Packing Group deslancha em gofrados e stretch com compra da Soft Film

Aquisição turbina dianteira do conglomerado em setores-chaves de flexíveis
Fraldas e absorventes: crescimento do consumo determinado pelo poder aquisitivo e mercados além do infantil.
Fraldas e absorventes: crescimento do consumo determinado pelo poder aquisitivo e mercados além do infantil.

Por montante não divulgado, o Packing Group, pilar das embalagens flexíveis no Brasil, adquiriu o controle da transformadora Soft Films, obtendo assim a liderança nacional num reduto de alto valor agregado e poucos transformadores, os filmes gofrados (ou respiráveis) para fraldas e absorventes femininos, e engrossando sua supremacia em stretch no país.

Com duas fábricas de gofrados, o Packing Group já ostentava, antes da absorver a Soft, uma musculatura sarada nesses filmes respiráveis, efeito da construção de uma unidade e, anos depois, da compra de uma planta concorrente. Foi esta última via a trilha seguida pelo Packing Group no caso da Soft Film, transformadora  constituída em 2009 com capital de R$ 9 milhões, ativada em 2010 no município mineiro de Extrema e com planta de stretch e gofrados hoje a cargo de três linhas de coextrusão cast.

Alberto Dayan, sócio e dirigente do grupo Zaraplast, potência em flexíveis atuante desde 1967, não quis falar a Plásticos em Revista sobre a venda da Soft Film em seu 15º ano de existência. Alegou que a transformadora vendida não faz parte da Zaraplast e ser norma do seu grupo não conceder entrevistas.

O site Econodata lista como acionistas da Soft Film Alberto Dayan, Alexandre Leon Teig, Benami Teig, Eli Kattan e Jaime Arion Teig. Já o site CNPJ.BIZ, inclui, além dos citados, Zaki Kattan e Sonia Leia Teig Schartzmann no quadro de acionistas. Ambos os sites mencionam como controladores da Zaraplast Alberto Dayan, Eli Kattan, Fredy Efraim Dayan, Ramon Dayan e Zaki Kattan.

No seu site, a Soft Film se apresenta como “coligada da Zaraplast” e no portal do grupo Zaraplast figura no mostruário de flexíveis oferecidos a categoria “fraldas e absorventes”. Na voz corrente na praça, não se sabe de outra fonte de gofrados para a Zaraplast além da Soft Film.

Penumbras e labirintos societários à parte, com essa aquisição o Packing Group eleva de 15.000 para 33.000 t/a a sua capacidade gofrados e a de stretch salta de 120.000 para 140.000 t/a, projeta o diretor comercial Paul Reiter. Nesta entrevista, ele ressalta a magnitude da compra da Soft que, além de alargar a hegemonia em stretch e firmar a liderança em gofrados o Packing Group, o ilumina entre os principais consumidores de poliolefinas do Brasil.

Paul Reiter: plano de aliar produção de gofrados para descartáveis higiênicos com ingresso em nãotecido.
Paul Reiter: plano de aliar produção de gofrados para descartáveis higiênicos com ingresso em nãotecido.

Estimativas setoriais situam o consumo atual de filmes gofrados na faixa de 80.000 t/a, com base num histórico de crescimento na média anual de 5% nos últimos 10 anos. Concorda ou não e por quais motivos? Em 2016, a Braskem estimava a produção nacional do gofrado em 85.000 t/a. Qual o volume total atingido em 2023?Filme gofrado para o mercado de HD (hygiene disposables –descartáveis higiênicos), cuja maior participação compete aos fabricantes de fraldas, gira em torno de 50.000 t/a. A referência de  85.000 t/a assinalada na pergunta deve englobar  gofrados para outras aplicações. O cenário atual revela superoferta do filme para HD, pois a capacidade instalada no Brasil gira em torno de 60.000 t/a.

Qual a sua estimativa de de crescimento do consumo e produção nacional do gofrado este ano?
Segundo pesquisa de mercado da Nielsen, esse mercado tem crescido na faixa de 5 a 10% ano. O incremento depende do comportamento da demanda por nicho de HD. Em regra, fralda infantil cresce algo menos de 5% anuais, enquanto a geriátrica 10% e as vendas de absorventes femininos evoluem à média anual de 6%. Quanto às importações existentes de gofrados, provêm da América do Sul (nota: Argentina e Colômbia) e Ásia.

