Por ser fruta que só dá por aqui, a jabuticaba teve seu significado estendido para designar qualquer singularidade do Brasil. Nosso setor plástico, por sinal, cultiva desde o século passado um jabuticabal sem fim. Entre as espécies mais frondosas, constam, por exemplo, o estranho hábito de grandes transformadores revenderem resinas no mercado paralelo, ou então, projetos petroquímicos que mudam de rota várias vezes no seu desenrolar, virando enfim uma refinaria de petróleo natimorta.
Desde o ano passado, o mercado presencia o amadurecimento de mais uma jabuticaba. Trata-se do lançamento de mais uma feira a se colocar como referência nacional e internacional da indústria brasileira do plástico. Não é caso se de aventar aqui as motivações dos organizadores para o empreendimento, sejam elas políticas, econômicas, comerciais, da boca para fora ou,digamos assim, sublinguais. O sabor inconfundível da jabuticaba é logo sentido até por quem considera cultura Wesley Safadão. Os mentores da feira em gestação evocam a contribuição de Garrincha, aliás uma jabuticaba do futebol, a um ápice do pensamento econômico, a Teoria dos Jogos. Está imortalizada nesta descrição por Nelson Rodrigues. “No meio de campo, Nilson Santos, Zito e Didi trocariam passes curtos para atrair a atenção dos russos… Vavá puxaria a marcação da defesa deles caindo para o lado esquerdo do campo… Depois da troca de passes no meio do campo, repentinamente a bola seria lançada por Nilton Santos nas costas do marcador de Garrincha. Garrincha venceria facilmente seu marcador na corrida e, com a bola dominada, iria até à área do adversário, sempre pela direita, e ao chegar à linha de fundo cruzaria a bola na direção da marca de pênalti; Mazzola viria de frente em grande velocidade já sabendo onde a bola seria lançada… e faria o gol! Garrincha com a camisa jogada no ombro, ouvia sem muito interesse a preleção e, em sua natural simplicidade, perguntou ao técnico: “tá legal, seu Feola… mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?
Dá para transpor a lição feito linha de passe. O primeiro setor a ter sugado seu fôlego financeiro pela recessão foi a indústria. O setor plástico mostrou isso de bate pronto, pois o material é sensor extra oficial da vida cotidiana e do poder aquisitivo, dada sua presença em todas as categorias de produtos, sejam primários, de baixo ou alto giro, de combate ou premium. 10 em 10 analistas atestam que a recessão atual é a pior da era republicana e não há como insistir na receita que levou o Brasil ao buraco – pedaladas, favorecimentos setoriais, engessamento de preços administrados; enfim, a finada Nova Matriz Econômica. A terapia para repor o país nos trilhos requer medidas ortodoxas duras e os resultados têm a morosidade irritante de um regime para emagrecer.
Amarrando as pontas, até as recepcionistas sabem que feira de plástico é liderada, em espaço e perfil de expositores, por bens de capital. Acontece que, além da recessão sem fim à vista, as máquinas e periféricos para plásticos fabricados ou ofertados no Brasil sentem, no plano geral, o quanto dói um efeito dominó. Clientes descapitalizados, com ociosidade preocupante em suas fábricas, presenciam no seu entorno o alastramento de pedidos de recuperação judicial e falências. Se acontecer de alguém ter predisposição para investir em maquinário nessa hora, a intenção terá pela frente a contenção de crédito e o encarecimento do capital a olhos vistos.
Noves-fora, o setor de máquinas também vive hoje da mão para a boca, tal como sua clientela de transformadores e, não fosse o câmbio favorável a exportações, as petroquímicas não escapariam da degringolada. Perguntas para os universitários: a) quem terá recursos para bancar estandes em duas feiras nacionais sob crise ainda à solta em 2017? b) quem terá algo de novo para mostrar em duas feiras separadas apenas por meses?
Cartas para a Redação. A melhor resposta será premiada com – é claro – um quilo de jabuticaba. •