É de quebrar a cabeça

Não deu outra: 2015 marcou pela queda na vendas, investimentos e margens dos transformadores. O setor aguenta a reprise em 2016?

pensadorDo começo ao final de uma agenda diária sem hora fixa para terminar, José Ricardo Roriz Coelho absorve e irradia informações. Ele atrai dados feito pára-raio no comando da  Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), nas empresas que gere e de cujos conselhos administrativos participa, além de ser alimentado pela fornalha de indicadores do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) ,entidade da qual é vice-presidente.  Estribado nessa bagagem, Roriz demonstra na entrevista abaixo uma conjuntura que faz a cadeia do plástico quebrar a cabeça e ficar hipertensa. As razões do vermelho no balanço de 2015 são óbvias e a estrada até o final de 2016, ele expõe, se afigura por demais esburacada e pedregosa para transformadores que, na panorâmica, acabaram o ano passado de língua de fora e menos capitalizados. Fica no ar a indagação de mais quantos anos o metabolismo do setor a indústria resiste sem sua anemia atual descambar para o colapso se o Brasil não sair do acostamento.

Roriz: transformação fechou 23.000 postos  de trabalho.
Roriz: transformação fechou 23.000 postos
de trabalho.

PR – Pela sua estimativa, a produção de transformados plásticos recuou em 2015 ao patamar de qual ano anterior e, nessa esteira, com qual índice  médio de ociosidade o setor rodou?
Roriz – A produção recuou 8,5% em 2015, sendo que o volume produzido de 6,1 milhões de toneladas fica um pouco abaixo do registrado em 2008 (6,3 milhões de toneladas). No ano passado, a ociosidade média do setor, conforme dados da CNI, ficou em 37%, um crescimento de 5,5 p.p ou de 17% frente ao índice de 2014.

PR – No plano geral, os transformadores nacionais tiraram proveito do óbvio recuo das importações de artefatos em 2015?
 Roriz – No ano passado, as importações de transformados plásticos recuaram 13,8%  em peso, porém a participação de importados na demanda nacional permanece praticamente constante em 2015 (o coeficiente de importação passou de 10,6 para 10,4) quando vemos somente a quantidade em toneladas de plásticos importados. Tal fato nos mostra  que esse recuo de importações é atribuído à redução da demanda brasileira por produtos plásticos e não pela substituição de produtos importados por nacionais.

PR – Quais os sinais concretos mais dramáticos dos efeitos da recessão sobre a transformação de plástico em 2015?
Roriz – O sinal mais dramático é o desemprego. Em 2015, o setor fechou mais de 23.000 postos de trabalho. Além do efeito negativo social do desemprego, para o empresário o quadro traduz ociosidade em seu parque industrial. Além do custo da demissão (multas, verbas rescisórias etc), quando ele  decide demitir, abdica de mão de obra treinada e qualificada (muitas vezes treinada dentro da empresa). Aliás, entre os setores mais empregadores, o de transformados plásticos é o que apresenta o maior número de funcionários qualificados e com maiores salários. O fechamento de postos de trabalho implica, portanto, em perda de produtividade e em ter de arcar com um alto custo de recontratação quando da retomada.

Outro sinal dramático é a forte retração do investimento. Na indústria de transformados plásticos, ele retraiu 32% em 2015, retração que deve continuar este ano.

Agora, um fator contundente da crise é a maior compressão de margens das transformadoras, fator que mina a intenção de investimento e ocasiona a perda de competitividade do setor. Calculamos na Abiplast um indicador que compara a evolução dos preços dos produtos industriais (dado pelo IBGE) e os principais custos de nossa indústria (matéria-prima, energia e mão de obra). Tal indicador nos permite acompanhar a sistemática supressão de margem das empresas. Apenas em 2015 houve queda de mais de 10% nesse coeficiente, o que representa contração de margem e perda de capacidade de realização de investimento e de geração de empregos.

PR – A desindustrialização está em andamento na transformação?
Roriz – O desmonte da indústria de transformados plásticos não foi iniciado em 2015. Na verdade,  a indústria brasileira de forma geral vem estagnada desde 2010 e perde, sistematicamente, participação no PIB. Esse comportamento, também afetou o setor de transformados plásticos.

PR – Anos atrás, muitos transformadores se endividaram para financiar investimentos. Em 2015, essa dívida encareceu bastante e os resultados operacionais desabaram e assim pioraram muito o acesso dessas indústrias (em especial, as de médio porte) ao mercado financeiro para emitir nova dívida. Qual deve ser o efeito dessa situação sobre o desempenho da transformação de plástico  em 2016?  
Roriz – Em parceria com a Fiesp, realizamos no primeiro semestre de 2015 uma pesquisa de intenção de investimento. Nela observamos que, além da queda de 32%, a maior parcela dos  investimentos realizados pela indústria utilizou capital próprio (aliás um comportamento padrão da indústria brasileira).Esses aportes de recursos tiveram como objetivo melhoria em gestão, com foco em aumento de eficiência e na redução de custos, o que chamamos de investimento defensivo. Para 2016 vislumbramos um cenário de maior dificuldade de acesso a recursos de terceiros (por maior endividamento ou contração de caixa por conta da recessão). Também esperamos que o enfoque em melhoria de gestão e eficiência se mantenha em 2016, porém com uma retração ainda maior em termos de volume de investimentos, em decorrência das margens mais apertadas.

PR – Demanda em recessão infindável, crédito com freio puxado, custos de produção ascendentes e falta de fôlego financeiro formam o cenário para catalisar a consolidação de empresas na transformação. Pela sua estimativa, o efetivo de transformadores virou 2015 em número igual, menor ou maior que em 2014?
Roriz – De 2013 para 2014 houve fechamento de 41 empresas no setor de transformados plásticos. Para 2015, estima-se o fechamento adicional de aproximadamente 100 empresas.

PR – Por quais motivos mostraram-se tímidas em 2015 reações tipo joint ventures em segmentos super concorridos da transformação, como artefatos de baixo valor agregado e baixa rentabilidade?
Roriz – Empreendimentos como joint-ventures entre empresas de transformados plásticos teriam como grande objetivo obter ganhos de escala, racionalização  operacional e comercial e ganhos de sinergia. Entretanto, um mercado estagnado desde 2010 e em trajetória recessiva tem pouca atratividade para formação desse tipo de negócio no curto prazo.