Como o Packing Group reage a esta conjuntura?
Estamos aumentando a capacidade para a produção de gofrados com mais duas linhas de extrusão, à parte o parque fabril da Soft . A primeira delas parte ainda neste semestre na unidade em Camaçari, na Bahia, e a segunda em 2025, na fábrica em 3 Rios (também dedicada a stretch), no Rio de Janeiro, praticamente dobrando sua capacidade instalada.

O Packing Group partiu em 2011 a produção de gofrados em em 3 Rios e em 2016 dobrava a capacidade com a aquisição da planta da transformadora Infiana em Camaçari. Em 2023, o grupo rodou essa unidade de negócios com qual nível de ocupação da capacidade instalada total? É o negócio do grupo que apresenta maior intensidade de crescimento e maior valor agregado?
Na verdade, o grupo entrou nesse mercado em 2005. Em 2011, a capacidade foi ampliada com a unidade Guanapack, em 3 Rios. Em 2016 compramos do Deutsch Bank a fábrica da Infiana na Bahia. Hoje em dia, rodamos a operação de gofrados com 80% de ocupação. É um mercado que obviamente olhamos com carinho, como prova a compra da Soft Film, mas temos outros negócios tão ou mais importantes no portfólio, seja pela intensidade de crescimento ou em termos de valor agregado.

Por que o Packing Group optou, pela segunda vez, por comprar uma planta concorrente em gofrados em vez de erguer uma unidade própria nova em folha?
A compra da Soft faz muito sentido para nós, por conta da tecnologia de sua fábrica, especializada em filmes como os específicos para absorventes femininos e fraldas geriátricas, bem como em termos de estratégia para nos consolidarmos no mercado de gofrados. A Soft contribui para nos firmar no topo dos fornecedores desses filmes respiráveis, aliás uma liderança que já desfrutamos em stretch.

Todas as plantas de gofrados do Packing Group, inclusa a da Soft Film, rodam em locais incentivados. Isso acontece também com a concorrência?
Hoje em dia, é difícil encontrar no Brasil uma empresa de embalagens flexíveis que não esteja em zona incentivada. Ou seja, o benefício fiscal deixou de ser uma vantagem faz tempo.

Como avalia possibilidade de fortalecer sua unidade de negócios de gofrados com uma fábrica própria de nãotecidos de PP específicos para descartáveis higiênicos?
Estamos analisando esse investimento numa máquina para nãotecidos. Quem sabe venha alguma novidade!

Com capacidade acima de 200.000 t/a de flexíveis, o Packing Group atingiu uma musculatura mais que suficiente  para cobrir seus mercados no Brasil. Por que o grupo não adere à tendência de  internacionalização para valer do seu negócio, fincando plantas nos centros mundiais em alta (México, EUA, Índia, Oriente Médio etc), em vez de limitar-se a exportações?
Estamos olhando algumas oportunidades, principalmente nos EUA e Europa. Hoje temos uma estrutura interna bastante robusta que nos permite dar esse passo.

 


ABIEF

PE Gofrado: este filme não queima

Rogério Mani: consumo nacional de gofrados para descartáveis higiênicos evolui 4-6% ao ano.
Rogério Mani: consumo nacional de gofrados para descartáveis higiênicos evolui 4-6% ao ano.

“O segmento de fraldas e absorventes femininos tem demandado em média 50.000 t/a de filmes gofrados”, estima Rogério Mani, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief). “A projeção de crescimento para este ano não vai muito além de 5%, pois o poder de compra do brasileiro tem dado prioridade a alimentos da cesta básica, produtos de primeira necessidade”. Nos últimos 10 anos, dimensiona o dirigente, a procura no país por gofrados para descartáveis higiênicos tem evoluído à média anual de 4% a 6% e Mani confia numa expansão mais estável “por se tratar de um segmento de flexíveis maduro”.

