Recessão e resinas a preços atrelados ao dólar formulam um composto que é nitroglicerina para a distribuição de polietilenos (PE) e polipropileno (PP), os dois pilares do varejo do plástico. “De duas uma”, disse um distribuidor em off, “ou repasso os reajustes anunciados ou meu negócio morre, pois não tenho como absorver os aumentos”. Ele concorda com o efeito dominó – o risco de encolhimento das vendas num quadro de clientes em grande parte descapitalizados pela crise –, mas não vê saída.
“No primeiro semestre, amargamos queda de 8,2% nas vendas de PP e PE em relação ao mesmo período no ano passado”, expõe com pesar Wilson Cataldi, sócio executivo da Piramidal, nº1 da distribuição de resinas commodities no país. O recuo no movimento é atribuído por ele “à diminuição da demanda e ao maior contingenciamento de limite de crédito”. Em reação a esse transtorno financeiro, a Piramidal lançou em janeiro o “Piramidal Card”, linha de crédito adicional com prazos especiais. “Uma vez fechada a venda via cartão, a administradora fica com o risco”, esclarece o distribuidor. Muitas vezes, dessa forma, o “Piramidal Card” ofereceu mais limites de financiamento a empresas com dificuldades para conseguir crédito na praça, ele observa. Do lado do portfólio, encaixa Cataldi, a diversidade de materiais foi acentuada este ano com a comercialização de PET grau garrafa da PetroquímicaSuape. Em contrapartida, a barafunda da economia levou a Piramidal a teclar pause no ventilado plano de distribuir produtos que não materiais para o setor plástico. “Hibernamos a nova unidade de negócios para o primeiro trimestre de 2017”, revela o dirigente.
Ainda assim, Cataldi não desapega do otimismo. “Estamos há 30 anos no ramo e crise como essa não é novidade”, avalia. “Para enfrentá-la, é uma questão de ter caixa, preços competitivos, novos produtos, pronta entrega e auxiliar os principais clientes a passarem por este momento”.
Nos idos de 2002, a voz corrente na distribuição era de que o giro para sustentar o negócio andava na faixa de 8.000 t/mês. Em 2010, o volume considerado caiu a 5.000 t/mês. O declínio continua, indica Cataldi. “Continuo a defender escala e volume como fundamentais para um negócio sustentável a longo prazo, mas com uma tecnologia e eficiência é possível para uma distribuidora operar hoje em patamares de 4.000 t/mês”.
Único produtor no país de PP e PE, a Braskem cobre o varejo dessas poliolefinas com cinco agentes autorizados, entre os quais a Piramidal é o maior e o mais antigo. Uma pergunta para os universitários é se a recessão e a diminuição do número de transformadores atendidos não tornará, mais à frente, a atual rede Braskem grande demais para um varejo de PP e PE enfraquecido. “Acho que não”, sustenta Cataldi. “A cada novo ambiente de negócios surgem novas receitas e alguns players saem mais fortes e outros mais fracos. Sempre acredito em seleção natural”.
A Braskem vê a distribuição como uma obra em progresso. “A mudança do cenário econômico e a desvalorização do Real aumenta a competitividade dos nossos distribuidores e a segurança no fornecimento de resinas a seus clientes”, analisa Antonio Luis Acetoze, gerente de distribuição do grupo petroquímico. “O efeito da demanda atual deve afetar menos os distribuidores da Braskem, munidos de sólidas bases nas questões financeiras, de custos e de concessão de crédito. É um momento de grande oportunidade para a distribuição aumentar sua participação de mercado, com base em seus serviços diferenciados e na garantia de suprimento de resinas de qualidade perante a concorrência dependente de importações e exposta ao ambiente internacional”.
A hipótese de emagrecimento imposto pela crise ao efetivo de distribuidores da Braskem também não passa pela cabeça de Laércio Gonçalves, presidente da Activas, titular da rede do grupo e formador de opinião no varejo. “Não vejo essa possibilidade de redução de distribuidores, pois já atuamos em número muito pequeno de agentes. O que pode acontecer é o desinteresse de revendedores autônomos pelo negócio”.
