Os altos e baixos da indústria de transformação de plástico costumam ser analisados com base em seus mercados âncoras, marcados por altos volumes e ao sabor do poder aquisitivo do consumidor final. Mas fora desta moldura, pulsam nos andares de baixo do setor bolsões em que a baixa escala explica porque seu crescimento atrai bem menos olhares. É o caso de produtos de poliolefinas para acolchoamento, proteção e movimentação, reduto não frequentado por transformadores de alto porte, mas de crescimento e rentabilidade de grande resiliência aos ziguezagues das políticas econômicas. Fala por si a expansão constante da transformadora Maximu’s Embalagens Especiais, há 22 anos neste segmento discreto de perfil industrial (em destaque, setores como automotivo, eletrônico e hospitalar) e que começou a desfrutar no final de março as vantagens da inversão de R$ 3 milhões na infra operacional de sua planta-sede em Ribeirão Pires, no ABC paulista. A filial roda em Varginha, Minas Gerais. Nesta entrevista, o CEO Márcio Grazino assinala a relevância do investimento na autossuficiência de sua operação e as peculiaridades do seu mercado.
Qual a capacidade da Maximu’s, inclusa a matriz e a filial? E o que muda na operação em Ribeirão Pires?
A Maximu’s opera na faixa aproximada de 100 t/mês e as duas fábricas, em Ribeirão Pires e Varginha, oferecem a mesma linha de produtos, incluindo calços e peças técnicas em espuma de polietileno expandido (EPE), sacarias, folhas de plástico bolha e manta de EPE. Por meio do novo equipamento, a empresa propõe a verticalização de processos hoje de responsabilidade de fornecedores. Isso proporcionará mais independência e controle sobre as operações. No entanto, essa mudança não implica, necessariamente, aumento na capacidade produtiva. O investimento na ampliação da sede, em campo desde 2003 em Ribeirão Pires, reforça a posição da empresa como um dos principais players em peças técnicas com EPE, promovendo uma indispensável verticalização de processos e conferindo mais agilidade e independência à operação. Ambas as unidades continuarão a produzir soluções com esse material.
Nossa empresa nasceu com essa linha de produtos como seu core business e hoje ela representa 54% do faturamento da companhia, havendo ainda um mercado em potencial a ser explorado. Todas as demais linhas de produtos – exceto PP corrugado, não produzido internamente – somam o restante da composição da receita.
O período pós-pandemia impulsionou um crescimento significativo, não apenas das linhas de EPE, mas da Maximu’s como um todo, graças aos constantes investimentos em tecnologia no parque fabril, pois nos permitiram absorver novas demandas do mercado.
À parte a excelência e demais méritos da Maximu’s, o fato é que ela atua em produtos para acolchoamento, proteção e movimentação, um setor cuja envergadura não atraiu os grandes e capitalizados transformadores de flexíveis do país, mais voltados para embalagens. Essa ausência de disputa da Maximu’s com concorrentes maiores em escala e capital, clientes de PP e PE negociado diretamente com a Braskem também contribuiu para a expansão desfrutada há 22 anos pela empresa?
Sim. O mercado de embalagens é um universo vasto. Atuamos em um nicho muito específico, que carece de grandes corporações. Isso não significa que não haja concorrência. Algumas empresas no país disputam esse segmento de mercado bastante restrito, sendo a maioria de pequeno e médio porte. Muitas delas ainda estão presas a filosofias e sistemas de produção ultrapassados. Nossa vantagem está na modernização dos processos e na capacitação da mão de obra, aliadas a uma estratégia de marketing e posicionamento bem definida — algo que não se vê com frequência em nosso setor.
Em 2024, com qual nível de ocupação de sua capacidade total a Maximu’s operou?
Rodamos no ano passado com um turno e um contraturno na planta sede, tendo ainda um turno completo disponível para receber mais demandas. Já na filial em Varginha, em campo desde 2008, operamos apenas com um turno em 2024.
Numa estimativa da média, como reparte entre resinas nacionais e importadas o consumo de PP e PE da Maximu’s? A empresa tem ou não conseguido repassar a contento o encarecimento dessas matérias-primas devido ao aumento para 20% da alíquota de importação vigente desde outubro de 2024?
Boa parte de nossas matérias-primas já é transformada pelos fornecedores. Atuamos diretamente na compra de resinas para a produção de filmes destinados à fabricação de plástico bolha (PEBD). Negociamos apenas resinas importadas e grãos ‘pós-indústria’ reciclados em nossas dependências, oriundos das sobras de processos. Não temos conseguido repassar ao mercado todo esse aumento de custos decorrente da subida na tarifa de importação das resinas.
Pelo visto, uma das razões do intenso crescimento do negócio dos calços seja a verticalização da Maximu’s nas placas de EPE. Daqui por diante, quais os eventuais outros componentes que a empresa pretende produzir internamente em lugar de adquirí-los de terceiros?
A verticalização em nossos processos já alcançou 90%. Quanto aos 10% restantes, entendemos ser melhor dividir para somar com parceiros do que tentarmos uma empreitada sozinhos. Seria necessário um aprofundamento no processo muito grande, exigindo altos investimentos em infraestrutura e equipamento. Para complicar o quadro, sobra hoje, no Brasil, capacidade instalada em extrusão de EPE.
Virou praxe na transformação brasileira de plásticos montar fábricas filiais em locais incentivados. Por quais motivos a Maximu’s prefere não abraçar essa tendência em seu movimento de expansão?
Nunca tivemos planos de nos instalar numa zona franca, como a de Manaus, devido à distância em relação ao nosso mercado consumidor. Como o frete é um fator crítico para a operação, pois trabalhamos com produtos volumosos (espumas de EPE e plástico bolha), de baixo peso e valor agregado, optamos por permanecer perto dos clientes, facilitando a distribuição e reduzindo o impacto nos custos de transporte. O mesmo critério foi adotado para a unidade em Varginha, Minas Gerais, onde a proximidade dos clientes permite maior flexibilidade e agilidade no atendimento das demandas.
Na mesma trilha, os produtos para acolchoamento, proteção e movimentação fabril da Maximu’s têm bom potencial no polo da Zona Franca, à sombra de incentivos fiscais e importação mais acessível de resinas. Diante disso, a ideia da subsidiária em Manaus não casa mesmo com a estratégia da Maximu’s?
Não temos planos para iniciar operações na Zona Franca de Manaus. Preferimos focar os esforços para atender os mercados nas regiões sudeste e sul. Não existem volumes que justifiquem mais empresas atuando com soluções em EPE em Manaus a exemplo do que acontece com poliestireno expandido (EPS).
2025 tem primado por inflação acima da meta, juros na lua, dólar caro e volátil, poder aquisitivo reduzido e crédito caro, fatores que afetam a maioria dos setores atendidos pela Maximu’s. Qual a estratégia para contornar esses entraves e em quanto tempo espera o retorno dos R$ 3 milhões aplicados na expansão em Ribeirão Pires?
Esperamos o retorno do investimento dentro de aproximadamente quatro anos. Em relação ao cenário econômico, podemos apenas cuidar dos fatores que dependem de nós. Procuramos nos manter competitivos, produtivos e oferecer soluções criativas que façam sentido para os clientes, auxiliando-os a alcançar os resultados em vista.