento de janeiro a junho de 2015”. Os culpados pelo recuo são os suspeitos de sempre. “Crédito restrito e câmbio instável desfavorável para importações”, ele identifica. Mas o jogo ensaia mudar ao longo do semestre, ele enxerga. “Embora ainda pequena, a movimentação no mercado demonstra que o otimismo começa a voltar, mas ainda é insuficiente para alcançarmos em 2016 os números de 2015”.
A Arburg tirou do forno, em março último, a série de injetoras elétricas Golden Electric, a cavaleiro do mesmo conceito de padronização de performance e custo/benefício que fez a reputação da série hidráulica Golden Edition, comenta o executivo. Outra boa nova que ele solta, é o início da comercialização dos equipamentos 3D Freeformer no Brasil. Um modelo para demonstração já está a postos no show room da Arburg na zona sul paulistana.
Tremores na base
Flavio DaSilva, diretor comercial para a América Latina das extrusoras de tubos da battenfeld-cincinnati USA, assina embaixo da lógica de que somente após esgotarem sua capacidade ociosa os transformadores retomarão as compras de bens de capital. “Creio que este retorno acontecerá no Brasil a partir do segundo semestre de 2017”. Para ele, o comportamento do mercado interno na primeira metade de 2016 não se presta à comparação com o mesmo período um ano antes, cenários tornados distintos pela atual situação econômica do Brasil, alega. “As restrições cambiais e de acesso ao crédito decerto dificultam as importações”.
No pano de fundo, a construção civil brasileira, o oxigênio dos tubos plásticos, faz água por todos os cantos. A quebra das contas públicas deu sumiço nas verbas para obras de infraestrutura, a exemplo das redes de saneamento básico. No mercado imobiliário, uma faceta captada em estudo pela agência Ficht Ratings e o Instituto Nacional de Recuperação Empresarial (INRE), fala por si. No acumulado de 12 meses até junho último, 557 empresas de construção faliram e 350 entraram em recuperação judicial. Mais sal na ferida: o INRE calcula que quase 25.000 famílias hoje possuam imóveis não entregues, quantidade equiparável ao número de casas e apartamentos transacionados anualmente na capital paulista, o maior centro econômico do país. No balcão dos materiais de construção, castigado pela inflação, desemprego e empobrecimento do consumidor formiga, o setor penou em julho com a trigésima queda seguida no faturamento. A constatação parte do monitoramento mensal da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).
Não é à toa que o Brasil passou de importador a exportador de PVC e DaSilva informe não ter conseguido vender extrusoras de tubos por aqui no primeiro semestre. Em resposta, ele se apega à crença em reação na segunda metade de 2017, “quando vamos poder retomar as projeções positivas de vendas para o país”, confia. “Já sentimos melhora nas vendas para a Argentina com a mudança do presidente e, sem dúvida, isso vai ocorrer no Brasil”.
Nos últimos anos, pinça o executivo, suas máquinas para tubos de maior saída no Brasil têm sido as extrusoras twinEX e solEX. Da Silva atribui o mérito à alta produção em kg/h, economia energética e, em particular, ao desempenho dessas linhas na extrusão de tubos vinílicos de 20 a 110 mm de diâmetro e de polietileno de alta densidade (PEAD), estes com diâmetros de até 2.600 mm. •