Na selfie tremida do Brasil, a crise não proporciona avanço prazeroso dos distribuidores de resinas nacionais sobre os revendedores de resinas importadas, hoje pendurados na brocha pelo dólar na lua. “A Activas projeta queda em torno de 20% em relação ao volume total de vendas em 2015 e o faturamento terá leve crescimento, devido ao aumento do dólar”, considera o dirigente. Quanto à clientela, ele vê as transformadoras sem caixa “devido à falta de planejamento e gestão”. O presidente da Activas também atenta para a extrema restrição de crédito na praça. “Clientes falam de queda de 30% a 50% no faturamento, preocupante principalmente para quem não está capitalizado ou preparado para enfrentar uma crise como esta. Hoje em dia, as indústrias compram somente o necessário e a oferta de material importado caiu, devido ao aumento do dólar”.
A recessão diminuiu o ticket médio das vendas mas não descarnou a carteira da Activas. “Trabalhamos ativamente com a ferramenta CRM (Customer Relationship Management) para gerenciar o relacionamento com o cliente e reunimos vários processos e tarefas de uma forma organizada e integrada”, assinala Gonçalves. Com o CRM, ele segue, nichos de atuação da empresa foram delimitados e estratégias foram traçadas para cada segmento da transformação, perfil de clientes e região atendida. “Agregamos todo nosso know-how em logística de alcance nacional para auxiliar os clientes na otimização dos estoques e redução de recursos para capital de giro”. Em paralelo, a Activas adotou o sistema “Balanced Score Card” (BSC), conta o dirigente, mediante o qual a operação foi reformulada com foco dirigido à gestão em resultados. Desse modo, ele arremata, “dispomos agora de indicadores para nortear a tomada de decisões e de ações rápidas e assim aumentamos a participação de mercado e reduzimos drasticamente os custos operacionais, o giro de estoque e a inadimplência”. A propósito, para o presidente da Activas, o giro aceitável para um distribuidor de resinas se mantém na órbita estabelecida em 2010, por volta de 5.000 t/mês.
O dever de casa da Activas estendeu-se ao turbinamento do mostruário. Além de embarcar este ano na distribuição de poliestireno (PS) da Innova e Videolar, a empresa encorpou o catálogo de especialidades com desenvolvimentos tirados do forno da sua componedora Actplus. “Tratam-se de materiais concebidos de acordo com as especificações do cliente e englobam PE micronizado, PP anti UV, PP antibacteriano, policarbonato e polimetilmetacrilato coloridos e copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) V0”, alinha o distribuidor.
Para Ricardo Mason, diretor da Fortymil, distribuidora de poliolefinas da Braskem atuante no Sudeste, mexidas no portfólio são procedentes, mas crucial para o negócio, ainda mais em tempos cavernosos, é a gestão, em particular dos custos de estoque e operacionais, como atestam suas ações mais recentes. “Desde o ano passado temos reformulado nossa frota, ajustando o tamanho e tipo de veículo conforme o ticket médio e distância das entregas”. Pela sua percepção, o trabalho dos distribuidores tem evoluído para entregas de tickets menores e menos espaçadas, efeito da carência de capital de giro na praça. Na esfera das ferramentas de gestão, Mason informa estar testando um software de mobilidade para a equipe comercial da Fortymil. “Visa reduzir os custos internos e disponibilizar informação com mais rapidez para o vendedor diante do cliente”, ele sintetiza.
O desvario do câmbio e a demanda com o pé atrás põem o distribuidor no fio da navalha, ele deixa claro. “De um lado, temos no mercado menos material importado e, do outro, a demanda reduzida e com maior risco de crédito”. Noves-fora, amarra o diretor, não há garantia de azul no faturamento de sua empresa este ano. “O primeiro trimestre marcou pelo movimento se arrastando, o segundo teve forte impacto negativo nas vendas e as perspectivas para o semestre atual não são positivas”. Para piorar o angu, Mason assinala que, em especial no varejo paulista, “revendas de resina importada mudam facilmente para o produto nacional”, ele afirma, em clara alusão a matérias-primas desovadas por este canal por transformadores. Desse modo, pondera, a Fortymil espera fechar 2015 mantendo os volumes colocados em 2014. “Já é um grande desafio”, comenta o distribuidor.
Única distribuidora de resinas da Braskem sediada no Nordeste, a Eteno também se debruça sobre os bastidores da gestão. O foco principal deste ano de margens achatadas tem sido a faxina nos custos fixos, estreitar o relacionamento com clientes e reativar aqueles até então inativos”, estabelece o diretor Rodrigo Brayner, acrescentando que planos como a estreia na comercialização de plásticos de engenharia foram deixados em compasso de espera. “Ainda temos muito trabalho pela frente para fechar o ano no azul”.
