Na cadeia do plástico, petroquímicas são useiras e vezeiras em proclamar seu raio de alcance até as indústrias finais, compradoras dos artefatos acabados. Embora mais próximo delas, o setor de transformação em regra demonstra restringir sua margem de manobra ao papel de fornecedor, sem envolvimento direto no desenvolvimento de produtos e aplicações, corriqueiro na esfera das resinas. Para estreitar a ultra conveniente familiaridade dos transformadores com o que pensa quem está do outro lado do seu balcão, Plásticos em Revista abre o megafone aqui para a Skafe e a La Bella Liss Cosméticos, duas forças de uma suíte vip do sopro de polietileno de alta densidade. João Carlos Basílio, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) não quis falar.
PR – A crise tem vitimado o movimento dos salões de beleza. Essa retração tem ou não se refletido na demanda por produtos profissionais da Skafe?
Barroso – Atuamos nas categorias de transformação, tratamento, xampu e pós xampu. Ao final de 2015 entramos no mercado de coloração/descoloração. Observamos que todas as categorias vêm crescendo, pois o frequentador de salão acaba migrando para produtos profissionais que são encontrados em perfumaria/lojas especializadas, onde estamos 100% presentes. Muitos desses consumidores compram nessas lojas e levam o produto – por exemplo uma coloração ou tratamento – para ser aplicado no salão, reduzindo assim os custos do serviço, mas sem deixar de cuidar de seus cabelos.
PR – Sua empresa preza muito o requinte visual das embalagens, a exemplo dos efeitos perolados para determinados frascos. Até que ponto a recessão pode influir para refrear essa sofisticação?
Barroso – Com muita criatividade e inovação, além da negociação com fornecedores parceiros, nossas embalagens continuam se destacando nas prateleiras do mercado de cosméticos capilares. A Skafe mantém o posicionamento de produtos com tecnologia, atendendo a consumidores cada vez mais linkados com novidades através de veículos como mídias sociais. Eles buscam produtos como os nossos, que entregam o que prometem.
PR – Embalagens transparentes têm vez na Skafe, tal como ocorre em grande parte de seus concorrentes?
Barroso – Não utilizamos frascos transparentes, pois o design pede que sejam coloridos. Nos produtos Keramax, por exemplo, temos uma cor para cada linha.
PR – A crise tem vitimado o movimento dos salões de beleza. Essa retração tem ou não se refletido na demanda pelas categorias de produtos (escova progressiva, matizador, tratamento) da La Bella Liss?
Priscila Laham – A crise tem afetado todos os setores de maneira diferente, mas sempre há vítimas. No geral, essa dificuldade que muitos salões estão passando não afeta em linha reta a nossa demanda, pois a marca La Bella Liss foi criada com o intuito de levar para casa o que as consumidoras encontram no salão, mas claro que com o preço mais acessível. Essa retração no setor não nos afeta ainda, pois vendemos pela internet a perfumarias e distribuidoras. A crise nos salões transformou-se em oportunidade de negócios para nós. Afinal, ampliamos as vendas. Quanto aos custos, incluso aumento dos impostos, ainda não sofremos um impacto direto.
Nosso objetivo é levar a independência e o empoderamento da mulher. Por isso, temos bem claro o objetivo de quebrar as correntes que ligam nossa marca aos salões de beleza. Veja bem, o intuito não é que as consumidoras parem de frequentar esses estabelecimentos, mas que tenham alternativas como produtos com tecnologia de salão para usar em casa. Em vez de pagar R$ 300 para retocar um tratamento, por exemplo, gasta R$ 70 para fazer a manutenção e, consequentemente, o investimento anterior (o montante poupado) será ‘aproveitado’ por mais tempo.
PR – Até que ponto, a piora da recessão pode pesar para tolher o apuro e diferenciação das embalagens da La Bella Liss?
Priscila Laham – Estamos falando da beleza feminina. Do sentir-se bem. Prezamos pelo requinte e a sofisticação visual nos produtos por considerarmos que as consumidoras merecem essa atenção. Disponibilizamos uma equipe para pensar nas embalagens, cor, rótulo, etc. Tudo isso é feito com base no que nosso público gosta e espera da marca e faz parte de nossa política. A La Bella Liss prefere fazer um investimento maior para que, dessa forma, seja entregue um produto com o qual as consumidoras se identifiquem. Consideramos tais detalhes importantíssimos para a construção da marca. Talvez no futuro próximo nossa concepção atual das embalagens e outros processos sofra alterações devido ao custo, meio ambiente etc. Por enquanto, ainda estamos trabalhando com base nessa linha de raciocínio de focar no que quem compra espera da marca. Mas tentaremos integrar ambas as diretrizes.Ou seja, a soma da expectativa das consumidoras com custo e conscientização ambiental.
PR – Por quais motivos não utiliza embalagens transparentes, tal como grande parte de seus concorrentes?
Patrícia Laham – Não há motivos especiais para não utilizarmos embalagens transparentes. É uma ideia que podemos analisar no futuro. Algumas marcas, como a Dove® (Unilever), já utilizaram embalagens opacas, entretanto com logo em relevo negativo, para criar uma experiência diferenciada ao toque de sua embalagem, assim como Scheller® (Coty) utilizou a ideia do “soft touch” para que esse efeito tátil na embalagem criasse o mesmo momento “intimo” que o consumidor tem quando entra em contato com o produto. A embalagem é uma conversa entre a marca e o consumidor; o ser humano é muito visual e, para comprar algo, a não ser que por indicação, a aparência conta muito na decisão. Aqui na La Bella Liss estamos sempre trabalhando em ideias para o desenvolvimento da marca e da sua identidade visual. No momento, investimos mais em marketing olfativo, mas em breve poderemos fazer o mesmo nas embalagens e na linguagem. A propósito, hoje em dia a embalagem representa cerca de 20% do nosso custo de produção. •