A gema do novo

Recessão não amaina as sacadas disparadas pela Plastipak
Leite UHT e Nestlé Ninho: PET abre caminho em nichos.

Plástico é sensor informal da economia e, num ano recessivo, a casa cai sem discriminação para o consumo de resinas. Uma das alternativas para um material reduzir o impacto das perdas e danos é avançar sobre o quintal dos outros, ensina PET em particular. De poucos anos para cá, o polímero tem conquistado espaço em redutos nos quais, por exemplo, a caixinha cartonada cantava solo, tipo leite longa vida e sucos prontos. Com esse histórico em mente, a Plastipak, transformadora norte-americana referência em embalagens rígidas, redobra a aposta em lançamentos no país, endossando o preceito de que a crise passa e o mercado fica.

Para chegar ao shelf life de quatro meses proporcionado pela embalagem cartonada a leites UHT, a Plastipak desenvolveu, a quatro mãos com parceiro em sigilo, um aditivo capaz de assegurar proteção à luz de 99,5% para a garrafa de poliéster. O resultado foi um recipiente branco por fora e escuro por dentro. “O consumidor não toparia abrir mão dessa vida de prateleira para experimentar um novo frasco”, considera Miguel Vieira, gerente de desenvolvimento da operação brasileira da transformadora . A embalagem conta com tecnologia monocamada e é até 45% mais leve que similares na praça. “Para se ter uma ideia, leites pasteurizados fornecidos em frascos transparentes têm shelf life de 15 dias apenas”, ele compara. A receptividade ao desenvolvimento não poderia ter sido melhor. “Nossa garrafa tem um melhor sistema de abertura e fechamento, além de apresentar excelente resistência ao impacto”.

A tendência de redução de gramatura também não passa despercebida. A empresa, por sinal, está perto de lançar uma garrafa de apenas 9,7 g para 500 ml de água mineral sem gás. “O padrão atual no Brasil é 12 g”, o gerente encaixa. De acordo com ele, a nova embalagem será a mais próxima do padrão norte-americano, mercado onde as garrafas para esse mesmo volume chegam a 7,7 g. “Essa transposição para cá não é um problema de tecnologia de matéria-prima ou maquinário, o que atrapalha são as questões logísticas brasileiras”, ele justifica. Muitas vezes, os centros de consumo estão longe das fábricas e dos envasadores e, com isso, os produtos precisam viajar longas distâncias em estradas precárias. “Essas condições não contribuem para uma redução mais significativa do peso das garrafas. Porém, uma solução abaixo de 10 g já é um passo bastante importante”, o porta-voz enfatiza. Para chegar a esse patamar, a Plastipak considerou ainda as exigências dos consumidores, que podem não aceitar bem uma garrafa leve demais. “Pensamos sempre no design do frasco. Nossa solução proporciona uma experiência de consumo sem variações desde o momento de abertura até a ingestão total do líquido”.

No reduto de sucos prontos, o poliéster no Brasil só começou a progredir há pouco, enquanto no mercado internacional esse movimento já está consolidado. “Lá fora, dificilmente encontramos sucos em embalagens cartonadas”, constata o especialista da Plastipak. “PET é excelente para esse tipo de aplicação, oferecendo liberdade de design e um ótimo sistema abre e fecha”. Sucos, ao contrário do leite, podem ser fornecidos em recipientes transparentes. “Enquanto lácteos exigem barreira à luz, sucos necessitam de proteção ao oxigênio”, ele esclarece. Essa propriedade é obtida por meio de um aditivo chamado MonOxbar, que assegura alta transparência e shelf life de até um ano. Se o envase for asséptico, a embalagem dispensa refrigeração, completa Vieira.

As soluções Plastipak, por sinal, vão além do segmento de bebidas. Um aditivo desenvolvido pela empresa desmonta a teoria de que produtos clorados de limpeza não podem ser envasados em PET. “Frascos desase tipo já são produzidos por dois clientes no Brasil e apresentam diversas vantagens perante modelos de polietileno de alta densidade (PEAD)”, Vieira certifica. Por ser injetado e não soprado junto com o corpo da embalagem, ele comenta, o gargalo garante assim estanqueidade e menos riscos de vazamento. “O que os consumidores mais detestam no manuseio de líquidos clorados é justo o vazamento, pois o líquido mancha a roupa”, esclarece o gerente, defendo ainda que PET bate PEAD em resistência ao impacto.

A Plastipak está no Brasil desde 1997 e opera três plantas. Duas delas, em Manaus (AM) e Recife (PE), são dedicadas exclusivamente à produção de pré-formas. A terceira, em Paulínia (SP), é multiuso e transita por injeção e sopro. No país, a transformadora não possui sistema in house, mas não é um modelo de negócio a ser descartado das possibilidades. “Temos três operações desse tipo nos Estados Unidos e uma na Itália”, informa Vieira. No mundo, os negócios estão repartidos entre poliolefinas, com 40% do total, e PET, com 60%. Por aqui, as atividades são 100% focadas em poliéster.

No Brasil, aliás, os principais clientes da Plastipak são as indústrias de água mineral, refrigerantes e de óleos vegetais. O portfólio compreende frascos de 50 ml a 20 l, situa Flávia Quintanilha, gerente de inteligência de mercado. Essa diversidade ajuda a empresa a continuar crescendo em conjunturas aziagas, pois os consumidores tendem a se adaptar às condições desfavoráveis e migrar entre opções e tamanhos de embalagens. “As pessoas não abdicam de marcas, mas optam por outros formatos”, ela nota. Volumes menores, de preço mais baixo, e frascos tamanho família, com melhor custo-benefício, são bons exemplos desse movimento. “Os combos representam outra solução atraente”, ela julga.

No Brasil, a Plastipak não fornece embalagens com conteúdo reciclado porque ainda não tem demanda da clientela nesse sentido. No entanto, caso a situação se reverta, a empresa já possui dois parceiros recicladores homologados que fornecem matéria-prima recuperada com aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para contato com alimento. Nos Estados Unidos, o grupo criou e comercializa um recipiente de PET com alça para sucos, recurso no passado viável somente em PEAD. “Foi uma demanda que partiu de clientes em busca de funcionalidade da alça numa garrafa transparente”, ele constata. Era possível fazer essa embalagem de PETG, mas, por se tratar de um poliéster modificado, a reciclagem ficava comprometida. “Trabalhamos junto a um fornecedor de resina para desenvolver um tipo de PET que permitisse a incorporação da alça”, o dirigente lembra. Hoje, a solução é utilizada no mercado norte-americano por ninguém menos que a Coca-Cola em suas marcas de sucos Simply Orange e Minute Maid. •

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