O Nordeste é um mercado eivado de informalidade e clientes inclinados a protelar pagamentos. Com a economia em cacos, conta Brayner, a Eteno aumenta as precauções contra esses atrasos e calotes.”Os empresários da região vinham trabalhando no limite e se viram no meio da crise sem gordura para queimar e daí a retação e aumento da inadimplência desde o final do ano passado”, descreve o distribuidor. “Diante disso, ficamos mais rigorosos na dilatação dos limites de crédito e cada caso é analisado em separado, com visitas ao vivo na indústria e a palavra final é dada por um comitê. Também definimos prazos menores para baixa a exposição a reincidentes na inadimplência”.
Cortesia do câmbio, o bicho está pegando no cercado dos importadores de poliolefinas. “As margens foram afetadas negativamente”, confirma Osvaldo Cruz, diretor da Entec Polímeros. “No Brasil, a maioria dos agentes econômicos reage em descompasso com as variações do câmbio, reflexo de um mercado fechado há décadas”, observa. “Ou seja, existe uma inércia até a variação cambial chegar ao dia a dia na economia, como se nossos negócios nada tivessem a ver com isso, até a hora em que a realidade e a aritmética se impõem. No mais, a ineficiência da burocracia relacionada ao comércio exterior, a exemplo do tempo de nacionalização de um produto, também contribui para impactar os resultados em momentos de desvalorização do Real”. Um ponto a favor numa conjuntura recessiva, ele nota, é o avanço de resinas como as que comercializa sobre o espaço aberto pela redução da presença de produtos acabados importados. “Também ficamos muito mais seletivos na tomada de decisão para importar materiais, avaliando as reais condições que os clientes e até o segmento do produto transformado em vista têm de absorver o aumento de preço”. Com pé de apoio nessa canoa, Cruz espera para a Entec este ano um crescimento modesto sobre 2014, mérito daquela ajuda do câmbio. A concorrente Cromex não deu entrevista.
Importadora de poliolefinas e PVC e distribuidora de PS e polipropileno biorientado da Videolar, a Replas aferiu recuo da ordem de 20% em suas vendas de janeiro à entrada de setembro. “Esse nível do movimento deve permanecer, no mínimo, até o primeiro trimestre do próximo ano”, julga Marcos Prando, sócio diretor da empresa. Quanto ao câmbio, coloca, a operação da Replas precisa se ajustar ao novo patamar. “A subida do dólar tem probabilidade de até nos trazer mais oportunidades, pois concorrentes muito alavancados em moeda forte podem ter dificuldades de fluxo de caixa, postergando importações e, assim, abrirem negócios para empresas mais consolidadas financeiramente, como a Replas”, avalia Prando. De outro ângulo, a alta nervosa do dólar empurrou a empresa para o hedge cambial, para minimizar o impacto da forte desvalorização do Real. “Foi preciso travar o câmbio dólar/real através de hedge”, reitera o dirigente. Em relação ao estoque, completa, a empresa tem procurado “manter um nível de volume sustentável versus as vendas estimadas”, complementa .
A penúria do Brasil, admite Prando, tem complicado seu trabalho de conseguir comprar resinas ou de conquistar novas bandeiras do exterior. “O país possui uma moeda fraca, dificuldades financeiras e uma demanda de resina importada que constitui fatia pequena no mercado global”, explica Prando. “Frente a esses fatores, os fabricantes internacionais estão analisando com mais critério suas estratégias de venda”.
bate e volta
Distribuidores brasileiros ainda longe do check out
Uma pergunta para Roberto Ribeiro,presidente da consultoria norte-americana Townsend
Solutions.
PR – No mercado global do plástico, distribuidores de poliolefinas atuam com desenvoltura atendendo a demanda doméstica e exportando. No Brasil, é exigido para esses agentes que se limitem ao varejo nacional. Essa imposição condiz ou não com a realidade do comércio mundial de resinas e, além do mais, procede a alegação de que falta a esses distribuidores cultura exportadora e vivência no mercado internacional?