PR – A Abiplast dispõe de dados sobre o número de transformadores de plástico que tiveram recuperação judicial deferida em 2015?
Roriz – Segundo a SERASA, em 2015 houve um aumento de 55% nos pedidos de recuperação judicial  na economia brasileira e um aumento de 12% nas falências decretadas. Podemos considerar que o mesmo ocorreu no setor de transformados plásticos.

PR – Acredita que em 2016 aumentem as compras de indústrias transformadoras locais de plástico por empresas do exterior?
Roriz – Mesmo com ativos mais baratos em dólar, um fator importante para decisão de investimento é a capacidade de rentabilidade futura. O cenário econômico atual contamina a projeção de cenários de longo prazo e retrai a intenção de investimento. Juros altos, energia cara, custos indiretos elevados da mão de obra, e acesso a matérias-primas protegidas da concorrência e com preços superiores aos dos concorrentes internacionais afastam os potenciais investidores. Para avaliar a intenção de compra de empresas nacionais por empresas estrangeiras deve-se considerar o fato de que o alto custo do capital atual exige uma taxa interna de retorno ainda maior para esses projetos de investimento, dificultando de tal forma estas aquisições. Sem perspectivas de aumento de rentabilidade e remuneração do investimento, há baixo investimento nesse tipo de projeto.

PR – Sob a recessão e câmbio atuais, analistas conclamam a transformação brasileira a acordar para as vendas ao exterior. Mas ela está descapitalizada, sem custos competitivos e o país/Mercosul tem pouquíssimos acordos internacionais e está fora das cadeias globais de valor. Esse discurso então é uma bola fora?
Roriz – As exportações podem ser consideradas uma saída. Um estudo de 2012, feito pela consultoria McKinsey, aponta que, tradicionalmente, setores como o de transformados plásticos exportam de 5% a 20% de sua produção. Nossas exportações encontram-se no limite inferior dessa medida e poderiam ser melhoradas. Porém para ser uma alternativa atingível, dependemos de uma indústria competitiva em nível internacional e, para tanto, precisaremos muito mais do que discurso e câmbio mais favorável. Será preciso enfrentar problemas estruturais que impactam nossa competitividade no mercado internacional, a exemplo da cobrança de tarifas antidumping sobre importações em regime de drawback; a instituição correta de um Reintegra para retirar cumulatividade de imposto sobre produtos exportados e, por fim, o país precisa imprimir mais agressividade na confecção de acordos internacionais e na abertura de novos mercados. Além disso, temos uma lógica de proteção tarifária equivocada, com setores produtores de matérias-primas contando com proteção efetiva muito maior do que produtos de maior valor adicionado e instrumentos de defesa comercial aplicados em grande parte sobre fornecedores de matérias-primas na condição de monopólios e oligopólios.

Com esses problemas, é difícil para o Brasil se inserir com sucesso em alguma cadeia global de valor. Mesmo que venha a participar, sua atuação será muito focada em produtos de baixo valor agregado, o que não resultará em salto competitivo para o país.

 

Patinando em gelo fino

Mercado deve andar de lado este ano, prevê Solange Stumpf

Pelo andar da carruagem, vem por aí mais do mesmo. Encurralado pela recessão,inflação, carestia, instabilidade política e valorização cambial, o setor plástico presenciará em 2016 a reprise do filme de 2015, vaticina Solange Stumpf, sócia executiva da consultoria MaxiQuim, sensor dessa cadeia no país. Nesta entrevista, Solange expõe como a demanda doméstica de resinas patinou no ano passado e explica porque vê em compasso de espera a predisposição de investir por parte dos transformadores.

Solange Stumpf: exportações mantiveram alta produção de resinas.
Solange Stumpf: exportações mantiveram alta produção de resinas.

PR – Na visão da MaxiQuim, o consumo aparente geral de resinas commodities recuou em 2015 ao patamar de qual ano anterior e, nessa esteira, estima que a indústria de transformação rodou então com qual índice de ociosidade?
Solange – Em 2015, o consumo aparente de resinas termoplásticas gravitou em torno de 6,2 milhões de toneladas, considerando-se o somatório dos polietilenos (PE), polipropileno (PP), poliestireno (PS), PVC e PET. Isto representa uma queda de 6,5% sobre 2014, e um recuo ao patamar próximo ao atingido em 2012. O nível operacional da transformação também caiu em 2015, especialmente no segundo semestre. O efeito da crise variou conforme o segmento, mas, de  forma geral, estimamos uma ociosidade média para o setor de mais de 30%.

PR – O câmbio por trás da alta exportações e da queda brusca das importações garantiu o superávit do consumo aparente para poliolefinas e PVC. Isso também vale ou não para PS e PET?
Solange – Todas as resinas analisadas foram menos importadas do que em 2014 e, exceto PP, todas elas tiveram as exportações incrementadas. Assim, apesar da queda no consumo aparente, a produção nacional de resinas se manteve elevada por conta das exportações; foi até mesmo maior do que em 2014 em casos como polietilenos e PET.

PR – O mercado mundial em 2016 segue o mesmo de 2015 ou há possibilidades de alterar o andar das exportações brasileiras de resinas?
Solange – A variável de maior reflexo no negócio de resinas é o preço do petróleo, em queda drástica neste início de ano e atingindo patamares imprevisíveis até então. A recuperação da cotação do petróleo deve ocorrer ao longo do ano, mas nada se espera de muito significativo e a alta volatilidade deve se manter. Nesta perspectiva, o custo de produção de crackers base nafta, caso do perfil da indústria brasileira, deve ficar baixo, e a competitividade das exportações aumenta ainda mais. Por conta disso e do câmbio favorável, mesmo considerando-se o cenário de queda dos preços internacionais das resinas, seja pela entrada em operação de plantas base gás previstas para este ano, seja pela queda do preço do petróleo, as exportações brasileiras de resinas devem se manter elevadas em 2016.

PR – A  PetroquímicaSuape partiu seu segundo trem de 225.000 t/a de PET em 2015, elevando a capacidade brasileira a 1.000.000 t/a. As exportações brasileiras de PET sempre foram irrisórias. Como avalia a possibilidade de aumentá-las?  
Solange – As exportações de PET atingiram 104.000 toneladas em 2015, um acréscimo de 100% sobre 2014. Para 2016, estimamos pelo menos 150.000 toneladas exportadas. Mais uma vez, o câmbio favorece as exportações, e deve viabilizar a operação em níveis próximos do ponto de equilíbrio, apesar da previsão de queda dos preços internacionais num mercado onde a Ásia é o driver (condutor)  de preços.

