O amor é lindo

Conceito da posse responsável e relação entre donos e animais sustentam o mercado pet

s2Ponha-se no lugar de porta-voz de uma indústria que, em meio ao festival de desgraças numa infinidade de setores no país, hoje no lameiro dos níveis de consumo de muitos anos atrás, se vê na posição de ter de dizer que, na contramão do xororô geral, o seu mercado continua indo em frente. É este o embaraço que cerca as falas de José Edson Galvão de França, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Pelas projeções mais recentes da entidade, 2016 fecha com faturamento de R$ 19,2 bilhões ou 6,7% acima do saldo de 2015. “Aparentemente, o crescimento é positivo, mas, na verdade, demonstra uma queda, pois a expansão do ano passado foi de 7,6%”, ele alega. “A Abinpet considera que não há desenvolvimento de mercado”. Não deve ser mesmo fácil escancarar percentuais azuis num ambiente em que o vermelho sanguinolento pega o PIB brasileiro pelo segundo ano seguido e o próximo a Deus pertence. Para aguar de vez a compostura do discurso de França, os fabricantes ouvidos nas reportagens a seguir, todos filiados à Abinpet, esbanjam entusiasmo e provas de crescimento do negócio.

França recorre a duas frentes de argumentação para deixar fosca a rentabilidade do setor. Assim, ele recorre ao encarecimento das commodities agropecuárias (milho, soja, carnes, peixes e trigo). “Compõem 95% do alimento pet, impactando o custo final”. Na mesma direção, o dirigente engrossa o coro de gregos e troianos do empresariado contra a carga tributária. “Em cada alimento embalado incidem 51,2% de impostos, entre IPI, ICMS-ST e PIS/Cofins”, acentua. “Portanto, a cada R$ 1 dispendido com pet food, R$ 0,51 correspondem à tributação”. Além do mais, lastima, a alíquota do IPI aumentou em 10%, desde maio último, na venda a retalho – embalagens de até 10 quilos. Esse ônus, completa o presidente da Abinpet, resvalou para o consumidor, ainda mais considerando-se que cerca de 60%do faturamento desse setor provém das classes pobres. “O governo precisa entender a importância econômica do setor, diminuir os tributos para incentivar o consumo e, por tabela, os investimentos da indústria”.

França: vendas crescem mas os custos também.
França: vendas crescem mas os custos também.

As vendas de iogurte, símbolo do passado esplendor do Plano Real, hoje vão mal das pernas, cortesia da atual perda de poder aquisitivo e consequentes cortes no orçamento doméstico. Mas está para nascer quem tire produtos pet das listas de compras. “A valorização dos bichos de estimação como membros da família e o reconhecimento dos benefícios da interação ser humano/animal são os principais fatores para a sustentação do mercado”, interpreta França. “Os donos dos pets estão assimilando a posse responsável e ela implica fornecer ao animal todo o suporte para sua saúde e bem estar. Nesse cenário, a alimentação dos pets é um item indispensável no orçamento das pessoas”.

A propósito, França julga furada uma notícia que tem dado o que falar. Com o bolso apertado, atestou em novembro último na mídia Vanessa Brandassi, executiva da consultoria Kantar Brasil, os compradores de produtos pet reduziram a frequência desses gastos. “Outra solução dos proprietários”, ela declarou, “tem sido substituir ou complementar as refeições dos pets com alimentos caseiros, sejam os mesmos consumidos pelas famílias ou aqueles preparados especialmente”. França discorda de A a Z. Além da receita do setor falar por si mesma, a opinião do presidente tem lastro no engajamento maciço dos donos dos animais às premissas da posse responsável e, apesar das ousadias e flexibilidades em voga na culinária contemporânea, França reitera que as exigências alimentares dos bichos ainda diferem das humanas. “Nossa comida não supre todas as necessidades dos pets em relação a vitaminas, proteínas e sais minerais. A ração industrializada é um bom exemplo de nutrição balanceada para cada fase da vida do animal”, vaticina o dirigente.