Além da Soft Film, recém-incorporada ao concorrente Packaging Group, o presidente da Abief considera que o reduto de gofrados para descartáveis higiênicos, em regra de até três camadas, hoje comporta de oito a 10 transformadores no Brasil, nenhum deles por sinal verticalizado no nãotecido de PP, componente que complementa a presença do plástico em fraldas e absorventes. Na mão oposta, não há indústria de nãotecido na praça com braço estendido na coextrusão de gofrados de espessura declinante. Mani explica essa peculiaridade do ramo pela lógica econômica. “ A produção de nãotecido requer investimento muito maior que uma planta de gofrados e a sua oferta supera a demanda”, ele argumenta. “Por sua vez, para um transformador desse filme a verticalização no nãotecido exigiria inversões bem acima do habitual no seu segmento que, além do mais, exige aportes de recursos em tecnologia e escala, inclusive para o transformador conseguir boas condições de compra ao negociar com os fornecedores de PE”.

 


ABINT

Nãotecidos: mercado de descartáveis higiênicos avança aos poucos

Mateus Mesquita: escalada da incontinência urinária influi no consumo de fraldas no Brasil.
Mateus Mesquita: escalada da incontinência urinária influi no consumo de fraldas no Brasil.

“No ano passado, fraldas e absorventes mobilizaram 61% da demanda brasileira por nãotecidos spunmelt de PP”, distingue Mateus Mesquita, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de NãoTecidos e Tecidos Técnicos (Abint). Segundo o dirigente, o consumo interno desses nãotecidos tem progredido com lentidão, “devido à interação de fatores negativos como a redução na população de bebês e na gramatura dos materiais utilizados nos descartáveis higiênicos e fatores positivos como o aumento do mercado de incontinência urinária e do uso de produtos pants (roupa íntima descartável para usuários sujeitos a severa incontinência urinária).

Pela lupa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de nascidos no Brasil foi 11,4% menor que a média aferida de 2010 a 2019. Em reação ao recuo na taxa de natalidade, conforme divulgado na mídia, o setor de fraldas tem intensificado a oferta de produtos para uso prolongado e modelos para idosos, caso dos inspirados por incontinência urinária. De janeiro a maio último, caiu 3,1% o volume de fraldas vendidas, fechando em 2.51 bilhões de unidades, situa pesquisa da ferramenta Scanntech, No nicho de fraldas para adultos, as vendas cresceram 0,2%, atingindo R$ 156 milhões, nos cinco meses iniciais deste ano.

O segmento de absorventes femininos descortina a grandeza de seu potencial nas entrelinhas de um drama da saúde pública, entrelaçado à baixa renda, desinformação e lacunas na infraestrutura sanitária. Segundo estudo promovido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 19% das mulheres que menstruam no Brasil não têm recursos para comprar absorventes, conclusão baseada em pesquisa com 2.000 respondentes. O mesmo relatório anual assinala que 15 milhões de mulheres brasileiras não têm acesso adequado a produtos de higiene menstrual;17% das meninas não usufruem a rede de distribuição de água (mais de 320.000 sem banheiro em casa) e quatro milhões frequentam escolas que não dispõem de, ao menos, um fator básico de higiene (sabonete, água encanada etc). Pelos programas Dignidade Menstrual e Farmácia Popular, o governo libera 40 unidades de absorventes para uso em dois ciclos menstruais, através de unidades farmacêuticas credenciadas para pessoas inscritas no Cadastro Único com renda familiar até R$ 218 per capita.

As importações brasileiras de nãotecidos atingiram 72.000 toneladas em 2023 ou 28% acima do volume internado no pandêmico 2020, compara o presidente da Abint, com base em dados do sistema do governo ComexStat. A China tem destaque no cenário, ele frisa, pois suas remessas de nãotecidos para o Brasil saltaram 76% no referido triênio, “impulsionadas por preços baixos e o excedente entre capacidade e demanda interna”, atribui Mesquita. Em complemento, ele assinala que as importações brasileiras de fraldas e absorventes femininos aumentaram 11.7% no ano passado versus 2022.

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