Carlos Alberto Lopes, sócio da consultoria ChemVision, anda fazendo uma enquete informal entre as cabeças coroadas do setor químico/petroquímico nacional. Ela consta de uma pergunta: se o Brasil não tivesse polo algum, você investiria hoje nessa indústria ? A resposta ouvida tem sido taxativa e unânime: NÃO.
Luis Stuhlberger tem o histórico de melhor performance de longo prazo no setor de fundos de investimentos. Seu fundo mais relevante, o Verde, dá retorno médio de 29% ao ano desde 1997 e, por força da regulamentação, tem de manter 80% dos ativos no Brasil. Stuhlberger declarou ao “New York Times” achar o país inviável do ponto de vista financeiro e sua crise deve piorar. Então, ele constituiu este ano o fundo Horizonte, sem limite para investimento no exterior e foi viajar.
Todo dia o noticiário traz constatações como as de Lopes e reações como a de Stuhlberger. Também sobram na mídia as recomendações para desatar o nó já vistas como clichês, de tão repetidas por quem tem mais de um neurônio: abertura do mercado, redução da máquina oficial e da intervenção estatal na economia, primazia à meritocracia no poder público, melhora do ambiente de negócios e por aí vai.
Qual é o problema de transpor à prática essas propostas? O exemplo vem de cima, responde o México. Como o Brasil, ele penou bom tempo com descalabros e pedaladas populistas, a ponto de suas contas roçarem a quebra. Desde 2014, em particular, um governo sem viseiras ideológicas e adepto da administração profissional tem obtido, devido aos números com a corda no pescoço, luz verde de todas as correntes partidárias para ativar a saída pelas reformas em curso em setores chave como o tributário, educação, telecom e energia. As mudanças, completadas pelo livre comércio e o fim do fossilizado monopólio estatal do petróleo e hidrocarbonetos, sensibilizaram o capital global e daí a chuva de investimentos em indústrias mexicanas de manufatura, entre elas a automotiva e TI e, a tiracolo, a transformação de plástico ganha força.
Na petroquímica, o governo mexicano enaltece o complexo de eteno/polietileno via gás controlado pela brasileira Braskem e a mexicana Idesa como a prova dos nove de que as reformas estão compensando. Vale notar que, no México, a Braskem depara com uma conjuntura oposta até a medula à que vive no Brasil.
Nossas altas taxas de importação e o número recorde de direitos antidumpings concedidos colidem contra a abertura mexicana, azeitada pelo livre mercado no Nafta e por dezenas de tratados comerciais. No Brasil, os custos trabalhistas são o que se sabe e, no México, o salário médio é inferior ao chinês. No Brasil, a Braskem tem na sócia Petrobras, sua fornecedora de nafta, um suplício constante para negociar matéria-prima aos soluços (aditivos pontuais ao contrato), enquanto o acordo da Braskem Idesa com a estatal Pemex vale por 20 anos e a custos inimagináveis por aqui.
A volta por cima do México demonstra ao Brasil que não lhe falta competência para atacar suas fraquezas. O que falta é vontade. Isso é efeito, basicamente, de duas forças. Uma delas é a aversão do poder público a mudanças, a ponto de inspirar a frase de que não existe alguém mais conservador que político brasileiro. O outro elemento da inércia é a intromissão do governo na iniciativa privada. Isso também acontece a pedido de empresários reverenciados como os potentados do ramo, sequiosos por privilégios e afagos de quem teve campanha eleitoral bancada por eles. Uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto.
Pois é, como diz o samba, a fonte secou. •