Os dados mais recentes liberados pela Abinpet sobre o contingente brasileiro de pets foram coligidos em 2013 pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística. Por essa régua, o país tinha então 52,2 milhões de cães, 22,1 milhões de gatos, 37,9 milhões de aves, 18 milhões de peixes e 2,21 milhões de outros bichos domésticos (répteis e pequenos mamíferos). O cálculo não engloba cavalgaduras, mas, mesmo assim, é a quarta população no gênero do planeta, assevera a Abinpet.

cao2O consumo adestrado

Por que o crescimento desse setor não tem volta

Rações sempre foram as donas do pedaço no faturamento do mercado pet. Projeções setoriais antevêm para o exercício deste ano receita de R$ 19,2 bilhões, saldo 6,7% acima do precedente. Na divisão, pet food mobiliza o bom bocado de 67,5%. É seguida à distância pela categoria de serviços, com 16,2%. O fecho cabe às respectivas fatias de 8,1% do faturamento para duas frentes: equipamentos e produtos de higiene e beleza e medicamentos veterinários. Para 2016, as projeções oficiais trabalham com aumento de 2,5% sobre o volume produzido de pet food no ano passado, estimado em 2,59 milhões de toneladas e, no pano de fundo, a capacidade nominal de manufatura de razões domésticas é situada em 7,35 milhões de t/a. Ninguém se queixa de danos desse excedente sobre a rentabilidade do setor.

“Estamos antecipando alguns investimentos pois percebemos que, em meio à crise, o mercado pet está carente”, constata Maycon Artacho, diretor industrial da Doogs, fabricante paranaense de rações para cães e gatos. “Com mais aportes de recursos e lançamentos, conseguiremos até superar a projeção de vendas para este ano. Aliás, introduzimos mais de 50 produtos no portfólio apenas no primeiro semestre”. Artacho pondera que a maioria das indústrias do seu setor reage à recessão freando os gastos com marketing como parte da política de redução de custos. “Aqui na Doogs estamos aumentando essa verba enxergando uma oportunidade no mercado e o marketing e qualidade explicam o aumento expressivo do nosso volume de vendas em relação aos anos anteriores”. Apesar do azul desse horizonte, o diretor não considera seu ramo blindado contra uma recessão atribuída por ele a uma crise interna de governança. “No ano passado, o aumento do faturamento do mercado pet foi causado pelos reajustes nos preços das matérias-primas; afinal, a meu ver, as vendas retraíram em volume”. Artacho abre exceção a um literal pulo do gato. “O mercado de rações felinas vem crescendo muito, devido ao alastramento de moradias prediais”, justifica. “Os gatos se adaptam bem a esse tipo de ambiente sem quintal”.

A Doogs possui cinco linhas de alimentos caninos e outras cinco para a categoria felina, entre tipos premium, superpremium e movidos a preço. “Mesmo sob recessão, o consumo de rações de combate aumentou, mas com conceito de qualidade de nossos produtos e marcas, conseguimos manter os volumes de vendas das categorias premium e super premium”, comemora o diretor. Em 2015, encaixa, os bifinhos foram o carro-chefe da Doogs. “Os campeões de vendas deste ano devem ser os ossos orgânicos e os produtos ofertados em stand up pouches”, ele confia.

População pet aumenta
Pouches reinam com exclusividade nas rações de cães e gatos da catarinense Dalpet. “Precisamos manter a integridade e segurança do alimento durante o prazo de um ano de validade após a data da fabricação ”, argumenta Juarez Ribeiro da Silva, gerente de produção e P&D da indústria há 13 anos controlada pelo Grupo Dalquim. “O pouch mantém a ração livre de luz, umidade e contaminantes”. A Dalpet é suprida de pouches pela paranaense Incoplast, braço do Grupo Copobras, de Santa Catarina. “O mercado pet evolui em alta velocidade e requer frequentes inovações em produto e embalagem; fizemos isso em relação a todos os pouches em 2015, desde lay out aos materiais do laminado, considerando a segurança, transporte e facilidade de manuseio”, indica Silva.

Gatos: facilidade para viver em prédio impulsiona compra de ração.
Gatos: facilidade para viver em prédio impulsiona compra de ração.

Em volume de vendas e receita, projeta o gerente, a Dalpet cresceu em torno de 12% sob a recessão do ano passado e promete deixar para trás esta marca no exercício atual, pois o movimento saltou na faixa de 16% apenas no primeiro semestre. Silva atribui o céu de brigadeiro ao esforço para inovar em processos, embalagens e produtos. “Hoje temos na reta final de pesquisa dois lançamentos em alimentos para cães e um para gatos.”

