Entre mortos e feridos na cadeia alimentar, os biscoitos, pátria adotiva das embalagens de polipropileno biorientado (BOPP) não podem se queixar. A salvo do vermelho generalizado nos balanços desses tempos bicudos, as projeções preliminares para 2015 materializaram as expectativas traçadas pelos fabricantes ao início do mesmo ano. “Tudo indica que o setor de biscoitos confirmou nossas previsões de crescimento da ordem de 1% em volume e de 8-10% em valor sobre as vendas de 1.704 milhão de toneladas, equivalentes à receita de R$ 19,671 bi em 2014”, constata Cláudio Zanão, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi). “Para 2016, a ausência de sinais de uma retomada da economia nos leva a prever uma expansão nos mesmos moldes de 2015”, completa o dirigente.
Apesar da magreza, o saldo é visto por ele como um gol, se comparado ao estrago feito pela crise em outros fronts. Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), pintou o clima ao constatar que, em 2015, o consumidor empobrecido restringiu suas compras ao essencial, produtos básicos tipo arroz e feijão. Retomando o fio, Zanão deixa claro que os biscoitos pegaram esse tiro de raspão ao crescer bem abaixo do seu potencial; ainda assim fechou o ano no azul. “Biscoitos são um complemento de refeição ofertado em diversos preços e tamanhos para todos os segmentos da população”, argumenta o presidente da Abimapi. A crise tem o condão de forçar o consumidor em busca de economia à troca de marca ou do local de compra, concorda Zanão, mas o povo continua comendo biscoito.
Doce Revista, publicação coirmã de Plásticos em Revista, promoveu em novembro o “Seminário Chocolates, Candies e Biscoitos – Impacto da Crise, Soluções e Oportunidades”. Entre os estudos e análises apresentados, consta uma pesquisa da consultoria Kantar World Panel. Em 2014, segundo o levantamento, as classes C1 e C2 responderam por 42% do consumo brasileiro de biscoitos, enquanto as classes D e E detiveram participação de 36% e os 22% restantes couberam às classes A e B. Pela lupa da Abimapi, este quadro embute um risco – com anemia no poder aquisitivo, o consumidor de baixa renda, dominante em biscoitos, não troca de marca; simplesmente deixa de comprar. “Até o momento o setor não passou por essa situação, devido também à prática de promoções nos pontos de venda”, atribui Zanão com alívio.
Ainda assim, o dirigente não desprega os olhos das ameaças ao desempenho da indústria de biscoitos em 2016. Elas incluem, alinha, o impacto de um PIB já dado de barato como negativo, o ônus cambial decorrente de o Brasil (manufatura de biscoitos inclusa) importar em média 50% do trigo consumido e, por fim, a preocupação da população com a crise e aumentos de preços. Tathiane Frezarin, analista da Kantar, escancarou no seminário uma face do drama. Pesquisa de sua empresa em maio de 2015 aferiu que, com a economia a sete palmos abaixo da terra, mais de um milhão de pessoas deixaram de comer fora de casa. Para uma ideia do significado, a Kantar projeta em 20% a fatia do consumo fora do lar no orçamento doméstico. Thathiane engrossa o caldo com outra reação detectada no primeiro semestre de 2015: 95% do volume de compras registrado no atacarejo (misto de atacado e varejo) originaram-se do abandono, pelo público, de canais como hiper e supermercados, varejo tradicional e farmácias. “As categorias que mais cresceram no atacarejo são as de alto fluxo, a exemplo dos biscoitos”, ela constata. No embalo, Olegário Araújo, diretor da consultoria Inteligência de Mercado, citou no seminário de Doce Revista que, entre janeiro e setembro de 2015, auditoria em supermercados a cargo da empresa Nielsen apontou aumento de 0,26% nas vendas diárias de biscoitos alojados na categoria mercearia doce. Foi uma subida peso pluma, ainda assim de relevo se confrontada como morticínio mostrado nos balanços de produtos alimentícios em geral.