PR – Anos atrás, transformadores se endividaram para financiar investimentos. Em 2015, essa dívida encareceu muito e os resultados operacionais desabaram e assim pioraram o acesso dessas indústrias ao mercado financeiro para emitir nova dívida. Qual  o efeito disso sobre o consumo brasileiro de resinas e investimentos em máquinas  em 2016?
Solange – 2016 não deve ser muito diferente do que foi 2015 em termos de consumo de resinas. Não se espera variação significativa na demanda doméstica – os volumes se manterão baixos, devendo reagir mais para o final do ano ou somente em 2017. Com relação aos investimentos em máquinas, sem dúvida devem ser pequenos este ano, não só por conta do alto nível de endividamento dos transformadores, mas pela perspectiva ruim de mercado. Sem demanda, não há necessidade de investir em aumento de produção e, portanto, não é requerido aporte de recursos em bens de capital. As empresas devem seguir investindo em desenvolvimento de produtos, readequação de portfólio ao novo cenário e, quando possível, desbravamento do mercado externo.

PR – A América Latina (México exclusive) é o mercado externo nº1 para as novas capacidades norte-americanas de PE. Como a recessão no Brasil, sem final à vista, e a queda nas importações chinesas podem afetar os planos  para PE dos EUA?
Solange – Sem dúvida, a recessão no Brasil e uma redução no ritmo de crescimento da China tendem a limitar as oportunidades de escoamento das novas capacidades previstas para rodar já no segundo semestre na América do Norte. Isto, atrelado ao novo patamar do preço do petróleo, deve provocar uma redução nos preços das resinas, em especial PE, que terão superoferta em breve.  A consequência é que, mais uma vez, muitos projetos tendem a ser cancelados ou postergados até a conjuntura melhorar.

PR – A MaxiQuim trabalha com qual estimativa inicial para o consumo aparente de cada resina em 2016 perante 2015?
Solange – O quadro é o seguinte:
PEBD = +2%
PEBDL = -1%
PEAD = +0,8%
PP = +2,6%
PS = +2,4%
PVC = 0%
PET = +1,4%

De forma geral o cenário não é favorável a uma recuperação significativa, tendo em vista a queda prevista no PIB  de 2016. A premissa adotada para as projeções é de crescimento apenas nos casos de novos desenvolvimentos de aplicações ou alguns mercados emergentes específicos. Além disso, em alguns setores cuja queda em 2015 foi muito drástica, casos do automotivo e eletrodomésticos, podemos esperar uma recuperação em 2016, mesmo que pequena, pois existe uma demanda reprimida. O efeito seria mais sentido no segundo semestre e, com maior força, em 2017, em particular para resinas como PP e PS, que tiveram forte queda em 2015.

PR – A indústria automobilística amargou em 2015 queda de 22,5% recuando aos níveis de 2007, tornando o mercado pequeno demais para tantas montadoras no país. Autopeças são o maior mercado de plásticos de engenharia no Brasil, suprido em grande parte por subsidiárias locais de múltis. Quais as perspectivas?
Solange – Num primeiro momento  – e que ocorreu em parte de 2014 e mais forte em 2015 –há um redimensionamento do setor ao novo tamanho do mercado. É quando, na retração, as empresas encerram linhas de produção e adequam o volume produzido a um patamar menor. Outras alternativas de estratégia levam em conta o cenário das variáveis que afetam tal indústria. No caso, o câmbio. Com a escalada do dólar, ficou mais caro importar itens já finalizados, como as autopeças. Sendo assim, se há um cenário de perspectiva firme de dólar apreciado, o movimento pode ser de um incremento nos tipos de peças produzidas localmente e antes importadas. Ou seja, se por um lado a demanda atingiu um patamar menor, por outro, a indústria local pode desenvolver a produção de alguns itens, antes importados, o que, inclusive, está sendo trabalhado por alguns produtores de plásticos de engenharia com transformadores brasileiros.

PR – Como avalia o consumo aparente de plásticos de engenharia em 2015 e o cenário para este ano?
Solange – O consume aparente de plásticos de engenharia (PA6, PA66, ABS, POM, PBT, SAN, PMMA, PC) em 2015 foi da ordem de 167.000 toneladas, cerca de 20% menor do que as 210.000 toneladas mensuradas em 2014. Ao longo deste ano, o segmento deve continuar muito atrelado à produção automotiva. Em linhas gerais, a redução no consumo de tais materiais é menor que a queda na produção de veículos, pois os materiais também são empregados na fabricação de peças de reposição, além de atenderem  segmentos como eletrodomésticos e eletroeletrônicos.

 

resinas

O efeito dominó

Não dá para flexibilizar a lei da oferta e da procura

Pergunta para os universitários: o que é maior? A quantidade de indicadores negativos na economia ou o prontuário de escândalos e roubalheira no governo?  2015, na voz corrente dos analistas, é um flagelo que ainda não acabou, pois a crise dele transposta prossegue piorada este ano. No mato sem cachorro como toda a indústria brasileira, o setor nacional de resinas, como mostra esta reportagem, cava abrigo da calmaria nas exportações vitaminadas pelo câmbio e, no mercado interno, espreita mais frentes de atuação para a travessia de um ano encarado, já na largada, com pé atrás por meio mundo.

