Resinas: o impacto das turbulências nos preços no Brasil

Aumento da alíquota de importação complicou o repasse dos reajustes recebidos nos polímeros pelos transformadores para indústrias finais, analisa Simone de Faria, da Townsend Solutions
Importações: colisão entre barreira tarifária e a relação entre oferta e demanda de resinas.
Importações: colisão entre barreira tarifária e a relação entre oferta e demanda de resinas.
Mesmo tendo vigorado a partir do quarto trimestre, a subida na alíquota de importação de resinas foi o divisor de águas na conjuntura turva de 2024 para o setor plástico brasileiro, bem mais que catástrofes climáticas, guerras internacionais ou paradas deliberadas ou não de plantas petroquímicas. O impacto do embate entre as importações encarecidas, ainda mais num país de produção doméstica hoje insatisfatória para vários grades, e o cotejo entre oferta e demanda conturbado por inflação, dólar e juros altos e com várias incógnitas estendidas para 2025, são analisados na entrevista a seguir por Simone de Faria, diretora da consultoria Townsend Solutions para a América do Sul.
Simone de Faria: momento complicado para a transformação de plásticos.
Simone de Faria: momento complicado para a transformação de plásticos.

Em média, quanto por cento aumentou os preços das resinas nacionais mais consumidas em 2024, exercício no qual foram ampliadas de 12,6% para 20% as alíquotas de importação desses materiais? Compare com o aumento % dos preços médios internacionais em 2024 desses mesmos polímeros. Como interpreta o comparativo?

Até dezembro, o excesso de produto no mercado local e a necessidade de redução de estoque ao final do ano fiscal, não favoreceram aumentos nos preços internamente, mesmo com a alta do imposto de importação e a forte subida do dólar. Considerando a elevação de 12,6% para 20% na alíquota e os 10% de variação cambial no período de setembro a dezembro, os preços poderiam ter subido até 17%. Os preços só subiram em janeiro último e há indicação de elevação para fevereiro. Os novos preços devem contemplar toda essa elevação, embora agora o câmbio esteja agindo contrariamente.

Como compara esse quadro com o aumento (%) dos preços médios internacionais em 2024 dos mesmos polímeros?

Os preços praticados no Brasil têm como referências os preços internacionais dos EUA e China. Os preços CFR (nota – termo comercial que define quando o custo, risco e responsabilidade de um produto são transferidos do vendedor para o comprador) ofertados ao mercado brasileiro ainda sofrem o impacto do frete e, se vindos da Ásia, podem adicionar até 25% no valor do produto. Além disso, o câmbio interfere fortemente numa comparação entre os preços internacionais e locais. No fim de toda essa matemática ainda resta a questão tributária e necessidade de caixa de algumas empresas revendedoras. E o mais importante a considerar: a relação entre oferta e demanda. Então, a comparação de preços não é tão direta.

Os preços de polietileno e PVC nos EUA caíram até novembro, ficaram estáveis em dezembro e voltaram a subir em janeiro de 2025. Já os preços de PP na China estão muito estáveis desde setembro e espera-se que subam após o feriado de ano novo (29/1) na China.

Como avalia a influência do encarecimento das alíquotas de importação de resinas em 2024 sobre os preços de produtos finais básicos e essenciais no mesmo período?

O momento é complicado para a indústria de transformação que, decerto, vai buscar repassar qualquer elevação nos seus custos. O problema é a velocidade em que o repasse acontece, o que pode acabar culminando em descompasso no fluxo de caixa e problemas de crédito para algumas empresas. Ao longo da cadeia do plástico, a concorrência vai aumentando, reduzindo o poder das empresas em negociar preços com grandes indústrias e varejistas. O transformador fica no meio, pressionado pelos dois extremos. Aqueles com maior capacidade financeira se sobressaem em relação aos menores, que acabam sendo empurrados para a informalidade, ou fecham as portas. Este é um primeiro complicador. O segundo é que, havendo elevação nas tarifas – e, consequentemente, nos preços –, pode ser mais vantajoso importar o produto final, já manufaturado e/ou embalado, prejudicando toda a indústria nacional. Lembro, a propósito, que a Argentina reduziu o imposto de importação e está aqui do nosso lado, com benefício do Mercosul para exportar para o Brasil vários produtos acabados.

Em 2024 foi noticiado que a Braskem, monopólio brasileiro de poliolefinas e o maior dos dois produtores locais de PVC, é a companhia brasileira mais agraciada com benefícios fiscais. Diante disso perde ou não sustentação a grita do setor petroquímico contra as isenções fiscais desfrutada por transformadores com plantas na Zona Franca de Manaus?

Os benefícios obtidos pela Braskem podem parecer injustos, aos olhos da indústria de transformação, mas têm todo o amparo legal. O efeito Manaus prejudica não somente a Braskem, mas uma série de outras empresas que concorrem com os produtos importados e redirecionados para a região sudeste com vantagens fiscais. Nesse caso, o aumento do imposto de importação para 20%, só aumenta a vantagem das empresas localizadas em regiões incentivadas, como é o caso de Manaus e Santa Catarina. Não é à toa que os volumes importados não caíram, apesar da elevação de imposto.
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