As perdas de comida no varejo do Brasil, Argentina e México equivalem ao dobro do registrado nos EUA. O déficit é mais constrangedor se considerado o contingente de 47 milhões de latino americanos que, atesta a ONU, hoje passam fome. Esse contrassenso aflora de pesquisa tirada do forno pela Sealed Air, cânone norte-americano de embalagens plásticas, intitulada “Soluções para reduzir o desperdício de alimentos no varejo da América Latina”. De acordo com esse pente-fino, 15% dos alimentos disponíveis na região viram refugo a cada ano. Desse indicador, 28% são descartados na produção; 22% manuseio e armazenamento, 17% na distribuição e 6% no processamento. Tem mais: 5% da receita doméstica das famílias latino-americanas é gasta com comida atirada ao lixo. A passividade com que esse quadro tem sido digerido na América Latina, pela sua cadeia de alimentos e governos, chegou a um grau tornado inadmissível pela disponibilidade de informações e tecnologias capazes de virarr o jogo. Além do mérito de por o dedo na ferida com esse estudo, a Sealed Air faz a sua parte acenando com soluções de embalagens viáveis para o varejo e seus consumidores na região, como demonstra na entrevista a seguir Ulisses Cason, vice-presidente da divisão Marketing Food Care para a América Latina.
PR – Estudos sobre perdas de alimentos no varejo não são novidade. Por que este problema até hoje não foi devidamente atacado, apesar de tão alertado, seja pelos supermercadistas ou fornecedores de alimentos?
Cason – O desperdício de alimentos vem sendo combatido, inclusive com esforços da indústria e supermercadistas, mas ainda de maneira tímida. Há muito espaço para melhorias. Para a ação ser mais eficaz, é preciso abordar a sério pelo menos duas esferas. A primeira relaciona-se à população. Requer uma mudança cultural, incrementando a conscientização sobre o uso, consumo e cuidado com os alimentos. Por mais difícil que seja, esta é a ação capaz de gerar mais resultados, pois contribui para a implementação rápida e consistente das demais iniciativas necessárias. A outra esfera a ser abordada refere-se a investimentos em infraestrutura, como a melhora da cadeia de frios e canais de distribuição mais adequados. O problema das perdas, então, ainda não foi atacado devidamente porque a dimensão desses investimentos e o longo tempo demandado por sua implantação e geração de resultados os conduzem a uma posição de menor prioridade, se comparados a outros componentes da complexa situação que vivemos no país.
PR – Pelo levantamento da Sealed Air, o descarte de alimentos abocanha qual fatia das vendas dessa categoria?
Cason – Esse descarte é estimado em 4,4% na América Latina. Foram entrevistados no ano passado 194 profissionais, representando 58% de lojas no Brasil, 77% no México e quase a totalidade da amostragem na Argentina. O estudo ouviu mais de 1.000 consumidores em cada país pesquisado.
PR – Embalagens danificadas representam qual fatia das perdas de alimentos aferidas pelo estudo no varejo do Brasil?
Cason – As embalagens danificadas são responsáveis por 13% do desperdício de alimentos no varejo, ficando atrás apenas de data de validade vencida e deterioração dos produtos, cada um com 20% de participação no desperdício. No Brasil, o setor mais impactado por embalagens danificadas é o de carnes e frutos do mar com 28%. Já no México, a seção de delicatessen é a mais afetada, chegando a 32%. Na Argentina, contabiliza 14%.
PR – Quais os principais danos aferidos nas embalagens de alimentos desperdiçados?
Cason – Os problemas de integridade da embalagem como vazamento, furo ou adulteração são responsáveis pelos maiores índices de desperdício na América Latina (97%), assim como no Brasil, onde o índice soma 92%. Os varejistas brasileiros apontam que 91% do descarte decorrem de problemas com vedação, seguidos de embalagem que não mantém o frescor do produto e soluções que não são resistentes, cada um dos dois últimos senões com 83% de participação.
PR – Como o estudo reparte os tipos/categorias de alimentos descartados por estragos e validade vencida?
Cason – No Brasil, os setores mais afetados por alimentos sem condição de consumo e data de validade vencida são os de padaria, com 50%; frutas, legumes e verduras com 44% e rotisseria/deli, 29%. Na Argentina, frutas, legumes e verduras atingem 76%, seguidos pelas seções de carne e frutos do mar com 68% e padaria com 40%. Já no México, o mais prejudicado é carne e frutos do mar com 59%, delicatessen com 56% e rotisseria com 52%.
PR – Quais as propostas da Sealed Air para reduzir essas perdas com embalagens danificadas e alimentos estragados e fora da validade?
Cason – Temos uma solução para frangos refrigerados e outros tipos de alimentos que liberam fluidos naturalmente, sujando a gôndola e a geladeira do consumidor, além de permitir contaminação pela vulnerabilidade da embalagem. Trata-se da tecnologia Cryovac Ses, uma embalagem hermética. Ela evita vazamento de líquido, mantém a integridade da embalagem e permite maior campo para impressão.Ou seja, mais informações aos consumidores podem ser incluídas. Para alimentos dependentes de maior proteção, como bacon e carnes com osso, a Sealed Air oferece a solução Optidure. Sobressai por conferir alta resistência à embalagem, mantendo uma espessura menor, aliando assim melhor aparência e segurança contra danos mecânicos com menos impacto ambiental. Também cabe na relação de exemplos a tecnologia Darfresh on Tray, que acondiciona alimentos como uma segunda pele. Para o fornecedor, ela aumenta a produtividade e reduz os custos, mérito do conceito denominado “zero perda de filme” durante a manufatura da embalagem. A configuração mais compacta otimiza a carga para o transporte, beneficiando assim a cadeia logística. Para o supermercadista, essa solução traz maior vida útil, proporcionada pela mais alta qualidade do vácuo, portanto confere menor exposição à oxidação. Também reduz os custos de reposição na gôndola e permite maior facing (forma de apresentar produtos na primeira fila do expositor), diminuindo as quebras. Em relação ao usuário final, Darfresh on Tray mantém o alimento em adequadas condições de consumo por mais tempo, ocupa menos espaço na geladeira e é fácil de abrir e usar, com menor volume de descarte de embalagem.
PR – O mercado brasileiro atravessa seu segundo ano de recessão, inflação, desemprego e perda de poder aquisitivo. Diante desse quadro, como a Sealed Air avalia a receptividade aqui às soluções que assinalou?
Cason – Os supermercadistas querem manter ou aumentar as vendas e os consumidores não têm dinheiro para desperdiçar. São justos os benefícios apresentados pelas soluções da Sealed Air. Nossa abordagem extrapola a simples venda da embalagem, buscando entender toda a cadeia produtiva e aplicar conhecimento especializado para propor resultados práticos, abarcando desde a higienização das fábricas e supermercados aos cuidados com a segurança alimentar, treinamento e qualificação de pessoal e adequação da área produtiva. Em alguns casos, vamos até o desenvolvimento de alternativas de embalagem em função dos objetivos corporativos do cliente. Para a indústria, essa atuação converge para reduzir custos. Para o supermercadista, as embalagens mais compactas, atraentes e talhadas para alongar a vida útil dos alimentos diminuem as quebras, proporcionam diferenciais competitivos e aumentam as vendas. Por fim, o consumidor desfruta assim de maior tempo de uso do alimento porcionado em embalagens mais fáceis de usar, caso das resseláveis. É menos desperdício de comida em casa. Todo mundo sai ganhando. •