POLIETILENO
“Em 2015, vimos o mercado recuar aos patamares vistos entre 2012 e 2013”, situa Edison Terra, diretor do Negócio de Polietileno (PE) da Braskem, único produtor da poliolefina no país. Apesar dos pesares, ele conta, a empresa pendurou alguns troféus na parede. “Reforçamos os laços com a transformação, sobretudo por meio do programa PicPlast e aumentamos a participação de mercado com ações como o lançamento de 10 grades para filmes, sopro, rotomoldagem, injeção e tubos”. Do lado dos transformadores, Terra afirma ter presenciado entre eles em 2015 o peso da crise  na adoção de mais cuidados e critérios para decidir investimentos e operações que impactam no capital de giro. “Evidente que, com a escassez de crédito, algumas empresas tiveram dificuldades e optaram por reestruturar suas dívidas”, assinala. A tônica para este ano, ele julga, não deve mudar. “Há sempre mais risco num cenário volátil”, pondera. “Por exemplo, tomar posição com estoque (formar estoques apostando em subida dos preços zerar apostando em queda) ou ‘travas’ de preço (vender transformado a preço fixo) é algo que precisa ser muito bem avaliado pelo transformador”.
Terra atribui a PE importado um naco aproximado de 30 % do mercado interno em 2015, participação considerada por ele dentro do padrão habitual. “Esperamos aumentar nossa presença em 2016 mediante parcerias com a cadeia, a exemplo de desenvolvimento de aplicações, lançamento de produtos diferenciados e incentivo às exportações de artefatos”. Em relação às suas exportações de PE, Terra concorda que o câmbio é mão na roda e ressalta a penetração da Braskem na América do Sul. “Com a queda dos preços do petróleo, a nafta (rota dominante nas centrais petroquímicas da empresa) segue com ganhos de competitividade em preço perante o gás natural, o que nos deixa bem posicionados para continuar  a acelerar as exportações devido à retração do Brasil”. Em paralelo, Terra salienta o empenho da Braskem em ajudar a tirar as exportações brasileiras de transformados da pequenez de costume.
Para subir os glóbulos da demanda doméstica de PE, Terra tira vários ases da manga. “Estamos alinhados com novas aplicações capazes de elevar o consumo da resina em 2016, caso de mulching para cultivo de café e abacaxi, da manta expandida para isolamento acústico em construções e dos flutuadores para placas fotovoltaicas geradoras de energia solar nos reservatórios de hidroelétricas”, ele acena. Na esfera do portfólio de grades, Terra engatilha a entrada em campo este ano de mais resinas lineares metalocênicas para stretch e tipos de alta densidade (PEAD) para sopro de frascos melhor acabados de higiene & beleza, para o processo injection blow e para tampas mais resistentes para bebidas carbonatadas como refrigerantes.

POLIPROPILENO
O jorro de novidades agendadas para este ano também é denso na seara de polipropileno (PP) da Braskem. Walmir Soller, diretor do Negócio de PP do grupo, brande tacadas como ráfia em sacaria para sementes tratadas, nãotecido na proteção de frutos, baldes de tintas residenciais, chapas substitutas de madeira na carroceria de carretas, divisórias para transporte de bebidas e aumento do uso de fibras de PP como reforço de concreto e no lugar de amianto em telhas.
Tanto agito faz parte da estratégia para acordar um mercado que, na varredura de Soller, desceu aos degraus de cinco anos atrás. “A cadeia do plástico e a Braskem já passaram por momentos críticos e sempre souberam enfrentar juntos as adversidades”, coloca. “Isso passa também pela inovação, permitindo a busca de mais mercados e aplicações, além de estimular as exportações de transformados, uma forma também de alguns setores lidarem melhor com a sazonalidade da demanda interna”.
Soller se esquiva de precisar volumes, mas afirma que, reflexo do encolhimento do consumo brasileiro, as importações de PP recuaram em 2015 versus 2014. “Com o câmbio volátil e mercado mais restrito, os transformadores tenderão a uma postura mais conservadora em relação assumir riscos com importação de resina este ano”, ele antevê. Em contraponto, demonstra, as exportações embaladas pelo dólar nas nuvens e fatores como oferta limitada de PP nos EUA prenunciam dias claros para os embarques de resina da Braskem até dezembro. “Além do mercado sul-americano como destino natural, existem no exterior oportunidades em especial nos EUA, México e Europa”, atesta Soller. Ele estende seu otimismo às exportações brasileiras de transformados (veja em Ponto de Vista à pág. 45), empoleiradas no câmbio e nos ombros de programas como PicPast e Think Plastic Brasil. “Os transformadores precisam se reinventar, pois a mudança de cenário foi muito brusca”, vaticina o diretor. “A demanda caiu na maioria dos segmentos, elevando a ociosidade da transformação. As alternativas são diminuir o parque instalado ou mantê-lo ativo através da busca de novas aplicações e/ou mercados. Milagre não existe”.

PVC
Para o bem ou para o mal, o destino de PVC está nas mãos do governo. Quem decide o jogo do balanço do vinil é a construção civil, setor dependente até o talo da transfusão de linhas de crédito e verbas do Erário para obras prediais e de infraestrutura.  Erosão, empobrecimento das famílias, saques em penca das cadernetas de poupança, pé no freio do financiamento e investimentos, diluição da confiança do consumidor e das empresas e atrasos nos pagamentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Minha Casa, Minha Vida. Esse coquetel de nitroglicerina e monóxido de carbono é  a nada sutil explicação do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo para  concluir que o setor nacional engoliu em 2015 os sapos da queda de 8% e do fechamento de quase meio milhão de postos de trabalho. Do lado da cadeia plástica, a situação no período chegou ao ponto de fabricantes relevantes de tubos entrarem em recuperação judicial e o Brasil ter virado exportador de PVC, após anos a fio dependendo de portentosas importações complementares do polímero. “A parcela da resina de fora desceu em 2015 abaixo de 10% do consumo brasileiro que, por sua vez, voltou ao patamar de 2010”, constata Américo Bartilotti Neto, diretor do Negócio de Vinílicos da Braskem, maior produtor nacional de PVC e única fonte de eteno para a concorrente Solvay Indupa formular seu vinil no país.
“Em princípio, o mercado em 2016 caminha para ser ligeiramente menor que o de 2015 e, com isso, deveremos elevar as exportações da resina”. A propósito, ele encaixa, o volume embarcado em 2105 “foi suficiente para obter uma operação do vinil viável do ponto de vista econômico”. Bartilotti também prevê recuo ainda mais intenso das importações do polímero este ano. “Volatilidade cambial e queda da demanda complicaram o equacionamento financeiro da cadeia, levando o transformador brasileiro a recorrer a uma solução de matéria-prima mais rápida de conseguir e de menos riscos operacionais e em termos de capital”.
Apesar de o mercado ter voltado aos andaimes de 2010, a Braskem manda ver em desenvolvimentos para ajudá-lo a recobrar forças. Entre os destaques na boca do túnel da Braskem para 2016, o diretor acena com inovações nos redutos de telhas, pisos e perfis de PVC.

