“Devemos implantar em breve células de trabalho automatizadas e com fluxo de processo sem contaminantes, da matéria-prima à embalagem, para cumprir as exigências colocadas para alguns produtos veterinários”. A mira em alvos bem específicos, como mostra esta meta de Carlos César Barbosa Jr. tem sido a eminência parda do crescimento em peças técnicas para a agropecuária da sua empresa, a FAM Plásticos, rumo a 30 anos de ativa em 2017.
A nitidez do foco em implementos e máquinas agrícolas e setores de atendimento complexo, como componentes para o ramo da odontologia, tem livrado a FAM das queimaduras em primeiro grau infligidas a torto e a direito pela economia na UTI na indústria de produtos acabados de plástico. “Em 2015 e na primeira metade de 2016, sentimos o impacto da recessão no cancelamento de alguns projetos em andamento, na inadimplência e na redução de investimentos”, pondera o presidente. “Dos segmentos mais afetados, o automotivo levou a pior e, na agropecuária, onde atuamos com mais força, o mercado estagnou, retrato de uma política desarticulada para o agronegócio e sem financiamentos a longo prazo”. Ainda assim, o azul não desprega do balanço. “Nosso volume de vendas é crescente, traçando um gráfico positivo em faturamento e posição no mercado”, atesta Barbosa Jr. “As vendas evoluíram 5% em 2015 sobre 2014 e, com base na entrada de novos produtos e na produção já programada, vislumbramos crescimento de 10,5% nas entregas dentro deste ano. Quanto a 2017, será um período de poucos investimentos”.
Na sede em Ribeirão Preto, oeste paulista, a FAM conta hoje com capacidade mensal da ordem de 65 toneladas para sopro e 55 para injeção. “No ano passado, injetamos mais de três milhões de peças, agrupadas em 287 itens; sopramos mais de um milhão de artefatos, compreendendo 325 itens e produzimos cerca de 10.000 conjuntos, integrantes de 14 modelos”, projeta Barbosa Jr. Do lado dos materiais, são consumidos polipropileno, polietilenos e plásticos de engenharia. Como o Brasil só polimeriza poliamida entre os materiais nobres, a FAM é forçada a recorrer aos portfólios do exterior. “A atual volatilidade cambial gera instabilidade e dificulta o planejamento a longo prazo do suprimento”, considera o dirigente. “Compramos algumas matérias-primas importadas, mas, de forma indireta, produzimos componentes de produtos também exportados. Isso impacta a negociação com cientes, complicando repasses de preços ao sabor do câmbio mutante e, ao final, a manutenção das margens de lucro”.
Na selfie da hora, o parque fabril da FAM prima pela automação e customização de suas linhas. Ele engloba nove injetoras, com idade média de 10 anos e força de fechamento de 62 a 250 toneladas, e cinco sopradoras com vida útil na média de 11 anos. “Uma delas opera até sete quilos em PE pelo sopro por acumulação e quatro sopram por extrusão contínua itens de até cinco litros. Na retaguarda, a unidade ribeirãopretana dispõe de um sistema de gestão da qualidade com pontos altos como as células autônomas, adoção do monitoramento por Controle Estatístico do Processo e acumula 12 anos de credenciamento pela ISO 9000. Outro ás na manga é a ferramentaria, dedicada à manutenção de moldes ativos. Barbosa Jr. conta que, embora confeccione ali alguma matrizes para finalizar acabamentos especiais, a FAM dá primazia a trabalhar com ferramentarias de terceiros. “Hoje empregamos 181 moldes de sopro e 131 de injeção, sendo a maioria deles dos clientes”. A propósito, encaixa, “estamos aprovando, junto com montadoras de agroveículos, moldes de componentes de plantadeiras a serem lançadas em 2017 e 2018”, ele distingue. A curto prazo, assegura, a área de ferramerntal será reforçada com a entrada em cena de escaneamento a laser e impressão 3D, para prototipagem e peças de pequeninas tiragens.
O banho de imersão no agronegócio rendeu para a FAM passe livre nos departamentos de engenharia de clientes e vários feitos em destaque no mural de sua trajetória. Barbosa Jr. fisga como exemplo o projeto do dispositivo intravaginal (com progesterona) para bovinos, contendo aplicador e controle das aplicações, destinado ao pecuarista que busca uma criação programada e monitorada. “O desenvolvimento começou em 2008 com a análise da matéria-prima, molde e a aparelhagem requerida para cumprir os rígidos parâmetros colocados pelo cliente. “No momento, fornecemos o dispositivo a duas empresas do ramo veterinário”.
Outro divisor de águas nesses 30 anos foi o desenvolvimento de um conjunto de 38 peças para plantio de sementes. “É produzido apenas por nós e um transformador do Canadá”, sustenta Barbosa Jr. Esse conjunto, aliás, sintetiza a importância do foco bem fixado por trás da expansão da empresa. Em agroveículos, nota o dirigente, a FAM procura desbravar mais possibilidades de uso dos componentes plásticos, mediante ataque sobre os metálicos na esteria de vantagens como a redução do uso de graxa provida por polímeros que já contêm este lubrificante. “Discos de semente são outro exemplo desta transição”, expõe Barbosa Jr. “No passado, eram manufaturados em inox, cortados a laser e submetidos em sua produção a furadeiras múltiplas. Hoje em dia, injetamos esses discos para equipar plantadeiras de clientes como as montadoras Jumil, Marchesan e CNH Industrial”. •