Ribeiro – Vou responder por partes. Primeiro, se essa imposição condiz ou não com a realidade do comércio mundial de resinas. Bem, essa visão de distribuição regional tem sido desafiada nos últimos tempos. Como? Com uma consolidação crescente do cenário mundial da distribuição, com players cada vez maiores e que, naturalmente, acabam buscando alternativas em mercados próximos. Um exemplo claro: EUA e México. Outros mercados ainda estão um pouco atrás, como o europeu, que possui ainda um grande número de players e muitos regionais atendendo, por exemplo, a península ibérica, norte da Europa e por aí vai. Porém, como já disse, com alguns players sobressaindo no mercado, principalmente através de fusões e aquisicões, nada mais natural que a busca de oportunidades fora de seu país de origem.
Quanto à indagação sobre se procede a alegação de que falta a esses distribuidores do Brasil cultura exportadora e vivência no mercado internacional, digo que sim. Isso procede, porém não significa que não haja entre os players nacionais um sentimento de que, talvez, uma busca por novos mercados não seja interessante neste momento. Na minha opinião, mais importante que a cultura exportadora ou a vivência no mercado internacional, o que o distribuidor brasileiro necessita é:
1) conhecimento dos mercados em potencial nos quais tenham interesse;
2) uma cultura de fusões, aquisições e parcerias. Este, sim, é o ponto mais importante para que o passo dado por eles fora do mercado interno seja realmente efetivo.
A vida não é só carro
Antes cavar novos filões do que afundar no pessimismo
No mercado em ruínas do primeiro semestre, as vendas de carros desabaram 21% frente aos seis meses iniciais de 2014. Nos radares automotivos globais, o fiasco do Brasil só perdeu para a queda de 35% na Rússia. Se há mesmo males que vêm para o bem, o infarto das montadoras tem materializado, neste ano do cão, o condão de mover o setor de plásticos de engenharia para reduzir seu cordão umbilical com os veículos. A temporada de caça a aplicações para além da indústria automobilística hoje no estaleiro traz ao menos a conveniência de não mergulhar os fornecedores de resinas nobres no nanquim do derrotismo, ocupando seus pensamentos com o garimpo de filões esnobados até dois anos atrás, quando a produção de carros estava longe de engatar o atual ponto morto.
“Continuamos a buscar maior presença em autopeças, mas temos prospectado o potencial de outras áreas para poliamida 6 (PA)” e atuado em determinadas aplicações para a linha branca”, confirma conciso João Rorigues, gerente geral da revendedora Thathi Polímeros, cujo portfólio aloja ainda PA 6.6, poliacetal (POM) e polibutileno tereftalato (PBT). Na esfera do faturamento, ele admite a queda em dólar e a elevação em reais. “Parte dos nossos gastos são em reais, mas a quase totalidade dos custos das matérias-primas é dolarizada e, assim, a receita em dólar não cresce este ano perante 2014”. Estilhaços da subida do dólar têm lesionado nomes da carteira da varejista. “Negociamos com preços fixos em dólar tendo como fator de conversão a média cambial do mês anterior aos faturamentos”, expõe Rodrigues. “Ultimamente, inúmeras empresas atendidas pela Thathi sofrem com a desvalorização do real pois, como negociam com seus clientes nesta moeda e com algum repasse eventual do câmbio, muitas delas se ressentem de seus custos estarem ficando insustentáveis, fragilidade agravada por fatores como custos fixos, receita em queda e encarecimento da energia”.
Não bastasse o dólar nas nuvens, a volatilidade do câmbio instaura um pandemônio no cotidiano de quem lida com resina importada num país onde PA 6.6 é o único plástico de engenharia produzido. “As importações são programadas com muita antecedência e sem margem de manobra para alterar volumes e datas em razão da complexidade das grandes companhias que nos abastecem para se ajustarem a essas mudanças nos pedidos”, esclarece Rodrigues. “Eventualmente, podemos cancelar ou postergar o despacho de materiais com datas de embarque agendadas muito para a frente”. Essa rigidez na mecânica das compras de resinas força a Thathi, emenda o empresário, a manter estoques reguladores para evitar falta de mercadoria numa ansiada retomada do consumo. “A operação nos exige fôlego financeiro para trabalhar com prazos de pagamento de 28 a 42 dias e para os gastos na internação dos materiais desembarcados em Santos, etapa que requer o recolhimento antecipado dos impostos de importação, IPI e PIS/Cofins”, ele justifica.