POLIESTIRENO
Na ponta do lápis, a capacidade nominal brasileira de poliestireno (PS) bate de frente com a demanda interna. Na prática, porém, o excedente costuma ser suavizado pela ênfase dada pelos produtores nas vendas do monômero ou, sacada abraçada pela Videolar-Innova, o aproveitamento de parte do potencial disponível para PS para a formulação de outros estirênicos. No caso, a iniciada produção do polímero expansível (EPS) e a anunciada entrada em 2016 do copolímero de acrilonitrila buitadieno estireno (ABS) no mix do seu complexo de estireno/PS no polo gaúcho.
Lírio Parisotto, presidente da Videolar-Innova, não faz segredo de que seu negócio primordial é estireno. Foi por esta razão, declarou em 2014, que adquiriu a Innova da Petrobras pelo montante total estimado por ele em R$1,3 bi. A propósito, o dirigente prefere não se manifestar sobre o impacto do câmbio e recessão na parcela que tomou de financiamento para incorporar a petroquímica baseada em Triunfo. Retomando o fio e sem abrir volumes, Parisotto enxerga o consumo brasileiro de PS estabilizado há muitos anos. “Esperamos para 2016 um consumo muito próximo do aferido em 2015”. Na garupa do câmbio favorável ele embarca no coro da petroquímica nacional  em busca de alívio nas exportações da demanda doméstica inerte. “Exportamos 8% da nossa produção de PS em 2015 e pretendemos incrementar essa participação das vendas externas nos resultados deste ano”, adianta.
Boa parte de sua atenção está centrada no ingresso em EPS e ABS.Quanto ao expandido, ele reitera não ver dificuldade em escoar a produção sem abalar os negócios dos produtores locais de EPS, clientes do estireno da Videolar-Innova. Com capacidade de 20.000 t/a do expandido, ele assegura estar focado em arrebatar terreno das importações. Na lupa da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), as importações de EPS murcharam da ordem de 50.000 toneladas em 2014 para 41.000 em 2015. No compartimento de ABS, Parisotto, cujo plano original era produzir o estirênico na sua planta de PS em Manaus, informa estar convertendo para tanto a linha da resina de alto impacto disponível no complexo em Triunfo. No pano de fundo, porém, após pairar pelo menos três anos na órbita de 80.000 toneladas, as importações brasileiras de ABS despencaram para a casa de 60.000 em 2015, atesta a Abiquim.O câmbio inibidor e a retração generalizada nas aplicações desse polímero sem similar nacional não prenunciam melhora em seus desembarques até segunda ordem.
A Unigel, outra força nacional em PS e estireno, em flerte no passado com a produção de ABS em sua planta no Guarujá (SP), despontou como fonte do monômero para o escanteado projeto da planta de 100.000 t/a de ABS na Bahia, a cargo da Braskem e Styrolution. Wendel Oliveira de Souza diretor de Negócio da Unigel, deixa claro que o trabalho  e a expectativa em torno do aumento de sua capacidade de estireno na Bahia não cai no vazio. “Continuamos a avaliar a realização desse projeto de expansão, considerando  a existência de mercado doméstico para absorver nosso volume incremental de estireno em substituição às importações”.
No cercado de PS, Souza reitera que, mesmo tendo a Unigel religado em setembro último  sua unidade de 120.000 t/a em São José dos Campos (SP), o cenário doméstico de PS não é de sobre oferta. “Não entramos em guerras concorrenciais insanas”, pondera. “Traçamos e implantamos, em dois anos de trabalho, um plano de vendas externas com definição de volumes e margens suficientes para justificar a repartida da fábrica. “Mapeamos mercados no exterior e homologamos nossos produtos em potenciais clientes”. No arremate, o diretor afiança já colher os frutos dessa investida internacional, azeitada pela valorização do dólar.
Num rasante por PS no Brasil em 2015, Souza descreve uma paisagem de terra arrasada pela recessão. No reduto da linha branca, no qual geladeiras são prata da casa para o polímero, Souza repassa a estimativa setorial de queda de 15% nas vendas do ano passado com previsões de reprise este ano. Laticínios, trincheira de PS em embalagens, também acusaram queda em 2015, mas em intensidade menor, percebe o diretor da Unigel, martelando a tecla de que, apesar de tudo, ainda há muito espaço para crescer. O consumo brasileiro de iogurte”, exemplifica, “é três vezes inferior ao da Argentina, um país em crise econômica pior que a nossa”. No mais, apregoa otimista, “prevemos boa demanda para PS este ano em descartáveis e bandejas para alimentos, por estarem diretamente ligados ao consumo de bens primários”.

PET
A PetroquímicaSuape (PQS) traçou em 2015 um divisor de águas no mercado de PET e é candidata a protagonizar  outra reviravolta em 2016. No ano passado, em meio ao excedente doméstico e internacional do poliéster, a empresa partiu seu segundo e último trem de produção em Pernambuco, elevando assim a capacidade nominal brasileira da resina, da ordem de 1.000.000 t/a, a um andaime cerca de 50% acima da demanda local. Nos estertores de janeiro deste ano, a Petrobras, controladora da PQS, ventilou na mídia a intenção de vender seus ativos no setor petroquímico entre as decisões para tentar recobrar o caixa da petroleira, ressequido pela descida da ladeira do preço do barril, pelos rombos do propinoduto e por um modelo de gestão em que lucro foi declarado não ser prioridade. O descompasso entre oferta e demanda interna de PET não sobressalta Margareth Feijó Brunnet, diretora superintendente da PQS. “A partida da segunda linha de 225.000 t/a representa um passo fundamental na consolidação da empresa e deverá conferir-lhe considerável flexibilidade de produção e melhoria em seus indicadores de performance e competitividade”. A dirigente também sublinha a atual participação aproximada de 50% da PQS na capacidade brasileira de PET, completada pelo complexo vizinho de 550.000 t/a da M&G. Nesse cenário, por sinal, a PQS destaca-se ainda como a única produtora de um ingrediente-chave de PET, também sob superoferta global, o ácido tereftálico purificado (PTA), por obra da unidade de 700.000 t/a do intermediário em suas instalações em Suape.
O excedente de PET, deixa claro Margareth, leva as empresa a apoiar iniciativas de desenvolvimento de mercado, através de mais aplicações nas quais o poliéster enxote materiais concorrentes. “Transparência, leveza e custo serão fatores determinantes para PET ser escolhido como solução de embalagem”, ela sustenta. No arremate, a dirigente pondera que, num país onde a oferta da resina supera com folga a demanda interna, “é razoável supor que as importações sejam apenas marginais e concentradas em produtos especiais sem contratipo local. Se somarmos a isso um câmbio apreciado, teremos uma participação  ainda mais irrelevante do polímero do exterior”. Quanto às importações brasileiras de pré-formas, cujo histórico ronda a faixa de 100.000 t/a, Margareth não discerne mudanças na conjuntura. “Tratam-se de remessas originárias de países da região (Cone Sul) sustentadas pela compra de PET com alíquota zero de importação, compensando assim, em boa parte, a alta do dólar vigente no Brasil”. Em contrapartida, ela ressalta, na garupa do câmbio, a aceitação da resina da PQS no exterior, mérito da excelência em atributos como propriedades ópticas e mecânicas. “O principal destino de nossas exportações tem sido o mercado norte-americano”, ilustra.
A diretora superintendente da PQS reconhece o panorama adverso para transformadores de plástico, em especial a parcela que ingressa em 2016 mais descapitalizada que um ano antes. “Essa situação exigira  otimizações de custos, eficiência operacional e, em especial, muita criatividade do empresariado”.
Theresa Moraes, gerente comercial da subsidiária brasileira da italiana M&G, vai ao âmago do drama em PET sem dourar a pílula. Crise e anemia financeira dos transformadores do poliéster, ela coloca, “implicam a diminuição este ano de investimentos, projetos de desenvolvimentos e de novas linhas de produtos, situação notada desde o início de 2015”. A retração, ela salienta, está impedindo o aumento da presença de PET em mercados como sucos e leite longa vida. Sem descer a pormenores, Theresa confirma o intento de aumentar suas exportações e, endossando o ponto de vista de Margareth Brunnet, julga que a entrada em campo da PQS, com seus dois trens, já reduziu o poder de sedução das pré-formas importadas.