Zanão pondera que biscoitos não são um produto cujo potencial esteja aboletado em novos mercados. “A penetração da categoria no país é de quase 100%”, ele situa, a tiracolo de um consumo per capita de 8,40 kg, traduzindo salto de 17% entre 2010 e 2014. Nesse quadro, a via para o aumento das vendas é incrementar o consumo. Como? Segundo a receita encampada pela Abimapi, oferecendo mais lançamentos, biscoitos diferenciados e opções. Entre estas, são exemplos de transfusão de sangue bom para BOPP as embalagens de tamanho família, com apelo da redução de custo por unidade, e as do tipo monodose, relacionadas às compras por impulso e substituição de refeições.
Nessa batida, Zanão encaixou no seminário as linhas de frente para o setor se dar bem: aproveitar o vento na proa para produtos premium e a busca por alimentos saudáveis, acrescidos de fibras, vitaminas, cereais, sais minerais etc. Apesar de mais caros, nota o porta voz da Abimapi, biscoitos premium, “que trazem valor agregado com benefício claro”, conforme define Tathiane, sentem menos o açoite da recessão. “Os tipos populares são mais ameaçados porque as classes de baixa renda não trocam de categoria; tiram o biscoito da lista de compras”, reitera Zanão. Para os biscoitos saudáveis, o céu descortinado ainda é de brigadeiro, prova o dirigente brandindo pesquisa saída do forno da Nielsen. “Essa categoria tende a crescer 10,3% em valor e 7,2% em volume em 2015”, ele repassa.Tem mais: 38% dos entrevistados pela Nielsen disseram topar pagar mais por alimentos de atributos saudáveis. Na tela do radar da Kantar, exemplifica Tathiane Frezarin, as vendas de cookies cresceram 12% entre as trevas da primeira metade de 2015 versus mesmo período um ano antes.
Sinais de que o consumo de biscoitos continua, apesar de tudo, crocante e com gosto de quero mais.
Um refúgio da inundação
Biscoitos são um oásis para desova do excedente de BOPP
Embalagens correspondem, em média, a 25% do custo dos biscoitos, calcula Cláudio Zanão, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi). Esse naco de ¼ dos gastos no segundo mercado mundial no gênero cala fundo no balanço nacional de polipropileno biorientado (BOPP). Por mérito de suas propriedades ópticas, mecânicas e de barreira, esse filme domina à larga no acondicionamento de biscoitos, em especial em embalagens de até 200 gramas, sendo em regra empregado laminado com outra película de BOPP transparente ou perolizado.
BOPP atravessa uma fase de arrepiar, deixa claro de seu posto de observação como fornecedor da matéria-prima, Jefferson Bravo, engenheiro de aplicação e desenvolvimento da Braskem, único produtor de PP no país. Os transformadores locais de BOPP, ele considera, primam por tecnologias praticamente equivalentes, baixa diferenciação de produtos e, claro, operam sob pressão por redução de custos. Esta deve ser creditada não só à economia em depressão, mas à abusiva oferta interna do filme, a ser ampliada em 2016 se a Videolar-Innova, que negou entrevista, cumprir a promessa de partir sua terceira e última linha Andritz na planta em Manaus, embebida nos contestados incentivos fiscais da Zona Franca. BOPP sempre foi um dos transformados de plástico mais exportados pelo Brasil, mas Bravo prenuncia esgasgo nesse comércio exterior. No plano internacional, ele assinala, o negócio do filme deve bufar em 2016 sob excedente de 32% na oferta em relação à demanda e sob ociosidade da ordem de 24% na capacidade.
Margens deprimidas
Também não há sinal de refresco no mercado interno. “A atual capacidade brasileira de BOPP ronda 245-250.000 t/a e o consumo em 2015 deve ter ficado entre 135.000 e 140.000 toneladas, praticamente sem crescimento em relação a 2014 e estimo estagnação para 2016 devido à continuidade da crise”, sumariza Aldo Mortara, gerente de vendas e desenvolvimento de novos negócios da produtora de BOPP Vitopel. Pelo flanco das exportações, ele percebe que os embarques do filme brasileiro, na garupa da desvalorização do real frente ao dólar, ganharam competitividade a partir da segunda metade de 2015. “A estratégia de incrementar as vendas externas continua em 2016, devido às perspectivas de estagnação da demanda e aumento da capacidade nacional de BOPP”, ele diz. A propósito, Mortara não vê nexo no propalado acionamento da derradeira linha da Videolar-Innova. “Qualquer entrada de nova capacidade estará automaticamente acima da demanda”, vaticina. “Todos os produtores nacionais devem ir atrás de alternativas de exportação do excedente, de forma a equilibrar oferta e procura do filme nos mercados interno e externo”.