Contra tudo e contra todos, Joel Araujo, presidente da Master Polymers, agente oficial de medalhões das resinas nobres como SEM-Grivory ,Teknor Apex e UMG, sorri de orelha a orelha. “Fechamos julho com faturamento recorde e espero virar o ano com aumento de 20% a 25% no volume de vendas e na receita”. O lastro de tanto júbilo não é o consumo, mas o câmbio. “A maioria dos nossos produtos é comercializada em euro”, ele abre. “Tomando como referência o período julho de 2014/julho de 2015, a desvalorização do real frente ao dólar médio ficou em 32% enquanto o euro médio variou apenas 7%, tornando assim nossos materiais mais competitivos se comparados às importações de similares norte-americanos”. Noves fora, arremata o dirigente, a subida do dólar face ao real e ao euro tem contribuído positivamente para o negócio. “Mesmo mais caras em reais que no início do ano, as resinas que vendemos aumentaram menos que as negociadas em dólar”, ele reitera.
Apesar do câmbio a favor, sua volatilidade é um estorvo para a Master Polymers. “Ao pagarmos o fornecedor estrangeiro, o custo do estoque passa para reais e aí começa o risco”, lamenta Araujo. Para reduzir essa ameaça, ele conta, o jeito é diminuir a quantidade de produto em estoque com custo em reais ou fazer hedge junto a uma instituição financeira. “Para fornecedores que exigem pagamento antecipado, a melhor alternativa é negociar uma condição de pagamento à vista contra documentos de embarque (CAD)”, sustenta o distribuidor. “Baixamos assim o tempo de exposição ao risco, pois pagaremos o fornecedor apenas quando o material estiver chegando, dias antes da internação”. Quanto a supridores do exterior com os quais a Master Polymers tem linha de crédito, a pretensão de esticar o prazo de pagamento está engavetada. “Diante da conjuntura, os fornecedores hoje tentam reduzir esses prazos”, constata Araujo. “O Brasil passou, infelizmente, a ser um país de risco e as múltis agora tomam precauções, em especial relativas ao financiamento, para exportarem para cá, a exemplo da redução do prazo de pagamento e da exigência de carta de crédito para empresas que, até então, importavam sem restrições”. Ele reforça o argumento lembrando que uma de suas representadas recebeu da embaixada brasileira orientação para não aceitar a condição de pagamento CAD . “Advertiu-se sobre o risco de perda se o importador não honrasse o compromisso quando a mercadoria chegasse aqui”, ele revela.
O apagão nas vendas das montadoras também apanhou a Master Polymers no contrapé, inclusive devido à sua imersão, desde a segunda metade de 2014, em novos projetos de carros da GM,VW, Ford e Fiat. “Pensávamos que as vendas disparariam, mas veio a crise e o máximo que conseguimos foi reduzir nas vendas o impacto da queda da produção de veículos”. Foi a deixa para a empresa acentuar o esforço de diversificação de mercados. Araujo exemplifica com a oferta de adesivos e o agente de barreira álcool eteno vinílico( EVOH) para embalagens ou, ainda na seara automotiva, fornecimentos de borracha termoplástica vulcanizada. “Não fosse o desenvolvimento de mais aplicações, o volume de vendas cairia de forma expressiva este ano”, julga Araujo.
O Nova Trigo Group tem seguido à risca a mesma receita. “Nosso portfólio de plásticos de engenharia migra, desde o ano passado, para segmentos à parte das autopeças – de eletroeletrônicos a embalagens rígidas e construção civil”, abrange Carlos Benedetti Jr, diretor comercial da distribuidora. “Apesar da queda estimada em 14% no volume de vendas, nossa receita deve subir cerca de 6%, mérito da variação cambial contrabalançando o recuo da demanda”. Ao final das contas, ele assegura, “o câmbio aumenta para todos e, cedo ou tarde, o mercado se equaliza com as novas taxas”. Outro ás na manga do grupo para enfrentar a borrasca é a conquistada exclusividade na distribuição para o Brasil de poliacetal (POM) da sul coreana Kolon e copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) da japonesa Toray. “Isso nos dá fôlego para trabalharmos em 2016, quando a retomada deve acontecer a partir do segundo semestre”, confia Benedetti. Ao longo deste ano, enfatiza, o Nova trigo Group buscou preservar o pulso das faturas lapidando a infra comercial. “Para acompanhar o mercado, nossos prazos de pagamento e recebimento ficaram mais elásticos, uma ação algo descabida com a alta dos juros, mas todos os elos da indústria estão cedendo um pouco mais, na ponta das compras e na das vendas”.