 

Podia ser pior

Não fosse o recuo da revenda autônoma, os distribuidores teriam penado mais em 2015

Com uma carteira de clientes dominada por volumes e capitalização menores do que quem compra resina direto das petroquímicas, o reduto dos distribuidores autorizados operou em 2015 com atenção redobrada em cada meandro das negociações. O declínio  dos resultados do setor reflete a lógica inescapável da crise, mas para quem se preparou para a conjuntura, racionalizando custos e burilando a gestão, as perspectivas de resistir ao previsto PIB negativo deste ano e ver seu negócio entrar nos eixos nos próximos anos não são ocas, sustenta nesta entrevista Laércio Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast) e da empresa Activas.

Gonçalves: o futuro é promissor para a distribuição.
Gonçalves: o futuro é promissor para a distribuição.

PR – Como a crise afetou as vendas da distribuição em 2015?
Gonçalves – O movimento caiu 5% em relação a 2014, queda similar à de aproximadamente 6% aferida nas vendas de resinas pelas petroquímicas.  O resultado reflete uma conjuntura geral de redução na arrecadação de tributos e receitas federais, recuo de 7,7% na produção industrial e de 7,75% no setor de serviços, fora o declínio calculado em 27,76% nas importações brasileiras totais.

PR – No plano geral, os distribuidores de PP e PE tiraram ou não algum proveito do recuo dessas importações  no ano passado?
Gonçalves – Fala-se que as importações de PP e PE  apresentaram queda de 10% em relação a 2014. Porém, pudemos notar no segundo semestre de 2015 que importadores diretos como Dow e ExxonMobil elevaram os volumes trazidos. Esse movimento fez com que as revendas diminuíssem muito seus volumes. Elas continuam atuando, porém com volume de 20 a 30% abaixo do comercializado em anos anteriores.

PR – Quais as perspectivas para os transformadores que se suprem no varejo de resinas?
Gonçalves – É difícil quantificar o número de empresas que iniciaram 2016 em dificuldades financeiras, mas no meu entender, sofreremos um filtro natural. Terão dificuldades as empresas sem forte gestão estratégica e que não tomaram ações simples, como redução de prazo médio de recebimento e dos dias de giro de estoque, controle de custos internos ou adequação do número de funcionários à operação.

PR – Qual a tendência em relação às revendas autônomas e agentes autorizados de resina importada?
Gonçalves – Aqueles que, efetivamente, saíram de cena em 2015 foram poucos . Mas esse canal deve continuar sofrendo muito em 2016 e acusando baixas no decorrer deste ano. A tendência é que sobrevivam as empresas capitalizadas, estruturadas e trabalhando dentro da formalidade. Em virtude de os volumes comercializados por essas empresas terem diminuído muito, a distribuição oficial fechou 2015 com queda  de 5% em seus volumes, abaixo do desempenho de segmentos como a própria petroquímica.

PR – Quais as garantias adicionais que os distribuidores passaram a exigir em 2015 para vender resina e conceder crédito?
Gonçalves – No mercado de distribuição é muito difícil um cliente conceder garantia real (carta de fiança ou alienação de imóvel, p.ex.). Neste caso, os distribuidores em geral se  tornaram mais exigentes na análises das informações (documentos e relatórios de visitas), além de estipular um limite máximo de risco de acordo com o perfil de cada cliente.

PR – Anos atrás, muitos transformadores se endividaram para financiar investimentos. Em 2015, essa dívida encareceu bastante e os resultados operacionais desabaram e assim pioraram muito o acesso dessas indústrias (em especial, as de médio porte)  ao mercado financeiro para emitir nova dívida. Qual deve ser o efeito dessa situação sobre o mercado da distribuição  em 2016?  
Gonçalves – Com as instituições financeiras restringindo o crédito, muitos clientes pouco estruturados principalmente quanto à gestão, estão se desesperando e implorando por financiamento junto aos fornecedores. Assim, as distribuidoras oficiais terão forte pressão para majoração de limite para vendas faturadas com o objetivo de compensar a redução de crédito nas instituições financeiras.

PR – Qual o efeito da recessão e restrição de crédito sobre a revenda informal em 2015 e qual a expectativa para 2016?   
Gonçalves – O efeito principal é a desvalorização da moeda brasileira comparada ao dólar. Como a participação de produtos importados no portfólio das revendas é muito grande, temos observado que este cenário fez com que elas tivessem uma redução na competitividade.

PR – Demanda em recessão infindável, crédito com freio puxado, custos de produção ascendentes e falta de fôlego financeiro formam o cenário do mercado atual. O Brasil tem cinco distribuidores de PP e PE nacionais. O varejo de resinas em 2015 encolheu a ponto de ter ficado restrito demais para ser coberto por esse número de agentes?  
Gonçalves – A meu ver, o mercado ficará melhor para os distribuidores oficiais de resinas termoplásticas. Eu acredito em crescimento para os próximos cinco anos, pois o volume total hoje atendido pela distribuição oficial e pelas revendas gira em torno de 900.000 a 1 milhão de t/a. A participação da distribuição oficial é de 50% desse volume. Devido às mudanças econômicas necessárias para o país reagir, alterações fiscais, aperto nas fiscalizações e previsão de implantação do bloco K em 2017, vejo com bons olhos o futuro da distribuição oficial.

