China deve agravar crise no setor plástico mundial em 2025

Decorrência das exportações em alta e importações em baixa
China deve agravar crise no setor plástico mundial em 2025

Do empacado excedente de resinas à ressurreição do protecionismo com Trump, passando pela indústria europeia estropiada e o PIB da China avançando apenas um dígito daqui por diante, uma barafunda de coordenadas sinistras desencoraja no setor plástico uma praxe na mídia ao fim de dezembro: as previsões para o novo ano. Mas sempre há futurólogos de carteirinha que, não importa quão cinzenta a conjuntura, topam ousar prognosticar o que vem por aí, caso de John Richardson, blogueiro do site da consultoria Icis focado no mercado asiático. Por esta razão a China, nº1 mundial nas importações de matérias-primas e nas exportações de manufaturados, protagoniza as projeções para 2025 do analista.

Em texto postado em 11/12, Richardson dá seu pontapé inicial com a certeza de que a China registrará em 2025 a entrada em cena de mais capacidades de resinas pela rota da nafta tornada competitiva por sua integração upstream a refinarias.Por tabela, o país deve ampliar no período em questão a diversidade de químicos e polímeros nos quais desfrutará plena autossuficiência produtiva. No plano recente, isso ocorreu no âmbito de PP, ácido tereftálico purificado e estireno, produtos hoje exportados com regularidade pela China, ilustra Richardson. No mais, ele prevê que as fábricas chinesas devem operar em 2025 com ocupação superior aos níveis até aqui registrados, pois, apesar do consumo interno menos intenso, cumprirão a estratégia de Pequim de combater mazelas domésticas como o colapso imobiliário, endividamento do governo e o nível de desemprego na população jovem por vias como as exportações para regiões relevantes em termos de geopolítica e de suprimento de matérias-primas para a manufatura e insumos como alimentos para a população chinesa. Uma referência são as exportações de trigo para a China, iniciadas em dezembro de 2024.

Por conta da geopolítica e custos, Richardson confia na continuidade, em 2025, dos movimentos de realocação de capacidades de manufaturados da China para países tipo Turquia, México, Índia e Vietnã. O blogueiro reconhece que Trump recrudescerá as barreiras comerciais para importações pelos EUA, mas contrapõe que os EUA se manterão dependentes de bens trazidos do exterior com preço competitivo. Portanto, mesmo com a adoção de medidas protecionista, o fato é que esses produtos continuarão a desembarcar nos EUA vindos de algum lugar do mundo emergente. Além disso, insere Richardson, é tamanha a complexidade da integração das cadeias mundiais de suprimento para a manufatura que não faz sentido a hipótese de se ousar alterar esse esquema intrincado com ações radicais de isolacionismo comercial.

Desde 2021, com o fim do superciclo mundial de investimentos petroquímicos iniciado em 1992, o analista do site Icis assinala que a China vem pisando fundo nas exportações de produtos provenientes de todos os elos da cadeia manufatureira. Tem tirado, assim, espaço no exterior de concorrentes nos segmentos de baixo, médio e alto valor agregado. Richardson ilustra esse ambiente tumultuado com a recente mudança da China de importador para exportador regular de PP, ABS e policarbonato (PC). Por tabela, o blogueiro prevê para 2025 uma torrente mundo afora de sobretaxas antidumping e outros recursos protecionistas contra a China que, por sua vez, replicará à altura.
Richardson repisa que as interrupções sofridas no frete marítimo internacional no período da pandemia e, desde fevereiro de 2024, com o bombardeio pelos guerrilheiros houthis de cargueiros no Mar Vermelho, evidenciam uma advertência vital para o comércio exterior de polímeros e químicos em 2025. Segundo reitera o comentarista, só se darão bem no exercício os distribuidores, traders e operadores logísticos que elejam como core values de seus serviços os custos, eficiência e pronta entrega.

Devido ao desencanto geral com a demanda chinesa em fogo brando e em razão da magnitude dos cortes necessários nas capacidades químicas/petroquímicas para se instaurar uma relação mais compatível entre oferta e demanda globais, Richardson não vê como um novo superciclo de expansões de capacidades possa acontecer no setor em 2025. Ele trata essa conjetura como abstracionismo, uma hipótese a ser repensada como oportunidade de negócio daqui a, no mínimo, três anos. Em complemento ele lembra que, além da incessante busca de independência produtiva pela China em resinas e químicos, o Oriente Médio permanece investindo na produção das mundialmente superofertadas poliolefinas, na garupa do eteno extraído do etano obtido do gás presente nas mega reservas locais de petróleo. O analista completa a explanação assegurando não haver no planeta um país ou região que, se bafejado com crescimento surpreendente, compense as perdas comerciais advindas da desaceleração da China.

Richardson exemplifica o descompasso entre excedentes de capacidade e demanda na petroquímica mundial com o desalinho no reduto de eteno. Pela régua do analista, lastreado no banco de dados da consultoria Icis, seria necessário, para melhor conciliar (e monetizar) oferta e procura, cortar a capacidade mundial do petroquímico básico em 1.2 milhão de t/a entre 2024 e 2030. Mas ela continua a inchar, em particular na Ásia.
Não à toa, 2025 é o ano da cobra no calendário chinês.

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