Por muito pouco, o setor de poliestireno expandido (EPS) não leva este ano um trompaço daqueles, na forma de um projeto lei (PL) detido em cima da hora, mediante intervenção esclarecedora da Plastivida e indústrias do material, em sua tramitação na Câmara Municipal de São Paulo. O texto original transpunha para o maior centro econômico do país uma tendência pulsante no Primeiro Mundo: a proibição de EPS em copos e embalagens alimentícias. Se aprovado, o banimento decerto deflagraria uma cachoeira de PLs clones Brasil afora. O risco abortado deve servir para abrir os olhos da cadeia nacional do expandido, no sentido de sair do mutismo e difundir na opinião pública as virtudes do material, de modo a cortar pela raiz as intenções de novas lambadas ecoxiitas. É este o alerta ligado nesta entrevista pelo engenheiro químico Marcelo Morgado, consultor da GO Associados, pós graduado em Gestão Ambiental, membro do Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp e conselheiro do Planeta Sustentável, iniciativa da Editora Abril.
PR – Como avalia a possibilidade de as pressões no exterior pelo banimento de EPS em copos e embalagens de alimentos chegarem ao Brasil?
Morgado – Num mundo globalizado, a informação nos bombardeia 24 hs por dia e se espalha com grande velocidade pelos meios de comunicação. Além disso, surgiram nas últimas décadas ONGs ambientalistas e grupos de pressão de consumidores internacionais, com penetração abrangente em muitos mercados e cobrando coerência no posicionamento de empresas múltis no que tange a observância de regramentos mais rigorosos em questões ecológicas e de saúde pública. Isso significa que campanhas contra produtos, matérias-primas e processos potencial ou pretensamente impactantes ao meio ambiente e saúde repercutem com rapidez. De outro ângulo, casos como o do banimento de copos e bandejas de EPS se prestam, em particular, a despertar o interesse da mídia, pela sua carga de algo inusitado e presença no consumo cotidiano. Como “percepções são a realidade” e impressões negativas são construídas velozmente pelas redes sociais, mesmo que descoladas de dados científicos comprobatórios, é essencial a todos setores industriais estarem alertas para contrapor com informação abalizada os movimentos capazes de prejudicar sua imagem. Neste caso do EPS, o site do Instituto de Defesa do Consumidor e a revista Exame (ed. 195) noticiaram a proibição em Nova York para os copos do material, seguindo decisão de cerca de 70 cidades americanas. Isso levou o vereador paulistano Gilberto Natalini (PV-SP) a protocolar, em fevereiro último, o projeto de lei (PL) 35/2015 vedando EPS em copos e embalagens de alimentos. As justificativas colocadas: 1) a difícil reciclabilidade por estarem sujos (os refugos) e o frete ser caro pela baixa densidade do expandido; 2) sua origem fóssil não renovável, contrapondo-se a alternativa renovável e biodegradável do papel cartão e 3) as notícias de que em contato com líquidos sob temperatura mais alta, o monômero (estireno) não reagido poderia ser liberado e trata-se de substância tóxica e suspeita de ser cancerígena. Com a participação da Plastivida, foram realizadas então reuniões técnicas apontando os progressos tecnológicos na reciclagem mecânica de EPS. O entendimento resultante foi no sentido de aprimorar o texto do PL 35, a ser modificado para incentivar a reciclagem e ser coercitivo apenas para estabelecimentos comerciais que não se insiram em iniciativas de coleta seletiva do material.
PR – Uma corrente alega que uma estratégia de comunicação adequada soa a gasto supérfluo para uma indústria como a do EPS, de custos hoje refreados pela recessão.O argumento procede?
Morgado – Disponibilizar informação em linguagem clara e objetiva, calcada em dados quantitativos, tornou-se obrigação de qualquer negócio. Transparência é um dos elementos fundamentais da boa governança corporativa. O custo não é elevado e pode ser rateado entre as empresas do setor, via entidades patronais ou técnicas.Revistas especializadas como a Plásticos em Revista e a mídia em geral são veículos úteis na comunicação com diversos públicos, sobretudo o de formadores de opinião. Apoiar pesquisas nas universidades, apoiar e desenvolver tecnologias de reciclagem e fomentar a coleta seletiva fazem parte da regra do jogo e a responsabilidade dos fabricantes se estende ao pós-consumo. O advento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), dos acordos setoriais federais, termos de compromisso estaduais e legislações municipais exigem de todos os setores um esforço de inovação para avançar rumo ao desenvolvimento sustentável e de boa comunicação.
PR – A indústria de EPS corteja, em especial, seu uso como isolante térmico em moradias. Como vê o risco de as pressões pelo banimento do material em embalagens de alimentos extrapolarem para o repúdio à sua presença na construção civil, por não ser considerado tecnologia “verde” para obras dependentes de isolamento térmico?
Morgado – Trata-se de um risco consistente e deve haver empenho para evitar que um produto de tantos méritos, inclusive ambientais, seja injustamente vilanizado. Isso exige do setor de EPS mobilizar o talento criativo e se engajar em prol de melhores índices de reciclagem e de uma cadeia de logística reversa capilarizada. Para um material leve como EPS é uma parada desafiadora, mas a sistemática de degasagem in situ (na reciclagem) demonstra que isso é cabalmente possível e tem tudo para progredir. Por fim, cabe ressaltar que para emprego na construção civil, campo onde custo baixo é mandatório, EPS reciclado se presta particularmente bem. •