Embora continue a usufruir louvação como salvo-conduto para o plástico transitar na economia circular, a vida real tem feito a reciclagem do material passar maus bocados, em especial no I Mundo, onde a União Europeia (EU) desponta como vanguarda global da legislação relativa aos polímeros recuperados. Conforme monitoramento da associação Plastics Recycling Europe (PRE), a capacidade total de plantas de reciclagem de plásticos que fecharam as portas na zona do euro em 2024 equivale ao dobro do saldo aferido em 2023 e a onda promete se intensificar este ano, relata matéria postada em 19/3 no site Sustainable Plastics. As razões aventadas da descida em espiral incluem o encarecimento da energia, escalada de importações concorrentes, resinas virgens acessíveis e a ascensão de pressões econômicas refreando o mercado europeu.
Apenas na Holanda, sete recicladoras fecharam as portas em 2024. A propósito, a empresa holandesa Cedo Recycling anunciou em 20/3 o fechamento de sua planta, há 40 anos na ativa em Geleen, com capacidade para regranular 80.000 t/a de resíduos de embalagens plásticas flexíveis. Provém, então, da adoção de medidas extremas desse naipe a grita da PRE para sensibilizar parlamentares da EU para sancionarem com urgência controles mais efetivos de importação de resinas recicladas e barrar seu desembarque caso estejam fora das especificações de sustentabilidade e segurança vigentes na zona do euro. Segundo a reportagem publicada, a UE produziu 7.1 milhão de toneladas de plástico pós-consumo em 2024 ou 7,8% a menos que o registrado em 2022. Pelo rastreio da PRE, a capacidade atual de reciclagem de plásticos no bloco político-comercial alcança 13.2 milhões de t/a, das quais 150.000 atribuídas à reciclagem química, reduto onde prevalece a tecnologia de pirólise.
O bicho também anda pegando na reciclagem americana. Tem dado o que pensar e falar o pedido de falência (Chapter 11 bankrupcy) impetrado na Justiça pela recicladora química Brightmark LLC. Segundo artigo de 18/3 no site Plastics News, a requisição refer-se a três subsidiárias da Brightmark vinculadas à sua unidade de pirólise em Ashley, no estado de Indiana. A trinca de subsidiárias acumula dívida apoiada por garantias de cerca de US$ 178.35 milhões e, no bojo desse montante, constam US$ 172.5 milhões em títulos de dívida para financiar projetos sustentáveis (green bonds) e US$ 5.585 milhões de um empréstimo-ponte concedido em 5/3. A Brightmark também deu calote no pagamento, agendado para 1/3, de obrigação da ordem de US$ 12.9 milhões.
A matriz Brightmark LLC pretende continuar a financiar a fábrica em Ashley, para manter as operações diárias e, mais à frente, reencaixar o negócio nos trilhos do crescimento a longo prazo. O pedido de falência é específico para esta unidade, não afetando outros negócios da Brightmark, entre eles a fábrica de reciclagem química apta a processar 400.000 t/a de resíduos plásticos em Thomaston, no estado da Georgia.
O clima incerto para a reciclagem de plástico nos EUA também veio à tona na palestra de Bill Wood, editor de economia de Plastics News, em palestra ministrada em 11/3 em fórum de sua publicação. “A economia circular deve incluir os plásticos, mas ninguém quer pagar pela sustentabilidade. Todos querem descartar coisas e tornar isso um problema para os outros”. No plano específico da reciclagem de plástico, Wood assinalou que “ o problema primário dela é que o mercado (norte-americano) não a aceitou e o setor plástico deve querer o que o mercado quer”. E completou: os mercados não são infalíveis, mas a livre escolha do mercado é o melhor caminho para promover a prosperidade e sucesso a longo prazo”.
A maré também está baixa para os lados de biopolímeros nos EUA, onde, por sinal, Trump nada na mão oposta estimulando a produção de fontes fósseis de energia, inclusive carvão. Na raia das fontes renováveis, repercute no mercado o pedido de falência, impetrado em 15/3, pela Danimer Scientific Holdings LLC. Conforme relatado pelo site Plastics News, a Dinamer, sediada no estado da Georgia, acumula dívidas de US$ 449.5 milhões e dispõe de ativos estimados em US$ 622.5 milhões. Entre seus credores sobressaem Basf, Mitsubishi Chemicls e Total Corbion PLA. A título de referência da performance a desejar, durante os nove meses iniciais de 2024, as vendas da Danimer, orçadas então em US$ 26.5 milhões, despencaram 26% versus mesmo período em 2023. Nas instalações em Winchester, estado de Kentucky, a empresa opera capacidades para gerar até 11.500 t/a de ácido polilático (PLA) e 25.000 t/a de poli-hidroxialkanoato (PHA).