Tal como em 2015, o carro-chefe da Dalpet este ano deve ser a linha de rações premium especial Dal Dog Adulto Raças Médias e Grandes, aposta Silva. Apesar do crescimento de sua empresa, ele sente o bafo da crise tanto na nuca da demanda das categorias premium, super premium e especial como na orelha das rações econômicas e standard. “As linhas nobres têm sido afetadas pela perda do poder aquisitivo, enquanto as de combate são prejudicadas pela alta nos preços das matérias-primas”, interpreta o executivo. Mas as fundações do mercado resistem a qualquer dilúvio. “A população de pets aumenta e sua demanda por comida permanece com ou sem recessão”, julga Silva. “O que se vê na crise é a migração do consumidor para produtos mais baratos”.

Tempo bom para linhas premium
Formadora de opinião em flexíveis no país, Erica Canavesi, gerente de desenvolvimento de embalagens da Nestlé Brasil, dona da grife de pet food Purina, enquadra o setor local no contexto global. “É forte no exterior a tendência de crescimento da categoria de produtos premium e super premium e o aumento da população de raças pequenas caninas, um cenário favorável ao desenvolvimento de produtos em embalagens menores e de soluções para acondicionar alimentos diferenciados”, descortina a especialista. Nos EUA, ela distingue, tomam vulto as rações grainfree, de alto teor proteico e, para aludir ao apelo natural do alimento, os fabricantes recorrem a embalagens foscas. “Como a população brasileira de cães e gatos só perde para a dos EUA, a envergadura do nosso mercado o qualifica para receber inovações, a exemplo dos produtos grainfree já em introdução por aqui”, ela indica.

Na esfera dos snacks para cães e gatos, em especial tipos funcionais como os que reduzem o tártaro e melhoram o hálito, Erica enxerga pista livre para a concepção de embalagens que permitam visualizar o conteúdo e comuniquem às claras os benefícios proporcionados. Ela exemplifica com um lançamento norte-americano da Purina, embebido no denominado conceito de fun & play together, os snacks BeginPoppers, acondicionados em pote transparente com tampa de silicone. “Ela tem uma saliência na parte superior, onde o produto pode ser acomodado, apertado e, após segundos, o alimento é automaticamente lançado para o cão buscá-lo”, descreve.

Erica forma na corrente defensora de cada vez mais camadas nas estruturas de laminados para pet food. “Isso permite que cada uma delas seja composta de material mais apropriado, para garantir que todas as propriedades sejam otimizadas com custo mais acessível”, sustenta a gerente da Nestlé, destacando atributos como barreira a gorduras e aromas e, no âmbito do processamento e paletização, a resistência mecânica e o coeficiente de atrito. À guisa de referência dessas tendências e dos chamarizes da coeficiência e praticidade, Erica grifa a chegada recente de embalagens de um a 3 quilos de Purina Pro Plan. “São munidas de fechamento tipo velcro numa das laterais, facilitando assim a abertura, dosagem e refechamento após o uso”, revela.

Cliente fidelizado
Atuante em redutos sem a mesma musculatura de pet food, a paulista Centagro acusa em seu movimento o pisão da crise, mas o encara como circunstancial. Seu portfólio engloba ectoparasiticidas (linha Xandog), medicamentos (Centagro Vet) e produtos para estética (Pet Smack) para cães e gatos. Na calculadora da diretora de marketing Andréia Tavares Arantes, as vendas e faturamento da empresa reluziram aumento entre 10% e 12% de 2014 para 2015. “De forma geral, porém, o faturamento das três linhas mostram queda este ano perante a receita de 2015, culpa da instabilidade econômica, ajustes fiscais, redução do poder de compra e queda na produção”, atribui a diretora de marketing. “As expectativas não são nada boas a curto e médio prazo, pois prevemos estagnação ou redução para o exercício atual, efeito das conjunturas política e econômica ”.

