Geomembranas constituem tecnologia de reservatório consolidada no Brasil. Por quais motivos, mesmo com o advento das crises climáticas, o uso delas no agronegócio permanece ultra distante da saturação? Tratam-se de problemas de acesso a investimentos, burocracia ou desinformação a respeito dos predicados das geomembranas entre os produtores rurais?
O uso de geomembranas no agronegócio brasileiro ainda tem um elevado potencial de crescimento. Isso se deve a uma série de fatores que variam conforme a região e o perfil produtivo dos agricultores. O Brasil tem dimensões continentais, com grande diversidade de realidades agrícolas. Desse modo, a decisão de investir em reservatórios impermeabilizados com geomembranas passa por aspectos técnicos, econômicos e regulatórios distintos. Em algumas regiões, a disponibilidade de recursos hídricos ainda favorece o uso direto de cursos d’água para irrigação, sem a necessidade de reservação. Muitos produtores rurais possuem outorgas para captar água de rios e açudes, o que reduz a urgência de investir em estruturas de armazenamento. No entanto, estados como Minas Gerais e Bahia já adotam políticas mais rigorosas e incentivam a construção de reservatórios para garantir maior segurança hídrica. Outro fator importante é a percepção dos produtores sobre a necessidade de impermeabilização. Em algumas áreas, especialmente no Sul, solos com maior teor de argila permitem a construção de reservatórios sem geomembranas, com perdas por infiltração relativamente controladas. Essa realidade, porém, não se aplica a regiões de solos mais arenosos, como oeste da Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins, onde a reserva hídrica é essencial para garantir a viabilidade da produção agrícola, devido à irregularidade das chuvas.
Além disso, uma parcela significativa da produção nacional ainda ocorre sob o regime de sequeiro, sem sistemas de irrigação. A introdução de tecnologias de irrigação eficiente tem avançado, mas há desafios relacionados ao custo de investimento inicial, acesso a crédito e, em alguns casos, à falta de conhecimento sobre os benefícios das geomembranas na redução da perda de água e na sustentabilidade do uso hídrico.
Portanto, a adoção das geomembranas no agronegócio brasileiro ainda tem um amplo espaço para ampliar, especialmente à medida que os produtores percebam os benefícios econômicos e ambientais dessa tecnologia. Com políticas públicas mais incentivadoras, maior acesso a financiamento e conscientização sobre a importância da gestão eficiente da água, a tendência é que o uso dessa solução se expanda nos próximos anos.
Poderia calcular, a título de referência básica, qual o mínimo investimento necessário à instalação de geomembrana numa área pequena e estimar a vida útil da geomembrana e seu custo-benefício, que é mérito da otimização do armazenamento hídrico e por evitar perdas por infiltração?
E quanto à vida útil da geomembrana?
Como dimensiona o custo-benefício desse tipo de armazenamento hídrico?
O principal benefício da geomembrana é a eliminação da perda de água por infiltração. É um fator crítico em solos arenosos, onde essa perda pode ser significativa. Além disso, o uso da geomembrana permite:
- Controle eficiente do nível da água, possibilitando o bombeamento nos horários de menor custo de energia, reduzindo assim despesas operacionais.
- Disponibilidade hídrica contínua, sem depender exclusivamente da sazonalidade das chuvas. Em tempos de mudanças climáticas e padrões irregulares de precipitação, essa previsibilidade é diferencial estratégico para a produção agrícola.
- Gestão de risco hídrico: um reservatório impermeabilizado garante segurança ao produtor, evitando perdas inesperadas por secas prolongadas ou estiagens imprevistas.
Fica claro, portanto, que o investimento em geomembranas não se resume apenas à retenção da água, mas à construção de um sistema eficiente de armazenamento, garantindo segurança hídrica, economia operacional e previsibilidade produtiva. O produtor que ainda não investe nessa tecnologia pode sentir os impactos financeiros e produtivos quando enfrentar períodos críticos de seca ou chuvas fora de época.
Como avalia a competitividade tecnológica, econômica e funcional da geomembrana versus sistemas concorrentes de armazenamento de águas para o agricultor?
