Foram seis anos de quebra pau com embalagens plásticas de uso único, mas em 2024 o bolso falou mais alto e a startup finlandesa Kamupak atirou a toalha no ringue. Em comunicado reproduzido em 5/7 pelo site Sustainable Plastics News, o encerramento do negócio foi noticiado. “Tínhamos a esperança de solucionar as finanças e seguir na missão de gerar circularidade para embalagens (rígidas) de comida pronta, de delivery ou retirada no estabelecimento, mas capitulamos diante da insolvência”, admitiu a empresa à praça, sem abrir as razões e o montante da quebra.
O ás na manga do surgimento da Kamupak: um esquema de reembolso digital do depósito (€ 1 a € 3, a depender do tipo de embalagem) feito pelo consumidor final em estabelecimento credenciado pela startup, para viabilizar o reúso de recipientes de comida pronta em circulação. Em suma, evidencia o site da empresa, tratava-se de uma plataforma turbinada por inteligência artificial e integração e rastreamento on line de uma rede de parceiros constituída por estabelecimentos homologados (restaurantes, bares, supermercados e demais locais com vending machines e delivery), empresas de coleta, lavagem, reciclagem química e transformadores da Europa habilitados para injetar ou termoformar o material recuperado em recipientes reutilizáveis.
Desse modo, os clientes tinham a opção entre levar a comida comprada numa embalagem descartável convencional ou na da Kamupak. Se esta fosse a escolhida, poderia ser devolvida após o uso original em qualquer estabelecimento da rede montada pela startup e, em troca, preferir reembolso ou outra embalagem zero bala e reutilizável da Kamupak. Ela batizou de KamuDish sua linha de embalagens, assegurando poderem ser utilizadas 100 vezes e baterem as malvistas rivais de uso único por reduzirem em 72 – 95% as emissões de dióxido de carbono no processamento.
O primeiro recipiente de KamuDish, de 1.2 litro, foi lançado no pandêmico 2020 na Finlândia, país pregador do evangelho ambientalista. Um ano depois a startup calculava que 10.000 de suas embalagens haviam substituído tipos de uso único em 50 estabelecimentos na Finlândia. Até 2023, o negócio duplicou, a ponto de alastrar-se por outros países nórdicos e a Kamupak incorporar a competidora sueca &Repeat. Foi então que o azul da arrancada trombou com o vermelho do balanço e a empresa sucumbiu ao destino não retornável do fim de linha
A reportagem em Sustainable Plastics encaixa como arremate do voo de galinha da startup um estudo em que a Fundação Mac Arthur descobre a pólvora. Declara que uma embalagem reutilizável deve ser concebida para esta finalidade e pode ter preço competitivo com descartáveis se produzida em alta escala.
Fica no ar uma hipótese para o enigma do fiasco da Kamupak.