Os produtos de estética animal, ela assinala, destacam-se no balanço da Centagro pelo volume, enquanto os de cunho veterinário sobressaem no faturamento pelo valor agregado. Andréia nota os complicadores introduzidos de ponta a ponta no mostruário pela intensidade da recessão. “Estamos num segmento que envolve a compra de produtos e serviços atrelados à emoção”, explica. “No primeiro momento, trata-se de um elo mais difícil de ser quebrado pelos donos dos pets, mas não está imune à economia em baixa. Seu consumo mostra-se agora restrito à compra de itens essenciais, substituídos quando possível por similares de preço menor. Da mesma forma a diminuição de serviços prestados, principalmente de banho e tosa, acarreta recuo nas vendas dos produtos aí utilizados”. Até o momento, informa, as vendas das linhas premium da Centagro têm sofrido menos com a crise do que as linhas econômicas. “O resultado é fruto do trabalho diferenciado que fazemos para produtos premium, de modo que, mesmo em tempos de crise, o comprador mantenha a fidelidade e relute em trocá-lo por similar mais barato”, constata a diretora da Centagro. “Assim, nossa expectativa é de manter investimentos em produtos não convencionais, de alto valor agregado, para irmos na contramão da crise”.

Apesar dos trancos, ela contrapõe, o negócio não pode parar. “Os projetos continuam em andamento e o cronograma prevê pelo menos quatro lançamentos até dezembro”, diz. As embalagens surfam nesta estratégia, evidencia Andréia, com destaque para a busca de apresentações diferenciadas e uso mais racional delas.

Rhotoplás: uma produção animal

Fixada na impressão roto desde 1990, a fábrica sede da Rhotoplás em Barueri, Grande São Paulo, é a Nasa nacional dos laminados para pet food, à frente de capacidade nominal superior a 750 t/mês de flexíveis. Não tem fim a lista de vanguardismos trazidos a essas embalagens a reboque da obsessão do presidente Joel Gomes e do diretor industrial Fernando Aparecido da Silva pela modernização das etapas de pre-press, galvanoplastia, gravação extrusão, laminação e acabamento. Flávio D’Onofrio, gerente de desenvolvimento da convertedora, capta nesta entrevista o andar da carruagem da evolução em laminados para rações domésticas.

PR – O que os fabricantes de pet food hoje mais procuram para suas embalagens?
D’Onofrio – A empresa desenvolve há cerca de 25 anos embalagens para este ramo. São filmes e sacos mono e laminados de até 25 quilos para os tipos mais simples de rações e linhas superpremium. Não existe algum requisito técnico muito específico em destaque, mas o que se observa é o incremento maior de embalagens de maior shelf life. Para aumentar a validade do produto, precisamos conceber uma estrutura combinada de substratos em prol do poder de barreira e, em especial, de hermeticidade. Essa estrutura também pode contribuir para o shelf life como garantia para evitar vazamentos capazes de permitir a passagem de ar entre o ambiente interno da embalagem e o externo, após o envase do alimento.

PR – A quantidade de camadas e materiais tende a crescer ou baixar nesses laminados ?
D’Onofrio – Hoje em dia, uma corrente induz muitos fabricantes dessas embalagens a trabalhar com filmes de cinco ou sete camadas. Mas com a disponibilidade de grades especiais de polietileno (PE), muitas vezes se consegue um filme que atenda sem dificuldades à necessidade de barreira e desempenho mecânico com apenas três camadas. Os laminados que fornecemos à marca Eukanuba são um exemplo.

PR – A presença de ingredientes naturais em pet food pode afetar a concepção do laminado?
D’Onofrio – Sim, existem fabricantes que usam alimentos in natura na composição da ração, exigindo um laminado a partir de filme de PE para melhorar a barreira à gordura, umidade e gases. É o caso da embalagem produzida pela Rhotoplás para a pet food Biofresh.

PR – Qual o principal avanço recente da empresa em laminados para pet food?
D’ Onofrio – Nossa grande inovação foi conseguir estabilizar em valores altos o coeficiente de fricção externo das embalagens pré-formadas, principalmente com estruturas que levam o filme de PET biorientado no lado externo. Trata-se de um requisito fundamental para a estabilidade e segurança do empilhamento da sacaria acondicionada em paletes nos clientes após o envase.

PR – Quais os desenvolvimentos em laminados para pet food que hoje sobressaem na Rhotoplás?
D’Onofrio – O efeito fosco é muito solicitado para essas embalagens, o que providenciamos com um verniz especial. As embalagens superpremium que vendemos para a fabricante Royal Canin e para os snacks da Luopet refletem a combinação de requinte com toque macio, sendo que em algumas áreas se mantém o brilho para, principalmente, ressaltar a marca no ponto de venda. Os clientes também exigem cada vez mais avaliações da resistência dos laminados à queda. A título de referência, devemos submeter as embalagens contendo até 20 quilos de ração a três quedas de um metro de altura e, a seguir, precisamos checar a ocorrência de vazamento de ar no laminado, através de teste de vácuo.

