As vendas de materiais de construção avermelharam em 9% em julho último. Autora da projeção, a associação das indústrias do setor (Abramat) constatou ter sido a trigésima queda consecutiva no faturamento e o recuo fortalece sua previsão de queda de 8% no exercício de 2016 sobre a nada memorável receita de 2015. “As utilidades domésticas (UD) para construção civil são nossos produtos mais afetados pela crise, devido à extrema retração do setor”, confirma Rodrigo Soares da Silva, sócio executivo da Arkplast, transformadora sediada em Boituva, interior paulista, cujos produtos são injetados, em sua maior parte, com material reciclado internamente. “Na média mensal, hoje consumimos 3.000 toneladas de resinas, volume que inclui 85% de reciclado e 15% de polímero virgem”, reparte o dirigente, acrescentando dispor de ferramentaria e um parque de injetoras com vida útil máxima de cinco anos e forças de fechamento entre 80 e 2.000 toneladas.
O fundo do poço retratado pela Abramat é uma faceta do rombo aberto no poder aquisitivo por mais de dois anos de economia no atoleiro. UDs não têm por que serem exceção à regra e daí a razão de Soares dimensionar entre 20% e 25% a retração da demanda no seu setor acumulada nos exercícios de 2015 e 2016. Nesse quadro a diversidade de produtos e segmentos cobertos pela Arqplast lembra um colete à prova de bala. “Com essa variedade, conseguimos fazer uma média geral equilibrando o movimento a ponto de nos ter permitido crescer em receita e volume de vendas em 2014 e 2015”, constata o diretor, sem abrir números. Essa fórmula bem sucedida recebe agora uma transfusão de sangue novo. “Ao final do ano passado, compramos os moldes da gaúcha Replast, com os quais já introduzimos mais de 20 UDs e o total deve passar de 50 até dezembro”, ele confia.
Essas boas novas não livram a Arkplast de aderir a uma reação dominante em seu ramo, enxerga Soares, referindo-se à busca de meios para reduzir custos. “É uma forma de preservar a competitividade numa conjuntura negativa”, resume. Na prática, esta lição de casa é ilustrada na Arkplast pelo investimento em sua segunda linha de sensores Autosort da norueguesa Tomra Sorting Recycling, destinados a automatizar a triagem do refugo plástico a ser recuperado nas instalações em Boituva. As duas linhas somaram 18 meses de ativa em agosto, prazo suficiente para Soares aferir o retorno. “Constatamos melhora significativa na qualidade do material separado, pois a olho nu é muito grande a dificuldade para identificar cada material”.
Ele também distingue o fim das oscilações no tempo gasto na seleção, um entrave característico da intervenção manual na triagem. “O trabalho com sensor também é mais rápido”, adiciona. Os ganhos com a tecnologia escandinava estenderam-se à rentabilidade da atividade de reciclagem. “Devido à ausência de contaminação causada pela presença de materiais compatíveis, aumentou a estabilidade do processo de separação com efeitos positivos no custeio do reciclado final”, argumenta o industrial.
Por combinar os sensores NIR e VIS, o sistema Autosort reconhece e separa com máxima precisão e velocidade grandes quantidades de refugos plásticos em função de seu tipo, composição e cor, conta Carina Arita, diretora comercial do escritório da Tomra no país. Em decorrência, amarra a executiva, o reciclado obtido da sucata selecionada sobressai pelo índice de pureza.
De 2013 para cá, a Tomra soma 20 sistemas de triagem eletrônica em 12 clientes no Brasil, informa Carina. Apesar da espiral da crise e do câmbio inibidor para importações, ela sustenta que a procura por seus sensores segue acesa . “Os sistemas melhoram a qualidade, baixam custos e o retorno do capital transcorre com rapidez”, ela justifica. •