De volta ao radar

Abipet retoma a feitura do censo de reciclagem do poliéster

A reciclagem de PET é um dos maiores bônus para a imagem do plástico no meio ambiente e, no Brasil, esses dividendos sobressaem pela presença do poliéster entre as embalagens mais descartadas. Daí porque os volumes da reciclagem do material têm seu significado extrapolado de uma atividade industrial para a condição de prova de conscientização do país quanto ao desenvolvimento sustentável. Em virtude dessa proeminência crescente, a Associação Brasileira da Indústria de PET (Abipet) voltou a investir no pente fino a rigor da reciclagem nacional da resina, sustado nos exercícios de 2013 e 2014. Nesta entrevista, Auri Marçon, diretor executivo da entidade repassa os indicadores atualizados da décima edição do censo e, apesar dos pesares da conjuntura, capta sinais de evolução na postura do setor.

Marçon: fluxo contínuo de novas oportunidades.
Marçon: fluxo contínuo de novas oportunidades.

PR – Por quais motivos os censos de 2013 e 2014 não foram feitos?
Marçon – Uma questão de custo. Por se tratar de um censo à base de entrevistas diretas com as empresas envolvidas, a pesquisa é demorada e onerosa. Por isso, decidimos fazê-la em intervalos mais distantes (a cada dois anos) e, nas entrevistas, buscamos informações de anos anteriores.

PR – Quais os volumes reciclados de PET em 2014 e 2015?
Marçon – Para 2014 e 2015, os respectivos números foram 314.000 e 274.000 toneladas, volumes que levaram a índices de reciclagem de 57% e 51% respectivamente. Esses indicadores refletem o que acontece com o cenário macroeconômico. De todo o modo, é interessante notar como o desempenho da reciclagem de PET sempre se mantém acima do mercado em geral em épocas de crise. Foi assim também, por exemplo, no período 2008/2009 (crise financeira global). Retomando o fio, indústrias importantes e fortes consumidoras de PET reciclado tiveram retraimento impressionante de 2014 para 2015. Foi o caso da queda de 21% na automotiva, pois todas as montadoras utilizam PET reciclado em carpetes e revestimentos ou peças como capas de retrovisores e parachoques. Ônibus, usuários de carrocerias inteiras com resinas insaturadas de poliéster e fibra de vidro, tiveram queda de 38%. Por seu turno, em caminhões, que empregam o recuperado em diversas partes, o recuo chegou a mais de 40%. O mercado têxtil brasileiro, maior consumidor mundial de PET reciclado, também caiu. Na indústria química, dependente do material para resinas insaturadas e alquídicas, a queda superou a marca de 25%. Em suma, mesmo em tempos de crise, PET reciclado resiste de forma aceitável em seus segmentos. Por que? Por causa da estratégia de sua indústria de criar diferentes aplicações para o material, gerando oportunidades de negócio.

PR – No censo anterior, 82% dos recicladores ouvidos em 2012 cogitavam investir nos 12 meses seguintes. E no ano passado?
Marçon – Em 2015, apenas 33% dos entrevistados disseram planejar investimentos. Nos últimos anos, ocorreram algumas consolidações e aportes em processos, elevando assim a qualidade do reciclado e atingindo aplicações mais rentáveis, como PET bottle to bottle (BTB) e termoformagem. Vale notar que mais de 90% das empresas do mercado de PET reciclado têm mais de cinco anos de existência. Mas mesmo com a manutenção da capacidade industrial da reciclagem de PET, ainda temos bom percentual de entrevistados com intenção de investir.

PET: preços incentivaram reciclagem em 2015

Maurício Jaroski, analista da consultoria MaxiQuim, é um dos mentores do mais completo monitoramento mensal dos preços internos de plásticos reciclados. Para desenhar a trajetória dessas cifras em reais de PET recuperado versus virgem em 2015, ele tomou como base para o comparativo os preços domésticos de pellet do poliéster reciclado na região sudeste,”pois são o formato de comercialização do reciclado que mais se assemelha à resina de primeiro uso”,justifica. Assim, aponta, a resina de PET reciclado ficou mais competitiva em 2015 em relação a PET virgem. Enquanto o reajuste de preço ao longo do ano da resina virgem ficou próximo a 25% – em grande parte efeito da desvalorização do real frente ao dólar – o da resina reciclada foi de pouco mais de 5%,confronta Jaroski. “A relação de preços (reciclado/virgem) que era de 85% em janeiro de 2015, em dezembro fechou o exercício no saudável patamar de 74%. Esta relação abaixo de 75% incentiva o uso de PET reciclado na transformação”.

PR – O censo anterior também apontou extrema dificuldade de se obter PET pós consumo para reciclar em 2012. E em 2015?
Marçon – Apesar de a crise a ter diminuído a demanda de forma generalizada, a dificuldade não mudou muito e o principal motivo ainda é o mesmo: a falta de coleta seletiva estruturada.
Embora a lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) determine que essa deveria ser implementada pelos municípios, na prática isso não aconteceu. Desse modo, as coletas de todos os materiais recicláveis ainda não evoluiram, embora eles estejam um pouco mais disponíveis. Mas o processo de aquisição de matéria-prima reciclada ainda é custoso e trabalhoso.

PR – Qual a participação estimada de PET BTB no volume do poliéster reciclado em 2015? Essa reciclagem de capital intensivo está estagnada ou avança?
Marçon – A produção de novas embalagens de BTB avançou e hoje consome mais de 25% do PET reciclado – tanto quanto o grau têxtil. Não temos em detalhes o total de BTB, mas sabemos que desde a última pesquisa este é o nicho sobre o qual estão as maiores expectativas dos entrevistados: 60% acreditam que BTB terá o maior crescimento em 2017.

PR – Quais os principais questionamentos da cadeia do PET a respeito das exigências da PNRS? E quais os esclarecimentos necessários ?
Marçon – Duas questões predominam: como atender à lei e quais as consequências de não fazê-lo. A primeira resposta é simples: a lei só pode ser respeitada com o cumprimento do Acordo Setorial assinado em novembro passado. Ele determina atribuições a cada elo do setor empresarial relacionados a embalagens, investimento, destinação, apoio a implantação de cooperativas etc. Mas tudo isso tem que ser feito de forma harmonizada e concatenada, buscando evidentemente eficiência na logística reversa. Independentemente da ineficiência do poder público municipal em implantar a coleta seletiva, o Acordo Setorial tem sido cumprido por todas as associações e entidades signatárias da Coalizão Embalagem. O setor do PET está representado pela Abipet. Quanto à segunda indagação do setor: por ser uma lei muito nova, ainda não existe jurisprudência sobre o tema, mas segundo experientes advogados e o próprio Ministério do Meio Ambiente, o não cumprimento dessa lei implica crime ambiental passível de punições. Alguns Estados e cidades, através dos respectivos Ministérios Públicos, estão intimando empresas e entidades a fornecerem informações, quer seja através da Coalizão ou diretamente às associações. É bem provável que possam intimar empresas que não se vincularam às entidades de classe, para colaborar com a PNRS. Recomendamos às empresas de nosso setor que ainda não deram um passo nessa direção que o façam o mais rápido possível. •

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