Casinhas e guias sazonais
No melhor sentido possível, o bicho está pegando – e como – para os lados dos brinquedos e acessórios injetados para pets. “No ano passado, o faturamento cresceu na média 30% frente a 2014”, abre Hugo Fernando Martins, sócio diretor da Furacão Pet, indústria paulista que é o Neymar desse time. “As perspectivas para o exercício atual contemplam expansão aproximada de 15% na receita, por causa da crise política e da demanda um pouco retraída porque os clientes andam com receio de se endividar e, do nosso lado, estamos mais enérgicos em termos de aprovação e limite de crédito”. Noves-fora, ele amarra, as vendas da Furacão Pet não baixaram, “mas não conseguimos crescer como planejávamos nem na intensidade aferida em anos anteriores”.

Na sede em São Carlos, a Furacão Pet opera com oito injetoras e ferramentaria apta a confeccionar moldes de até oito toneladas, situa Martins. “Em termos mensais, hoje produzimos cerca de 300.000 peças a partir do consumo médio de 50 toneladas de três polímeros: borracha termoplástica (TR), PVC e polipropileno (PP)”, detalha o dirigente, situando em 50% seu índice atual de ocupação. “Fazemos 20 lançamentos ao ano e, a propósito, introduzimos no período atual dois produtos patenteados, Papamosca e Papadengue, este último com forte apelo relativo à saúde pública”, destaca Martins. “Entre as razões para passarmos ao largo da crise, estão a verticalização nos moldes para uso cativo e a vastidão da carteira de clientes. Diminuímos a produção não devido à crise, mas por termos optado por construir moldes maiores para produtos de valor agregado, rompendo assim com a praxe passada das peças menores, muitas delas brinquedos de borracha”.
Determinados produtos da Furacão Pet são sazonais. “Casinhas plásticas vendem muito no inverno e as guias saem mais no verão”, exemplifica o dirigente, enxergando ainda nas caixas de transporte um plus de valor agregado. No embalo, Martins confirma estar aproveitando o câmbio para vitaminar as exportações, hoje alojadas no restante da América Latina e puxadas por casinhas, caixas de transporte e brinquedos. “Apenas no primeiro semestre triplicamos o faturamento com as vendas externas em relação aos 12 meses de 2015”, arremata o fabricante.

Tudo para ele abanar o rabo

As tendências que mostram as garras em laminados de pet food

cao

O mercado pet mundial fatura a bagatela de US$ 102,2 bilhões, afivelado na coleira de um contingente estimado em 1,56 bilhão de animais de estimação. Mesmo sem computar certas aves locais de suspeitíssima plumagem, o Brasil tem a quarta população de pets no planeta. É o terceiro em vendas do setor, com participação de 5,3% da receita mundial, atrás apenas dos EUA, com 42%, e Reino Unido,com 6,7%. É preciso dizer mais para justificar a febre de sacadas em laminados para pet food por aqui? Na entrevista a seguir, os progressos marcantes atingidos, mas mudanças de hábitos de compra e os próximos degraus a serem galgados em termos de processamento e performance dessas embalagens flexíveis são esquadrinhos por uma sumidade, o consultor catarinense Jeferson Anzanello (jefersonanzanello@hotmail.com), químico industrial e MBA em Sustentabilidade, Polímeros, Marketing e Gerenciamento de projetos, com milhagem platinum de voo pela elite dos convertedores nacionais de laminados.

Anzanello: pilares da sustentabilidade, conveniência e tamanho das embalagens.
Anzanello: pilares da sustentabilidade, conveniência e tamanho das embalagens.

