O governo Trump não é um paladino das políticas verdes. Mas se você se importa com a emissão de gases poluentes, lixo e consumo perdulário, há razão para otimismo”. A percepção de haver como fazer do limão uma limonada aflorou no site do Wall Street Journal em 5/5 no espaço nobre de artigo assinado por Amy Chan, executiva-chefe de sustentabilidade da escola de negócios Haas da Universidade da Califórnia.
“Enquanto meus pares andam nervosos quanto ao futuro da sustentabilidade, eu enxergo uma história diferente sendo desdobrada, por três motivos”, expõe a dirigente. Para começar, ela coloca, o rearranjo do comércio global faz com que companhias repensem suas cadeias de suprimento. Muitas delas, adeptas até então desse sistema de abastecimento, estão delineando uma estratégia emergente que Amy denomina “manufatura numa região para esta região“. Ou seja, produzir bens na América do Norte para os americanos, na Europa para os europeus etc etc. No entender da especialista em sustentabilidade, isso é bom para a estabilidade da economia e do planeta, pois, segundo a agência de proteção ambiental dos EUA, o transporte responde por 15% das liberações globais de gases de efeito estufa. Queda nos fretes transoceânicos resulta em menos emissões, ela deduz.
A segunda justificativa de Amy Chan para amansar os temores à solta com a política ambientalista de Trump, vista por uma corrente como negacionista e por outra como focada na segurança energética dos EUA (petróleo e gás), tem genoma alfandegário. A articulista comenta que, ao cortar as isenções de taxas de importações de baixo valor da China, Trump refreia a febre dos americanos por artigos descartáveis ou de modismo efêmero vendidos por varejistas tipo Shein e Temu. “Isso resultará em menos compras por impulso e menos lixo nos aterros”, ela comemora. “Por sua vez, os fabricantes nos EUA também podem corresponder ao novo cenário produzindo bens de maior durabilidade e qualidade e isso não vale apenas para artigos movidos a preço. Eletrônicos e carros mais caros levarão consumidores a prolongar vida útil do que já possuem. O carro mais verde não é o elétrico, mas o que não foi substituído”.
O último argumento de Amy para mostrar que a postura verde de Trump tem efeitos colaterais favoráveis aborda os minerais estratégicos, agrupados na categoria dos elementos de terras raras. A China mobiliza 2/3 da produção mundial desses insumos e os EUA dependem visceralmente desse suprimento para a fabricação de bens que vão de celulares e carros elétricos a turbinas eólicas e o aparato militar. Em seu artigo, Amy Chan comenta que os EUA podem suavizar essa vulnerabilidade investindo na infraestrutura de reciclagem dos elementos de terras raras. A tecnologia para essa recuperação já existe, encaixa a expert em sustentabilidade, mas não seduziu, até o momento, empresas nos EUA por uma questão de custos. Quando esses minerais essenciais estão baratos, nota Amy, há pouco incentivo em reciclá-los (tal como o excedente de material virgem hoje impacta a reciclagem de polímeros). No entanto, ela acena no texto, se os legisladores de Washington se empenharem em reduzir essa subordinação americana do subsolo da China, seria pertinente reconsiderarem suas percepções a respeito dos depósitos de sucatas, como as de eletrônicos, nos EUA.
Amy Chan fecha seu posicionamento reconhecendo que, sob a batuta de Trump, a questão climática perdeu o status de prioridade que desfrutava no governo Biden. “Mas há uma diferença entre remover a sustentabilidade como prioridade e se opor a ela”, distingue a porta-voz da Universidade da Califórnia. Aos seus olhos, enquanto os esforços nos EUA em prol do desenvolvimento sustentável não colidirem com as prioridades do trumpismo – supremacia energética e competição econômica – haverá espaço para o progresso ambiental. “As políticas comerciais de Trump podem fazer pelo planeta mais que mil relatórios de ESG”, ela conclui.