Sob um câmbio tão mutante quanto as ideias do governo, haja otimismo e jogo de cintura para segurar a barra no comércio de materiais dolarizados. “Estamos reduzindo os estoques de segurança, pois determinados produtos giravam no passado duas vezes mais rápido que hoje em dia, além de termos revertido algumas compras do exterior para fornecedores locais”, abre o diretor. A propósito, ele reconhece que o mar não está pra peixe quando se trata de prospectar lá fora mais bandeiras para distribuição no mercado doméstico. “A credibilidade do Brasil está abalada e não importa o tamanho do cliente daqui”, ele atesta. “Diversos países e seguradoras de crédito têm aumentado a percepção de risco para vender para cá e o restante da América do Sul”. Rival em materiais nobres, a revenda QP não quis falar.
As demonstrações de seriedade e pontualidade têm incutido em supridores internacionais um grau de confiança na Petropol suficiente para livrar os negócios do risco de serem contaminados por esse momento de amargar do Brasil, assevera Fernando Tadiotto, diretor de comércio exterior da distribuidora e componedora. “Se fechamos a compra com um novo fornecedor, em regra o primeiro embarque é sempre pago com adiantamento e à vista”, ele esclarece. Entre outros recursos tranquilizadores, Tadiotto destaca a modalidade de pagamento CAD. “Mas costumamos operar com prazos extensos de pagamento e temos fôlego financeiro para importar, produzir compostos e comercializar as linhas do nosso mostruário”.
Quase 70% dos materiais que entram na Petropol são importados, portanto expostos ao rojão do dólar ao nervosismo do câmbio. Para resguardar-se, conta o diretor, a empresa atenta, em particular, para a atualização dos custos das matérias-primas na etapa de fechamento das compras. “Para as ‘resinas base’ mantemos como padrão do dólar médio e, para as resinas de distribuição, a taxa do dólar do dia”, assinala Tadiotto. “Em paralelo, o acompanhamento diário do estoque contribui para manter um saudável prazo médio do ciclo operacional da empresa”. Apesar de todos esses cuidados, a explosão do dólar tem provocado avarias. “Ao longo deste ano, pelo menos 30% dos orçamentos realizados para os clientes não foram fechados devido ao alto preço cotado sob a justificativa predominante do aumento do dólar”, lastima Tadiotto.
Mesmo assim, ele confia em crescimento da ordem de 5% a 10% no faturamento geral da Petropol este ano. Para contornar as piores vendas de veículos em oito anos, entre cujos efeitos dominó consta o fechamento de 691 concessionárias de janeiro a agosto último, a empresa refugiou-se em aplicações de plásticos de engenharia vistas como mais rentáveis que os concorridos componentes automotivos. “Nossas vendas de materiais para agroindústria, hidráulica e produtos de iluminação têm sobressaído pelo crescimento, a exemplo de desenvolvimentos atrelados à substituição de lâmpadas convencionais por modelos LED”, ilustra Tadiotto, arisco a detalhes.
Everton Mellado, diretor da Advanced Polymers, revendedora de polímeros nobres como ABS e PA 6 e PA 6.6 importados, também se esquiva de pormenorizar as aplicações que lhe têm granjeado boas vendas para o reduto do saneamento básico. Outras válvulas de escape das autopeças, ele abre sucinto, incluem cosméticos e artigos vinculados a modismos. Mellado também se anima com o notado abandono de importações de produtos acabados em prol de suas nacionalizações, por força do câmbio, em setores como automotivo e linha branca.
Em suas importações, o varejista concorda que a economia em parafuso e a credibilidade do governo equiparável a uma nota de US$3 “vem criando barreiras, em particular quanto a crédito e prazos nos países asiáticos”. A frio, Mellado tem uma visão ambivalente da alta do dólar. “Impacta direto nos preços que precisam ser repassados e complica as vendas”, coloca. “Em contrapartida, há empresas deixando de importar produtos acabados que deixaram de ser fabricados aqui sob dólar em baixa”. Por essas e outras Mellado aposta que, no frigir dos ovos, seu balanço deve virar dezembro com crescimento acumulado na faixa de 30% sobre 2014.