 

Cliente não pode rimar com inadimplente
Simone de Faria: medo de calote freia informalidade.
Simone de Faria: medo de calote freia informalidade.

São as poliolefinas quem balançam a rede do faturamento dos distribuidores de resinas nacionais. Em 2015, no entanto, o jogo endureceu. “O balanço geral revela recuo de 9% no varejo de polietileno (PE) e de 16% no de polipropileno (PP)”, constata Simone de Faria, sócia executiva e braço no Brasil da consultoria norte-americana Townsend. Essa descida tem a ver, repassa, com um processo de desmonte da transformação brasileira de plástico iniciado antes de 2015 mas que chegou ao ápice no ano passado para muitas empresas com caixa mal das pernas. “Tratam-se de indústrias endividadas no curto prazo, sem capital de giro e dependentes de financiamento bancários”, descreve a analista. Outra enxaqueca, ela encaixa, foi a explosão dos custos de energia elétrica no lombo de transformadores com parque de máquinas defasado e gastador de eletricidade. “Acredito que 2016 será um ano de depuração para a distribuição de resinas, cujo mercado, por sinal, marca por um grau de inadimplência superior ao das petroquímicas”.  Simone fecha com a corrente que enxerga pelo menos dois anos de crise pela frente e, por tabela, o trabalho da distribuição vai aumentar. “Terá de analisar mais detidamente cada venda, saber melhor o perfil do cliente, conseguir mais garantias”, diz.

O quadro também pretejou para os lados dos revendedores independentes e agentes autorizados  de resina importada. “No ano passado, a subida repentina do dólar e a restrição e encarecimento do crédito aos importadores tiraram algumas empresas do jogo, mas outras surgiram”, observa Simone. “A ‘brincadeira’ encareceu e agora é para quem se dispõe a investir no longo prazo”. A revenda informal também não escapa da reviravolta. “Em regra, ela coloca na praça  parcela de resina que não transforma”, explica a consultora. “Com volume  mais restrito de vendas de produtos acabados e com esses transformadores tendo que manter as médias de compra de resinas para conseguir bom preço de venda das petroquímicas, é natural que eles aumentem sua participação no comércio marginal”, ela interpreta. “Mas essa revenda pode acarretar-lhes problemas de inadimplência, pois na informalidade o supridor depende da palavra do comprador”. Diante desses pesos na balança, Simone crê na redução das revendas informais de resinas pelo medo de calotes, “ainda que a necessidade de fazer caixa continue grande entre os transformadores”, complementa.

Simone fisga uma faceta da crise capaz de bafejar os distribuidores autorizados. Por conta do capital menor de giro e da redução do estoque, assinala, as compras de transformadores passaram, em geral, a ser feitas em pedidos menores. “Eles querem comprar apenas o que já está comprometido com a venda e, em regra, na urgência de fornecer, sem fazer programações de entrega para o mês”, esclarece. “A distribuição está muito mais preparada do que as petroquímicas para atender estes clientes”.

 

Está duro de engrenar

O suadouro para tirar a areia da crise do motor das vendas
Romi: desafio de zelar pelo ocupação da capacidade sob a crise.
Romi: desafio de zelar pelo ocupação da capacidade sob a crise.

 

O balanço de 2015 da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) é um mar de lágrimas. No palco animado pela dupla mortífera, recessão & inflação, e agravado pelo salto de 42% do dólar, as vendas gerais do setor acumularam queda de 11,7% no ano passado e, no mercado interno, o declínio atingiu 23%. Com essa vermelhidão, constatou a entidade, o comércio nacional de equipamentos soma recuo de 30% em seu balanço dos últimos três anos, percentual aliás rumo a obesidade mórbida em 2016, prevê o consenso dos analistas.

Plástico é um medidor do humor do mercado, dada sua presença em todos os campos e, por tabela, as máquinas para sua transformação não tiveram escapatória do naufrágio presenciado na demanda de 2015 pela Abimaq. “Apesar da melhora na exportação, nossas associadas acusaram queda de 10% nas vendas”, constata Gino Paulucci Jr., presidente da Câmara Setorial de Máquinas para a Indústria do Plástico (CSMAIP) da Abimaq e dirigente da empresa Polimáquinas, fera em linhas de  corte  e solda para sacola camiseta e sacos blocados. Ele solta o índice de recuo no último período evidenciando o contraste com o saldo dois anos antes. “2013 foi o melhor ano de vendas já desfrutado pela CSMAIP”, rememora. Retomando o fio das agruras, Paulucci calcula na média de 8% o impacto do câmbio sobre os custos dos filiados à câmara que preside. “Quando essas empresas também exportam, têm como diminuir a pressão do dólar por poder manter um ‘hedge’ caseiro  e assim mitigar efeitos considerados desastrosos em alguns casos”, observa o porta-voz. Em contrapartida, as exportações de máquinas para plásticos têm tomado vulto, embora aquém da velocidade desejada. “Até 2014, o consumo interno absorvia praticamente toda a produção, razão pela qual os fabricantes não deram a atenção devida a potenciais clientes externos, ressalvadas empresas que já cobriam tradicionalmente esse mercado e, assim, não tiveram dificuldade de aumentar essa participação”, sumariza Paulucci.

Posto em xeque em 2015, o fôlego financeiro dos transformadores não foi, aos olhos de Paulucci, a tranca nas expectativas de vendas de máquinas e acessórios. “O que piorou as projeções para 2016 foi o ambiente de negócios dos clientes”, distingue o dirigente. “Num ambiente de trabalho mais competitivo, possuir máquinas equipadas, modernas e econômicas pode fazer a diferença”. Pela luneta do presidente da CSMAIP, uma parcela da transformação de plástico está descapitalizada, mas outras empresas aguardam o melhor momento para investir e, ele reitera, muitas indústrias continuam a renovar seu parque fabril. “Nossos clientes não precisam ser sensibilizados para investir em modernização”, sustenta Paulucci, evidenciando que o mercado sabe de cor as justificativas. “Cabe a nós, como fabricantes de máquinas, orientá-los sobre os produtos adequados às suas necessidades e apontar os melhores meios para adquiri-los”.

