O bumerangue sempre volta

*Evandro Cazzaro
*Evandro Cazzaro

O Brasil não dispõe, infelizmente, de uma política que fomente de forma saudável a modernização de nossa indústria e, para completar, reage à concorrência global através da imposição de proteção tarifária. Tal barreira repassa a defasagem tecnológica da indústria de bens de capital nacional à indústria transformadora e esta, por sua vez, enfrenta enormes dificuldades para competir em seu próprio mercado dando entrada à manufaturados importados. Isso sem falar da sua falta de competitividade em mercados internacionais, limitando substancialmente as exportações de nossos manufaturados. Portanto, trata-se de uma política que nos desfere tiro duplo no pé, pois perpetua o atraso da indústria de bens de capital e condena o setor transformador a depender de um mercado interno estagnado e cada vez mais suscetível às importações asiáticas de artefatos de plástico. Este artifício paternalista potencializa um círculo vicioso.

Numa economia globalizada, as empresas são, em regra, exportadoras e importadoras. Utilizam a importação para suprir suas necessidades, seja de bens de capital ou de insumos. É comum depararmos com os argumentos de que medidas intervencionistas desse tipo servem para proteger empregos no Brasil e que comprar tecnologias importadas significa fomentar empregos no exterior. Pois bem, há que se entender que, para a indústria, imposições tarifárias à importação de bens e insumos implicam aumento direto no custo de produção. Em muitos casos ele não pode ser repassado integralmente aos preços. Em decorrência, outras medidas são adotadas para compensar o reajuste e, em geral, culminam na redução do quadro de funcionários. Portanto, não tem sentido dizer que ações de fechamento da economia têm como principal objetivo gerar e preservar empregos aqui.

Nocivo ao extremo, esse processo protecionista deveria ser substituído por uma política industrial de longo prazo. Proteger determinado segmento industrial não deveria significar apenas garantir sua subsistência. No Brasil, além da imposição tarifária à importação de maquinário de ponta, ainda enfrentamos situações em que esta proteção (tal como ocorre no setor transformador) se alicerça na falsa acepção de similaridade nacional, restringindo de forma generalizada as exceções tarifárias a tecnologias indisponíveis no país.
Todo o processo é interligado e a proteção desmedida de um segmento industrial pode causar a desmontagem de outro, mais empregador e gerador de impostos. Como sempre coloquei, sem transformadores não há equipamentos e sem acesso a tecnologias cai por terra a competitividade da cadeia de manufatura do plástico. O Brasil ocupa a sexta posição na lista de países que mais alteraram suas políticas tarifárias nos últimos anos. Em sua grande maioria, essas alterações são consideradas protecionistas por analistas. As reclamações de membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) quanto a medidas brasileiras de reserva de mercado crescem exponencialmente. De acordo com publicação do Instituto IMB do Brasil referente aos princípios de livre mercado, “o protecionismo não apenas protege os ineficientes, garante seus lucros, e obriga os consumidores a pagarem preços maiores, como também interrompe todo o processo de especialização, impedindo que o padrão de vida aumente no longo prazo – podendo, inclusive, levar ao seu declínio – a produtividade não aumenta e, consequentemente, os salários reais não sobem”.

O livre fluxo de comércio e investimentos é crucial para assegurar oportunidades e auxiliar um país em fases de crise. Nossa indústria deve ter acesso ilimitado a tecnologias que poderão mesmo contribuir para o aumento da competitividade nacional e, em sua esteira, gerar empregos e riquezas à toda a cadeia.
Não percamos a oportunidade que este momento do Brasil nos apresenta. •

*Evandro Cazzaro é gerente geral para a área de Beverage Packaging na América Latina da fabricante canadense de injetoras e periféricos Husky.

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