PR – Quais as características técnicas que mais motivam a indústria brasileira de pet food a buscar aprimoramentos em suas embalagens laminadas?
Anzanello – Podemos transpor sem receio as tendências em embalagens de alimentos humanos para pet food, pois os aspectos observados na compra dos produtos são os mesmos. Assim, destaco três pontos: sustentabilidade, conveniência e redução de tamanho da embalagem. Quanto ao primeiro quesito, o projeto da embalagem de pet food deve considerar sua reutilização e, a seguir, a reciclagem. Outra opção sustentável que não vejo em cena é o conceito da harmonização de matriz polimérica. Ele facilita ou viabiliza a reciclagem. Ainda sob o guarda-chuva da sustentabilidade cabem características como resistência mecânica, que reduz perdas e reprocesso, e a soldabilidade, trunfo para ampliar a produtividade e hermeticidade da embalagem, influindo no shelf life e poder de barreira ao oxigênio e umidade. Também são procurados atributos como propriedades óticas, atmosfera modificada e barreira à gordura, luz e aroma. São variáveis de cunho sustentável, pois colaboram para diminuir o desperdício e os níveis de aditivação química, como conservantes e antioxidantes. O grande desafio é oferecer a maior barreira possível, capaz de minimizar o nível de aditivação e prover o prazo máximo de shelf life numa estrutura fina, reutilizável e reciclável. As tecnologias de materiais, coextrusão e coatings avançam nesta direção.

PR – Quais os sinais mais importantes de preocupação com a conveniência da embalagem de pet food?
Anzanello – Facilidade de abertura e possibilidade de fechamento. Algumas embalagens são impossíveis de serem abertas sem uso de ferramenta, embutindo risco de acidentes. Podemos citar também a facilidade para carregar a embalagem, em especial as versões grandes, acima de oito quilos. Recomendo a quem não puder oferecer conveniências como easy open, através de pré-corte com laser ou picote ou uso de resinas selantes adequadas, que, ao menos, não dificulte a operação de abrir. A possibilidade de fechar a embalagem durante o consumo da ração permite preservar suas propriedades e algum reuso depois de o pacote esvaziar. Zíper, slider zíper, velcro ou apenas dobrar ou torcer a embalagens são exemplos de sistemas de fechamento.

PR – E quanto à tendência de redução do tamanho das embalagens?
Anzanello – Trata-se de uma resposta à mudança de hábito do consumidor, devido à menor necessidade de investimento ou tendência de compra semanal em vez de mensal. Tem um lado negativo em sustentabilidade, pois aumenta a relação peso da embalagem versus peso do produto. Outro indicador de alterações no envase pet food é a substituição dos recipientes metálicos por pouches e potes plásticos em alimentos úmidos. Em resposta à evolução desse segmento, fabricantes têm lançado produtos acondicionados em retort pouches com laser scoring e potes retort .

PP: novo grade na coleira de BOPP

Pela régua da Braskem, o consumo brasileiro de filmes biorientados de polipropileno (BOPP) é páreo para os volumes da resina aferidos em picanhas do porte de compostos e ráfia. Entre os segmentos de BOPP despontam os laminados e pet food é um dos seus nichos hoje na berlinda por continuar a bombar à margem da deprê da economia. De olho neste oásis em flexíveis, a empresa prepara desde o ano passado o terreno para um novo grade acontecer em embalagens de BOPP para envase de alimentos como rações domésticas. No momento, ele bate à porta dos transformadores sob a nomenclatura experimental Maxio DP 150 A. “Além de contribuir para reduzir a carga energética necessária à produção do filme, essa resina melhora as propriedades mecânicas e o perfil de espessura (planicidade) da película”, distingue Francisco Ruiz, engenheiro de aplicação e desenvolvimento de mercado no negócio de PP.

O lançamento completa o assédio exercido pela Braskem sobre BOPP com um quinteto de grades. Um deles, abre Ruiz, é Symbios, terpolímero de propeno, eteno e buteno de média fluidez e sem aditivos deslizantes ou antibloqueiro. “É indicado para a camada de selagem na coextrusão de filmes biorientados”, observa o técnico, ressaltando a compatibilidade do grade com a temperatura inicial de 115 ºC de selagem na face tratada. Ruiz fecha o mostruário para BOPP com quatro homopolímeros de baixa fluidez: HP523J e H504XP, para produção de BOPP em alta velocidade; HP 427J, recomendado a filmes metalizados, e H502HC. “Ele se destaca pela resistência química e poder de barreira e foi desenhado para aplicações dependentes de altíssimas rigidez e tenacidade aliadas a uma boa processabilidade”.