Atuante no circuito das sopradoras e injetoras, estas trazidas da China, a Pavan Zanetti fixa os olhos na bússola no meio do nevoeiro da incerteza sobre a economia. “O grande problema que enfrentamos é o da falta de investimentos em máquinas básicas de médio e alto valor”, delimita o diretor comercial Newton Zanetti. Os argumentos de vendas na ordem do dia, coloca, são os de ganho de produtividade e redução de custos de energia e pessoal. “Mas somente com crédito mais fácil  poderemos esperar retorno satisfatório, pois muitos clientes, mesmo precisando investir, não o fazem no momento por medo”. Ele aproveita a deixa para martelar a tecla de um incentivo já na pauta de propostas da Abimaq: um programa de modernização do parque industrial bombeado pelo sucateamento de máquinas velhas, fora do padrão de segurança NR-12. “Teria ainda um valor de capital de giro na mesma taxa de juros vigente para o programa”, complementa Zanetti.

O xis do problema, resume o diretor, são as indefinições a complicar o traçado de perspectivas a curto e médio prazo para 2016. “Mudaram regras para o Finame, ainda o melhor sistema de crédito para o setor, substituindo o programa PSI pela volta da TJLP acrescida dos spreads bancários”, expõe Zanetti. “Esperamos a reação dos clientes aos novos juros anuais”. Um estorvo e tanto pela frente em 2016, ele apimenta, é a mistura sulfúrica da recessão, instabilidade e os endividamentos de transformadores para conseguir capital de giro destinado a financiar a produção, efeito atribuído por Zanetti aos reajustes das resinas e à dificuldade para aumentar os preços dos artefatos plásticos gerados a maior custo.

No seu balanço relativo a 2015, ele constata queda acentuada nas vendas de sopradoras por extrusão contínua, seu carro chefe, e as injetoras de menor porte que importa. “As vendas de sopradoras de PET desceram a um patamar pouco abaixo do de 2014, mas o saldo ainda é bastante razoável”. No time dos seus campeões de vendas do ano passado, Zanetti escala as sopradoras PETmatic para frascos de até dois litros, o modelo de sopro convencional BMT 5.6D/H e a sopradora de acumulação para bombonas em polipropileno (PP) para 20 litros de água mineral. Uma boa nova veio das exportações. “Dobramos em 2015 os embarques perante 2014, embora não tenhamos chegado ao patamar desejado em termos de unidades vendidas”. O diretor justifica o desempenho com o foco das exportações centrado na América do Sul, marcado por cerrada concorrência chinesa e italiana e por países mal das pernas ou que compram pouco.

Injetoras e sopradoras também são a praia da Romi e as exportações ganham vulto no radar. “As remessas de injetoras para a Europa crescem a cada ano e designamos, em 2015, uma equipe dedicada a prospectar o mercado latino-americano”, informa William dos Reis, diretor da unidade de negócios de máquinas para plástico.

Sem abrir números e percentuais, ele admite que, pelos motivos notórios, os investimentos em máquinas pela transformação se apequenaram em 2015. Apesar dos pesares, nota, redutos como embalagens, descartáveis e utilidades domésticas saíram menos afetados no balanço da Romi. “Apesar da forte queda na venda de modelos novos, os transformadores de autopeças compraram um número considerável de injetoras no ano passado, devido a lançamentos de veículos cujos projetos estavam em andamento”, distingue Reis.
2016 pinta como uma pedreira, mas Reis contrapõe que é o momento para o transformador tratar de inovar, aumentar a eficiência e reduzir custos operacionais, metas viabilizadas por máquinas de tecnologia em dia. “É possível aumentar assim o resultado operacional mediante produtividade e economia de energia e resina”.
Arisco a precisar números, Paulo Carmo, gerente da unidade de negócios de embalagens para bebidas da base no Brasil da Husky, grife canadense em injetoras, deixa transparecer que seu movimento se safou a contento de 2015, apesar da arrancada do dólar. “O volume de negócios superou o balanço de 2015 e cumprimos as metas de resultados”, ele comemora. “Parte desse saldo decorre de trabalhos iniciados dois anos atrás e finalizados no último período e contamos com o acúmulo de projetos transposto de 2015 para atingir as metas delimitadas para as vendas de máquinas em 2016”. Para o período atual, aprofunda, a Husky prevê redução nas compras de novos equipamentos no país, assinala Carmo, “mas conta com mais negócios advindos de atualizações e incorporação de novas tecnologias em equipamentos existentes”.

Kai Wender, diretor do escritório comercial da Arburg, gema da coroa das injetoras alemãs, também declara não ter do que se queixar. “Mantivemos em 2015 o nível de vendas aferido em 2014, a meu ver um sucesso considerando o contexto da economia brasileira”. Ao encarar a largada de 2016, o executivo admite como pedras no caminho a volatilidade cambial entre real e euro, encarecendo o financiamento e trazendo incerteza às empresas interessadas em comprar máquinas importadas. Ainda assim Wender não perde o prumo e, para se dar bem este ano, engata outra marcha na argumentação de venda. “Dada a significativa ociosidade na capacidade produtiva do transformador, passou a fase de aumentar o parque de injetoras sem se atentar parta a produtividade”, pondera. “O novo foco deve ser a apresentação da máquina de alta tecnologia como a solução para o cliente baixar custos e melhorar a competitividade”.

Máquinas agradecem ao Espírito Santo

Duas perguntas para Neviton Gasparini,presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Espírito Santo.

Neviton Gasparini
Neviton Gasparini

PR – Apesar da crise, houve investimentos relevantes na transformação capixaba em 2015?
Gasparini – Sim. O empresariado capixaba já entendeu que para manter-se competitivo precisa investir em novas tecnologias, qualificação e melhorias de processos. Por isso, muitas empresas se mostraram arrojadas em 2015 e acreditaram no mercado mesmo diante de negativas, investindo na compra de equipamentos, expansão ou criação de plantas e na qualificação do corpo funcional.

PR – Não fosse a crise hídrica, o segmento capixaba de reservatórios teria sucumbido à crise em 2015?
Gasparini – A possibilidade de que ele teria de sucumbir à crise está diretamente ligado às bases construídas individualmente pelas empresas ao longo dos anos. Costumo dizer que se você constrói uma base sólida, fica mais difícil de a estrutura ruir. No plano geral, o setor de transformados capixaba teve um ano difícil e precisou realizar ajustes para manter-se competitivo, mas a base de sustentação das empresas foi o que garantiu que elas permanecessem no mercado e evitassem as demissões nesse primeiro momento. O que ocorreu com as empresas de armazenamento de água foi uma oportunidade para o crescimento com a crise hídrica, estimulando muitas delas empresas a acreditar mais no segmento.

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