Nas entrelinhas, o diagnóstico de Aldo Mortara é confirmado na calculadora de Davide Botton, diretor da Polo Films, outro bólido em BOPP no país. “No momento, a capacidade nominal brasileira está em torno de 240.000 t/a e o mercado interno fechou 2015 na faixa de 145.000 toneladas, queda da ordem de 3-4% perante 2014. O nível de ocupação das plantas deve estar baixo, embora de certo modo compensado pelas exportações, contempladas pelo câmbio com mais competitividade em 2015”. Sob a trava cambial, complementa, as importações de BOPP recuaram. “Isso permitiu a manutenção das vendas dos produtores domésticos e a entrada dos volumes adicionais (da segunda linha) da Videolar-Innova, porém à custa de margens muito deprimidas”. O sufoco não afrouxa tão cedo.z “A superoferta continuará e não vejo recuperação do mercado em 2016; inclusive já há muito pouco filme importado a ser substituído”, julga Botton.
Blindagem da crocância
Biscoitos ainda são uma dádiva para BOPP. O crescimento do setor, por ora incólume à esburacada estrada da economia no declive, continua a insuflar pedidos de análises e projetos de desenvolvimentos ao Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea), o quartel general desse tipo de pesquisa no país. Na esfera dos biscoitos, a manutenção da crocância configura um dos anseios mais recorrentes de melhorias das propriedades das embalagens que cruzam a soleira do laboratório de plásticos, distingue a pesquisadora Claire Sarantópoulos, reverenciada na praça como a última palavra em flexíveis. “A preservação da crocância requer da embalagem boas propriedades de barreira à umidade, convergindo para a hermeticidade do fechamento e baixa permeabilidade ao vapor d’água do material que acondiciona o biscoito”, ela assinala, acrescentando que biscoitos waffer sobressaem em termos de sensibilidade à umidade.
Outra preocupação repassada pelo setor ao Cetea, pinça Claire, diz respeito ao coeficiente de atrito do material, tópico relacionado ao desempenho nas máquinas de empacotamento automático de biscoitos. A pesquisadora cita ainda as consultas que chegam sobre a barreira ao oxigênio, condição que ela considera eventualmente importante para o embalamento de biscoitos premium. “Nessa categoria, a oxidação de compostos capazes de alterar o aroma ganha importância como parâmetro da qualidade sensorial”, ela justifica.
Nos últimos anos, tem sobressaído a oferta de biscoitos em porções menores, investida atribuída pelos doutos a uma miríade de explicações, entre elas a escalada do público single e da demanda por produtos marcados pela praticidade, economia de tempo, consumo em movimento (on the go) e fora do lar, para substituir refeições. “Trata-se de tendência já estabelecida e cuja embalagem de BOPP depende de maior barreira ao vapor d’água”, considera Claire,“Afinal, a redução da porção da maioria dos tipos de biscoitos implica aumento da relação área de embalagem/peso do produto”. Como a permeação de umidade ocorre por área de material, observa a pesquisadora, o biscoito fica mais exposto à umidade em porções menores. “Este problema se reduz ao mínimo no caso de produtos usuários do conceito multipack, cujas porções menores são unitizadas em outra embalagem secundária de BOPP, agindo como segunda proteção contra a absorção de umidade”.