Até o momento, não há soluções tecnológicas que ofereçam o mesmo equilíbrio entre custo, desempenho e durabilidade que as geomembranas de PEAD quando se trata de impermeabilização de reservatórios de água para o agronegócio. Os principais ‘concorrentes’ dessa tecnologia não são necessariamente outros materiais inovadores, mas sim alternativas tradicionais ou a ausência de impermeabilização. Podemos dividir as opções rivais em três categorias principais:
- Reservatórios sem impermeabilização – Ainda há produtores que optam por construir reservatórios sem revestimento, confiando na compactação do solo – principalmente em regiões com solos argilosos. No entanto, essa solução apresenta altas perdas por infiltração, variação na qualidade da água armazenada e necessidade de manutenção frequente, além de não ser viável em solos arenosos.
- Concreto armado – Outra alternativa possível é a construção de reservatórios em concreto. No entanto, essa opção é significativamente mais cara, tanto em custo inicial quanto em manutenção, além de demandar maior tempo e complexidade na execução da obra. Enquanto a geomembrana de PEAD é flexível, resistente a produtos químicos e apresenta alta durabilidade, reservatórios de concreto estão sujeitos a trincas e fissuras que podem levar a vazamentos ao longo do tempo.
- Outros geossintéticos – Nos últimos anos, surgiram algumas variações de geossintéticos para impermeabilização. No entanto, essas alternativas enfrentaram desafios operacionais e produtivos, como menor resistência mecânica, maior complexidade na instalação e durabilidade inferior ao PEAD, levando a prejuízos das indústrias e à descontinuidade da comercialização desses itens no Brasil.
Quais os mais recentes aprimoramentos introduzidos pela Nortène em suas geomembranas?
A propósito, qual é a composição standard do típico filme de PE para geomembranas?
É importante esclarecer que a geomembrana não é um filme multicamada, mas uma manta polimérica flexível, conforme definido pelo Manual Brasileiro de Geossintéticos (Vertematti, 2004). Diferente de filmes agrícolas ou industriais que utilizam múltiplas camadas para diferentes finalidades, a geomembrana é fabricada com estrutura homogênea, garantindo alta resistência mecânica, química e térmica.
A recomendação do GRI (Geosynthetic Research Institute) GM13, principal referência internacional para geomembranas, estabelece que a composição padrão da geomembrana de PEAD deve conter:
- 97% de resina virgem de polietileno – Responsável por proporcionar resistência mecânica, flexibilidade e impermeabilidade. O uso de resina virgem assegura estabilidade estrutural e longevidade ao material.
- 3% de aditivos, incluindo negro de fumo e antioxidantes –
:: Negro de fumo: atua como agente anti-UV, protegendo a geomembrana contra degradação causada pela exposição solar, prolongando sua vida útil.
:: Antioxidantes e estabilizantes térmicos: Previnem o envelhecimento precoce do material, mantendo suas propriedades mecânicas mesmo sob condições extremas de temperatura e exposição química.
Por que a geomembrana não é multicamada?
Bem diferente de filmes agrícolas, onde cada camada pode ter uma função específica (barreira térmica, difusão de luz, resistência mecânica etc.), a geomembrana precisa ter propriedades uniformes em toda a sua espessura. Isso garante que não haja pontos frágeis que comprometam sua impermeabilidade e durabilidade. Portanto, a geomembrana de PEAD segue um padrão rigoroso de composição e fabricação para garantir máxima eficiência em aplicações de armazenamento hídrico, mineração, aterros sanitários e outras áreas críticas.
Lacuna na mira do silo-bolsa, o déficit na capacidade brasileira de estocagem de grãos tornou-se um problema crônico. Por quais motivos o agronegócio e governo, mesmo diante dos prejuízos crescentes com essas perdas das safras de grãos, não se movimentam com intensidade para eliminar este gargalo tão nocivo para o setor?
O déficit na capacidade de armazenagem de grãos no Brasil é um desafio histórico que afeta diretamente a logística e a rentabilidade do agronegócio. Este cenário se deve a uma combinação de fatores:
- Volatilidade do mercado e incerteza econômica – o agronegócio opera em ambiente altamente dinâmico, com variações de preços, custos logísticos e políticas de incentivo que mudam de forma constante. O investimento em armazenagem exige planejamento de longo prazo, mas muitos produtores hesitam em imobilizar capital em infraestrutura diante das incertezas do mercado.
