O setor de plásticos de engenharia é nutrido, em essência, pelo seu cordão umbilical com a indústria automobilística. Mas vira as costas para a chance de dar seu recado ao núcleo de maior concentração do seu público-alvo: os seminários sobre materiais promovidos regularmente pelo braço brasileiro da Society of Automotive Engineering (SAE),instituição que congrega seis mil filiados e mais de mil voluntários dos escalões técnicos dos segmentos automotivo e aeroespacial. “O público dos nossos eventos é composto, principalmente, de gerentes e engenheiros de aplicação; diretores e a área comercial também costumam participar. Em geral, atingimos a parte mais interessada da engenharia de produtos”, situa Marco Colosio, diretor de Associação e Atividades Estudantis da SAE Brasil e chairperson do simpósio de materiais novos e nanotecnologia da entidade. “O momento de definição de projeto automobilístico é muito rápido, sem tempo para a procura de opções e tentativas. Divulgar nos eventos da SAE, direto e em tempo real, para quem especifica e lida com os materiais os dados para conhecer e ter na mão a melhor ou mais adequada opção de produto para o veículo em vista constitui uma oportunidade que os especialistas do setor plástico estão perdendo”. As perdas,aliás, são dissecadas por Colosio nesta entrevista.
PR – Por quais motivos fornecedores de plásticos para autopeças demonstram, em regra, bem menos interesse do que o setor de metais em participar dos seminários sobre materiais da SAE Brasil?
Colosio – O primeiro ponto é a ausência de alguém de referência técnica participando da comissão do evento. Sua presença ajudaria a comandar este grupo de grande importância para o segmento automotivo. O segundo ponto está na ligação tênue que existe entre os fornecedores tier 1 e os tier 2. Ou seja, a cadeia ficaria mais reforçada se ambos tiers estivessem unidos na prospecção de novos produtos no setor automotivo. O terceiro motivo, que me parece óbvio, é a falta de conhecimento pelos fornecedores de materiais plásticos a respeito do local mais adequado para realizar o marketing de seus produtos. Afinal, a presença maciça do setor automotivo é habitual em eventos da SAE Brasil. É o contrário do que acontece em eventos mais amplos, voltados para diversos segmentos, nos quais a atenção dada à indústria automobilística é menos significativa.
PR – O temário dos seminários sobre materiais da SAE tem sido dominado com folga por expositores da área de metais. Esse tipo de grade de palestras é montado pela entidade com base na participação dos metais, a maior entre todos os tipos de materiais, no peso dos carros, ou este predomínio do metal nas palestras é efeito da postura das empresas de plásticos, arredias ao evento?
Colosio – Decerto a maior participação do metal no veículo é um dado a se considerar. O segmento do aço é realmente muito forte e aposta pesado nesse mercado, proporcionando recursos suficientes para realização dos eventos. O mesmo deveria ser feito pelo setor de plástico, pois nesses encontros ele também, tem a mesma oportunidade de estar presente. Mas ele não se mobiliza com a mesma rapidez e intensidade do setor de metal. Volto a ressaltar neste momento a distância dos fornecedores de plásticos durante a fase de construção desses eventos, dificultando sua maior aproximação do setor automotivo. Faço ainda, a propósito, uma correlação disso com a formação dos alunos dos meus cursos de Engenharia de Materiais. Tenho percebido um equilíbrio na preferência dos alunos entre metais e polímeros, diferente do predomínio da primeira alternativa no passado. Creio que o mesmo equilíbrio entre fornecedores dos dois tipos de materiais poderia agora tomar corpo no apoio aos eventos da SAE Brasil.
PR – Os seminários da SAE Brasil primam pelo rigor tecnológico e pela abordagem calcada em P&D. No plano hipotético, acha que tem cabimento um fornecedor de determinado material plástico recusar a oportunidade de ministrar palestra porque seus concorrentes também estariam na platéia tendo acesso ao conteúdo apresentado?
Colosio – Não acredito que isso seja um ponto de preocupação. A questão de ter na plateia seus concorrentes diretos apresenta um aspecto relevante: a simples somatória de esforços. Em suma, o setor automotivo está interessado em produtos inovadores a custo acessível. Se os fornecedores de plásticos ficarem se isolando, certamente perderão força e não atingirão a busca de melhores tecnologias viáveis para os nossos produtos, ponto que poderia ser atingido pelo aumento das opções de fornecimento e oferta em larga escala. Quando construímos um evento, procuramos juntar a cadeia automotiva por completo para que o tema se torne mais interessante e, assim, atinja com maior intensidade a opinião dos especialistas e, por fim, a necessidades das montadoras . •