Preço versus proteção
Aldo Mortara reparte em duas frentes as demandas relativas à embalagem no mercado nacional de biscoitos. Uma delas é preenchida por um mercado mais comoditizado, ele define, movido a preço.“São fabricantes que não vêm valor em atributos diferenciados de proteção e shelf life, relutantes em pagar mais por uma solução de embalagem de maior segurança”. Na outra frente formam as grandes indústrias de biscoitos. “Para elas, a qualidade do produto final é o sustentáculo da marca, de modo que os requisitos de barreira ganham importância”. As propriedades de barreira da embalagem, nota o executivo, estão em essência, nas mãos de dois componentes interrelacionados: a barreira do próprio substrato e a qualidade da selagem. Empoleirada nesse estribo, a Vitopel acena para o setor de biscoitos com o desenho de filmes metalizados de alta barreira e adequados à selagem a quente. “Além de assegurar a contenção do biscoito, a embalagem deve prover uma selagem capaz de proporcionar efetivo fechamento hermético, convergindo assim para o total benefício da barreira agregada ao substrato e vedação contra contaminantes vindos do ambiente externo”, argumenta Mortara.
Seja na formação do envoltório ou na selagem, o fato é que, laminadas ou não, as estruturas da embalagem de biscoitos são submetidas ao calor. “Sob a ação das altas temperaturas, a hipótese de encolhimento de BOPP pode prejudicar o visual e ameaçar a hermeticidade da embalagem, efeito do surgimento de rugas nas áreas de sobreposição e selagem”, esclarece o porta-voz da Vitopel. O fechamento das embalagens é encargo de equipamentos de dois tipos: envelope, cuja proteção mecânica resulta da compactação dos biscoitos, e portfólio. Quanto a este último, Mortara assinala que o problema de encolhimento pode afetar mais o visual nas áreas de fechamento lateral da embalagem.”Outro fenômeno passível de ser confundido com encolhimento do envoltório de BOPP é o aumento do tamanho do biscoito depois de embalado, devido à absorção de umidade do meio externo”, ele complementa, aproveitando a deixa para sublinhar dois predicados do mostruário de filmes da Vitopel: o padrão de encolhimento a quente controlado e o dimensionamento da temperatura inicial de selagem de modo a tornar-se compatível com a velocidade de empacotamento. “Ou seja, com a ampla janela de selagem proporcionada pelo filme, a indústria de biscoitos poderá ajustar o processo para obter boa formação e fechamento da embalagem sem chegar ao limite de temperatura em que o encolhimento do filme torna-se um problema”, troca em miúdos o especialista.
A recessão acentua no consumidor de biscoitos a inclinação por porções menores, cujas embalagens de BOPP inspiram maiores cuidados. “Em essência, esse filme de maior complexidade deve cumprir os requisitos de barreira, selagem e apresentação/integridade da embalagem”, delimita Mortara. Em paralelo, ele ressalta que, do lado da indústria, uma alternativa para manter uma relação mais linear entre consumo específico e peso do produto acondicionado tem sido a redução da gramatura da embalagem de BOPP. “Isso esbarra no dilema da perda de rigidez e de ‘corpo’ do envoltório”, levanta o gerente. “Baixar custo através da diminuição do peso da embalagem com perda do visual resulta com frequência na rejeição do produto pelo consumidor”, atesta Mortara.
Pequeno grande mercado
Do observatório da Polo, o diretor Davide Botton comenta que a redução do tamanho do envoltório tem o condão de encolher o desperdício doméstico e de, em regra, aumentar a quantidade de embalagem por quilo consumido. “Já no caso do incremento de vendas de biscoitos em frações individuais, temos um acréscimo no volume de BOPP dispendido, seja pelo pacote monodose em si, seja pela criação de embalagens de agrupamento dessas porções”.
Botton acena para o setor de biscoitos com novas pepitas de sua jazida de BOPP. Entre os achados, ele distingue os filmes HSK. “Apresentam alongamento superior nos sentidos longitudinal e transversal, permitindo a confecção de embalagens com excelente ajuste”. No embalo, ele adianta o intento de lançar em 2016 filmes com temperatura de selagem e deslizamento controlados. “Permitem aumentar a velocidade de empacotamento, revertendo em ganhos de rendimento e produtividade”. •