- Dificuldade de acesso ao crédito – embora existam linhas de financiamento para a construção de silos e armazenagem, o acesso ao crédito ainda é um desafio para muitos produtores, em especial os de médio e pequeno porte. Muitas vezes, as taxas de juros, exigências de garantias e prazos de pagamento não são compatíveis com a realidade do campo, dificultando a decisão de investir na própria estocagem.
- Mudança de cultura na comercialização – segundo o histórico, parte dos produtores brasileiros está habituada a vender a safra logo após a colheita, sem armazenar grandes volumes na propriedade. Esse modelo, muitas vezes necessário para garantir fluxo de caixa imediato, acaba dependendo da estrutura de terceiros (como armazéns de cooperativas e tradings). A mudança para um modelo de maior independência na estocagem demanda um processo gradual de adaptação e conscientização.
- Avanços e tendências na armazenagem – nos últimos anos, houve avanços importantes na busca por soluções mais ágeis e acessíveis, como o uso de silo-bolsa. Ele permite armazenagem temporária no próprio campo e reduz as perdas pós-colheita. Além disso, há um movimento crescente para a modernização de estruturas existentes, com automação e controle climático, otimizando a conservação dos grãos.
Conclusão: o setor está avançando na busca por soluções que reduzam o impacto desse gargalo logístico. Com a ampliação do acesso ao crédito, a adoção de novas tecnologias e maior conscientização dos produtores sobre a importância da armazenagem estratégica, a tendência é que esse déficit seja reduzido nos próximos anos.
O que falta ainda para o silo-bolsa de PE deslanchar com intensidade satisfatória como solução de armazenagem de grãos no Brasil, tal como ocorre, por exemplo, na Argentina? Como avalia o conhecimento prático sobre os predicados do silo bolsa entre agricultores daqui?
O uso do silo-bolsa no Brasil vem crescendo em ritmo acelerado e sua aceitação entre os produtores tem aumentado significativamente nos últimos anos. No entanto, ainda há espaço para uma adoção mais ampla. Na nossa visão, alguns fatores ajudaram a desacelerar esse crescimento, que poderia ter sido ainda maior:
- Histórico de materiais de baixa qualidade no mercado – nos primeiros anos de difusão do silo-bolsa no Brasil, houve a entrada de fornecedores que priorizaram custos baixos em detrimento da qualidade do material. Isso gerou experiências negativas para alguns produtores, que enfrentaram rasgos, menor durabilidade e falhas no armazenamento, criando um receio generalizado sobre a solução. Mesmo os fabricantes que sempre trabalharam com alto padrão de qualidade foram impactados por esse marketing negativo. Felizmente, com a profissionalização do setor e a oferta de produtos mais robustos, essa percepção tem mudado aos poucos.
- Visão inicial de concorrência com silos fixos – durante algum tempo, o mercado de armazenagem tradicional via o silo-bolsa como um concorrente, o que gerou resistência e questionamentos sobre a solução. Com o tempo, o setor percebeu que as duas tecnologias não competem, mas se complementam. O silo-bolsa é uma alternativa estratégica para períodos de colheita, permitindo maior flexibilidade ao produtor, enquanto os silos estáticos seguem fundamentais para armazenagem de longo prazo. Hoje em dia, já existe um entendimento mais claro sobre essa complementaridade, favorecendo o avanço do silo-bolsa no Brasil.
O conhecimento prático sobre o silo-bolsa entre agricultores brasileiros – o conhecimento sobre os benefícios do silo-bolsa tem evoluído no Brasil, mas ainda há desafios na disseminação de informações técnicas e melhores práticas de uso. Muitos produtores já compreendem que essa solução permite armazenar a produção na própria fazenda, reduzir custos logísticos e ampliar a capacidade de armazenagem sem necessidade de grandes investimentos em infraestrutura fixa. No entanto, o manejo correto do silo-bolsa ainda precisa ser mais difundido, garantindo que os agricultores saibam como utilizá-lo adequadamente para evitar perdas e maximizar sua eficiência.
Com a crescente profissionalização do setor e a disseminação de boas práticas, a tendência é que o silo-bolsa se torne cada vez mais uma solução consolidada no Brasil, assim como ocorre na Argentina.