PR – Os laminados para pet food premium e de combate caminham para o aumento ou enxugamento de camadas e/ou materiais?
Anzanello – Novas tecnologias sempre favorecem as características técnicas. Conforme a praxe, elas estreiam nos alimentos premium e, por ficarem mais acessíveis com o passar do tempo, descem depois aos produtos econômicos. Entre os exemplos dessa evolução em estruturas, destaco o uso de materiais biorientados laminados com polietileno (PE) em pet foods premium e laminados de PE/PE nos econômicos. Também sobressaem o emprego de laminados de coextrusados de poliamida em produtos premium e laminados de mono em econômicos, além do uso de trilaminados / metalizados tipo PET/PET metalizado / PE em pet food premium e laminados tipo PET/PE ou BOPP/PE em versões econômicas. Em termos de conveniências, estão em evidência as embalagens com sanfona lateral tipo block-bottom em premium e pillow em alimentos de combate. Vale o mesmo para embalagens do tipo de quatro soldas em premium e sanfona lateral sem quatro soldas em produtos econômicos e, por fim, embalagens de fundo dobrado e colado em pet food premium e sanfona lateral nas linhas de combate.

PR – Há uma corrente favorável a alimentos/ingredientes de apelo natural (orgânicos, p.ex,) em pet food. Como isso pode influir no desenvolvimento de laminados apropriados?
Anzanello – Há produtos isentos de transgênicos ou de aditivação química e, mais recentemente, entraram na praça as linhas de pet food superhiper, produtos extra premium isentos de grãos. Todos eles têm seu uso viabilizado por laminados de altíssima barreira. Por exemplo, há estruturas PET/PET metalizado/PE utilizadas apenas pelo apelo estético. Mas essa mesma estrutura pode conter um PET metalizado que é um filme de alta barreira e densidade óptica, enquanto a película de PE pode ser um coextrusado dessa resina com barreira de poliamida ou álcool etileno vinílico (EVOH), possibilitando a utilização de atmosfera modificada.

PR – Poderia dar exemplos de marcantes melhorias hoje consolidadas no Brasil em embalagens de combate, impensáveis nessa categoria de pet food há cerca de 5 anos?
Anzanello – É o caso do uso de grades de PE metalocênicos para melhora de selagem e resistência mecânica. Isto realmente resolveu problemas de selagem em máquinas semi-automáticas e linhas form fill seal (FFS), pois com uma mesma composição / formulação atendia-se a todos os tipos de máquinas e regulagens em diversos clientes. Em decorrência, caíram drasticamente os problemas de rompimento de sacos na logística, antes pouco paletizada e os sacos eram manuseados um a um, sendo submetidos a pelo menos cinco quedas do envase ao ponto de venda. Outro avanço em laminados para pet food de combate, inexistente cinco anos atrás, é o emprego da coextrusão de PE/ polipropileno (PP)/PE ou PE/PEAD/PE. Hoje em dia, creio que todos os fabricantes de petfood migraram suas formulações de sebo bovino para óleo de frango. As estruturas coextrusadas com PP ou PEAD na camada central viabilizaram esta alteração, controlando a migração dessa gordura através da estrutura. Afinal, ao contrário do sebo, a gordura de frango é liquida. Imagine só os sacos de pet food à base de óleo de frango viajando por oito horas em caminhões ou estocados em depósitos no Nordeste…

Braskem: polietilenos de faro fino para pet food

Na lupa da consultoria Datamark, o mercado nacional de laminados para pet food contendo polietileno (PE) mobilizou 32.000 toneladas em 2015. “Com base nessa projeção, estimamos em torno de 70% a presença de PE nessas estruturas, um percentual traduzido na faixa de 22.000 t/a”, destrincham Marcelo Neves e Renato Di Thommazo, respectivamente gerente de engenharia de aplicação – flexíveis e gerente de contas – filmes especiais da Braskem. Ambos confiam em crescimento da ordem de 2,5% para as vendas desses laminados no exercício atual, avanço de leve abaixo da marca de 2,7% em 2015, culpa em parte atribuída ao encarecimento das commodities agropecuárias integrantes das formulações de petfood , onerando assim seu preço de venda, já salgado pela carga tributária de 51%. “E uma parcela relevante dos compradores vem das classes mais pobres, as mais sensíveis a reajustes nesses gastos”, emendam os especialistas.

