A notícia é do ano passado, mas merece prêmio quem encontrar até hoje uma vírgula a respeito na imprensa e nos sites das partes envolvidas e do setor em foco – o reduto de filmes biorientados de polipropileno (BOPP). Em 23 de outubro passado, a base brasileira da Vitopel transferiu a totalidade das ações da filial argentina, Vitopel S.A., para a Pritec Trade e Daniel Hugo Rodriguez. Sem abrir os cifrões da venda, a transação foi comunicada por carta aos clientes datada de 26 de outubro último. Ela também assinalava que Rodriguez assumia a presidência da Vitopel S.A. Por seu turno, o fundo privado de investimentos, Vision Capital, controlador da operação total da Vitopel desde 2012, ainda não tornou pública a venda da veterana capacidade em Totoral, estimada por linces do ramo entre 25.000 e 28.000 t/a. Ela hoje compete com duas plantas locais da peruana OPP Films pelo consumo argentino de BOPP, hoje projetado em 45.000 t/a. Com a saída da pequenina unidade fincada na província de Córdoba, restou no portfólio de BOPP do fundo britânico a unidade de 118.000 t/a em Mauá, na Grande São Paulo. Procurada por Plásticos em Revista, a Vitopel optou por não se manifestar a respeito de lacunas no ar como o montante e motivações para a venda, perfil dos compradores, destino da razão social e se, nessa esteira, o fundo controlador também cogita passar adiante a fábrica no Brasil, onde o segmento de BOPP pena com queda na demanda e excedente na oferta doméstica.
Deu a lógica
Uma pergunta para Solange Stumpf e Otávio Carvalho, diretores da consultoria MaxiQuim.
PR – Como assimilam a venda da filial argentina da Vitopel?
Solange e Otávio – O mercado argentino de BOPP está super ofertado e, segundo analistas do ramo, a unidade local da Vitopel opera com capacidade defasada e abaixo da escala mínima requerida pelo segmento global do filme biorientado. Era uma planta antiga, operando em um mercado com sobreoferta, com um competidor muito agressivo, de grande porte, com máquinas mais modernas, acesso a matéria-prima mais barata (via operação na costa do Pacífico) e situado entre os maiores do mundo no segmento. Era até lógico esperar que essa operação argentina da Vitopel pudesse ser desativada ou vendida. Como houve um comprador, acreditamos que ele possa ter encontrado alguma sinergia com seus negócios. Além disso, óbvio, o preço da compra deve ter sido atraente. Com essa venda, o fundo controlador da Vitopel diminui sua presença vulnerável num mercado restrito em favor de centrar o foco no Brasil com uma fábrica competitiva. Além de o consumo brasileiro de BOPP ser mais forte que o argentino, há que se considerar as possibilidades bem maiores de retorno a partir do momento em que a oferta do filme no Brasil atingir uma relação mais aceitável em relação à demanda. Não temos como supor se o fundo Vision Capital cogita se desfazer de todo o negócio de BOPP do seu portfólio, mas o momento no Brasil não é nada interessante, sob recessão e excedente doméstico de BOPP. •