Califórnia acusa ExxonMobil de mensagem enganosa no discurso ambiental

Ação do governo estadual responsabiliza empresa por poluição plástica
Califórnia acusa ExxonMobil de mensagem enganosa no discurso ambiental

Com sangue nos olhos e faca nos dentes quando diante de pecados ambientais, a Califórnia sapecou em 23/9 ação contra o conglomerado petrolífero e petroquímico ExxonMobil sob a alegação de enganar há décadas, a respeito de reciclagem, a população do estado norte-americano mais rico e populoso, relata artigo no site Plastics News. Com poder de influência sobre outras entidades da Federação dos EUA, o processo em trâmite no Judiciário californiano não pega leve em suas 147 páginas. Trecho exemplar: “Através da enganadora mensagem ao público sobre reciclagem, a ExxonMobil é responsável por uma das mais devastadoras crises globais ambientais  do nosso tempo: a crise do lixo e poluição plástica”.

Formadora mundial de opinião e preço em PP e PE e 100% integrada ao gás natural de bacias no Golfo dos EUA e mineração de xisto, a ExxonMobil é apontada pelo governo da Califórnia como o maior produtor de plásticos que viram lixo no estado. O processo  também sublinha que a companhia tem engambelado californianos por quase 50 anos com  promessas de que a reciclagem seria a bala de prata para findar com a crescente calamidade da sucata plástica no ecossistema.  “A ExxonMobil sabe que as reciclagens mecânica e avançada nunca conseguirão processar mais que uma esquálida fração do lixo plástico produzido”, salienta um trecho da ação judicial.

Rob Bonta
Rob Bonta: mensagem enganosa sobre eficácia das reciclagens mecânica e avançada de plástico pós-consumo

Um dos maiores investidores mundiais em reciclagem química de poliolefinas, a ExxonMobil é o único infrator nominalmente mencionado no processo. Mas o procurador geral Rob Bonta, que abriu essas investigações em 2022, deixou espaço reservado nas páginas para citação de outros contraventores, desde que seus crimes ambientais sejam aferidos e comprovados, deixando temerosa a cadeia norte-americana de eteno/resinas commodities.

Em paralelo, a equipe da procuradoria geral investiga entidades e organizações do setor plástico e sua reciclagem com quem a ExxonMobil mantém há anos laços de relacionamento. “Por décadas, a ExxonMobil usou e bancou representações da cadeia para disseminar mentiras sobre os benefícios e reciclabilidade dos plásticos”, sustenta a ação. Na argumentação, essas representações são alojadas na categoria de “grupos da indústria”, alinhando os  conhecidos órgãos American Chemistry Council, Plastics Industry Association, Vynil Institute. Alliance to End Plastic Waste, Recycling Partnership, Association of Plastic Recyclers e America’s Plastic Makers, repassa a reportagem de Plastics News.

O passo seguinte do promotor geral Bonta, que pleiteia bilhões de dólares de indenização, será a comprovação das suas alegações perante Corte Superior da Califórnia, em São Francisco, onde a ação foi ajuizada.

Por sua vez, a ExxonMobil rebateu em comunicado a denúncia de Bonta, informa a cobertura do New York Times (NYT), declarando o governo californiano como ciente há décadas do fiasco do seu programa de reciclagem de plásticos. “Quer jogar nos outros a culpa pelo seu fracasso”, afirma a companhia, esbravejando em outro trecho do release que, “em vez de nos processar, o governo deveria ter nos procurado para corrigir o problema e manter o plástico fora dos aterros”. Por seu turno, reporta o NYT, Bonta trombeteou na mídia o impulso dado à poluição plástica pelo mito da reciclagem e apontou a ExxonMobil como líder na perpetuação da balela.

A ofensiva de Bonta abre novo front na queda de braço entre petrolíferas e questões ambientais nos tribunais, interpreta o artigo de 23/9 no NYT. Nos EUA, mais de 12 governos estaduais e municipais (Califórnia inclusive) estão processando essas indústrias por responsabilidade nas crises climáticas. Asseveram que, sequiosas por lucros, as indústrias de petróleo e gás têm passado a perna no público com retórica empoleirada na sustentabilidade.

Até o fechamento desta matéria nenhuma sentença foi anunciada.

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