Neves e Di Thommazo repartem sua cobertura do mercado de lamindos para pet food em três vertentes. Pelo flanco da resina de alta densidade (PEAD), eles enxergam o lugar do polímero no chamado filme de “capa”, para acabamento final e, se necessário, rigidez e poder de barreira e no filme “forro”, este aplicado na camada interna e, em geral, coextrusado com tipos de PEAD de alto peso molecular. Para essas aplicações, os dois gerentes recomendam os grades da Braskem AC59 e HE15, este também disponível em versão verde (rota alcoolquímica) sob o codinome SHE 150. Devido aos atributos de acabamento e brilho, polietileno de baixa densidade (PEBD) em blend com o tipo linear (PEBDL) também é ofertado por Neves e Di Thomazzo para capa de laminados para pet food. Ambos os especialistas recomendam para essa aplicação os grades EB 853 e TN7006, disponiveis também em versões verdes. “Também são oferecidos contendo aditivo antideslizante para cumprir eventuais requisitos de baixo coeficiente de atrito (COF)”, eles encaixam.

Em prol da leveza e resistência à deformação superficial do laminado, a Braskem comparece com o grade de PEBDL quaterpolímero Pluris P9300 para a produção da estrutura coextrusada com PP na camada central do filme forro. “Esta solução assegura excelência no balanço entre rigidez, barreira e resistência ao impacto”, sustentam Neves e Di Thommazzo. Na esteira,eles enaltecem as credenciais do grade linear HF0131 tanto para laminados foscos e de toque suave como para zipers de embalagens como stand up pouches, diferenciadas pela possibilidade de refechamento. No ringue de PEBDL, os tipos metalocênicos marcam pela disputa a ferro e fogo da Braskem com a concorrência importada. “Não há no mercado produto que mantenha a performance de COF estável após a laminação, trunfo para a produtividade no envase de produtos a exemplo de ração animal, como as linhas XP das famílias de PEBDL metalocênicos Flexus e Proxess”, afiançam os gerentes, enaltecendo ainda o desempenho desses polímeros na solda e resistência ao rasgo, tração e punctura.

PR – Poderia dar exemplos de avanços exclusivos em embalagens de pet food premium capazes de entrar em breve nas linhas de combate por aqui?
Anzanello – Estruturas laminadas de PET/PE ou BOPP/PE tendem a ganhar espaço no segmento econômico, devido à pressão da oferta desses materiais e os benefícios proporcionados de barreira e brilho, superiores aos aferidos com laminados de PE/PE. A melhora da barreira mediante materiais biorientados é uma rota mais prática que a da coextrusão com PA, esta limitada pelo investimento no equipamento. No entanto, estruturas como BOPP/PE e PET/PET não são fáceis de reciclar, tal como PE/PE, ou PE/PE-PA-PE. Ainda na esfera da estrutura de laminados em vias de entrar em pet food de combate, o uso de grades de PE metalocênicos na composição é essencial, devido às diversas condições de equipamentos, mão de obra e logística de entrega do alimento nos pontos de venda .

PR – Quais os aprimoramentos internacionais em laminados de pet food que podem vir para cá a curto prazo?
Anzanello – Por exemplo, foi introduzida aqui este ano a embalagem flat bottom com zíper tipo pocket. Sua vantagem é não reduzir a boca da embalagem ou sua abertura, pois permite que a sanfona lateral seja aberta para tamanhos até oito quilos. Embalagens acima desse limite munidas de zíper ou slider zíper ainda são um nicho de mercado a descoberto por aqui.A importância do zíper depende de quanto maior for o tamanho da embalagem. Afinal, depois de aberto o pacote, a pet food começa a perder as propriedades e torna-se suscetível ao ambiente externo e a ataques de insetos e ácaros. A chegada desse avanço é influenciada pela tendência de queda no custo do zíper, dado o aumento de fornecedores locais. A propósito, o sistema de enchimento, antes semi-manual, vem sendo automatizado para sacos pré-formados que permitem agregar esse tipo de zíper. O último degrau a vencer para esse aprimoramento deslanchar entre nós é o investimento para adequar o parque de produção de sacos com aplicador de zíper ou comprar equipamentos novos já equipados com esse dispositivos.•

Compartilhe esta notícia:

Deixe um comentário