Cabeça pensante da evolução do plástico, a Europa patina em crise socioeconômica e desintegração industrial, deixa claro Paul Hodges, CEO da consultoria inglesa New Normal, na edição de setembro de seu relatório mensal ao mercado. O pavio dessa dinamite existencial já foi aceso, percebe o analista ao dissecar o conteúdo do novo estudo “O Futuro da Competitividade Europeia”, de Mario Draghi, presidente do Banco Central do continente.
“A União Europeia (UE) ingressa no primeiro período de sua história recente em que o crescimento econômico não é respaldado pelo aumento da população”, percebe Draghi no seu trabalho. “Por volta de 2040, a projeção é de que, se mantido o atual estado de coisas, a força de trabalho encolherá, daí por diante, em média dois milhões de pessoas ao ano. Precisamos aguçar a produtividade para direcionar o crescimento da economia pois, se permanecer a média atual constatada desde 2015, o PIB da UE ficará constante até 2050 – e numa conjuntura de necessidade de investimentos cujo financiamento é condicionado pela expansão ainda maior da economia da zona do euro”.
Se a UE não se tornar mais produtiva, alerta Draghi, não terá como acumular a liderança em novas tecnologias e o status de estrela guia mundial em responsabilidade climática nem poderá atuar como ator independente no palco global. “Não temos como financiar, em parte ou 100%, as ambições alimentadas pela UE”.
A demografia irrompe, nesse contexto, feito granada de pino prestes a ser tirado. A população mundial de até 25 anos segue crescendo, nota Hodges, mas isso é mérito principalmente das áreas mais pobres do planeta. Por sua vez, ele segue, o contingente mundial de 55 anos em diante já é a principal força do aumento populacional global. A UE, é evidente, está no camarote das regiões desenvolvidas, onde o incremento do efetivo de jovens perde longe para o crescimento do número de idosos. Entra Hodges: “o link entre idade e gastos torna-se fator crítico se considerarmos que o consumo doméstico responde por 60-70% do PIB da UE”, assinala o consultor, deixando claro o impacto do consumo da terceira idade, bem inferior ao de gente moça.
Draghi frisa no estudo a premência de se transformar a economia da UE tendo a sustentabilidade como seu fio condutor e fonte para a descoberta de tecnologias e mercados. “O tempo para debater acabou”, ele frisa no relatório. “Sem passarmos às ações, teremos de comprometer a previdência social o meio ambiente e a liberdade na Europa”.
Produtos químicos, dada sua abrangência de aplicações e mercados, são indicadores do humor da economia. Na UE, a indústria plástica reflete o clima de crista abaixa. O ambiente pretejou desde 2021, quando Putin, na guerra com a Ucrânia, limitou a oferta e salgou os preços do gás russo, gerador de grande parcela da energia consumida pela UE. O encarecimento da eletricidade inviabilizou a competitividade da petroquímica europeia e, sob a pressão do excedente global de resinas, o continente hoje empalidece como produtor e toma vulto como importador de termoplásticos da Ásia e EUA. A nova leva de plantas de classe mundial nessas duas regiões também demonstrou a defasagem em escala, tecnologia e custos das fábricas de resinas da UE, em regra fragilizadas também pela falta de integração upstream. Daí a avaliação da sobrevida dessas unidades num cenário tão adverso hoje em andamento nas companhias controladoras. Em 2023, por exemplo, a LyondellBasell fechou na Itália planta de 260.000 t/a de PP, então com 41 anos de ativa, e estuda fazer o mesmo com outras unidades na zona do euro.
Outra enxaqueca: estandartes da indústria química/petroquímica europeia passaram a expandir suas capacidades por meio de empreendimentos fora do continente, caso do destaque dado para a China, antes da crise econômica atual, na abertura de plantas de poliamidas. Ainda nessa trilha, a cruzada ambientalista tem dificultado para petroquímicas a obtenção de autorizações do poder público para construir ou operar fábricas na UE, a exemplo do contestado complexo olefínico Project One da corporação inglesa Ineos, em montagem perto do porto de Antuérpia, Bélgica, e prevista para terminar no final de 2026. A reputação ambiental do plástico também ajuda a explicar a noticiada aversão de europeus da nova geração a trabalhar em companhias do malvisto setor, carente de pessoal qualificado.